Os Irmãos Park escrita por André Tornado


Capítulo 15
Um desafio




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No final daquela semana o plano para fazer frente ao valentão do Instituto estava delineado. O Brad tinha demorado dois dias a recolher todas as informações pertinentes sobre o pai famoso do Johnny, porque o Charles Elliot fora mais difícil de convencer do que o Brian Hilton a revelar o que sabia. Primeiro assustara-se com a curiosidade de Brad; depois esquivara-se às perguntas; a seguir fizera um teatro exagerado como se aquela matéria fosse um segredo de Estado e que os dois teriam de ser eliminados por andarem a trocar informação sensível ou algo parecido; por fim, lá contara sobre como o pai do Johnny era alguém venerado na cidade. Fora essa a palavra. Venerado. Uma admiração global que perpassava por todos e que não deixava ninguém indiferente. Não havia pessoa mais idónea, honesta, admirável, isenta e maravilhosa do que o pai do Johnny e era esse o motivo porque ele ia já no quarto mandato enquanto presidente do município. O homem era inatacável.

A família do Johnny era muito rica e as suas propriedades, a par de uma história extensa de várias gerações que tinham contribuído ativamente para o desenvolvimento da cidade, davam-lhe um estatuto tão elevado, tão magnífico, que parecia impossível que existissem defeitos, ou forma de penetrar em tão robusta fortaleza. Brad contou ao Mike que para derrubarem o Johnny era quase preciso chamarem um exército e forçarem uma revolução nas ruas. O Mike acalmou-o. Ninguém resistia eternamente, nem mesmo eles que eram imortais, e algum ponto fraco o pai do Johnny teria.

— Não. Sem um único ponto fraco – reforçou Brad. – Ele é perfeito e é amado pelas pessoas da cidade. O pai do Johnny apoia as artes, a educação, reforça os orçamentos das forças policiais para que as taxas de crime sejam as mais baixas da província, faz voluntariado em hospitais e em lares de idosos, participa nas festas dos infantários e das creches, oferece prendas generosas aos amigos e costuma ser bastante altruísta com desconhecidos. Toda a gente o conhece como um homem bom.

— Então o Johnny, com a sua maneira de agir, é o maior ponto fraco do seu pai! – determinou o Mike.

— Pode ser colocado nessa perspetiva.

— Se o pai é um homem bom, o filho é claramente uma pessoa má. Só as pessoas más fazem o que o Johnny faz… atacar os fracos, troçar deles, pregar-lhes sustos, infundir-lhes um medo paralisante, bater, magoar e maltratar.

— Nesse ponto, tens razão.

— Claro que tenho razão, Brad! Porque é que estás com essa atitude?

— Tenho dezasseis anos. É suposto ter esta atitude.

— Tu não tens dezasseis anos, tens dezasseis anos vezes não sei quantos ciclos que é o tempo que nós… Ah!, não quero discutir contigo. Este conflito com o Johnny não deverá afetar a forma como nos damos uns com os outros. Somos irmãos, amigos e companheiros.

— Acho bem. Porque se me vais ter como inimigo… alio-me ao Johnny!

— Estás a brincar.

— Pois estou…

A tarefa de espionagem do Rob, por outro lado, foi mais simples. O Mike desconfiou que o Rob utilizou alguns feitiços. Naquela ocasião fechou os olhos ao deslize, que não fora bem um deslize. O Rob sabia muito bem o que fazia, os meios justificavam os fins. Se ninguém se apercebera na escola de que um feiticeiro andava a distribuir magia, se ele se mantivera discreto, então o Mike não se iria pôr com recriminações. Eles precisavam do plano contra o Johnny fechado de uma vez por todas.

As aulas das turmas de desporto aconteciam na sua maioria no campo de jogos, no ginásio ou em salas no pavilhão que se colava ao campo de jogos. Só nas aulas genéricas e específicas, como Matemática ou Inglês, os alunos de desporto apareciam no edifício principal. Então, para o Rob – com ou sem feitiços – foi muito simples espiar os passos do Johnny porque eles estavam quase sempre juntos, ou perto o suficiente para que Rob tirasse todos os apontamentos para fazer o seu relatório a um Mike impaciente e exigente.

O Johnny era ainda mais idiota quando estava no seu elemento. Tinha instintos brutos e básicos, definia o seu território como um animal e era pouco imaginativo quando tocava a defendê-lo. Não pensava, apenas agia e fazia-o com brusquidão e violência. Rob viu o Johnny mostrar a sua faceta bestial nas aulas que conseguiu observar, pelo meio das suas próprias aulas. Ali, o Johnny já tinha firmado a sua conquista e definido muito bem o seu perímetro. Os seus modos desabridos denunciavam esse à vontade que o tornavam, sem que se apercebesse, mais vulnerável, pois exibia, sem qualquer filtro ou máscara, a sua verdadeira personalidade de rapaz valentão e estúpido.

O Johnny era o capitão da equipa de futebol americano e todos lhe prestavam vassalagem, desde os seus colegas de equipa aos professores que nunca o desmentiam, nunca o contrariavam, nunca o deixavam sem jogar. Para além dos seus guarda-costas, o Tommy e o Sean, o Johnny contava com um séquito de bajuladores que literalmente beijavam o chão que pisava. Era a garantia que tinham de serem notados pelos professores, de jogarem nas equipas principais e de não serem uns eternos suplentes. Depois havia as moças das claques e o tal harém do Johnny era formado, essencialmente, por uma seleção dessas claques. Também elas beneficiavam da atenção do Johnny junto dos professores e assim conseguiam ser escaladas para irem apoiar a equipa nos jogos de treinos e nas partidas inter-escolas mais importantes, ao fim-de-semana.

O campeonato escolar tinha arrancado em outubro e já tinham acontecido dois jogos em que o Johnny brilhara como uma verdadeira vedeta profissional – uma vez por causa do árbitro, que fizera vista grossa a lances duvidosos, outra vez por causa do treinador que cometera a proeza de orientar o Johnny razoavelmente bem, fazendo sobressair as suas melhores qualidades atléticas.

Durante as aulas, o Johnny era um mandrião, um reizinho que não tinha nenhum pedido, desejo ou mania recusados. Raramente treinava. Quando jogava era para entrar em campo como um rolo compressor e varrer todos os que se colocavam à sua frente, ao ponto de ninguém, verdadeiramente, jogar contra ele. As moças guinchavam ao chamar pelo seu nome numa gritaria impossível de aturar e tanto os seus amigos, como os seus adversários, aplaudiam-no sem parar, elogiando-o até ao cúmulo do ridículo, inventando atributos sobre jogadas inexistentes.

Nas aulas teóricas, o Johnny sentava-se na última fila e passava o tempo todo recostado na cadeira, a dormitar. Como não fazia barulho, os professores não se incomodavam e nem se davam ao trabalho de chamá-lo para que fosse mais participativo.

Portanto, compreender e decorar as rotinas do Johnny fora uma tarefa demasiado fácil e até entediante para o Rob. Não constituiu, a bem dizer, nenhum desafio que tivesse algum instante de perigo. Nada de adrenalina, nada de sustos ou andar no fio da navalha.

O Johnny era um tema aborrecido. O rapaz era tão previsível, que Rob se fartou depressa do assunto. Observou atentamente o Tommy e o Sean, esses sim, com mais falhas, mais interessantes, mais acessíveis. Usou os seus feitiços para lançar pequenas confusões e provocar reações que ele decorou, pois essa informação ser-lhes-ia útil mais tarde. Depois prosseguiu com as aulas como habitualmente.

De qualquer modo, o Johnny reparou nele. Seria inevitável, concluiu sem se achar mais importante ou que tivesse espicaçado a perspicácia ou a sensibilidade do rapaz, já que o brutamontes sabia que ele era o irmão do Mike. O Rob passou a precisar de se valer dos seus feitiços de proteção, os mais simples e discretos, para não cair nas armadilhas que lhe preparavam.

O Johnny tinha agentes, mais ou menos fiéis, em todas as aulas da área do desporto. Muito provavelmente essa vigilância estendia-se a qualquer aula dentro do Instituto, já que toda a gente queria ser seu amigo e estar de boas relações com alguém que tinha um pai tão importante. O Rob foi surpreendido com uma falta de material a esgrima por não ter trazido a sua máscara, que ele sabia ter metido no seu saco naquela manhã, e que pura e simplesmente tinha desaparecido. Mais tarde recuperou a máscara no balneário feminino – entrou lá seguindo um feitiço de deteção de objetos perdidos – o que o levou a determinar que alguém tinha feito o serviço a mando do Johnny, ou mesmo a mando do Tommy ou do Sean.

Preparou-se e antecipou outras partidas que se destinavam a prejudicá-lo. E não ficou surpreendido ao ver o Johnny aparecer na aula de futebol, o europeu, não o americano onde ele era a estrela mais brilhante do firmamento da escola. Rob conseguia disfarçar muito bem o seu estado de sobressalto, até dos irmãos, já que tinha um controlo excelente sobre as emoções que passava para o exterior.

O Johnny não sabia jogar futebol porque era um desporto que precisava de técnica, perícia, imaginação e dos pés, coisas que ele não possuía e que não se adquiriam com fama ou com o dinheiro do pai. Rob ficou a observá-lo a aparecer no campo de treinos, vestido com um colete amarelo fluorescente, de peito inchado como um galo, com os cordões dos atacadores das chuteiras desatados, as meias enroladas nos tornozelos, fanfarrão e desmazelado.

O professor substituto que auxiliava o professor nos treinos, que funcionava como uma espécie de treinador adjunto, intercetou-o à entrada do campo. Falou com ele por breves instantes e regressou para junto do professor, a quem confidenciou o que estivera a debater de forma tensa com o novo aluno. O professor coçou a cabeça com um dedo e encolheu os ombros. Olhou para a prancheta que segurava com um ar entre o pensativo e o contrariado.

— O Johnny vai jogar connosco, hoje? – sussurrou alguém, aflito.

— Parece que sim…

— Vai dar-nos cabo do jogo todo.

— Quem vai jogar com ele?

— Estou mais preocupado com quem vai jogar contra ele.

O treinador chamou-o. Rob apressou-se numa corrida. Gostava de se mostrar obediente e cumpridor. Se por um lado não chamava a atenção sobre si pelos motivos errados, por outro mantinha-se no estatuto de bom aluno que não causava problemas e acabava por passar despercebido. Ele adorava essa ambiguidade.

Normalmente, Rob jogava na posição de guarda-redes por ser um dos rapazes mais altos da turma, mas o treinador, naquele dia, disse-lhe que queria que ele jogasse à defesa, pelo centro do terreno. Entregou-lhe um colete verde. O professor substituto estava também a distribuir coletes verdes e a formar uma nova equipa, baralhando os jogadores que costumavam jogar juntos. Rob percebeu que o Johnny era a causa, pois continuava a envergar um colete amarelo e ninguém lhe pedira para trocar de equipamento. O Johnny era o elemento externo e fixo, o que provocava a perturbação no esquema da aula, mas os professores não o queriam confrontar. Tudo o resto é que se moldava em seu redor. Rob irritou-se com isso. Depressa acalmou-se. Iria jogar à defesa, na equipa adversária da do Johnny, o que queria dizer que se iriam enfrentar em campo. Seria um desafio complicado.

Nada de feitiços, determinou orgulhoso. Ele partiria para o confronto como um rapaz normal, o mais normal que pudesse ser.

Os rapazes que jogavam ao lado do Johnny não estavam muito seguros de si, nem se mostravam exultantes por, teoricamente, estarem ao lado do jogador mais forte de ambas as equipas. O Johnny era conhecido por ser individualista e por não respeitar as regras, o que levava a que os seus colegas se sentissem apreensivos. Tanto podiam sair beneficiados, como prejudicados, se o professor resolvesse ser menos permissivo.

Os rapazes que iriam jogar contra o Johnny estavam amedrontados, para não dizer aterrorizados, com a possibilidade de terem de o enfrentar. Com a sua envergadura, ele sozinho era capaz de varrer, cilindrar, trucidar e desfazer qualquer um. Rob olhou para os seus companheiros. Teve pena deles. Depois incentivou-os e disse-lhes que era só um jogo de futebol.

— Prepara-te, Park. Tu é que vais ter de travá-lo.

E sem feitiços! Vou conseguir.

Rob posicionou-se no relvado. Evidentemente, Johnny tornou-se no capitão da equipa dos amarelos e era ele que estava no círculo central a decidir o pontapé de saída ou o campo onde jogar. O professor seria o árbitro e foi ele que atirou a moeda ao ar.

Os verdes tiveram de se contentar com a escolha do campo porque o Johnny teve a sorte de poder dar início ao jogo. Rob espreitou o rapaz que seria o guarda-redes. Viu-lhe os joelhos a tremer. Ergueu um punho.

— Aguenta-te aí atrás! Eu não vou deixar o Johnny passar por mim.

— Faz falta se for preciso, Park! – gritou-lhe o guarda-redes. – Mas faz de maneira a que não sejas topado.

— Estás a brincar? Quem é que consegue travar aquela massa bruta de carne? O Johnny quando investe é como um touro! Terei de ser inteligente… e maleável.

— Faz como achares melhor. Mas não me deixes enfrentá-lo sozinho, de baliza aberta!

— Não te preocupes.

Vou pará-lo. E vai ser sem feitiços!

O forma do Johnny jogar era demasiado evidente. Assim que se viu com a bola nos pés, porque achou que lhe cabia a ele arrancar com o jogo, enquanto capitão e dono daquilo tudo, arrancou como uma seta para a baliza contrária. Não existia mais ninguém para ele – nem companheiros, nem adversários. Só ele, a bola e a baliza. A sua principal vantagem, contudo, era precisamente essa maneira de abordar o desafio – num egoísmo revestido a força e empenho, que seria mais vantajoso se considerasse jogar em equipa. Agindo sozinho tinha mais hipóteses de falhar, mas ele não tinha cérebro para compreender isso e era essa a maneira como o podiam derrotar.

Rob viu os seus companheiros tentarem travar o Johnny. Quiseram tirar-lhe a bola legalmente, ilegalmente e alguns nem sequer se aproximaram, transidos de medo de serem trucidados naquela debandada de um homem só.

Ele fincou os pés na relva, fechou os punhos. Teria de tomar uma decisão. Fazer-se à jogada ou deixá-lo passar. Olhou brevemente por cima do ombro e viu o guarda-redes com os olhos arregalados, pálido, a tremer dos pés à cabeça, agora não eram só os joelhos.

— Simmons, protege-me o flanco! Avança que eu vou tentar desarmá-lo!

— Perdeste o juízo, Park? Vais ser atropelado!

— Se for, será falta.

— Ninguém marca as faltas cometidas pelo Johnny!

— Vai! Vai já ou perdemos a oportunidade!

Rob desatou a correr, de frente para o Johnny que estava tão fixo no seu objetivo de marcar aquele golo inicial e colocar-se à frente no marcador, porque só ele interessava, só ele jogava, a sua equipa vinha depois do seu ego e do seu currículo pessoal, que nem o viu avançar. Rob fez uma finta que lhe partiu os rins. Visou a bola. Com um forte pontapé arrancou o esférico dos pés do Johnny. A bola saiu disparada para a sua direita, onde corria o Simmons, que a apanhou e a passou para um companheiro mais adiante.

O Johnny tropeçou e caiu, urrando de raiva. Rob adiantou-se um pouco, mas não muito, porque ele não podia abrir a sua posição na defesa. Com o Johnny desarmado, a sua equipa, os amarelos, começou a jogar a sério. O professor mandou-o levantar-se e o Johnny, num pequeno teatro, esmurrou a relva e cuspiu. Ao passar por Rob, que observava o jogo que se desenrolava no campo adversário, deu-lhe um encontrão. Olhou-o carrancudo, numa mensagem de aviso de que estava de olho nele e que não toleraria outra ousadia igual. Rob devolveu-lhe o olhar sem qualquer pingo de medo. Estava ali para a guerra e não iria vacilar.

Claro que o cérebro limitado do Johnny não percebeu as intenções do Rob. O mundo resumia-se a ele próprio, em todas as vertentes. Mesmo os outros só existiam para servi-lo e para lhe dar a ribalta. O Johnny foi lá à frente e arrancou a bola a um rapaz da sua equipa… e com as mãos… diretamente dos pés dele! Rob abanou a cabeça. O professor apitou e marcou a falta.

— Sem mãos, Johnny! E não se desarma um jogador que está a jogar contigo! Desarma-se os adversários! Viste o Park? Tirou-te a bola de uma forma impecável. Impecável!

E sem feitiços!

Dessa falta nasceu o primeiro golo dos verdes que Rob festejou entusiasticamente.

Novo pontapé de saída da marca do círculo central, porque a equipa amarela tinha sofrido o golo e, de acordo com as regras, deveria ser essa a equipa a reatar o jogo. O Johnny apoderou-se da bola, arrancando-a do seu companheiro tão bruscamente que ele protestou junto do professor. Este limitou-se a abanar a cabeça e a fazer um gesto com a mão que segurava o apito para deixar andar.

A segunda investida do Johnny foi mais violenta e Rob não o conseguiu travar. Tentou fazer a mesma finta, mas a conjugação dos seus pés com os pés do Johnny não ficou bem feita, o encaixe não resultou tão perfeito e a perna do Rob foi pontapeada pelo pé do Johnny que ainda impulsionou a bola mais uns metros com o mesmo golpe. O feiticeiro rebolou pela relva a gritar de dor, agarrado ao tornozelo. Simmons aproximou-se. Rob gritou-lhe, entre dentes:

— Cobre a direita, ajuda a baliza. Ele não pode marcar. O Johnny não vai marcar!

O Simmons obedeceu e a explosão de alegria que se escutou deu a entender ao Rob que o Johnny não tinha mesmo marcado aquele golo. Entreabriu um olho, a respirar pesadamente sobre a erva, e viu a bola capturada pelas mãos do guarda-redes que estava lívido e arquejante, como se tivesse acabado de enfrentar um demónio.

— Park, estás em condições de continuar?

— Sim… professor! – Rob engoliu os queixumes e levantou-se a coxear.

— Professor, não quer fazer substituições? – sugeriu um rapaz dos amarelos. Era notório que queriam livrar-se do Johnny.

O treinador acedeu ao pedido. Apitou e mandou o Johnny sair depois de fingir consultar a prancheta. O brutamontes indignou-se.

— Porque é que tenho de sair eu?! – vociferou.

Rob viu a pequena discussão que se gerou e afastou-se. Sabia que o Johnny já tinha jogado o que devia naquela partida, que nem sequer lhe pertencia. Ele introduzira-se naquele treino sem ter sido chamado, convidado ou convocado, e agora chegava a altura de o mandar embora.

O professor substituto teve de intervir e de convencer o Johnny. Primeiro tentou ser diplomata e honesto, usar empatia e persuasão. Como não foi bem-sucedido, teve de ser esperto e mentiu que tinha recebido uma mensagem, que o Johnny precisava de ir para o treino de voleibol. O Johnny estranhou, ele não estava na turma de voleibol, mas também não estava naquela turma de futebol e a dúvida instalou-se no seu cérebro vazio. Ficou hirto, fez uma careta, resmungou. Ainda protestou que queria marcar um golo. Negociou nesses termos. Saía depois de marcar um golo.

Fizeram-lhe a vontade. Aliás, todos lhe fizeram a vontade, porque todos queriam vê-lo pelas costas. Os verdes, os amarelos que eram a sua equipa, os professores. Abriu-se um corredor no terreno. O Johnny correu e não foi travado por ninguém. O guarda-redes fingiu que se atirava ao chão, a bola passou longe e foi aninhar-se nas redes. O Johnny celebrou ruidosamente – fê-lo sozinho. Riu-se, braços no ar – novamente sozinho. Despiu o colete amarelo, atirou-o ao chão e saiu do campo.

Quando Rob encontrou-se com Mike e Brad no pátio, durante o último intervalo do dia, vinha a coxear.

— O que foi? O que tens? – perguntou Brad, preocupado.

— Lesionei-me durante o jogo de futebol.

— Ah… Mas esses jogos têm pancada à mistura?

— A lesão não interessa porque consegui informações preciosas sobre o nosso… amigo.

— Ah, sim? – interessou-se Mike.

— Sim. Ele é muito popular na escola, mas também é a pessoa mais sozinha que aqui está. Ele não vai conseguir enfrentar os irmãos Park, porque nós não estamos tão sozinhos quanto ele. Nem precisamos de o atacar através do Tommy e do Sean. Podemos fazê-lo diretamente… na ocasião certa.

— Estás bastante otimista – desconfiou Brad.

— Gosto do otimismo do Rob! – disse Mike.

O feiticeiro sorriu-lhes. A seguir, estalou os dedos e curou o tornozelo inchado.


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