Tons de Violeta escrita por Dafne Guedes


Capítulo 3
Ametista


Notas iniciais do capítulo

Para finalizar, aqui está como Rhaella conheceu Brandon, e os dois tiveram Cordyra. Boa leitura!



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Depois de três dias trancado, começava a pensar que seus passos, repetidos no mesmo chão, logo fariam um buraco através da pedra e das fundações do castelo, e ele estaria de novo livre. Seus pensamentos eram um turbilhão. Na maior parte do tempo, pensava em Lyanna, mas seus pensamentos corriam com quase igual frequência para Elbert Arryn, Jeffory Mallister, Ethan Glover e Kylie Royce. Todos eram seus companheiros, e todos foram presos com ele, embora Brandon não tivesse notícias suas desde que foram capturados pelos soldados do rei.

                Ethan Glover era um nortenho, protegido de seu pai, e Brandon o conhecia desde a infância. Era seu escudeiro, por ser alguns anos mais novo, de idade mais próxima à de Eddard. Jeffory Mallister era um companheiro apenas desde seu noivado com Catelyn Tully. Como vassalo de Correrrio, passou a acompanhar Brandon. Elbert Arryn fora mandado para Winterfell da mesma forma como Eddard fora para o Ninho da Água, e Kylie Royce era o seu escudeiro. Os cinco faziam um grupo impressionante, na habilidade com as armas, e no nascimento, e mesmo assim foram capturados pelo rei como se rebeldes fossem.

                Brandon estivera em Correrrio quando chegaram as notícias. Rhaegar era casado, e seu filho mais novo ainda não fora desmamado. Mas Brandon sempre soube, desde o Torneio de Harrenhal, que aquele dia chegaria. Vira o modo como Rhaegar havia olhado para Lyanna, e também sabia o modo como Lyanna se sentia sobre Robert. Nem Robert era corajoso o suficiente para enfrentar a coroa, mesmo pela mulher que ele amava.

                Lorde Hoster havia dito que ele ficasse em Correrrio e se acalmasse; o que queria dizer que ele esperava que Brandon mandasse mensagens e por semanas corvos e mais corvos chegariam a Correrrio, negociando entre Targaryen, Stark e Martell. Afinal, os dorneses também tinham de estar ofendidos pela pretensão de sua princesa. Mas Brandon não poderia ficar quieto enquanto a reputação de sua irmã era arrastada por solo.

                Então juntara seus quatro cavaleiros mais leais e partira para a Fortaleza Vermelha, onde desafiara Rhaegar Targaryen, apenas para descobrir que o príncipe não estava lá. Ao invés disso, o rei o questionara repetidamente se estava de conluio com seu filho para tirar-lhe o trono. Brandon Stark ali percebeu que a situação era muito pior do que os lordes pensavam. Se pudesse avisar ao seu pai que não viesse atrás dele, avisaria. Mas não tinha corvos, nem mensageiros e a cada dia que passava, sabia que Lorde Rickard ficava mais perto de Porto Real.

                Não que estivesse sendo maltratado. Fora preso em boas acomodações, e sua janela tinha uma bela vista, embora fosse tão alta que o fazia pensar se não era uma saída proposital. Roupas mais frescas que suas peles foram providenciadas, e haviam livros para serem lidos, e jogos, embora estes precisassem de um segundo jogador, o que ele não tinha. Também era levada boa comida para que ele comesse. Ainda assim, Brandon se sentiria melhor se pudesse falar com um de seus companheiros. Ethan ou Elbert, de preferência.

                Ao invés disso, na metade do primeiro dia, a porta foi aberta.

                Não era hora da refeição, Brandon podia dizer pela posição do sol no céu. A primeira coisa que pensou foi que talvez seu pai houvesse chegado à Fortaleza, mas isso era impossível. Teriam de ser pelo menos quinze dias para que Lorde Rickard fizesse aquela viagem, a não ser que voasse em dragões. Depois, pensou que o rei decidira matá0lo por traição de qualquer forma. Pela porta aberta, uma mulher entrou em seus aposentos carcerários. Depois, Brandon não pensou nada por um segundo inteiro.

                Quando se recuperou, pôs-se de joelhos, e sentiu seus pulmões enchendo-se, como nunca antes.

                Não conhecia a rainha, mas viu uma coroa em sua cabeça. Mas, mesmo sem a coroa, teria se ajoelhado. Era a criatura mais bela que já vira na vida. Os cabelos de um tom dourado-pálido caiam pelas suas costas, num penteado simples. A pele era de porcelana, e as feições eram ainda mais belas que as da Donzela, uma das sete faces dos deuses sulistas. Tinha bochechas macias, e lábios carnudos, e cheirava a lavanda.

                Mas foram os olhos que os colocaram de joelhos. Brilhavam como uma pedra lapidada. Quando ela olhou ao redor do quarto, a luz da janela bateu neles, e fez com que parecessem cor de lavanda. Então, ela olhou para baixo, onde Brandon se ajoelhava no chão, e pareceram violeta. Mas não ficaram nele por muito tempo. Eram olhos temerosos, desconfiados, que não paravam de vagar. Mesmo sua mãe, que era uma artista, não poderia dizer qual a cor que tinham.

                Era uma deusa, sim, mas uma deusa da guerra que perdera todas as batalhas. Suas bochechas macias eram encovadas, e haviam vergões roxos em seus braços e pescoço, destacados pelo vermelho do veludo do vestido. Parecia derrotada.

—Levante-se, cavaleiro. –Ela disse apressadamente, ainda sem o encarar.

—Vossa graça, não sou cavaleiro. –Ele disse, humilde pela primeira vez desde que podia se lembrar. –Sou Brandon Stark, de Winterfell.

                Ela parecia não poder se importar menos. Brandon notou que, por cima da roupa vermelha, usava uma capa marrom mais apropriada a uma criada. Havia fechado a porta atrás de si, mas quando virara a cabeça, parecia procurar um som indicando que alguém estava a caminho.

—Temos pouco tempo. –Anunciou. –Diga-me, senhor Stark, é verdade? Meu filho sequestrou sua irmã?

—É verdade, Vossa Graça.

—Por que ele faria isso? –Ela parecia genuinamente curiosa. Brandon se perguntou se o Rei Aerys a havia mandado ali propositalmente, para arrancar as respostas dele. –É casado com Elia Martell. Tem herdeiros.

                Sendo a mãe de Rhaegar, Brandon pensou, tinha de ter mais de trinta anos. Não parecia. Sua mão era pequena e macia, e sua barriga surpreendentemente suave.

                Brandon hesitou.

—Acredito que o Príncipe queira desfazer a aliança entre os Stark e os Baratheon.

                Os olhos dela se arregalaram cheios de inocência infantil que não condizia com seu status. Ela olhava pela janela.

—O que Rhaegar tem a haver com isso?

                Se não estivesse tão enfeitiçado por ela, poderia não ter respondido.

—O Príncipe parece não querer que as grandes Casas se aliem. Teme que os Targaryen não tenham poder o suficiente para conter uma revolta.

—Mas Rhaegar não está se revoltando contra o pai, está? –Ela insistiu, dessa vez chegou até mesmo a olhá-lo por um segundo, antes de baixar os olhos mais uma vez.

                Brandon abriu e fechou a boca. A verdade é que muitos lordes haviam se juntado no Torneio de Harrenhal, no fim do ano anterior, e Rhaegar havia conversado com todos eles. Mesmo o seu pai, Lorde Rickard, não quisera contar a Brandon o que fora discutido naquele meio tempo. Se o príncipe fechara alguma aliança, não fora com ninguém que ele conhecia. Rhaegar poderia ter prometido a mão do irmão mais novo, Viserys, a Lysa Tully, ou poderia ter tomado o jovem Benjen Stark se houvesse selado uma união. Mas não fora o caso.

                Isso não era prova de que não estava se revoltando, porém. O mais provável era apenas que não importava o fato de o herdeiro do Trono de Ferro ser agradável. Os lordes estavam cansados dos dragões, de seus planos e de suas ideias. O Conquistador estava há muito morto, e os dragões haviam morrido também.

                Mas ele não diria aquilo à Rhaella Targaryen.  

                Ainda assim, a rainha pareceu compreender que a resposta não era o que ela esperava, pois assentiu lentamente. Então, com a mesma brusquidão que chegara, virou-se para ir embora. Brandon deu um passo rápido, a tempo de segurá-la pela mão. Tinha muita experiência capturando Lyanna pelos cantos de Winterfell, e era raro que alguém o escapasse.

                Ele tinha intenção de perguntar pelos seus companheiros. Se estavam vivos, se estavam tão bem atendidos como ele. Mas não foi isso que saiu de sua boca quando finalmente achou em si o ímpeto de falar.

—Vossa Graça, prometa que voltará. –Pediu a ela. –Conceda-me o privilégio de sua companhia.

                A rainha o encarou, finalmente, com surpresa e curiosidade.

—Por que me pede uma coisa dessas?

—Porque aprendi a respirar quando entrou por esta porta, e temo me esquecer quando Vossa Graça por ela sair. –Disse a ela sinceramente.

                O olhar dela o fez pensar que talvez ninguém nunca a houvesse elogiado antes. Era um pensamento impossível. Era rainha, e também era a mulher mais bela do reino, ele decidira.

                Ela assentiu rapidamente e, livre de seu aperto, foi-se para a porta, onde hesitou.

—Todos os nortenhos falam assim? –Ela olhava para o chão ao perguntar.

—Todos os homens sinceros. –Brandon a corrigiu.

                Ela assentiu e foi-se. Teria sido como se nunca estivesse estado lá, não houvesse ficado um perfume de lavanda pelo quarto.


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