Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 9
Sétima regra: Tomar cuidado com os pais




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Katsuki nunca ligou muito para os fins de semana. Quer dizer, é bom ter que aturar o povo da sala só na parte da manhã no sábado e ter o domingo todo pra malhar e estudar em silêncio, fazer trilha nas montanhas ou sair pra comer ramen carregado na pimenta, às vezes até jogar um videogame e botar os mangás em dia, mas no geral, fins de semana são parados pra porra, e entre passar raiva ou morrer de tédio, ele não tem dúvida: a primeira opção é um pouco melhor. Isso só se agrava com essa história de troca de corpos, porque o que caralhos ele vai fazer enfiado no corpo da Cara de Lua? Não dá pra fazer o que normalmente faria, mas nem fodendo que ele vai fazer sabe-se lá o quê ela costuma fazer nos fins de semana.

Por sorte, o Quatro-Olhos e a Rabo de Cavalo vão pra casa dos pais, então vai ter como os dois trocarem de quarto e poderem ficar de boa nos seus verdadeiros quartos por pelo menos uma noite. A Cara de Lua parece animada com isso e, Katsuki não vai mentir, também gosta muito da ideia. Nenhum dos dois está feliz por não poder agir mesmo tendo uma pista real sobre o pivete que fez isso com eles, mas… o treino de hoje tá um pouco mais tranquilo, sim.

—  E ó, nem precisa me dar sermão, eu vou… pedir desculpa pra Rabo de Cavalo mais tarde. —  ele murmura enquanto os dois dão uma pausa pra beber água.

—  Ah… não precisa… não esquenta com isso. —  ela dá de ombros.

—  Hã? Como assim? Isso não tem a ver com aquela regra de não foder com vida um do outro?

—  Sim, mas… eu… não acho que você estivesse errado. —  ela olha pra cima, como se estivesse pensando — Eu… não gostei muito do que a Momo-chan falou, pra ser honesta, então… eu entendi sua reação, talvez eu tivesse dito o mesmo, não do seu jeito grosso, mas… enfim, não precisa se desculpar, Bakugou-kun.

—  Então… você não tá puta comigo. —  ele resume só pra ter certeza que tá ouvindo certo.

—  Não, dessa vez, não. Na verdade, eu achei… bem legal o que você disse…  — ele a encara, confuso — Sobre eu ter minhas próprias ideias e decisões, aquilo foi bem legal.

—  Ah é? —  Katsuki aperta a garrafinha de água, deixando o líquido escorrer na boca, mas sem tirar os olhos dela.

— É. Então… obrigada. —  ela sorri, e Katsuki quase se esquece de engolir a água. Que diabos tá acontecendo com ele? —  Bom, vamos acabar com isso, então? Não sei você, mas eu tô louca pra curtir o resto do sábado!

—  Hum… não quero nem imaginar que merda você vai fazer com meu corpo… —  ele resmunga.

—  Nada demais! Eu vou limpar meu quarto, assistir TV, e talvez eu dê uma passada na confeitaria nova que abriram aqui perto, espero que eles tenham um daifukumochi bem em conta!

—  Tsk, vê se não queima meu filme por aí, Cara de Lua, eu nem gosto de coisa doce. E vê se não esquece dos meus dados.

—  Vale o mesmo pra você! —  ela cruza os braços e mostra a língua pra ele. Ridícula.

—  Eu sei, eu sei. —  ele limpa a garganta —  Meu nome é Uraraka Ochako, tenho 16 anos e estou na turma 2-A da U.A. Nasci dia 27 de dezembro em Mie, meu tipo sanguíneo é B, minha comida favorita é mochi! Meus passatempos são admirar as estrelas e andar com os maiores imbecis da minha sala! —  ele fecha os punhos na frente do peito e balança os ombros da maneira mais ridícula que ele consegue.

—  Besta! —  ela o olha feio, mas ajeita a postura, pondo os braços pra trás e o peito pra frente —  Aí, porra, meu nome é Bakugou Katsuki, tô com 17 anos e tô na turma 2-A da U.A. Onde e quando eu nasci não são da sua conta, minha comida favorita é qualquer coisa ardendo na pimenta e meu tipo sanguíneo não te interessa também, porra! Meus passatempos são quebrar a cara de quem me enche o saco e gritar “Morre, seu merda!” por aí.

Ele revira os olhos e sorri debochadamente pra ela. A real é que… é uma imitação bem convincente dele, mas nem fodendo que ele vai admitir isso pra ela.

—  Engraçadona você.

—  Você que começou. —  ela se espreguiça e se levanta —  Vamos terminar esse treino logo!

—  Peraí, Cara de Lua. —  ele se levanta e ergue a mão —  Só me fala uma coisa: qual é o seu lance com dinheiro?

Já faz um tempo que ele quer perguntar isso pra ela. Ela já tinha falado algo sobre isso, o nerd de merda falou alguma coisa parecida e a Menina Sapo fez questão de frisar “Fica tranquila, você não me deve nada, ok?” quando veio entregar pra ele uns cupcakes que comprou na tal confeitaria. Esse assunto de dinheiro sempre volta quando é sobre ela, e ele precisa saber o porquê.

— Meu… meu lance? Não tem nenhum lance, não… por quê? Por que você tá perguntando isso?

— Porque me dá nos nervos como falam em dinheiro perto de você como se tivessem falando de alguma doença ou sei lá. Tua mãe falou pra você não ficar encucada porque o carro quebrou e ficou caro pra arrumar, aí a Menina Sa-

—  Você falou com a minha mãe? —  ela se aproxima, com um olhar preocupado. —  Ela percebeu alguma coisa? Como ela tá? E meu pai? Quanto ficou o conserto do carro?

—  Uma pergunta de cada vez, porra! —  ele se afasta, incomodado com a mudança no comportamento dela —  Ela não percebeu, e seus pais tão bem. Mas aí, não muda de assunto, qual o lance com o dinheiro?

—  Ah, se você falou com a minha mãe, eu acho que… eu posso te contar. Minha família é… dona de uma firma de construção pequena lá em Mie, não aparece muito serviço, então… a gente não tá nadando em dinheiro, exatamente.

—  Você é pobre.

—  É, basicamente sim. —  ela diz, completamente sem jeito —  Então eu faço o possível pra economizar ao máximo que eu posso, eu quero arrumar um emprego de meio expediente e… bom, é um dos meus motivos pra ser heroína.

—  “Um dos?”

—  É. Enfim… não é algo que todo mundo sabe, só as pessoas mais próximas, e… bom, se você puder não gastar muito se você resolver sair pra comprar alguma coisa, eu agradeço…

Katsuki a encara por alguns segundos. Dinheiro… é, o serviço de herói pode pagar bem pra caralho, faz sentido. Ele nunca pensou muito nisso porque pra ser o número 1, sinceramente, ele faria tudo de graça, nunca passou por sua cabeça que alguém teria uma motivação tão pé no chão pra ser herói, não que ele pense muito nisso porque não importa. Mas ainda assim, é… curioso, ainda mais pra alguém como ela.

—  Tsk, é esse tipo de coisa que você tem que me contar, não as fofocas que você faz com aquelas meninas!

—  Não é… uma coisa que eu gosto de sair falando pra qualquer um, é bem… pessoal.

—  E eu sou “qualquer um”, por acaso?  — dessa vez, ele se aproxima, fazendo-a recuar até que as costas dela encontrem a parede atrás deles. Katsuki tá pelo menos uns 20 centímetros mais baixo nesse corpo, mas no momento ele se sente bem maior e mais seguro ao apoiar a mão próxima à cara dela —  A gente tem que confiar um no outro. Esqueceu, cabeção?

—  Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe. —  e ela também não parece tão intimidada quanto ele achou, encarando-o de volta com o mesmo olhar firme que ele próprio costuma apresentar. —  E até parece que você confia em m-

Ela é interrompida pelo celular dele vibrando na mochila apoiada em uma das pedras, os dois ainda se encaram mais um pouco antes de ela decidir empurrá-lo de leve e ir até o telefone.

—  Que que foi agora? —  ele pergunta em irritação.

—  É uma mensagem da… “Velha louca”? —  ela rola a tela e arregala os olhos —  Sua mãe?

—  O que caralhos ela quer?

—  Hã… ela quer que você vá pra casa hoje.

—  Ah porra!



***

Ochako já teve a oportunidade de conhecer o furacão Bakugou Mitsuki. 

 

Foi no último dia de aula antes das férias de primavera, Ochako tinha acabado de sair do prédio das salas de aula com o Deku e ambos rumavam ao dormitório quando uma mulher de cabelos cor de areia e olhos vermelhos os abordou, cumprimentando o Deku e dizendo que ele tinha crescido muito, já tava quase um homem, a resposta dele, claro, foi ruborizar e gaguejar um “Ah! Imagina!” — foi super bonitinho, por sinal —  a senhora Bakugou pediu informações sobre onde era a sala dos professores e os dois prontamente desviaram do seu caminho original para levá-la até lá. A senhora Bakugou perguntou se os pais deles já tinham vindo conversar com o professor e pegar o boletim deles, e Ochako teve que explicar superficialmente que os pais dela não poderiam vir e que ela mesma levaria o boletim. O começo da resposta da senhora Bakugou a fez pensar por um momento que essa mulher lembrava o filho apenas em aparência: “Tadinha… tão jovem e já tão responsável…”, mas o resto da resposta entregou de quem o Bakugou puxou o temperamento: “...talvez eu devesse largar meu Katsuki sozinho pra se virar por um tempo pra ver se ele vira gente, aquela peste dos infernos!”. 

 

Ao longo do caminho, a mãe do Bakugou ainda fez outro comentário sobre o Deku e, inocentemente (ou não), perguntou porque ele não ia mais na casa do Bakugou brincar, e o Deku, muito educadamente, desconversou e disse que tava ocupado ultimamente. O assunto podia ter morrido ali, mas não, a senhora Bakugou tinha mais um comentário a fazer: “Ah sim, imagino, com a escola, treino de heróis e uma namorada linda dessas, deve ser difícil mesmo”. Antes que Deku ou ela pudessem negar veementemente, eles chegaram à sala dos professores, e a mulher se despediu. “Muito obrigada, mocinha! Até mais!”.

O que ela não sabia, na época, é que esse “Até mais!” acabaria acontecendo de verdade. E o que nem ela nem a senhora Bakugou sabiam é que seria dessa forma, com Ochako presa e se passando pelo filho dela.

Ela não queria ir. Qualquer coisa seria melhor que isso! Treinar com o Bakugou pelo resto da tarde, ir ao vestiário masculino, abrir todos os vídeos que o Mineta manda nos grupos que têm só os meninos… qualquer coisa seria melhor que ir pra casa do Bakugou e ter que lidar com a mãe dele. Ela sabe que é uma péssima ideia, o Bakugou também deve saber, mas ele insiste que ela não precisa ir. Pelo pouco que Ochako sabe da senhora Bakugou, nada de bom pode acontecer se ela for contrariada.

—  É só um dia e meio, não pode ser tão ruim. —  ela diz enquanto arruma a mochila dele.

—  Vai ser uma merda! Você não tem que obedecer só porque a velha maluca mandou uma mensagem!

—  Você não iria, então? —  Ochako para e o encara.

— Tsk, só porque eu ia querer ir pra casa, não porque ela mandou. —  ele resmunga, desviando o olhar — Se você não quer ir, não precisa.

—  Sua mãe quer o filho dela em casa. Tecnicamente, sou eu.

— Tá, você que sabe. —  ele dá de ombros — Se você não fosse, ela ia acabar aparecendo aqui pra te levar à força, aquela velha maldita!

—  Sim, a gente não precisa chamar mais atenção pro nosso lado, né? —  ele concorda com a cara emburrada — Bom, acho que eu já vou.

—  Quando você descer na estação, ela vai tá te esperando num carro azul.

—  Ok. Bakugou-kun?

—  Que é?

—  Aqui. —  Ochako estende um pedacinho de papel pra ele —  O endereço do meu apartamento. A chave tá na primeira gaveta da minha escrivaninha.

—  Pra quê isso? —  ele franze o cenho.

— Todo mundo foi pra casa esse fim de semana. Se você vai ficar sozinho, é melhor que não seja aqui, né? —  ela coça a cabeça, sem jeito — Além disso, a gente fica quite.

—  Tsk, que besteira!  — ele resmunga, mas pega o papelzinho e o analisa — E outra coisa, se você tem todo esse lance com dinheiro, por que ainda paga um apartamento se tem o dormitório da U.A.? Tem como morar aqui, não sabia?

— Ah, eu sei. É só que… — mesmo depois do papo de antes, ela ainda tá um pouco constrangida em se abrir com ele — …tem o contrato de aluguel pra um ano e meio.

— E pagar a multa de rescisão sai mais caro do que terminar de pagar o aluguel até o fim do contrato. — ele revira os olhos, apontando com tédio como se tivesse lido os pensamentos dela. Provavelmente notando seu espanto, ele a encara — Essa gente de imobiliária é tudo careira pra caralho. — e guarda o papelzinho no bolso, o que a faz sorrir levemente.

Claro que ela não fica confortável em tê-lo no apartamento dela, mas ele com certeza não tá confortável em tê-la em sua casa, então nada mais justo já que a situação não pode ser evitada. Além disso, saber que ele entende a situação com bastante clareza a faz ter certeza de que seu humilde apartamento está em boas mãos.

O mínimo que Ochako pode fazer é tentar ser tão confiável quanto o Bakugou.


—  Até que enfim, moleque! Por que caralhos você demorou tanto? —  ela pergunta assim que Ochako entra no carro.

—  D-desculpa, eu não planejava vir pra casa esse fim de semana, então arrumei tudo de última hora.

—  E VOCÊ NÃO RESPONDE PRA MIM, GAROTO! SE NÃO EU V- Peraí, você falou o quê?

—  Que eu arrumei tudo de última hora? —  Ochako se ajeita ao ver que a senhora Bakugou retraiu a mão e não vai lhe dar um pescotapa.

—  Não, moleque! Você falou “desculpa”? —  Opa! Que droga!

—  F-falei. —  ela cruza os braços e fecha a cara —  Algum problema, por acaso?

Ochako quer pular pra fora desse carro, com o corpo resistente dele, ela provavelmente nem se machucaria muito. Seria bem melhor do que ficar aqui, sob o olhar ferino da mãe do Bakugou. É como se ela tivesse os olhos de zoom da Hatsume, analisando o seu suposto filho e o que tem de errado nele.

—  Tsk, moleque mal-educado do caralho. —  ela resmunga e volta a olhar pra rua à frente. Ufa! —  Onde você tava na hora que eu te mandei mensagem?

—  Treinando.

—  Debaixo desse sol? Você é maluco, depois passa mal aí e não sabe o porquê. Já não basta ter metido a cabeça na da sua colega, coitada!

—  Não foi culpa minha!  — Ochako se apressa em explicar, realmente, não foi culpa dele, foi dela —  Ela… só queria me ajudar, mas acabou fazendo besteira, aí nós dois acabamos machucados. Mas não foi culpa minha, então… por favor, hã… não seja injusta.

A mulher a olha de soslaio e dá de ombros. O resto da viagem é silenciosa e desconfortável, mas isso era esperado. Uma semelhança tanto na mãe quanto no filho é que eles não costumam gritar se ninguém estiver gritando de volta. O silêncio pode não ser a opção que a deixe mais orgulhosa, mas é a única que protege esse segredo bizarro dela.

— Vai guardar suas coisas. Quando for umas seis e meia, desce e vem ajudar seu pai a fazer o jantar. Entendeu?

—  Sim. Ob- hã… valeu pela carona. —  ela responde sem encará-la e pega a mochila correndo.

—  Tá, de nada. —  ela responde secamente.

Ochako não esperava que a casa do Bakugou fosse tão grande. Ela nunca imaginou que ele fosse rico, agora ela tá até com vergonha de ter entregado a chave do apartamentozinho pra ele. Não é uma mansão como a da Momo ou do Iida, mas ainda assim, devem caber umas cinco kitnets dela aqui nessa casa, que não só é enorme, como é super chique, parecem aquelas casas que aparecem em programas de decoração e design. Ochako sobe as escadas e se depara com várias portas. Ai droga, qual delas será que é a do quarto dele?

Ela decide chutar, e abre a segunda à direita… encontrando vários manequins e um senhor de cabelos castanhos-claros, sentado e desenhando.

—  Opa! Tudo bom, filho? —  Ochako congela, como ele reagiria se o filho dele perguntasse onde fica o próprio quarto? —  Tá precisando de alguma coisa?

—  Não, nada. Só vim dar oi. —  ela murmura e se retira, sabendo que o senhor Bakugou deve estar super confuso depois dessa.

Após mais duas tentativas, ela acha o quarto do Bakugou. O ambiente é… surpreendentemente comum, tirando a cama gigante. Um poster enorme do All Might e a pilha de video games no chão entregam que é um quarto de um garoto adolescente. É quase como uma versão maior do dormitório dele, tudo bem simples e organizado, como o próprio quarto dela.

Ela se senta na escrivaninha e contempla o recinto, sem a menor ideia do que fazer. Os planos dela para hoje à tarde eram arrumar o quarto e assistir à TV, mas… Ochako não se sente confortável para fazer nenhum dos dois aqui. Ela não se sente confortável para nada, então é irônico que o que ela faz é recostar-se na cadeira da escrivaninha e fechar os olhos. 

 

Ochako acaba cochilando antes que perceba.



***

—  Desculpa! Desculpa! Eu acabei perdendo a hora!  — ela surge esbaforida na cozinha, passando pelo balcão e parando em frente ao fogão. A senhora Bakugou está próxima à pia enquanto o senhor Bakugou corta vegetais, e Ochako se prepara para tomar um tapão na orelha, mas a senhora só a olha com atenção, aproximando-se e medindo-a de cima a baixo.

—  Katsuki, não mente pra mim. Você tá bem?

—  O quê? Lógico que sim! Por que eu não estaria?

A senhora Bakugou leva uma mão em cada orelha dela, examinando-a como se ela tivesse uma lente microscópica. Olhando daqui, Ochako só consegue admirar a pele completamente sem poros, algo lhe diz que essa senhora é mais velha do que aparenta.

— Escuta o que eu tô te falando, Masaru, tem alguma coisa errada com esse moleque. —  ela se afasta e cruza os braços.

—  Deixa disso, Mitsuki, o menino só tá cansado. A enfermeira da escola te passou alguma recomendação depois do acidente, filho?

—  Não, ela tratou a gente e liberou um dia depois. Por quê?

—  Eu acho que você tinha que ter ficado mais um dia internado, hein? Cê bateu a cabeça e tá agindo estranho, moleque. Ou tá doente ou tá aprontando alguma, qual é que é?

—  E-eu… aprontando? Eu não!  — ela responde, indignada. Caramba, é difícil controlar o tom de voz perto dela.

—  Viu, amor? Vamos dar o benefício da dúvida a ele, que tal? Agora senta ali e deixa que a gente faz o jantar, ok? —  o senhor Bakugou apoia as mãos gentilmente nos ombros da senhora, guiando-a em direção à sala, logo depois ele se volta para ela, lançando um olhar de “essa não foi fácil, hein?” e sorri —  Depois do jantar, você quer me ajudar no estúdio?

—  Ah… tá. —  ela dá de ombros, não é como se ela tivesse o que fazer mesmo...

—  S-sério mesmo? —  ele fica extremamente surpreso —  Que ótimo, eu prefiro quando você me ajuda porque quer e não porque sua mãe te obriga. Obrigado, filho.

Gente, essa família é muito estranha! Ochako já tá ficando com dor de cabeça, é difícil acompanhar os picos de raiva da mãe e a gentileza do pai. Talvez porque ela esteja acostumada a não conviver diretamente com os próprios pais por conta da distância, mas é estranho ser mantida em rédeas tão curtas, ela se sente pressionada, como se tudo que fizesse é errado… dá pra entender porque o Bakugou é escandaloso daquele jeito, ele não tem muita escolha, se não acaba engolido nessa casa elegante com uma mãe de presença tão forte.

Uma hora depois, Ochako também entende porque o Bakugou só ajuda o pai no tal estúdio se for obrigado. Claro que os motivos dele devem ser diferentes, mas ela está extremamente desconfortável se encarando no espelho e tendo um garoto incrivelmente musculoso sem camisa como reflexo. Tudo bem que o Bakugou deixou ela andar por aí sem camisa, mas o plano dela não era ter que olhar, ela só queria experimentar essa liberdade.

—  Agora estica os braços, por favor. —  o pai dele fala baixinho enquanto estica a fita métrica. Os dois param quando o celular do Bakugou vibra, indicando que tem mensagem, Ochako olha pra ele, esperando por permissão para poder olhar. —  Oh, pode ver quem é.

Ela arregala os olhos ao ver que é uma selfie dela mesma. Ela tem um lenço amarrado na cabeça e um esfregão na mão, além de uma expressão emburrada na cara. A legenda da foto: “Sua casa tá uma zona!”

Ochako abafa uma risadinha. Então ele acabou indo para o apartamento dela, afinal. Ela se sente um pouco culpada e muito sem graça por saber que ele está lá sozinho, então responde a mensagem: “Muuuuito obrigada, fico te devendo essa!”. Pouco tempo depois, ele responde: “Acho bom msm” Ela ri baixinho.

—  Tá fazendo planos com o Kirishima-kun pra amanhã? —  o pai dele pergunta com um leve sorriso.

—  Hã? Não, o Kirishima vai tá ocupado com o Kaminari-kun amanhã. —  Ochako não sabe se o Bakugou chama os amigos dele por apelido quando eles tão longe, mas na dúvida, ela vai chamá-los pelo nome, já que é o certo.

—  Ah, então é outro amigo seu. Ou é amiga? —  ela não se considera exatamente amiga do Bakugou, eles só são colegas, no máximo —  Ah, desculpa, esqueci que você não gosta que a gente fique perguntando…

—  É só uma colega, pai. —  ela responde, sem um pingo de coragem de ser grossa com ele.

—  Ah, por acaso é a colega com quem você brigou essa semana? —  Ochako arregala os olhos e o encara — O seu professor ligou pra avisar, eu não contei pra sua mãe porque você sabe, né? Ele me disse que foi ela que começou a briga.

—  É, mas a gente já se resolveu. —  ela murmura.

— Que bom, fico orgulhoso que você esteja amadurecendo e resolvendo suas diferenças sem brigar. —  o senhor Bakugou envolve a cintura dela com a fita métrica, e Ochako cora ao encarar-se no espelho mais uma vez.

—  Valeu… por não contar pra ela.

—  Não precisa me agradecer, filho. Só seja gentil, tá bom? —  Ochako acena, tentando não sorrir.

Depois de ter servido como manequim para o pai do Bakugou, Ochako se veste com alívio e sai do estúdio dele. Ao passar pelo corredor, ela vê uma das portas entreabertas. Ela resiste à curiosidade ao escutar a mãe dele cantarolando suavemente e segue andando, mas congela quando ouve a voz dela.

—  Katsuki? Vem aqui. —  ela obedece relutantemente. Ao entrar no quarto, é difícil disfarçar a admiração com a cena diante de si.

O quarto é adornado por vestidos. Vestidos longos, curtos, brilhantes, de várias cores. O Bakugou mencionou brevemente que os “velhos” dele trabalham com moda, mas ela não imaginou que a mãe teria uma exposição de vestidos suntuosos assim, é incrível!

—  Pode… pode falar.

—  Coloca aqueles ali nas capas de plástico pra mim. —  ela ordena sem tirar os olhos da máquina de costura, e Ochako obedece prontamente.

Ao terminar de organizar, ela para para admirar as fotos emolduradas nas paredes, a maioria delas da senhora Bakugou posando e exibindo roupas tão maravilhosas quanto as que ela tem guardadas aqui, mas também tem uma dela vestida de noiva ao lado do marido e mais duas dela com o Bakugou, em uma ele é um bebê, e na outra ele devia ter uns quatro anos. Ochako sorri ao ver que ele tinha um sorrisão, mas o olhar intimidador já estava lá.

—  Katsuki? Que que você tá olhando aí? —  a senhora Bakugou para ao seu lado e acompanha o olhar dela.

—  Nada! Quantos… anos eu tinha ali?

—  Ali? Cinco anos, tá vendo que você já ficava com as mãozinhas prontas pra criar explosões? —  ela aponta e … sorri? — Aqui, quer ver mais fotos? — ela se abaixa e pega uma caixa em uma das prateleiras, entregando-a pra ela. E as duas acabam sentadas em uma das poltronas do estúdio.

Ochako jura que tentou, mas não tem como não sorrir ao ver as fotos do casal Bakugou mais jovem e as fotos dele mais criancinha. Por mais incrível que pareça, o Bakugou era… fofinho? É tão estranho usar essa palavra pra definir qualquer coisa relacionada a Bakugou Katsuki, mas ela não consegue pensar em outra. Folheando os álbuns, ela se depara com uma foto da senhora Bakugou sorrindo com a testa toda suada e um bebezinho vermelhinho ao seu lado. Só pode ser uma foto tirada logo depois que o Bakugou nasceu. Ela parece tão… feliz e realizada, é encantador.

—  Ah, lembra desse dia? —  ela pergunta ao puxar uma foto e entregar pra ela —  Quando você subiu na calha da vizinha pra salvar o gato dela? Você acabou todo arranhado, mas conseguiu descer com o gato. —  A foto é… uma gracinha, o Bakugou tá com uma camiseta com estampa do All Might meio rasgada e vários arranhões no braço, mas ele sorri enquanto segura o gato orgulhosamente. —  Quando me perguntarem, eu vou dizer que foi nesse momento que você virou herói.

—  Quando perguntarem?

—  Ah sim, eu sei que vai vir um monte de repórter encher o saco quando você começar a ficar famoso e eu vou ter que mostrar suas origens. Essa foto aqui é muito valiosa, sabia? —  ela balança a foto e dessa vez, com certeza, sorri — Agora vai dormir, moleque. — ela bagunça seu cabelo levemente enquanto se levanta da poltrona.

Ochako volta para o quarto dele dando um leve sorriso. É, a família do Bakugou pode não ser fácil, mas com certeza é o que faz ele se desafiar com tanta coragem e paixão, outras duas coisas que ele obviamente herdou de ambos os pais.


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Notas finais do capítulo

Chegando com atualização e com uma adição que não tinha na postagem original, tava relendo pra corrigir e percebi que não tinha muito sentido a Ocha ainda ter um apartamento depois que o sistema de dormitórios foi implantado, mas achei uma solução que me parece plausível na condição dela, e ainda serviu pra dar mais um toquezinho de "olha, ele entende o sofrimento dela!". É bobo, mas agora achei que ficou bem melhor huhaihsuha

Obrigada por ler! Espero poder voltar em breve, mas semana que vem tô aqui com essa repostagem, pelo menos hauhsihsus



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