Immortalem - O Pacto com o Inimigo escrita por MiTó Videira Ramalho


Capítulo 4
Capítulo 4




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O dia tinha sido longo. Parecia que nunca mais terminava. Enfim, podia-me deitar na minha cama e fechar os olhos. Amanhã seria um novo dia.

Assim que me deitei, devo ter adormecido de imediato, pois logo já estava a sonhar. Não tinha apercebido que estava assim tão cansada. 

— Estava a ver que nunca mais te iria encontrar. – Disse a voz de que há algum tempo já sentia saudades.

Estava com o Kai na praia, onde nos encontramos a primeira vez. Havia uma pequena diferença, como era de noite o mar refletia o luar e dava um toque mágico ao cenário.

— Eu voltei a ir à praia, mas não te encontrei. – respondi-lhe.

— Eu sei, mas tinha que tratar dos negócios, por isso não consegui ir ter contigo. – justificou  – Tive de cobrar, muitos favores antigos para agora conseguir estar contigo.

— Como é que tiveste de cobrar muitos favores antigos, se isto não passa de um sonho e tu, és pura e simplesmente um resultado da minha imaginação. – respondi.

— Tens a certeza disso? – perguntou.

— Que mais poderia ser? Não me digas que tudo isto é real e eu viajei meio mundo em espaço de minutos. – gozei.

— Não te posso contar a verdade, mas tenho que te dizer que o Hipnos não gostou nada do pedido que lhe fiz. Vai contra todas as leis. – confessou.

— Hipnos? Então está a admitir que eu estou mesmo a dormir, logo isto não passa de um sonho meu. – conclui.

— Não necessariamente. Só estou a dizer que lhe cobrei uns favores muito antigos para conseguir estar aqui contigo. – respondeu – Mas vamos mudar de assunto, se não ainda sou penalizado e nunca mais te poderei ver.

Vi sinceridade nos olhos dele, então não insisti mais. Apesar de um sonho sabia bem estar com ele novamente.

— Então e já estás melhor? – e acrescentou ao ver a minha confusão – Sobre aquele assunto que falamos durante o nosso primeiro encontro.

Encolhi os ombros.

— O que isso significa? 

— Não sei ao certo. – respondi – Pensei que quando os visse juntos me fosse custar mais. Não é que não magoe mas... 

— Só te sentes traída, é isso? – sugeriu.

— Sim. É como se o que sentia por ele tivesse evaporado e agora sempre que os vejo juntos só me sinto traída.

— Provavelmente ele não era o teu verdadeiro príncipe encantado, e daí que não custe tanto. – comentou.

— Talvez! – após um momento de silêncio perguntei-lhe – Então e tu? Como vão as coisas com a tua família?

— Tinhas de falar disso? – perguntou retóricamente – Os problemas com eles nunca se vai resolver até que eu faça o que eles querem.

— É assim tão mau o que eles querem que tu faças?– perguntei-lhe.

— Eles acham que eu ainda sou muito novo para tomar contas das coisas do meu pai. Às vezes até eu acho isso. – sussurrou está última parte.

— Eh! A cima de tudo tens de acreditar em ti. Se não mais ninguém o vai fazer. 

— Obrigado! – agradeceu – mas chega de falar deste assunto.

— Então de que queres falar? – perguntei.

— De qualquer coisa. Fala-me sobre ti? Da última vez que estive-mos juntos não tivemos oportunidade de nos conhecermos melhor. – disse.

— O que queres saber sobre mim – perguntei-lhe.

— Tudo. – respondeu – Por exemplo, o que fazes durante o tempo que não estás de férias.

— A grande parte do tempo, estou na escola. – respondi – Ando no curso de enfermagem, já estou no segundo ano.

— E gostas?

— Ainda não sei bem. – respondi com sinceridade, como vi a cara confusa que ele fez, continuei – Eu não fui para enfermagem porque era o que eu queria. Foi mais por influência. 

— Como assim? – inquiriu.

— Quando acabei o secundário, eu ainda não sabia bem o que queria seguir. – expliquei – Por mim tinha passado um ano a viajar por aí e conhecer outras realidades e, depois sim, escolhia o que realmente queria.

— Então porque não o fizeste?

— Como já disse, influência. – respondi – Os meus pais acharam que isso era uma maluquice minha e, como são ambos enfermeiros, insistiram bastante para que lhes seguisse as pisadas, apesar de eu nunca ter gostado nada que envolvesse mexer com sangue e essas coisas.

— Mas mesmo assim foste – afirmou – E agora que estás já no segundo ano, o que queres?

— Para ser sincera, agora que já fui a estágio, que já aprendi muita coisa, até me habituei com a ideia. Mas mesmo assim sinto que não é o que realmente quero fazer da minha vida, não é o que me vejo a fazer daqui a alguns anos. – disse com sinceridade.

— Então e o que queres?

— Continuo a querer viajar pelo mundo e conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas,... 

— Quem sabe ao fim de tirares o curso.

— Quem sabe! – disse sonhadoramente.

Era tão fácil falar com ele, até mesmo em sonhos. Os seus olhos pareciam que refletiam o mar e toda a sua tranquilidade. O silêncio que nos rodeava era reconfortante, mas apesar disso sentia-me cansada e com sono, abri a boca num bocejo e ele apercebeu-se:

— É melhor deixar-te ir dormir, se não, amanhã não acordadas.

— Eu estou a sonhar, por isso já estou a dormir. – afirmei.

— Isto não é bem um sonho, mas se queres continuar a acreditar nisso, é o melhor, quer para ti, quer para mim! – disse ele – Adeus Aikaterhíne.

Não tive tempo de me despedir, quando abri os olhos já estava deitada na minha cama. Havia um ligeiro cheiro a mar no meu quarto, o que não era nada normal. Mas apesar da tranquilidade que sentia, também estava cansada de mais para pensar nisso, descobrir o que significava do que ele me tinha chamado teria de ficar para amanhã. Dei meia volta na cama e compôs a almofada e assim que fechei os olhos adormeci de imediato.

Na manhã seguinte acordei sem vontade nenhuma de sair da cama, mas depois do despertador tocar pela quinta ou sexta vez lá me levantei, preparei-me e quando estava a entrar no carro, recebi uma mensagem da Rose: "Bom dia amiga, ainda demoras? Eu e a Sofia já cá tamos" e respondi "Oi, estou a sair de casa agora, 15 minutos e estou aí". Atirei o telemóvel para dentro da carteira e arranquei com o carro. Quando cheguei à escola, mandei uma mensagem à Rose: "Já cheguei, onde estão?" logo recebi a resposta "No bar, vem cá ter".

Quando cheguei ao bar, encontrei a Rose e a Sofia sentadas numa mesa na esplanada do bar.

— Parece que alguém fez uma noitada! – comentou a Sofia.

— O que te aconteceu rapariga? Estás com uns olhinhos tão pequeninos. – preocupou-se a Rose.

— Nada, só tive um sonho e parece que não dormi nada. – expliquei – Então e qual o motivo deste reunião matutina?

— Convencer a Rose a não ir à aula- explicou a Sophie.

— O que vamos ter? – perguntei.

— Epistemologia. – responderam as duas em coro.

 – Se eu soubesse nem da cama tinha saído – desabafei.

— Então isso quer dizer que me apoias em não irmos à aula? - perguntou a Sofia com esperança.

— Não, já que me levantei cedo, vou à aula. – disse – E tu também vens, porque precisamos de falar.

— Claro que vou, não vou ficar aqui sozinha, a olhar para as moscas. Vamos antes que me arrependa.

Chegamos na sala e o professor já estava ligar o computador ao projetor. Sentamo-nos no fundo da sala, para que pudéssemos falar à vontade.

— Então o que querias contar? – perguntou a Sofia.

— Espera! Olha para ali. – acenei com a cabeça em direção do João e da Elisa que estavam sentados numa fila mais à frente, dava a sensação que estavam a discutir.

— Parece que há problemas no mundo do casal de víboras. – comentou a Rose.

— Foi impressão minha ou ela disse que ele não devia ter ido falar contigo? – perguntou a Sofia muito curiosa.

— O que se está a passar, Kate? Conta-nos tudinho até ao mais pequeno pormenor.

— Não é nada de mais, pelo menos para mim, já a Elisa não deve pensar o mesmo. – comentei – Ontem quando cheguei a casa fui dar uma volta a pé e quando estava a voltar o João estava no meu portão à minha espera.

— Estás a brincar? – sussurrou a Rose, uma vez que o professor já tinha começado a aula – E o que é que ele queria?

— Pedir desculpas pela atitude que a Elisa teve ontem. – respondi.

— Não acredito! – disse a Sofia incrédula – E um pedido de desculpas sobre o que ele te fez? Nem deve ter falado sobre isso.

— Também falou sobre isso, mas entretanto chegou o Edgar e começaram a discutir e eu acabei por lhe dizer uma coisas e... resumindo, só falo com aqueles dois, se for exclusivamente sobre o trabalho que temos de fazer em grupo, de resto eles são seres insignificantes que andam para aí.

— Tu ainda vais acabar é por ficar com esse tal de Edgar. – comentou a Sofia na brincadeira.

— Que nojo! O Edgar é um irmã. – falei e ao ver o olhar que a Rose tinha feito percebi que o rapaz do futebol não a tinha feito esquecer do Edgar.

— Eu acho que vocês faziam um par muito giro. – continuo a Sofia.

— A sério Sofia, para lá com isso. Não te cansas de tentar arranjar-me um namorado? Porque não vez se arranjas um para ti. – respondi um pouco rude.

— Esquece lá isso. Depois do Stefan, tão cedo não quero ninguém. – respondeu ela, sem perceber que eu já estava a ficar chateada com a conversa.

— Isso é o que todas dizem! – comentou a Rose.

Stefano era o ex-namorado da Sofia. Ainda andávamos no secundário quando o conheceu, ele era bem mais velho do que ela. Fê-la acreditar que a amava e que iriam ficar juntos, até ao momento que descobriu que ele era casado e que estava à espera de um filho. A Sofia quando descobriu foi falar com a suposta esposa do Stefano, a Margarida e contou-lhe tudo. Hoje somos amigas da Margarida, ela acabou por descobrir que para além de não ser a primeira vez que o Stefano a traia, também andava metido com outras mulheres para além da Sofia, acabaram por se divorciar, ela ficou com a guarda total do filho, o José que agora tem dois anos e é um querido. Do Stefano nunca mais se ouviu falar. A partir desta história como um final triste, a Sofia nunca mais quis saber do "sexo oposto", diz que tem muito tempo para pensar nisso após concluir o curso, agora só se quer dedicar aos estudos.

No restante tempo da aula, as ultimas duas filas da sala (incluindo a que eu estava) estiveram a jogar ao jogo das palavras, não critiquem, mas as aulas daquele professor são impossível de se estar atento, e para além disso a escola podia cair durante a aula, que ele, não dava conta de nada.

Quando a aula acabou o professor avisou que não haveria a aula seguinte, uma vez que, ele e todos os restantes professores teriam uma reunião sobre os conteúdos do programa de ensino.

Já no corredor da escola:

— Então meninas! Tudo bem? – perguntou o Pedro.

Ele e o Kevin tinham chegado ao pé de nós e colocado os seus braços por cima dos nossos ombros. Eles são gémeos e andam sempre juntos. São muito divertidos e andam sempre bem-dispostos, por vezes, na brincadeira, chamamo-los de "Weasley", eles sabem e não se importam, até ficam orgulhosos pelo reconhecimento que lhe dão por serem divertidos.

— A turma está a combinar ir ao centro comercial dar uma volta e almoçar por lá, alinham? – perguntou o Kevin. - Não te preocupes Kate, o João e a Elisa não vão. – acrescentou quando eu estava  para responder.

— Eu só ia dizer que por mim tudo bem. Mesmo que eles fossem eu não tinha nada a ver com isso, eles fazem a vida deles e eu faço a minha. – respondi.

— Então quer dizer que vocês também vão? – perguntou novamente.

— Sim, claro. – respondeu a Rose.

— Porque não? – disse a Sofia.

— Vão indo para o parque de estacionamento para combinarmos quais os carros que vão. – falou o Pedro.

— Nós vamos ver quem mais encontramos da turma e quem quer ir. – informou o Kevin.

— Ok, então até já! – despedimo-nos e viramos-lhes as costas em direção ao parque de estacionamento.

— Kate! – chamou o Pedro.

— Sim? – voltei-me novamente para eles.

— Nós estamos do teu lado.

— Estão do meu lado? – perguntei confusa.

— Sim, nós achamos que o João foi um burro por ter trocado isto tudo – disse o Kevin apontando para o meu corpo e olhando-me de alto a baixo – por aquela coisa – e fez um careta.

— Eu traduzo. – disse o apedro – O João foi um burro, porque trocou o monumento que tu és, pelo monstro que é a Elisa.

— Deixem ver se percebi – disse a Rose – Vocês estão do lado da Kate, não porque ela foi traída pelo namorado e por uma amiga, mas sim, porque ela ser mais gira que a Lisa, é isso?

— Sim – responderam em coro.

— Continuem com esse pensamento e nunca irão ter uma mulher que queira ficar com vocês. – comentou a Sofia em tom de brincadeira, já de costas para irmos embora.

— E quem te disse a ti que nós queremos uma só mulher?

No estacionamento da escola dividimo-nos pelos carros. Acabamos por ir só em dois carros, o das raparigas, onde ia a Raquel a conduzir e a Susana ao lado dela e atrás ia eu, a Rose e Sofia, e o carro dos rapazes, com os gémeos à frente e o Adrian e o Micael atrás.

Quando chegamos ao centro comercial ainda era cedo para almoçar, então decidiram ir jogar bowling para passar o tempo. Eu não estava com disposição, e fiquei sentada um pouco mais para trás. Tinha um assunto que ainda me andava a chatear a cabeça e precisava de o esclarecer.

Peguei no telemóvel e abri a aplicação da internet. Coloquei no motor de busca: "Aikatherine significado" demorou pouco tempo até que apareceu a mensagem "Será que quis dizer: Aikaterhíne significado?", sim deve ser isso, pensei comigo própria, e dei clique. Apareceram poucos resultados, mas os que apareceram diziam quase todos o mesmo. O nome Katherine ou Catarina, vinha do grego Aikaterhíne, que significava pura, casta. Era estranho, nunca tinha lido ou ouvido nada sobre o significado do meu nome, como era possível eu ter sonhado com uma coisa que nunca tinha ouvido na minha vida? Isto era um mistério para mim, mas pelo menos já sabia o que significava: Aikaterhíne, era simplesmente o meu nome em grego, tudo o resto teria que ficar para depois.

Atirei o telemóvel para dentro da carteira e fui juntar-me ao restante do grupo que ainda estavam a jogar, ficamos lá por mais algum tempo e depois fomos almoçar. Já há muito que não me divertia tanto, os gémeos passaram o tempo todo a fazer palhaçadas, o Micael por vezes também alinhava com eles, a certa altura dei com a Sofia a chorar de tanto rir. Até que a Rose disse:

— Devíamos ir para a escola se não vamos chegar atrasados.

Ela não fazia por mal, simplesmente era muito certinha com tudo que fosse relacionado com a escola e era um dos motivos pelo qual, eu a admirava tanto.

Assim que dividimos o preço do almoço fomos para a escola. No final do dia, depois das aulas terem terminado, eu, o Adrian, o João e a Elisa combinamos juntarmo-nos para planearmos a realização do trabalho que tínhamos que fazer. A Elisa não me dirigiu uma única vez a palavra, o João pouco ou nada me disse, mas devagar lá conseguimos adiantar um pouco o trabalho. Com este ritmo seria difícil conclui-lo a tempo de entregar.


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