O noivado de Brandon Stark foi selado numa tarde fria de inverno. Sua noiva estava envolta em peles cinzentas, mas o vestido que usava por baixo das cobertas tinha as cores de sua Casa: vermelho e azul índigo. Também dessas cores eram suas feições; os olhos muito azuis de Catelyn Tully o olharam não com desejo ou ardor, mas com a frieza do dever, um sentimento muito diferente do que aquele que prometia o tom de vermelho luxuriante de seus cabelos.

                Hoster Tully e Rickard Stark eram amigos de longa data, tendo combatido juntos na Guerra das Nove Moedas. As histórias preferidas de Brandon eram daquela guerra; o grande cavaleiro Roger Reyne, derrotando inimigos no campo de batalha, e Barristan Selmy batendo espadas com Maelys Blackfyre e saindo vitorioso. Eddard, seu irmão mais novo, gostava mais das histórias da Longa Noite e aquelas onde os gramequins e snarks eram os vilões imaginários, e Benjen, o caçula, escondia-se nas saias de Lyanna, que o defendia, pois, não gostava de ver ninguém sendo maltratado.

                Catelyn Tully também tinha irmãos mais novos. O herdeiro Tully era Edmure, um garotinho não mais velho que Benjen, cujas feições abertas e sorrisos fáceis não prometiam um lorde de modos duros.

Lysa Tully era uma donzela mais alta que Catelyn, embora mais jovem, com grandes seios acomodados em um decote baixo. Brandon sabia, por intermédio de seu pai, que Hoster tivera a intenção de oferece-la a Jaime Lannister, mas havia algo nos modos ansiosos de Lysa que deixavam um homem desconfortável em desposá-la. Levá-la para a cama era outra história; uma mulher assim tão ansiosa também era frequentemente ávida a agradar, mas Brandon estava prometido à irmã austera.

                “A Austera” era o apelido que Barbrey dera à Catelyn quando soube que Brandon casaria com a menina Tully. Barbrey era uma Ryswell dos Regatos, e o herdeiro de Winterfell compartilhara sua cama mais que uma dezena de vezes. Lorde Ryswell tinha esperança de que eles casassem, e o próprio Brandon não era avesso à ideia, exceto que o Meistre Walys e seu pai tinham ideias diferentes. Não era incomum em Westeros que o herdeiro de uma Grande Casa se casasse com uma moça de Casa vassala, mas eram tempos tormentosos nas Terras do Poente, e as alianças entre as Casas precisavam ser fortalecidas. Sendo assim, seu pai mandou Eddard para ser criado por Jon Arryn, e prometeu a mão de Lyanna à Robert Baratheon. Se Lorde Tully houvesse conseguido comprometer sua filha com o herdeiro de Rochedo Casterly, então teriam um poderio grande o suficiente para resistir às recentes desavenças do Rei no Trono de Ferro; Aerys Targaryen.

                Barbrey não ficara feliz, mas as maquinações políticas pouco se importavam com a felicidade das meninas, ou mesmo dos herdeiros.

                Seu pai o cutucou de lado quando chegou sua hora de proferir algumas palavras.

—A honra e nobreza da Casa Tully são vistas em suas feições, minha senhora. –Disse ele a Catelyn. Pelo menos aquilo era verdade. Se virou para o pai da garota, igualmente ruivo. –Dou a minha palavra de que me casarei com a sua filha, diante de seus deuses e dos meus, e honrarei seu nome.

                Mesmo enquanto ele proferia as palavras, houve um pequeno tumulto quando um homem estrangeiro entrou com sua filha no salão. Brandon sabia que, além dos Stark, Lorde Hoster estava recebendo alguns negociantes de Lys, que traziam vinho lyseno por toda Westeros, mas não os havia visto até aquele momento. O homem era alto, e tinha cabelos louros e olhos azuis. Sua filha também era alta, porém curvilínea como uma onda batendo à costa, e parecia se mover como a água. Seus olhos eram de uma cor profunda, entre o azul e o roxo. Sua mãe, a senhora Lyarra, teria dito que a cor era índigo.

                Catelyn também proferiu algumas palavras, prometendo filhos e honra à Casa Stark, mas Brandon prestou pouca atenção. Tudo foi dito mecanicamente, sem entusiasmo, e as crianças foram dispensadas quando os Lordes se trancaram no grande salão de Correrrio para discutir. Brandon geralmente era convidado por seu pai a participar das reuniões com os vassalos, e foi um pequeno golpe em seu ego ser dispensado. Durou pouco, porém. Notou que a garota lysena estava desacompanhada e não demorou para ele se colocar ao seu lado.

                Olhando ao redor, notou que sua noiva já havia se retirado, levando a irmã à tiracolo. Era uma boa coisa, pois os olhares molhados de Lysa Tully estavam fazendo com que ele se sentisse sufocado. Aquele foi um segundo golpe. Barbrey teria ficado ao seu lado, para, ao menos, conhece-lo. Catelyn tinha fugido de sua presença assim que a oportunidade se fizera, mesmo que o mais educado a se fazer provavelmente fosse ter se oferecido para apresenta-lo ao castelo de seu pai.

                Decidiu que, se a garota lysena também o dispensasse, passaria aquela noite sozinho.

—Minha senhora! –Exclamou ao encontra-la junto a uma das janelas da fortaleza interior que dava para o Ramo Verde correndo lá embaixo, meio congelado e com pouca água, pois tinha foz no Norte, e o Norte estava todo congelado. –Já me disseram que há uma deusa do amor sendo adorada em Lys.

                Os olhos cor de índigo brilharam maliciosamente.

—Sim, há. –Ela respondeu lacônica, mas ficou na expectativa da resposta.

—A senhora deve receber muitas oferendas, então. –Brandon terminou sua linha, sentindo-se orgulhoso de sua própria perspicácia.

                A lysena riu, mas estava lisonjeada, e suas bochechas adquiriram um adorável tom de vermelho. Brandon também sorriu, o sangue correndo mais rápido quando percebeu que teria companhia para aquela noite, afinal.