Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 31
Um conjunto de regras desorganizadas chamado amor




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A última vez que Ochako esteve apoiada sobre a parede do corredor da enfermaria, foi porque o Deku se machucou ao pular para empurrá-la e protegê-la de um prédio em ruínas. Ela chorou um pouco, muito mais pelo choque de toda a situação e os pormenores que a envolvem do que por temer o Deku estar seriamente ferido ou algo assim. Ela sabia que tava tudo bem, o que é completamente o oposto de agora.

Quando o socorro médico chegou, a água-viva Mochi já estava do tamanho de um balão de festa, Ochako estava em choque, e o Bakugou não estava respirando. O que aconteceu depois é um blecaute na cabeça, e agora ela espera do lado de fora da enfermaria, não a da escola, e sim a de um hospital. Nada está bem, e mesmo assim, ela não consegue chorar. Ochako não consegue fazer nada além de orar e esperar que ele esteja bem.

Não porque é o corpo dela lá dentro. Ok, talvez em parte seja, mas não do jeito que seria normal nessa situação: existe uma chance remota de eles voltarem pra seus corpos verdadeiros, mas essa chance é menos que remota, na verdade inexistente se… o pior acontecer. Como ela poderia voltar para seu próprio corpo se o próprio corpo não tiver vida? Ou melhor, como o Bakugou pode voltar para seu corpo verdadeiro se sua mente estiver presa em um corpo sem vida? Nem mesmo esse pensamento desesperador faz as lágrimas caírem.

Ochako não acredita que ele ainda pensava na vez que ela o salvou, imprevistamente desencadeando essa confusão toda. Ele é orgulhoso e difícil, mas ela achou que pelo menos isso eles já tinham superado, porque aconteceu tanta coisa nesse mês, ela sente que mudou muito e tem certeza que é o mesmo pra ele, então descobrir que todo esse tempo ele ainda tava mordido por ter sido salvo por ela não cola. Ela não sabe o motivo, mas sabe que ele mentiu! 

E tudo que Ochako quer é que ele acorde e possa falar o porquê de ter se arriscado daquela maneira para protegê-la. Seria ótimo descobrir porque o Katsuki achou que aquele era o momento de voltar a ser o mesmo garoto afobado e inconsequente que há muito não vinha sendo.

E Ochako ama esse garoto. Ela o ama em cada um dos muitos defeitos e em todas as inúmeras qualidades.  Ela o ama… e teve duas chances pra falar isso pra ele hoje.

E por fim, as lágrimas caem, molhando o uniforme de herói do garoto que ela ama e arregou pra assumir, duas vezes pra ele, incontáveis vezes pra si mesma. Ochako se apaixonou aquele dia no metrô quando eles estavam falando sobre suas inseguranças e medos, tudo que aconteceu de lá pra cá foi teimosia dela em ter esperança de que poderia fazer funcionar com o Deku e medo de afastar o Katsuki caso ele percebesse.

—  Aqui. —  ela pisca em surpresa ao ver a Yaomomo encostada na parede junto dela, estendendo um lenço.

—  Yaomomo, eu-

—  Acredito que você costuma me chamar de “Rabo de Cavalo”, Bakugou-kun, não me lembro de termos nos aproximado de modo que não me cause desconforto em ser chamada de “Yaomomo” por você. —  ela diz em tom extremamente sério — Vocês mantiveram essa farsa por semanas, que diferença faria continuar mantendo agora?

—  Eu sinto muito mesmo por ter mentido, mas você não entende! O garotinho estava sumido, nós não sabíamos como destrocar, você acha que o diretor Nezu ia permitir que a gente vivesse nossas vidas normalmente desse jeito? Eles iam nos isolar, Yaomomo, a imprensa ia ficar sabendo, teria sido um caos!

—  Maior do que esse caos de agora? —  ela cruza os braços — Vocês têm sorte que o Aizawa-sensei nos fez assinar um termo de confidencialidade sobre essa missão, se não eu seria obrigada a relatar todas as violações do dormitório que você e o Bakugou-kun cometeram. E… eu realmente fiquei me sentindo mal achando que você estava chateada comigo. — ela a olha com mágoa.

—  Eu sei. Me desculpa por isso, Yaomomo. —  ela abaixa a cabeça —  Eu sei que a gente fez muita coisa errada, e a consequência disso tá aí, e… eu… eu realmente espero que a gente seja punido por tudo isso, mas… pra isso acontecer, o Katsuki-kun precisa sair dessa.

Ela não diz mais nada, e Ochako não sabe se isso é bom ou ruim, ela merece toda e qualquer bronca, sabe que fez coisa errada, que se ela não tivesse concordado com esse plano maluco, ele teria desistido também e agora eles não estariam aqui. Então podem gritar, brigar, suspendê-la por tempo indeterminado, façam o que quiserem, só salvem o Katsuki.

— Mantenha a calma, vai dar tudo certo. —  a Yaomomo diz, apertando a mão dela discretamente, Ochako aperta de volta e limpa as lágrimas com o lenço.

O que se mostra inútil, porque assim que ela vê o Kirishima e o Todoroki se aproximarem, cai no choro outra vez.

—  Kirishima-san, como está o Kaminari-san?

—  Tá de boa, deixaram ele descansar em uma das salinhas, ele tá até conversando normal, só saí porque os policiais queriam falar com ele sobre o caso e tal.

—  O Midoriya  e o Sero também estavam sendo interrogados, logo mais eles se juntarão a nós. —  o Todoroki responde, olhando-a com curiosidade.

—  Kirishima-kun, sei que não vale de nada, mas eu sinto muito mesmo, me perdoa! —  ela se curva, notando como ele parece pular de surpresa.

—  P-por que você tá pedindo desculpas pra mim?

—  Porque eu não consegui te convencer a desistir de nos ajudar, agora você tá encrencado, seu namorado entrou em curto-circuito e… seu melhor amigo… por minha culpa! Me desculpa por tudo, Kirishima-kun.

—  Ei, deixa disso! Não precisa pedir desculpa por nada, eu vim porque eu quis, o Denki se fritar não é novidade e o Bakugou…o moleque é casca grossa, ele vai sair dessa, você vai ver! —  ele sorri e ergue o punho, rapidamente abaixando-o quando percebe que Ochako reparou que ele tá tremendo — Então… não chora e não se desculpa, ok? O Bakugou não ia gostar de te ver assim.

—  Além do mais, quem deveria se desculpar é ele por agir sem pensar e colocar o seu corpo sob um perigo tão grande. —  o Todoroki diz sem um pingo de amargor ou pena, ele realmente acha que a coisa mais lógica a se dizer nessa situação é isso mesmo.

—  Todoroki-san! —  a Yaomomo o repreende com o olhar.

—  Ah… lamento, Uraraka, eu só digo isso porque sei que ele vai ficar bem, é do Bakugou que estamos falando, ele é assustadoramente resistente e-

—  No corpo dele, talvez. —  Ochako o interrompe — Mas ele não tá no corpo dele, ele tá no meu, que não tem nem… um quarto da força que esse daqui, eu… —  ela dá um sorriso amargurado — … ontem ele me disse que eu não sou frágil nem inútil, e agora tá sentindo na pele que isso não é verdade… —  ela funga, deixando as lágrimas rolarem, e a Yaomomo segura a mão dela com mais força.

—  Uraraka-san…

—  Talvez eu esteja errado e você pode me corrigir já que o conhece melhor, Kirishima, mas o Bakugou nunca afirma nada do qual não tenha certeza absoluta, não é? —  o Todoroki pergunta.

—  Ahã, com ele é só preto no branco.

—  Hum… no geral eu não consigo tirar proveito de quase nada do que ele diz, mas se o Bakugou passou um mês no seu corpo e afirmou que não há nada de frágil e inútil em você, eu consideraria seguro confiar na constatação dele. —  Ochako o olha, e recebe um raro e precioso sorriso como resposta — Eu também sou do tipo que apenas afirma o óbvio, Uraraka, então gostaria de pedir que você não subestime você ou seu corpo, o Bakugou ficará bem justamente por ser o seu corpo.

—  Oloco, Todoroki! Até arrepiei agora! Isso que é um discurso de macho!

—  Você é surpreendentemente bom em discursos motivacionais improvisados, não, Todoroki-san? —  a Yaomomo inclina a cabeça e sorri.

—  O Inasa diz que é porque eu tenho muita paixão e ardor escondidos em meu coração, o que quer que isso signifique. —  ele diz, pensativo.

E o assunto está fascinante, de verdade, mas Ochako o encerra na hora, assim que a médica surge de dentro da sala pra onde o Katsuki foi levado. Ela meio que empurra o Todoroki para chegar perto da doutora.

—  Qual de vocês é o Bakugou? —  ela pergunta, e Ochako pula na frente dela.

—  Eu, eu! Sou eu!

—  Pode entrar. —  ela faz um gesto para ela passar. E Ochako vai, olhando pra trás rapidamente. A médica não falou nada, nem se está tudo bem ou não, mas se ela pode vê-lo, deve ser um bom sinal, certo? Ou… e se for para dizer adeus? Ochako engole em seco, fecha os punhos, respira fundo e abre a porta. 

O Katsuki está aparentemente bem, deitado e de olhos abertos, dá até para dizer que ele tá fazendo cara feia, e ela entende perfeitamente o porquê, embora só consiga fazer cara de espantada para a cena diante dela.

No quarto, estão ele, o Aizawa-sensei, o senhor e a senhora Bakugou e…

—  M-mamãe? Papai?

***

 

Katsuki grunhe de dor ao tentar virar a cabeça rapidamente, esse corpo que não é dele lembrando-o de não fazer movimentos bruscos, ele já fez cagada demais com o corpo dela hoje. E ver essa cara espantada ao entrar no quarto só o lembra ainda mais do quão grande foi a cagada.

—  Q-quer dizer… v-velha! E… velho! E… vocês quem são? Com essa cara redonda, só podem ser… —  tsk, o esforço dela em se manter na personagem seria louvável se não fizesse Katsuki se sentir ainda mais um merda.

—  Ochako… é você mesmo, filha? —  a mulher vai até ela lentamente, como se tivesse com medo.

—  O quê? —  a Ochako arregala os olhos, suando em bicas —  Do que você tá falando? Eu nunca te vi antes, eu… —  ela funga — ...eu… eu tava com tanta saudade, mamãe! —  e lógico, desata a chorar, agarrando a mãe dela com força, Katsuki aperta os lábios, tentando ignorar todo esse drama —  Papai, mamãe, me desculpem, me desculpem! Eu nunca achei que fosse acabar assim, eu juro!

—  Você imagina o pânico que a gente entrou quando recebemos uma ligação do seu professor falando que você tava num hospital da cidade, filha? —  o pai dela a abraça também — A gente veio o mais rápido que pôde, pra chegar e ver que nossa filha aparentemente tá bem, só que não é nossa filha? E vocês tão assim há um mês?

—  Eu sei! Me desculpa, papai! Eu não contei porque não queria preocupar vocês, vocês já têm tanta coisa pra resolver, não precisam de mim fazendo besteira tão longe de casa, e eu só queria resolver tudo rápido sem ninguém descobrir nada, eu só… eu só… —  ela soluça, e Katsuki fecha os olhos, segurando essa vontade de gritar, de chorar, alguma merda assim!

—  E por algum motivo você achou que conseguiria infiltrar a sede de uma organização criminosa, resgatar todas as crianças, e que ninguém perceberia nada. —  o Aizawa diz secamente.

—  Aizawa-sensei, eu… eu sabia que a gente ia acabar sendo descoberto e punido, tinha certeza que a gente teria nossas licenças cassadas…

—  Por mais que fosse o procedimento padrão na situação, o Diretor Nezu intercedeu em favor de vocês, seus nomes estão incluídos na missão de resgate que uma das agências de heróis solicitou. Até onde todos sabem, vocês estavam lá porque eu os designei para a missão, vale o mesmo para o Midoriya e o Kirishima.

—  Katsuki! Você arrastou o Kirishima-kun e o menino da Inko pra essa sua maluquice também? —  a velha maldita resolve abrir a boca de novo.

—  Vai te catar! Eles vieram porque quiseram, eu não obriguei ninguém a vir atrás de mim! —  ele vocifera, suprimindo um gemido de dor.

—  K-Katsuki-kun! —  ela se solta do abraço dos pais e corre pra perto da cama —  Eu vim aqui pra te ver e nem falei com você ainda! Você… você tá…

—  A individualidade de cura da doutora Yosano está no mesmo nível da Recovery Girl. —  o professor explica — Ela pode te dar os detalhes melhor, Uraraka, mas seu corpo ficará bem, embora há uma grande chance de ficar cicatriz. —  olhos arregalados e brilhantes o encaram, merda! O Aizawa não pode sair falando uma coisa dessas assim como se não fosse nada.

—  Então você está bem, Katsuki-kun? —  ela respira fundo e… sorri? Puta que pariu, ele se arrepia inteiro —  Que bom! Eu tô tão feliz! — ela se move pra abraçá-lo, ele a impede erguendo a mão.

—  Ah, ele ainda está usando bandagens, querida, é melhor não tocá-lo por enquanto. —  a velha fala gentilmente — Eu tô doida pra dar uma coça nele, mas nem isso eu posso fazer com ele todo fodido desse jeito!

—  Ah, Mitsuki, também não seria correto considerando que… esse não é o corpo do nosso filho… —  o velho fala naquele tom frouxo dele — Lamentamos muito, familia Uraraka, nós deveríamos ter reportado assim que percebemos o que estava acontecendo, mas achamos que o professor responsável já estava cuidando da situação.

—  Peraí, vocês… vocês sabiam? —  ela se vira com olhos arregalados, nem conseguindo disfarçar o dialeto de Kansai, deve ser porque ela tá perto dos pais. Katsuki odeia como mesmo ferrado desse jeito, ele não consegue deixar de achá-la adorável pra porra.

—  Ah, querida… —   a velha dá uma risadinha e se aproxima dela —  ...você se esforçou muito, deu pra perceber, mas não adianta fingir ser alguém que você não é, ainda mais quando você é claramente educada e doce, diferente desse traste que é meu Katsuki. —  Maldita! — Mas eu confesso que esperava que você fosse um pouco mais esperta que ele e pediria ajuda de um adulto responsável quando a situação perdesse o controle.

—  Ei! Vê lá como você fala com ela!—  ele resmunga. Quem essa velha acha que é pra falar que a Ochako não é esperta?

—  Muito fácil você defender a menina agora, depois de ter se jogado com o corpo dela sem o menor cuidado e respeito, moleque! Você tem merda na cabeça ou o quê? Família Uraraka, nós lamentamos muito de verdade, eu e o Masaru nos comprometemos a pagar os custos da viagem de vocês até aqui e o tratamento para os ferimentos da Uraraka-chan. Tem muitos procedimentos que praticamente somem com as cicatrizes, querida, você vai ver.

— Aproveitando o ensejo, eu também me desculpo por ter deixado a situação chegar a esse ponto. Eu estava de olho nos dois desde o começo, mas como podem imaginar, não há exames que comprovem que duas pessoas trocaram de consciência assim. Eu cheguei a conversar com profissionais da saúde mental sobre o caso para submeter os dois à avaliação, e eles mesmos disseram que é muito difícil examinar uma situação assim. Aparentemente, há muitas divergências nas áreas psicológica e psiquiátrica em se tratando de definir o que é “identidade”, então, sem provas físicas, não havia muito que eu pudesse fazer. Eu esperei até o último minuto para ver se eles viriam até mim, mas não, seus filhos realmente acharam que poderiam passar por cima de todo mundo e resolver essa situação sozinhos. Francamente… —  ele balança a cabeça levemente — então não se preocupem, a responsabilidade é toda da U.A., já que a troca de corpos aconteceu durante uma missão designada pela instituição. Nós arcaremos com todos os custos referentes a tratamento, locomoção, enfim… sabemos que não compensa todo o transtorno causado, mas é o mínimo que podemos fazer.

—  Tsk… Tá esperando o quê pra pedir desculpa pra Uraraka-chan e pra família dela, moleque? —  ele só a olha feio.

—  Ora, nossa filha parece ser tão culpada quanto o garoto… —  o pai dela fala, e Katsuki sente o amargor no tom dele ao se referir a ele —  Se bem que me preocupa que o seu filho tenha passado um mês no corpo da minha filha como se não fosse nada demais. —  por mais que ele tente segurar, não consegue deixar de ruborizar. Katsuki quer gritar “Nada demais é o caralho! Você não falaria uma merda dessa se soubesse a tortura que isso tem sido pra mim!”, mas antes que ele faça mais uma merda, ela faz um barulho de surpresa e se vira para os pais.

—  O Katsuki-kun nunca tiraria proveito da situação, papai! Ele é correto e respeitoso! —  depois ela se vira pros velhos dele — Por favor, saibam que vocês criaram um perfeito cavalheiro e deveriam se orgulhar muito dele! —  Porra, Ochako, cala essa boca!

—  Nós… nós não estamos questionando a educação que o Bakugou-kun recebeu, filha, só nos preocupamos porque… é difícil confiar em alguém que deixou essa situação chegar a esse ponto, e… com todo respeito, família Bakugou, mas o pouco que sabemos do seu filho nos dá direito de ficarmos preocupados.

—  Mamãe, papai, me desculpem, mas não posso deixar vocês falarem dele assim. Se querem saber, assim que a gente percebeu que tava trocado, o Katsuki-kun concordou em eu contar pra vocês se quisesse, fui eu que não quis! E quando o Aizawa-sensei tentou me pôr contra a parede, eu neguei tudo e continuei fingindo que era ele e… mesmo agora, se ele tá todo machucado, foi pra me salvar, então…

—  Tsk, cala a boca, Cara de Lua! —  ele esbraveja, e ela se vira para olhá-lo.

—  K-Katsuki-kun?

—  Para de me defender, só… fica quieta antes que você piore tudo! E… só pra você saber, se seu corpo tá todo fodido assim foi porque eu te protegi pra você não foder com meu corpo. —  ele cerra os punhos, reunindo coragem pra continuar — Quem mandou você ser lerda pra descer aquela hora? Eu tive que me meter porque você não sabe se virar! Então tá aí, você me salvou daquela vez, agora eu te salvei, a gente tá quite! Me deixa em paz, porra!

Ele a olha apenas para encontrar olhos lacrimejantes e lábios trêmulos, a postura dela faz parecer que acabou de ser esmurrada. 

Merda, ele não queria deixá-la triste, ele queria deixá-la puta, com raiva dele por ter posto o corpo dela em perigo assim, por ter insistido que ela deveria salvar a pirralha. Isso tudo é culpa dele, a própria troca de corpos aconteceu porque ela inventou de salvá-lo quando ele deu uma vacilada e não viu o raio vindo em sua direção. Toda essa merda cai na conta dele, e Katsuki não merece essa idiota maravilhosa o defendendo com tanto vigor, ele não merece nem o direito de olhar na cara dela depois de tudo que fez. 

Mas porra, nem pra deixá-la irritada ele presta! É como o merdinha da turma B falou: o Bakugou é um egocêntrico que acabaria a machucando. Ele a magoou, e é pro bem dela.

No fim, Katsuki nem é tão diferente daquele maldito do Deku.

 

***

—  Muito bem, à punição. Vocês estão em prisão domiciliar a partir de segunda-feira, isso significa que não poderão fazer as provas que ainda faltam. Vocês farão as provas durante as férias de verão, além de refazer as que fizeram no nome um do outro. Obviamente as questões serão diferentes. —  o Aizawa-sensei diz em seu tom mais severo.

—  Até a do All Might, que foi em grupo? —  o Katsuki pergunta, murmurando.

—  Eu já ia chegar lá. Com exceção da do All Might. Segundo o próprio, ele não sabe mexer no site da escola e já lançou as notas de vocês como permanentes, não dá mais pra mudar. —  ele diz, soltando um longo e cansado suspiro, provavelmente sabendo que isso deve ser uma grande de uma mentira e o All Might está sendo camarada — No mais, agradeçam ao seu colega Shoji por ter vindo a mim dizendo que suspeitava que vocês agiriam ontem à noite. Foi muito trabalhoso lançar as informações que ele coletou para alguma agência de heróis pegar e partir em ação.

—  Certo, agora que o Aizawa mordeu, eu vou assoprar. —  o diretor Nezu descruza os braços, ou as patas, no caso e se curva diante deles, fazendo tanto Ochako quanto o Katsuki recuarem um pouco em surpresa — Não estou dizendo que esconderem algo tão sério foi certo, mas aprecio que tenham feito isso em parte por preocupação com o que aconteceria com a imagem da U.A., há uma certa maturidade na decisão de vocês, e por isso eu agradeço. —  e então ele se levanta — Mas que fique claro que tamanha irresponsabilidade não será tão perdoada facilmente no futuro, então nunca mais tentem agir pelas nossas costas assim, nós estamos de olho nos dois, não importa que sejam dois dos alunos mais estimados do Aizawa. — ela cora, lançando um rápido olhar para o Bakugou, que também está envergonhado com o comentário — E por favor, não façam mais nada que preocupe esse homem, ele não dorme há semanas e- —  o Aizawa limpa a garganta de um jeito nada sutil — Ah sim, você precisava falar mais uma coisa, certo?

—  Creio que a mais importante, Diretor. Quanto a desfazer a troca… —  Ochako de repente se dá conta de algo bizarro: ela tava quase esquecendo disso! Foi uma madrugada tão louca, entre os interrogatórios da polícia e do Aizawa-sensei, o reencontro com seus pais, a espera pela punição e a certeza de que o Katsuki estaria bem ao ser transferido do hospital para a enfermaria da U.A., ela mal teve tempo de pensar no garotinho e a promessa dele de aprender a reverter o efeito de sua individualidade —  ...nós fomos atrás das informações que vocês nos passaram sobre o Kisaragi-sensei e o filho dele.

—  Acho bom aquele velho responder por um processo ou alguma merda assim. Tsk, dando informação sobre como prever e forçar individualidade nos pirralhos, esse cara é tão cuzão quanto os bandidos! —  o Katsuki resmunga.

—  Bom, isso é algo para a polícia lidar, mas pode ter certeza  que tudo será investigado. O garoto Kisaraki Hideki já está sob tutela do Estado e vai passar  por avaliações médicas, assim como todas as outras crianças que nós salvamos naquele galpão.

—  Ufa! Pelo menos uma notícia boa… —  ela deixa escapar, pondo a mão sobre o peito em alívio —  Ah, sensei, eu não sei se o senhor lembra, mas eu te falei sobre a possibilidade de o Hideki-kun nos destrocar…

—  Sim, eu me lembro. Como eu disse, ele está sob cuidados do Estado agora. Além do mais, tudo leva a crer que, por ser uma individualidade forçada e quebrada, ele não será capaz de destrocá-los.

—  Ah… —  ela diz em tom baixo, é tudo que consegue dizer enquanto deixa a revelação correr por seu sistema. Eles não podem ser destrocados, e agora? Ochako olha para o garoto preso em seu corpo, ele permanece de cabeça baixa, recusando-se a olhar pra ela desde… desde a hora em que acordou lá no hospital.

—  Mas nós conhecemos um outro alguém que pode. —  o Diretor Nezu sorri — E essa está sob nossa tutela… —  espera… é quem ela está pensando?

Antes que Ochako possa perguntar, o Aizawa-sensei vai até a porta, e momentos depois, volta acompanhado de um homem e de uma garotinha que ela conhece muito bem.

—  Eri-chan! —  ela sorri, realmente feliz em vê-la.

—  Uraraka-san. —  Ochako acena com a cabeça, dessa vez ela não precisa se fingir de boba.

—  O que a Menina Unicórnio aí tem com isso?

—  Ah, você não teve chance de conhecê-la, Bakugou. —  o Aizawa se vira para ela e dá um breve sorriso — Vai em frente, explica sua individualidade pra ele.

A Eri olha para o Aizawa-sensei, depois para o Katsuki, dá pra perceber que ela parece intimidada.

—  Eu… quebro… e depois conserto.

—  Isso mesmo. —  ele sorri, orgulhoso —  Ela pode retornar o corpo de uma pessoa a um estado anterior. Como anteriormente você estava naquele corpo e a Uraraka nesse, nós acreditamos que ela pode recuperá-los.

—  Mas não é certeza. —  o Katsuki observa.

—  Ela está aprendendo a manusear a individualidade agora, mas tem mostrado progresso em trazer a individualidade do Togata Mirio de volta.

—  É a opção que temos agora, mas claro, se quiserem esperar pela avaliação do Kisaragi, nós podemos solicitar uma moção junto ao governo. —  o Diretor explica complacentemente — É o que faremos caso a Eri-chan não consiga ajudá-los.

—  Tsk, se a menina já tá aí, que seja ela. Vâmo só resolver essa merda logo.

Ochako o olha, sentindo algo parecido com um aperto no peito, o que deu nele? Por que ele tá sendo tão ríspido? Quer dizer, isso ele sempre foi, mas agora é diferente, ele tá sendo… frio, e o Katsuki nunca foi frio, nunca com ela. 

Ele jamais a tratou com indiferença, e é… doloroso, porque ela estava começando a acreditar que o que o Deku disse é verdade, e ela é quem mais o entende, mas… isso passa longe de ser verdade agora, Ochako não tem a mínima noção de porque ele está agindo assim. Será que… que quando ela estava o defendendo lá no hospital, ele… percebeu que ela gosta dele? Por isso ele tá se distanciando, já que é o que vai acontecer assim que eles voltarem para os próprios corpos?

É isso que vai acontecer? Eles vão mesmo fingir que nada disso aconteceu e… voltar ao que eram? Ochako morde o lábio que não é dela, era pra ser assim desde o começo, por que ela tá tão triste com isso? Ele já tinha deixado claro que não tem interesse nessas coisas, e ela… ela gostava do Deku.

 Eles vão sair dessa do mesmo jeito que entraram, foi a promessa, mas só agora ela entende o que isso significa de verdade: eles entraram como colegas que se respeitam a uma certa distância, qualquer coisa além disso é fruto da imaginação de uma garota incapaz de se blindar contra esse tipo de sentimento…

—  Uraraka, você está de acordo? —  o Aizawa-sensei e o Diretor Nezu lançam olhares inquisitivos na direção dela.

Ela olha pro Katsuki em seu corpo, ele não olha de volta. Ochako se volta para os dois adultos e acena com a cabeça em uma expressão séria.

—  Sim. Quanto antes tudo isso acabar, melhor.


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Notas finais do capítulo

Oioi! Tô aqui com o antepenúltimo capítulo, faltam só duas semaninhas :'))

É uma coisa bem pequena e besta, mas na versão original o nome da médica era Haruno, fiz uma referência a Naruto sem nem ser t]ao fã assim, aí agora mudei pra uma referência a Bungou Stray Dogs, esse eu realmente gosto muito huahauhsu

Obrigada por ler, espero que esteja curtindo!



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