Immortalem - O Pacto com o Inimigo escrita por MiTó Videira Ramalho


Capítulo 2
Capítulo 2




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Chamo-me Katherine, mas todos me tratam por Katie. Tenho 20 anos e sou uma rapariga normal como todas as outras neste mundo. Tenho o cabelo um pouco abaixo dos ombros, encaracolado e castanho com balayage caramelo (o meu maior arrependimento). Os meus olhos, como todos os da minha família, são castanho-claros raiados de verde e com um círculo quase preto à sua volta.

Nunca soube muito bem que curso tirar. Sabia que queria frequentar a universidade, mas não sabia que curso escolher. Só quando no final do secundário tive de fazer a candidatura, ou por influência ou por um chamado das "forças superiores" é que escolhi enfermagem. 

Os meus pais também são enfermeiros, o meu pai, a eterna criança que há dentro dele, fez com que se especializasse em pediatria, já a minha mãe gosta mais daqueles mais graves, é enfermeira especialista em médico-cirúrgica. 

Eles adoram o que fazem e penso que foram eles que me influenciaram para seguir a mesma carreira. 

Já estou no segundo ano e até agora não me arrependo da escolha que fiz. Mas hoje a vontade de ir para a universidade é muito pouca.

O problema é que o meu ex-namorado João (ou como tenho de me habituar, o defunto) e a bruxa da Elisa também estão a tirar enfermagem e são da minha turma. Por isso a vontade de sair da cama não é nenhuma. Mas a muito custo lá me levantei e preparei-me.

É o primeiro dia de aulas após as férias, e mesmo não tendo vontade, cheguei mais cedo à universidade e tive de ficar à espera da Sofia e da Rose, elas são as minhas melhores amigas.

A Sofia é muito bonita, possui uma beleza exótica, tem cabelos loiros, lisos que acabam em cachos perfeitos, o seu bronze faz qualquer rapariga ter inveja, os seus olhos são azuis-claros. É muito inteligente e passa os seus tempos livres na biblioteca, conheci-a no curso e ficamos logo amigas.

Eu e a Rose (ou melhor Rosalina) já nos conhecemos há anos, andávamos no jardim-de-infância juntas e desde então somos inseparáveis. A Rose é uma das pessoas mais humilde e verdadeira que conheço. Ela é linda, tem cabelo ruivo, parecem fogo, é longo e liso (porque faz alisamento químico frequentemente, porque se não parecia a Mérida), os olhos são esverdeados que faz um contraste incrível com o seu cabelo, é alta como uma modelo e tem um estilo único e elegante.

Estava tão distraída nos meus pensamentos que não me apercebi da Rose chegar ao pé de mim.

— Adivinha quem é? – perguntou com a voz disfarçada e a tapar-me os olhos com as mãos.

— Oi Rose! – disse com um sorriso no rosto.

— Oh! Como sabias que era eu? – perguntou triste.

— Os teus dedos cheios de anéis denunciaram-te. – disse a sorrir – A Sofia? Pensei que viessem juntas.

— Foi buscar café. – respondeu – Então como estás? As férias ajudaram?

Acenei com a cabeça – Sim ajudaram, mas não quero falar disso. 

— Do que é que não queres falar? – perguntou a Sofia quando chegou a mesa onde estávamos sentadas.

— Nada. – respondi - Falem-me antes de vocês? As vossas férias como foram? Já estava com saudades vossas.

— Dizemos o mesmo. Foste embora logo no início das férias que nem deu para aproveitarmos. – repreendeu a Sofia.

— Olha quem fala! Quem é que também foi viajar? – perguntei-lhe na brincadeira.

— Sim, sim, já sabemos que só aqui a triste é que tem de passar as férias em casa. – queixou-se a Rose.

— Deixa lá, para a próxima se quiseres vens comigo. – disse para a consular, porém ela já não me estava a ouvir, tinha recebido uma mensagem no telemóvel e estava toda sorridente a olhar para ele enquanto respondia – Terra chama Rose!

— Diz, desculpa, estava distraída.

— Pois estavas, estavas bem longe daqui. Conta, o que é que ele te disse? – perguntou a Sofia.

— Ele? Ele quem? Alguém me pode atualizar? – perguntei a olhar tanto para uma como para a outra.

— A Rose arranjou namorado! – disse a Sofia quando viu que a Rose não ia dizer nada.

— Namorado!? E o Ed... - comecei.

— Ele não é meu namorado. – a Rose olhou-me com  os olhos bem abertos e deu-me um pontapé por baixo da mesa de maneira que a Sofia não visse – A Sofia está a exagerar. Vamos para a aula que já estamos atrasadas.

— Não vamos para a aula enquanto não me contares tudo. – protestei.

— Eu conto durante a aula, pode ser? – perguntou.

— Não te livras de me contar. – disse, sabendo que o professor da próxima aula seria impossível falarmos.

— Eu conto-te, não te preocupes. Prometo-te! – tranquilizou-me.

No caminho para a sala de aula, íamos todas divertidas e a rirmo-nos devido a uma das aventuras que a Sofia tinha passado, porque o seu irmão mais novo tinha desaparecido no parque de diversões durante as férias, quando vejo junto à porta da sala o defunto e a bruxa juntos aos beijos. Não tive a reação que estava à espera, pensava que me ia desfazer em pedaços pelo que eles me fizeram, que o meu coração ia ficar bem apertado com tinha sentido antes de viajar, mas depois apercebi-me que não me fazia diferença, eles podiam estar juntos à vontade que não me interferia em nada, eu iria ser muito mais feliz sem eles na minha vida.

— E o que fizeram quando o teu irmão apareceu? – perguntei para que pudéssemos continuar com o assunto, ia mostrar a toda a gente que estava feliz e muito melhor de que quando estava com aquele anormal.

— Demos-lhe um sermão e agora está de castigo. – continuou a Sofia, apercebendo-se da minha intenção de continuar com o assunto – Agora está sem consola, sem computador e sem telemóvel, quem é que o mandou ir para os carrosséis sem nos avisar, é muito bem feito.

O professor ainda não tinha chegado, como sempre estávamos todos na palhaçada, a falar sobre as férias, o que tínhamos feito, onde tínhamos ido, as curiosidades de sempre após as férias. Estava a turma toda distraída que nem nos apercebemos quando ele entrou na sala.

— Estou a ver que vêm todos muito bem-dispostos das férias. – cumprimentou – Vamos ver se continuam assim por muito mais tempo.

Tinha que ser, para começarmos bem as aulas, o pior professor da universidade, Louis Owl, ele não tem respeito nenhum por nós alunos, acha-se superior a todos, está sempre a rebaixar-nos e sempre a prejudicar-nos nas frequências.

— Tenho a dizer-vos que as notas da frequência estão uma desgraça e, que nem mesmo com mais uma frequência vocês conseguiram fazer a cadeira. Mas como eu sou vosso amigo decidi dar-vos outra oportunidade. Vão ter que fazer um trabalho em grupo para apresentar até à próxima frequência, dependendo dos trabalhos eu depois logo decido se estes substituem a primeira frequência ou se têm um peso na nota final.

— E de quantos elementos serão os grupos? – perguntou alguém no fundo da sala.

— Serão de três a quatro elementos. – respondeu o professor – Mas não estejam já todos animados, quem vai fazer os grupos sou eu. 

O barulho de fundo aumento acentuadamente, ninguém estava à espera daquela, já não estávamos na escola primária para que os professores fizessem os grupos de trabalho.

— Porquê professor?

— Não é justo.

— Deixe-nos fazer a nós.

— Sim professor, nós já estamos habituados a trabalhar com certas pessoas.

— Sem mais discussões! Se não aceitam as condições que eu proponho não se faz trabalho e, o mais provável é que vão todos a exame. – pôs fim à discussão – Isto é para o vosso bem, por estarem habituados a trabalhar com certas e determinada pessoas é que têm de trabalhar com outras. No vosso futuro também não vão poder escolher as pessoas com quem vão trabalhar.

Não havia volta a dar, quando ele colocava alguma coisa na cabeça, não havia maneira de impedir que não se realizasse. 

— Então os grupos de trabalho são... - foi numerando os grupos um a um e, como eu andava numa maré de sorte, o meu grupo foi nada mais, nada menos do que: - Grupo 5: Adrian Martins; Katherine França, João Oliveira e Eliza Cardoso.

— Queres que pergunte ao professor se pudemos trocar de grupo? – sussurrou a Sofia perto de mim, preocupada por eu ter de ficar no grupo dos outros dois.

— Deixa estar, obrigada. Porque haveria de trocar? Tenho que continuar com a minha vida para a frente e não vão ser eles a prejudicar-me. O professor fez de propósito e, não lhe vou dar esse gosto de pedir para trocar. E, para além disso eu até gosto de trabalhar com o Adrian. – respondi-lhe também num sussurro.

— Não pode haver trocas entre elementos de cada grupo. Escolham um porta-voz e no final da próxima aula quero que me entreguem uma folha com o nome e respetivo e-mail, para que possa enviar os temas do trabalho. Agora, continuando com a matéria. - e continuou com a aula, como se nada fosse.

A aula demorou uma eternidade a passar, queria falar com a Rose para que ela me contasse sobre o tal rapaz, mas sabia que nesta aula não podíamos conversar nem muito menos passar papeis com recados sem que o professor desse conta e nos envergonhasse em frente à turma toda. Por isso abri o caderno numa das folhas do final e pôs-me a desenhar. Estava tão distraída que nem sequer dei conta do que estava a fazer.

— O que é isso? – perguntou-me a Sofia, quando a aula terminou.

Só aí é que reparei o que tinha desenhado. Era um olho em que no lugar onde deveria estar a iris estava as ondas do mar. Porque é que eu tinha desenhado aquilo? – É simplesmente um desenho, nada de mais. – disse fechando o caderno de repente.

Quando chegamos ao bar, tinha o meu grupo de trabalho à espera.

— Kate, temos de decidir quem é o porta-voz do nosso grupo. – informou-me o Adrian.

— Já vou ter convosco. – disse à Sofia e à Rose. Virei-me para eles – Ok! Vamos despachar isto que tenho mais que fazer!

— Então como é que vamos fazer isto? – inquiriu o João. 

— E que tal por sorteio? – sugeriu o Adrian.

— Por mim tudo bem. Mas não me importe de ficar de fora. – falei.

— O mais justo é escolhermos entre todos. – reforçou o João. Escreveu em quatro papéis os nossos nomes: Adrian, João, Kate e Elisa. E perguntou: - Quem quer tirar?

— Eu! Eu tiro! – disse a Elisa colocando-se à frente do João. 

O João misturou os papéis nas suas mãos e deu-lhe para que ela pode-se retirar o eleito. Após retirar o papel passou-o novamente ao João para que ele pudesse abrir e ler: - Kate! – e mostrou o papel que tinha o meu nome escrito.

— Não pode ser! Ela fez batota! – acusou a Elisa.

— Desculpa! Estás-te a passar? Foste tu que tiraste o papel e passaste-o ao João para o ler, como é que a Kate fez batota se nunca pegou no papel? – defendeu-me o Adrian.

— Ela fez qualquer coisa, ela quer sempre tudo que é meu. Eu é que devia ter sido a porta-voz. – excedeu-se a Elisa. 

— Elisa, baixa o tom, não é preciso esse escândalo! Eu não quero nada que foi teu, que é teu ou que será teu. E para tua informação tu e que tens ficado com os meus "restos", não sei se já deste conta. Eu estou-me pouco importando para o que tu pensas ou deixas de pensar. Se queres mesmo ser a porta-voz do grupo, tinhas dito logo no início, conforme eu disse que não queria ser e não acusares-me de coisas que eu não fiz, eu nem sequer toquei nos papéis, estás a dizer que agora sou feiticeira e alterei o nome do papel que tiras-te? Cresce que assim não vais longe! Mas fica lá tu a porta-voz é um favor que me fazes. – disse-lhe calmamente sem elevar o tom de voz. Virei-lhe as costas e fui ter com as minhas verdadeiras amigas.

Quando cheguei ao pé delas, inquiriram logo:

— O que foi aquilo?

— Aquilo foi a Elisa a passar-se da cabeça. – respondeu o Adrian que vinha logo atrás de mim – Mas a Kate esteve à altura e colocou-a no lugar dela. Haviam de ter visto a cara da Elisa depois, acho que se tivesse um buraco onde se esconder tinha-se atirado de cabeça para lá.

— Mas tu achas que me importo com isso? Eu estou-me pouco importando para aqueles dois. – afirmei – Eu só quero é que eles desapareçam da minha vida. 

— Estiveste muito bem. Conta comigo para o que precisares. – disponibilizou-se – Eu vou ter com o resto da turma para irmos almoçar todos, querem vir?

— Já lá vamos ter! – respondi-lhe.

— Ok, então até já! – despediu-se.

Assim que o Adrian já estava longe e não nos conseguia ouvir, a Sofia perguntou logo.

— O que há entre ti e o Adrian?

— O quê? Entre mim e o Adrian? Nada. – respondi-lhe à gargalhada mais a Rose. 

— Porque se estão a rir!? É verdade. Ele defendeu-te perante a Elisa e chamou-te para ires com ele. – disse a Sofia meia chateada.

— Primeiro ele chamou-nos a todas e depois não há nada entre mim e Adrian e nunca vai haver. Já conheço o Adrian e o namorado há anos. Não inventes coisas onde elas não existem. – respondi-lhe após parar de rir, frisando bem a palavra namorado. 

— Namorado!?

— Sim Sofia, o Adrian é gay, ele namora com um primo meu. – explicou-lhe a Rose – Apesar de já ter assumido há algum tempo ele mantém-se na dele e, não anda a espalhar aos sete ventos isso. Pensei que soubesses. 

— Não, não sabia. Mas agora muita coisa faz sentido. – pegou no telemóvel e leu a mensagem que tinha acabado de receber – Desculpem, tenho de ir ter como meu grupo, também querem já organizar tudo. 

— Sem stress, vai lá. Encontramo-nos ao almoço!? – disse a Rose.

— Depois ligo-vos. – combinou a Sofia antes de sair. 

— Agora que estamos sozinhas, vais-me contar tudo! – disse virando-me para a Rose - Conta-me lá melhor essa história do rapaz das férias.

— Não há muito para contar. Foi só um rapaz que eu conheci durante as férias. – disse a ficar ruborizada. - Chama-se Alexandre, anda no último ano do curso de desporto.

— Só isso? Estás a brincar comigo, quero mais informações, como é que se conheceram afinal? – perguntei.

— Não foi nada de especial. Sabes o meu primo Luís?

— O pequenito que anda sempre a tirar-te a paciência?

— Sim, esse mesmo. Durante as férias eu fiquei a tomar conta dele, enquanto os meus tios trabalhavam. Basicamente passava o tempo todo em casa, só o tinha que levar aos treinos de futebol. – explicou.

— Foi lá que o conheceste?

— Sim, ele estava a fazer um estágio, era um dos treinadores do Luís. – respondeu – Passamos o tempo todo dos treinos a falar e quando deu conta já tínhamos trocado números e já não era só durante os treinos mas sim por mensagens o tempo todo.

— Então e o Edgar? Já o esqueceste? – Edgar era o meu vizinho, era cerca sete anos mais velho do que nós, ele sempre soube que a Rose tinha uma paixão por ele desde pequena, mas nunca lhe deu esperança. 

— Ele vê-me como uma irmã mais nova, não posso estar a espera de que isso mude, quando nunca vai mudar. – respondeu meio nostálgica – Eu não o esqueci e acho que nunca o vou esquecer, mas...

— Quem é que nunca vais esquecer? – perguntou a Sofia ao juntar-se a nós novamente.

— O rapaz que ela conheceu nas férias. – respondi, ninguém sabia da paixão que a Rose sentia pelo Edgar e ela queria que continuasse assim. Quando olhei para a Rose ele gesticulou-me uma obrigada com os lábios de maneira a Sofia não ver.

— Estou ansiosa para o conhecer. – disse a Sofia. 

— É! Eu também. – disse – E já sabes, se ele te fizer alguma coisa que te magoe, vai ter de se haver connosco. Não é Sofia?

— É pois! – confirmou.

E rimo-nos as três em conjunto.


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