Immortalem - O Pacto com o Inimigo escrita por MiTó Videira Ramalho


Capítulo 5
Capítulo 5




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Os dias foram passando sem eu dar conta. Todas as noites continuava a sonhar com o Kai, continuavam a parecer tão reais, que por vezes tinha duvidas se estava acordada ou a dormir. Contudo, quando abria os olhos lá estava eu no meu quarto, sempre com o cheiro a maresia suspenso no ar. Era muito raro ele falar sobre si, preferia sempre saber sobre mim, como tinha corrido o meu dia

Andava tão cansada com tudo, que mesmo dormindo toda a noite sentia-me exausta.

— Kate, vamos às compras? – disse-me a Sofia um dia depois das aulas.

— Desculpem meninas, estou sem vontade. Vou aproveitar que os meus pais não estão em casa para dormir.

— O que se passa, Kate? – perguntou-me a Rose – Está tudo bem?

— Sim, só ando cansada. As frequências e os trabalhos estão a dar-me uma dor de cabeça. – respondi.

— Então aproveita para descansares bastante, queremos-te no teu melhor para a semana. – disse-me a Rose.

— Para a semana? – perguntei.

— Oh sorte! Ela está tão mal que nem se lembra. – disse a Rose para a Sofia.

— Não me lembro do quê? – perguntei.

— Esquece! Vai mas é descansar.

Cheguei a casa, vesti as calças do pijama e deitei-me debaixo dos cobertores. Pouco depois lá estava eu a sonhar novamente, sonhos que já eram tão normais para mim.

— A dormir a esta hora? – perguntou o Kai. – Não é muito normal para ti.

— Sim, mas tenho andado tão cansada que aproveitei este tempo para descansar. – justifiquei – Parece que mesmo que durma toda a noite, não descanso nada e que ter dormido ou não, é exatamente a mesma coisa..

— Isso talvez seja minha culpa. – disse ele.

— Tua culpa como? – perguntei – Até parece que tu chegas ao meu quarto durante a noite e não me deixas dormir.

— É quase isso! É melhor eu ir! Apesar de custar não te ver todas as noites, tenho que te deixar descansar. – e com isto, deu-me um beijo leve na testa e desapareceu. 

Acordei no meu quarto, mais uma vez com o cheiro a maresia, ao qual já estava habituada. Peguei no telemóvel e vi que só tinha passado meia hora desde que me deitei. Voltei a deitar-me e acabei por adormecer novamente. Foi um sono muito reparador, sem sonhos, sem nada, como já não tinha há muito tempo. Quando acordei mais tarde, sentia-me muito melhor.

A semana passou a voar. Os sonhos com o Kai tinham acabado, apesar de sentir que conseguia descansar muito melhor, sentia a falta deles.

— Espero que amanhã não estejas cansada. – disse-me a Sofia.

— Porquê? O que tem amanhã? – perguntei.

— Não te faças de esquecida. – respondeu a Rose – Amanhã vamos às compras.

— Qual o motivo para termos de ir às compras amanhã e não pudemos ir antes no sábado? – perguntei confusa.

— Porque temos de ir comprar uma roupa bem sexy para a tua festa, que é no sábado e amanhã já é sexta, ou seja não dá para irmos no sábado. – justificou a Rose.

— Sábado? Depois de amanhã? Já? – exaltei-me. Era o meu aniversário e eu nem me lembrava – Mas eu não preparei nada?

— Tem calma, nós já tratamos de tudo. – tentou-me acalmar a Sofia.

— Já fizemos os convites e já tratamos de tudo para a festa. – disse a Rose.

— Lembras-te daquele dia que te pedi o telemóvel para jogar numa aula? – continuou a Sofia ao ver a minha cara de confusão – Pois, não foi para jogar, mas sim para tirar os contactos do teu telemóvel, depois foi fácil convidar todos os teus amigos.

— Vocês são completamente loucas! – exclamei.

— Então espera até veres o salão da festa, vais simplesmente adorar. A tua mãe deu-nos uma ajuda. – comentou a Sofia.

— Salão? A minha mãe ajudar? – acenaram afirmativamente com a cabeça. – E eu não posso ver como está? – negaram – Como eu vou saber o que vestir se vocês não me dizem nada sobre a festa? É o meu aniversário, eu deveria saber.

— Porque é que achas que vamos às compras amanhã? – perguntou a Rose.

— Para nós escolhermos o que vais vestir. – completou a Sofia.

— Estou completamente tramada. – desabafei.

No dia seguinte, depois das aulas, fomos diretamente para o shopping. Passamos a tarde toda a vestir e despir roupa, elas não gostavam de nada que eu vestia. No final da tarde, cansada de tanto experimentar roupa, comprei um vestido simples, justo, azul-escuro, que chegava aos joelhos e as costas descobertas. Não era um vestido que eu adorasse, mas elas tanto insistiram que acabei por comprá-lo.

No dia seguinte, acordei com as duas a gritar "Parabéns!" ao mesmo tempo.

— O que estão aqui a fazer? Quem vos abriu a porta? – perguntei ainda sonolenta.

— A tua mãe. Ela disse que podíamos-te vir acordar. – respondeu a Rose.

— Vamos, levanta-te. Temos muito que fazer hoje. – ordenou a Sofia.

— Só mais um pouco. É o meu aniversário, tenho esse direito. – resmunguei e cobri-me novamente com os cobertores.

— Nada disso. Não queres abrir o teu presente? - perguntou a Sofia, e senti um peso enorme cair sobre mim.

Quando finalmente me despapei, tinha um enorme embrulho sobre mim.

— Vá, abre! – incentivou a Rose.

— Eu estou cheia de sono! Quero dormir! – resmunguei.

— Anda lá, deixa de ser preguiçosa. Já são onze horas. – disse a Sofia – Além disso queremos saber se gostas do presente. Demorámos muito para escolhê-lo.

Com esforço, sentei-me e desembrulhei o presente. Era um livro enorme sobre a mitologia grega. Abri o índice e vi que falava de todos os deuses, de todos os contos gregos e de todas as aventuras da Grécia Antiga. 

— Gostaste? – perguntaram enquanto eu ia desfolhando o livro – Não sabíamos se ias gostar. Fomos à livraria perto da universidade e a rapariga que lá estava é que nos aconselhou esse. 

— Adorei, estou sem palavras. Muito obrigada! – abracei-as – Nunca tinha visto um livro tão completo sobre este tema. Fala de tudo e as imagens são lindíssimas. – disse, parando num quadro que representava a Deusa Afrodite, que quase parecia uma fotografia.

— Ainda bem que gostaste. - comentou a Rose.

Passamos o resto da manhã a conversar e, depois do almoço, a minha mãe não nos deixou arrumar a cozinha, disse que tínhamos muito que fazer.

— A tua mãe tem razão! Temos que nos pentear, que nos maquilhar e nos vestirmos. Temos de estar prontas às oito da noite. A tarde passa a correr. – continuou a Sofia.

Como previsto, o dia passou a correr. Elas fizeram-me uma maquilhagem bem simples, tinha um tom de azul e bege de base nos olhos, um blush rosado, fazendo que parecesse que estava corada e nos lábios apenas um gloss para dar brilho. A Rose, que sempre teve um jeito especial para penteados, fez-me um apanhado com um gancho em forma de estrela, prateado, deixando algumas madeixas onduladas pelas costas. Era um penteado trabalhado, pois o gancho segurava tranças finas que se cruzavam. 

Depois, foi a vez delas se arranjarem, fui-lhe dando uma pequena ajuda. A Rose vestiu um vestido justo, de alças cavadas e com um folho na cintura, na cor azul-escuro, bem simples, calçando sapatos pretos e pulseiras pretas. A Sofia vestiu uns calções bege de cabedal com a cinta subida e uma camisola de lantejoulas azul, com uns sapatos do mesmo tom da camisola.

Quando elas já estavam prontas, colocaram-me uma venda nos olhos e ajudaram-me a vestir a roupa, senti algo frio no meu pescoço e senti-as a colocarem-me uns brincos. Depois, retiraram-me a venda, retocaram-me a maquilhagem e finalmente pude ver-me ao espelho. 

Estava simplesmente deslumbrante. O vestido era lindo, sem alças, curto. Na parte do peito, fazia a forma de um coração todo trabalhado com pedras que davam várias tonalidades de azul, na cintura um cinto que formava um laço e a partir daí, o vestido caía com um pouco de roda, tinha um tecido opaco azul por dentro e por fora um tecido transparente também da tonalidade de azul. Os sapatos eram prateados de saltos agulha a condizer com o gancho que tinha no cabelo. No pescoço tinha uma corrente com uma pequena pedra azul-turquesa e nas orelhas, umas pequenas pedras da mesma cor do colar.

— Estás linda, filha! – disse a minha mãe – O colar e os brincos são prendas minhas e do teu pai, o vestido foi prenda do teu irmão e da Amanda. Eles não podem cá estar mas mandaram por correio.

— Obrigada! É tudo muito lindo! Mas e porque é que me fizeram ir às compras ontem? – perguntei.

— Não podíamos dar nas vistas! – riu-se a minha mãe.

— Vamos? – disse o meu pai.

A festa era numa discoteca de um filho de um amigo do meu pai. Quando lá chegamos já estavam lá vários dos meus amigos e família.

Olhei à volta e vi muitas caras conhecidas, todas elas estavam com uma peça de roupa azul. Era muito estranho para ser coincidência.

— Porque estão todos de azul? – perguntei à Rose, que ainda estava ao meu lado.

— Porque queríamos fazer algo de diferente. Tínhamos pensado em fazer um baile de máscaras, mas achamos que tu não ias gostar muito, então lembrei-me de pedir a todos os convidados que trouxessem no mínimo uma peça de roupa azul, já que é das tuas cores preferidas. – justificou – Se vires bem, até tu estás de azul!

— Até que é uma ideia engraçada e tinhas razão, não ia gostar nada de uma festa com máscaras.

— Ainda bem que gostaste! – disse – Vá anda vamos nos divertir!

Quando íamos para o centro da pista de dança vi o Edgar junto ao bar e fui ter com ele.

— Parabéns, pequenina! – disse ele ao abraçar-me.

— Obrigada! – agradeci.

— A festa está fantástica! A ideia de todos virem de azul foi brilhante.

— Obrigada! Mas os louros vão todos para a Rose, a ideia foi dela, eu não sabia de nada. – expliquei-lhe.

— A Rose? Ela veio? – perguntou ele enquanto olhava em volta – Já há muito que não a vejo.

— Oh, não te preocupes. Vem comigo. – agarrei-o pela mão e fomos ter com a Rose que estava a falar com o Adrian.

— Parabéns, Kate! – cumprimentou-me o Adrian.

— Obrigada – agradeci – Ainda bem que pudeste vir. Não trabalhas hoje?

— Fiz uma troca! – respondeu.

— Achas que ele ia perder uma festa destas? – disse a Rose – Oi Edgar!

— Ah, é verdade! Este é o Edgar, o meu vizinho e amigo. – apresentei-o – A Rose como já sabes, o Adrian, um amigo do curso.

— Oi – cumprimentou o Edgar não tirando os olhos da Rose – Estás lin…

— Vocês também o convidaram? – interrompi o Edgar.

Todos olharam na direção do meu olhar. 

— Ele não tem noção! Claro que não convidámos, Kate. – respondeu a Rose.

— Acho que a culpa pode ter sido minha. Desculpa Kate, mas quando eu estava a falar com a minha colega de trabalho que fez a troca comigo, penso que ele me ouviu. – justificou-se o Adrian.

— Eu vou já mandá-lo embora. – disse o Edgar.

— Não! Eu é que vou! – disse e afastei-me deles.

Fui ter com ele, que estava muito perto da porta traseira da discoteca, agarrei-o pelo pulso e puxei-o para fora.

— O que fazes aqui João? Não foste convidado! – atirei-lhe à cara.

— Precisava de falar contigo. – justificou.

— Eu já te disse que não temos mais nada para falar. – disse-lhe.

— Tens razão. Não vim aqui mesmo para falar. – e com isto agarrou-me pela cintura e beijou-me. No início, nem reagi. Era como se nada tivesse acontecido entre nós. Mas depois percebi que já não sentia nada por ele. O beijo dele já não me fazia sorrir, nem sentir nada.

Empurrei-o para trás, e quando dei conta, a minha mão já estava sobre a face dele.

— Nunca mais repitas isto! E vai-te embora, não és bem-vindo aqui! – virei costas e entrei.

Vi a Rose, que não parecia muito contente, ao lado de um rapaz. Assim que me viu chamou-me.

— Kate! Anda cá!

— Boa noite! – cumprimentei o rapaz que estava com ela.

— Kate, este é o Alexandre! – apresentou-o a Rose – Esta é a Kate, a minha melhor amiga.

— Boa noite! – disse ele não muito animado - E já agora, parabéns!

— Obrigada! 

— Finalmente que te conheço! – disse ele – Já ouvi falar muito de ti.

— Então e o João, já foi embora? – perguntou a Rose.

— E já foi tarde!

— O que aconteceu? – perguntou preocupada.

— Aconteceu que ele beijou-me. – respondi.

— A sério? E tu?

— E eu dei-lhe uma valente estalada que ainda me dói a mão. – expliquei-lhe.

— Mas não sentiste nada? – ela era mesmo curiosa.

— Senti que finalmente me livrei dele. Não significou nada para mim. – contei-lhe.

— Isso é bom, certo?

— É ótimo. Faz-me sentir livre.

— Não vais virar outra Sofia, que não quer saber mais de homens? – perguntou.

— Claro que não, não sou tão radical. Por falar em Sofia, onde é que ela anda?

— Não sei, já não a vejo há um bom bocado. – disse a Rose.

— Não é aquela ali? – apontou o Alexandre.

Era mesmo ela, estava dançar com um rapaz, no meio da pista de dança.

— Quem é aquele que está com ela? – perguntou a Rose.

— Não sei. – disse – Espera, parece… Não pode ser… É o Edgar!

A Rose ficou sem palavras a olhar para eles.

— Bom, ainda bem que arranjou outra para falar e não roubar o que é dos outros. – comentou o Alexandre, mais animado.

— Desculpa!? O que é dos outros? – perguntou indignada a Rose. 

Achei que não me devia meter na confusão deles. Sabia que a minha amiga se conseguia defender muito bem e que se precisasse de ajuda ela pediria. Afastei-me deles com ideia de ir até ao bar buscar uma bebida. Foi então que vi duas pessoas, que apesar das caras deles não me serem estranhas, não me consegui lembrar de onde os conhecia.

Era uma das mulheres mais bonitas que eu já tinha visto em toda a minha vida. Apesar de estar toda arranjada e maquilhada, não parecia artificial.  Tinha a pele lisa e clara, era alta e elegante, seus cabelos eram loiros, compridos e com cachos perfeitos. Vestia um vestido rosa muito claro, comprido, com apenas uma alça. Na cintura, tinha um cinto dourado com fivela em forma de coração. Era um daqueles vestidos estilo grego, muito bonito. Toda a aparência parecia de uma modelo de revista, que toda mulher e até alguns homens têm inveja. 

O homem não ficava nada atrás. Ele também era muito bonito, seus cabelos eram loiros, com reflexos muito brilhantes, pareciam cintilar. Tinha os olhos dourados, com um brilho muito diferente. Vestia calças e blazer pretos e uma camisa amarelo-torrado.

Quando perceberam que eu olhava para eles, o homem fez-me sinal com a cabeça para que eu os seguisse. E assim o fiz, apesar de não os conhecer, havia qualquer coisa que me dizia que os devia acompanhar.

Quando cheguei lá fora, vi que estavam à minha espera. A luz do luar dava-lhes um toque angelical, de outro mundo.

— Quem são vocês? E o que fazem na minha festa de anos? - perguntei.

— Calma com as perguntas! – disse ele – Quem somos não importa, o que importa é que estamos aqui para te dizer umas coisas, considera como uma prenda de aniversário.

— Eu não vos conheço de lado nenhum. O que é que podem ter para me dizer? – estar sozinha com eles estava a deixar-me um pouco assustada.

— Calma, minha querida! Não estamos aqui para te fazer mal, pelo contrário, é para teu bem! – disse ela e, não sei muito bem como, senti uma calma surpreendente.

— Final feliz pode parecer, mas primeiro muito terás de passar e vencer, para com aquele que te amar poderes ficar. – recitou ele.

— Não ligues, ele tem esta mania das rimas. – disse ela – O que ele quer dizer é que o teu verdadeiro amor está para chegar. Tu já o conheceste, mas ainda não sabes o que sentes por ele. Peço-te muita desculpa por isso, mas não vou poder fazer nada para evitar. Ainda vais sofrer muito antes de poderes ficar com ele para todo sempre.

— O que quer dizer isso? – perguntei.

— Um dia vais perceber. – disse ele – E ainda vamos ser grandes amigos.

E com isto, viraram costas em direção à noite. Ainda os chamei, mas de nada serviu, nem para trás olharam.


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