Os Irmãos Park escrita por André Tornado


Capítulo 9
Aulas normais




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Passou uma semana e os acontecimentos do primeiro dia de aulas pareciam um caso isolado. Tornaram-se demasiado distantes para merecerem sequer um apontamento de pé de página na sua preocupação e acabaram por esquecer o incidente com o Johnny. Reduziram a sua importância e foram à sua vida, como sempre o tinham feito. Estavam no Instituto para o Ensino e Ciências Castle of Glass para estudar e fazer o ensino secundário. Esse era o seu principal objetivo e era nisso que concentravam todas as suas energias.

Mike, Brad e Rob eram alunos razoavelmente empenhados quando entravam em qualquer escola – e já tinham conhecido várias. Focavam-se nas tarefas que lhes eram atribuídas, se havia trabalhos de grupo juntavam-se aos outros alunos e participavam ativamente e com a maior naturalidade que lhes era possível. Eram bastante sociáveis e davam-se bem com os outros. Conseguiam essa proeza sem se mostrarem demasiado amistosos ou com uma confiança exagerada. Não invadiam o espaço pessoal dos colegas e os colegas, vendo-os reservados, também não invadiam o deles, porque os tinham como simpáticos e prestáveis. Começavam por montar um perímetro à base do respeito e essa estratégia dava sempre bons resultados.

O Johnny, entretanto, tinha-se afastado, ou acabara assoberbado pela exigência das aulas e deixara de ter tempo para outras questões, Mike não sabia precisar o que tinha sido. De qualquer modo, deixou de se preocupar com o brutamontes.

Mesmo com as coisas aparentemente mais calmas, Mike encarregou Brad de fazer um inquérito exaustivo ao seu novo amigo, o Charles Elliot. Então, ficou a saber que o Johnny era um aluno medíocre, filho do presidente do município, apenas tolerado pelos professores que não gostavam dele e das suas maneiras brutas e ofensivas. Mas faziam vista grossa àqueles maus modos porque ele tinha uma bolsa de estudos que lhe pagava a propina e o pai fazia generosas contribuições monetárias para o fundo financeiro da escola. Era o capitão da equipa de futebol americano e gostava de trocar de namorada todos os meses. Escolhia-as da claque que seguia a equipa e os jogadores nos treinos e nos jogos para o campeonato entre as escolas do distrito.

Mike acreditava que o aparente desaparecimento do Johnny não se relacionava diretamente com o facto de eles, a partir do segundo dia, terem passado a vir para a escola juntos. O brutamontes simplesmente estava ocupado e já se teria esquecido que escolhera o Mike como alvo para aquele ano letivo. Talvez tivesse sido só uma mania que lhe passou pelo cérebro atrofiado naquele primeiro dia de aulas. Encontrara o Mike no refeitório e fizera-lhe mal numa base puramente aleatória.

Bem, o certo era que eles foram deixados em paz e até agradeceram serem ignorados, esgotada a novidade dos alunos caloiros do Instituto – para além deles havia cerca de duas dezenas de outros alunos que ingressavam nas turmas da escola pela primeira vez. Mais ou menos cinco dias depois já ninguém olhava para eles de uma maneira escrutinadora e curiosa, apontando-lhes dedos e cochichando entre si. Isso também facilitou que eles se sentissem bem em assumir que eram irmãos.

Se houve alguém que achou estranho verem-nos juntos, não se aperceberam. Quando estavam na escola, Mike e Brad eliminavam a sua super-audição e Rob bloqueava os feitiços que o faziam aumentar os sentidos para não se depararem com informações desnecessárias e embaraçosas. Deixavam de ter uma abrangência sobre o meio ambiente que os rodeava e que podia ser teoricamente hostil, mas fazia parte do processo de integração tentarem ser como os rapazes da sua idade que, obviamente, não possuíam as suas capacidades extraordinárias.

Dos três, Mike era o mais apreensivo em relação àquela decisão. Ele sempre agira como o líder da irmandade, sempre se dedicara a eliminar ameaças e a protegê-los, parte instinto, parte obrigação. Ter de reconfigurar as suas opções, que costumavam ser bastante intransigentes para o início de cada ano letivo numa escola nova, era uma tarefa árdua que implicava uma grande força de vontade da sua parte. Podia ser visto como um pequeno drama desnecessário. Afinal era só uma mudança insignificante, mas qualquer mudança para Mike era complicada. Requeria preparação, ajuste, dedicação.

No dia em que entraram pela primeira vez juntos na escola, Brad teve de segurar o Mike pela capa para impedi-lo de se afastar ou de fugir. Subiram a escadaria como um trio, franquearam a porta da mesma maneira, percorreram o corredor numa frente unida. Separaram-se apenas no segundo piso, quando foi cada um para a sua sala. Encontraram-se nos intervalos, sentaram-se à mesma mesa no refeitório, esperaram juntos na paragem pelo autocarro da escola que os levou a casa.

O dia acabou por ser fácil e rápido, nem deram pelas horas passar. Repetiram a experiência e convenceram-se de que era mesmo só aquilo. Ninguém os iria importunar porque eles, naturalmente, se excluíam dos grupos, da necessidade de socializar com os outros, de se mostrarem fora das aulas como alguém que precisava de estabelecer relações para futuros convívios.

O amigo do Brad, Charles Elliot, foi aquele que mais esteve com eles, a tentar fazer parte do gangue exclusivo dos irmãos. Apresentou-se, numa manhã, dessa maneira, como o amigo do Brad, juntando-lhe a palavra grande. Eram grandes amigos, pelos vistos, de apenas uma conversa à hora do almoço. O Brad portava-se muito bem, para alívio do Mike. Distraía o Charles, contava-lhe umas piadas, fazia-o sentir-se incluído, mas sem lhe dar muita largueza. O Rob, como habitualmente, alheava-se da polémica.

Então, uma vez que a comunidade estudantil considerava o facto de eles serem irmãos como trivial, com a simpatia benigna do Charles e com o afastamento do Johnny, a semana foi mesmo dedicada às aulas, às matérias e aos caprichos dos professores.

Mike adorava as aulas práticas de arte, em que podia desenhar, colorir ou melhorar a sua técnica a partir de trabalhos entediantes que limitavam a criação. Ele tinha feito alguns cursos de artes, estava bem treinado, mas verificava, com renovado interesse, como os métodos de cada professor variavam. Esforçava-se por não parecer demasiado talentoso nas primeiras aulas e essa manha também fazia parte da sua aprendizagem – a parte que camuflava e que ia mostrando aos poucos.

Depois havia as outras aulas. Mike aborrecia-se de tal maneira que chegou a ser repreendido e deixou toda a sala a rir-se dele porque parecia que havia adormecido. Ele não dormia, obviamente, ele nunca dormia. Podia fechar os olhos e inventar que estava no meio de uma soneca, encerrar os seus sentidos para que o fingimento fosse mais abrangente. Mais como uma brincadeira para si próprio, do que propriamente como provocação. Nem sempre era apanhado, mas naquela ocasião fora-o e até tivera de inventar que corava enquanto pedia desculpa.

Para Brad as aulas corriam bem, sempre de feição, sem nenhuma dificuldade. Ele era, dos três, o que nunca disfarçava que sabia de tudo e mais alguma coisa, exibindo o seu conhecimento sem qualquer pudor ou remorso. Ao fim de uma semana era natural que os professores começassem a aperceber-se da sua genialidade e que começassem a colocá-lo no elenco dos melhores alunos, os estudantes que era preciso acompanhar de perto. Brad adorava a ribalta, a bajulação, o carinho.

Rob na primeira semana descobriu com embaraço que se tinha enganado na área do curso. O desporto no Instituto era levado a sério, demasiado a sério, num espírito de competição tão forte que levava a que os alunos das equipas adversárias fossem vistos como autênticos inimigos dentro de campo. Essa atitude chocou Rob. Ele era um feiticeiro bastante pacífico, um jovem bondoso e pacato, apesar de tudo o que tinha sofrido na sua vida atribulada. Estar num grupo que visava, antes de mais, cumprir os seus objetivos, não importassem os meios, numa raiva competitiva encorajada pelos professores, deixava-o deprimido e até zangado. Os treinadores eram também demasiado exigentes. Adotavam atitudes muito semelhantes a instrutores do exército, obrigando os alunos a cumprirem os exercícios até ao desmaio, doando litros de suor ao campo de jogos. Alegavam que tinham de lhes extrair do esqueleto e dos músculos a preguiça e a moleza das férias.

Ele chegava esgotado, melancólico e aborrecido a casa. Anunciava que ia desistir. Brad sugeria que ele mudasse de área, podia fazê-lo até final de novembro. Mike, por seu turno, era tão rígido quanto os professores. Dizia-lhe para não fazer isso, não podia dar parte de fraco perante os outros. Apertava-lhe os ombros e afirmava que acreditava nele. Rob lamentava-se que o Mike não sabia o terror que eram as aulas de futebol ou de basquetebol, as humilhações servidas sem parar nas aulas de beisebol. Até em esgrima se sentia esmagado pelos gritos impacientes do professor que os insultava do início ao fim. Isso fá-lo-ia mais forte, acrescentava Mike. Só ao Brad é que Rob contou que iria passar a usar feitiços para ajudá-lo a ultrapassar o asco que começava a desenvolver pelas aulas práticas de desporto. E o Brad respondeu-lhe que fizesse como quisesse. Ele também tinha os seus truques. E mais: tinha a certeza de que Mike usava os seus e que não lhes contava, para se passar pelo imaculado do trio.

E era com tudo isto como bagagem recente, numa quinta-feira e a ansiar muito que chegasse a sexta-feira e o fim-de-semana para escaparem um pouco ao teatro que eram obrigados a fazer diariamente, quase a cumprir a segunda semana de aulas, que estavam Mike, Rob e Brad no último intervalo da tarde.

O Brad falava animadamente com o Rob que o escutava com aquela expressão habitual que significava que estava longe dali. O vampiro, contudo, não se calava porque precisava de exteriorizar a sua experiência na aula anterior no laboratório em que tinha evitado uma explosão e ninguém se dera conta. O Mike estava ao lado deles, sentado no murete que dividia os canteiros de uma pequena horta comunitária. Tinham passado panfletos pelas turmas sobre a existência da horta, com o pequeno aviso de que eles teriam de escolher atividades extracurriculares até ao final do mês de outubro. Cultivar legumes podia ser uma dessas atividades.

Mike analisava os outros estudantes com um olhar neutro, vendo os pequenos grupos de amigos, as interações que ele, se retirasse o bloqueador que usava para limitar os seus sentidos, podia colorir a partir das emoções que se trocavam no pátio. Eram todas benignas, umas mais quentes e, portanto, mais vermelhas, do que outras.

Curiosamente nesse exercício, e sempre que acompanhava os irmãos nos intervalos, nunca procurou pelo Johnny para detetá-lo, saber onde estava para esquivá-lo melhor ou preparar-se para a defesa ou o contra-ataque, conforme a abordagem do outro. Nem lhe ocupava a mente, para ser absolutamente sincero.

Mike tinha a capacidade de resolver problemas quando estes aconteciam, por mais complicados que fossem, escolhendo entre várias soluções com acutilância e rapidez. Muitas vezes, porque era um rapaz de dezasseis anos, ainda que tivesse vivido anos incontáveis com essa idade, as suas soluções não eram muito maduras ou adequadas. No entanto, ele aprendia e melhorava de problema em problema.

Brad tagarelava agora sobre o terreno na frente da casa deles, em como estava bonito, que dava outro ar à casa. No fim-de-semana anterior tinham conseguido arranjá-lo. Arrancaram a relva queimada e as ervas daninhas, montaram uma nova cerca e pintaram-na de verde. Construíram um novo caminho empedrado, com pedras novas que bordejaram com seixos redondos e pretos criando um efeito engraçado, que realçava a pequena estrada que ondulava até ao alpendre.

Rob teve um espasmo. Pestanejou quando Brad disse que precisavam de contratar um jardineiro para arrelvar o terreno e disse que ele tratava da relva, como tratara da cerca. Mike voltou a cabeça e pôs-se a admirar os dois a discutirem o assunto do terreno com pequenas frases, como num jogo veloz de ténis de mesa. Comprámos as madeiras para a cerca. E eu montei as madeiras, unindo-as com os pregos. Eu martelei alguns. Eu fiz a maior parte do trabalho com um feitiço. E a tinta? Eu também usei magia. Mas tínhamos um pincel. Eu não me sujei. O Mike também pintou com o pincel. Ele quis experimentar, era divertido. E as pedras? A ideia foi minha. Das pedras mais escuras? Sim, eu é que as colori, com magia. Não me lembro disso. Estavas de costas, a pintar a cerca. Então, sempre a pintei! Não disse que não…

Mike sorria. Brad adorou genuinamente o trabalho que fizeram no terreno da sua propriedade. Começou desde logo a fazer planos para arranjarem a casa, uma divisão de cada vez. Seria uma tarefa interessante para os fins-de-semana. Mike não lhe quis lembrar que dali a umas semanas já não teriam tempo nenhum, por causa dos trabalhos da escola e dos testes, mas não lhe quis cortar a ilusão.

A fachada da casa era decente. A porta era nova, as janelas laterais estavam decoradas com cortinas. As outras janelas, que pertenciam aos compartimentos degradados e sujos, estavam fechadas com as respetivas gelosias, não deixavam ver a ruína que havia por detrás. Teria de bastar para os primeiros meses.

Era sempre assim, invariavelmente. Muitos projetos e boa vontade no início, depois deixavam as coisas naqueles mínimos que servia para que a comunidade não os importunasse demasiado. Bastava uma frente da casa apresentável, agora servida por um bonito terreno com direito a passeio e tudo, para manterem os vizinhos tranquilos. Eles não se importavam com as teias de aranha, os ratos, a madeira podre, o pó, as manchas, a sujidade, a humidade, o bolor, a falta de luz, os cheiros nauseabundos, os germes inerentes. A casa não perdia o estatuto de lar com esses pequenos defeitos. Pelo contrário, assumia um certo encanto que lhes era muito querido, pois eles, no fim de contas, pertenciam à parte sombria da vida que comportava todas essas características decadentes.

Mike pediu-lhes:

— Já chega. Essa discussão não vai levar a lado nenhum. A propriedade ficou arranjada, já não nos vão perguntar sobre o que se passa com o terreno e estaremos em paz com a vizinhança durante o próximo ano. Ou talvez durante os próximos anos. A magia do Rob ajudou bastante. E o teu trabalho manual também foi essencial, Brad.

— O Mike está a mandar-nos calar, Rob.

— Tu tens falado bastante nestes últimos minutos – disse o feiticeiro.

— Qual vai ser a tua próxima aula?

— História do Desporto. Aprendi a desligar-me de olhos abertos e é o que me tem salvado do tédio. Acho que era capaz de me desfazer em cinzas se resolvesse prestar atenção à aula… O professor senta-se à sua secretária, abre o livro e lê as páginas. Sem explicar nada.

— Eu também tenho uma aula assim. Chama-se Inglês – disse Brad, desalentado. – Vocês estão lá comigo e sabem como me esforço para tomar atenção. Não consigo… são muitas letras, coisas chatas, livros de gente morta…

— Rob, vais ter de fazer os testes a História do Desporto.

— Na véspera, eu memorizo as partes do livro que saem no teste. Não te preocupes, Mike.

— Não estou preocupado. E tu, Brad. Não dês tanto nas vistas a Inglês. Já reparei que de aula para aula te vais decompondo numa gelatina humana. Livros de gente morta… nós somos, a bem dizer, gente morta.

— Gente mais ou menos morta, Mike – protestou Brad. – Podemos não ter o coração a bater, mas partilhamos o mesmo espaço com os outros que têm os corações vivos. De vez em quando gosto de me inscrever na área das ciências para ver se consigo descobrir a fórmula certa onde nos podemos encaixar, porque estamos aqui, não estamos? No mesmo mundo dos vivos… Então, não somos os mortos.

— Não somos nada, Brad – suspirou Rob, num momento introspetivo.

— Somos, sim! Seremos alguma coisa e temos de ter o nosso espaço na ciência, porque agora estamos do lado da superstição e do mistério! – empertigou-se Brad. – Haveremos de ter alguma classificação, nomenclatura, espécie e subespécie. Não somos únicos, há mais como nós.

— Brad, o teu amigo Charles está a vir para cá – avisou Mike, raspando o chão com a bota, a imitar um gesto casual, mas aguçou os seus sentidos e fez uma rápida verificação nas redondezas para assegurar que o seu segredo continuava protegido. – Começa a falar de outras coisas…

— Que outras coisas?

— Pois eu acho Inglês menos aborrecido que História do Desporto – atirou Rob e piscou o olho ao irmão.

— O quê? – estranhou Brad.

— Os teus reflexos estão péssimos! – censurou Mike num sussurro sibilante.

— Ei, amigos! – saudou Charles aproximando-se.

A honra estava salva, assim pensou Mike com um arrepio simulado, pois a conversa que o Charles apanhava tinha que ver com as aulas, não com a inclusão na ciência de criaturas fantásticas que eram, por enquanto, inclassificáveis e, portanto, temidas e desprezadas.

— Ei… Charles – gaguejou Brad, dividindo a sua atenção entre Rob e Mike, um pouco confuso por não compreender totalmente o sorriso travesso do primeiro e a cara enjoada do segundo. – Tudo bem?

— Sim, tudo. Estamos a combinar ir lanchar ao Music and Chips, um lugar onde costumamos encontrar-nos todos no fim das aulas. É como uma tradição aqui do Instituto. É um diner simpático, uma cafetaria frequentada pelos alunos daqui. Fica a apenas dois quarteirões, dá para ir a pé. Não querem vir? As aulas já começaram e os grupos estão a juntar-se lá… sabem como é. Definir território e essas cenas. As coisas acontecem todas no Music and Chips. Ainda não os vi por lá, então achei que não sabiam que o lugar existe. Como são novos na escola, na cidade e tal…

Mike continuou enjoado e Rob sorridente. Brad disse:

— Estás a convidar-nos… para um… lanche?

— Sim, sim! – confirmou Charles entusiasmado. – Depois das aulas, no Music and Chips. Curtimos um som, comemos uma tosta, umas batatas fritas, bebemos uns batidos, convivemos com as meninas… até dá para dançar se quiserem. Combinado?

— Eh…

— Vá lá, meus. Vão gostar do sítio. E assim já sabem onde nos encontramos todos. Vocês têm de aparecer por lá também. É obrigatório para todos os alunos da escola. Se não vais ao Music and Chips, estás fora do esquema. Estão convidados e eu vou ficar à vossa espera.

— Está… bem? – respondeu Brad, tentando disfarçar o tom da interrogação, olhando de um para outro irmão que pareciam ter petrificado naquela expressão de enjoo esverdeado e de felicidade forjada.

Charles assumiu que era uma resposta positiva. Alegrou-se, mostrou-lhes um polegar num gesto de OK, acenou-lhes com dois dedos e correu na direção do edifício. Estava a soar a campainha estridente que reverberava pelas paredes internas do pátio chamando os alunos para as salas.

— Espero que saibas o que estás a fazer… – disse Mike.

— Ei! Se era para não ter aceitado o convite para o lanche, tivesses dito alguma coisa! – defendeu-se Brad.

— Não posso ser sempre eu a fazer tudo.

— Esta discussão é inútil – atalhou Rob passando pelo meio dos dois, indo também para o edifício atrás dos outros alunos que se juntavam em filas junto à porta. – Nós iremos ao tal lugar no fim das aulas e assim é mais uma razão para não nos acharem esquisitos.

— Ninguém nos acha esquisitos, Rob – alegou Mike espantado.

— Podem achar-nos esquisitos se recusarmos muitos convites iguais a esse. E é melhor que nos vejam nesse Music and Chips para perceberem que somos alunos normais e que vamos aos mesmos lugares que os alunos normais.

— Olha… o Rob tem razão nesse raciocínio – admitiu Brad.

— Pois é! – fingiu suspirar Rob, num gesto de desalento que era teatral e intenso, ao mesmo tempo. – E com todas estas magníficas capacidades… estou na área do desporto, a aturar broncos.

— Temos de ser versáteis – concluiu Mike. – Na próxima reencarnação, serei eu a escolher desporto.

Brad riu-se alto. Achava completamente despropositado ver o Mike num curso em que tinha de exibir os seus atributos físicos, pois Mike Park não tinha, pura e simplesmente, atributos físicos. Disfarçou a risada quando o irmão o encarou, carrancudo, e explicou que estava curioso com essa cafetaria tão popular entre os estudantes do Instituto.


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