Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 30
Para toda regra, meu mais sincero "dane-se" - Parte II




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Katsuki aperta os olhos em descrença e irritação, não porque um dos moleques com quem ele tava lutando tem uma individualidade fodida de invocar um monstro de geleca verde, não porque a geleca verde é nojenta pra caralho e nem mesmo porque o monstro é gigante e ataca aleatoriamente —  uma individualidade forçada em um pivete que nem saiu das fraldas dá nisso — mas porque ele nem teve chance de descobrir como vencer esse treco, já que do nada o maldito monstro foi congelado, instantaneamente derrotado.

E se tem gelo no meio, só pode ter dedo de um metido do caralho.

—  Que… raios você tá fazendo aqui, Todoroki-kun?

— Compondo uma equipe de reforço que veio ajudar vocês e evitar que vocês façam ainda mais besteira. De nada. —  ele diz em um tom tão inexpressivo que nem parece que tá tentando bancar o espertinho.

—  Mas como você- como você veio parar aqui? Quem te chamou?

—  Eu chamei. —  Katsuki gela ao ouvir uma voz grossa e apática.

— E-Eraserhead?! —  o nerd maldito surge com uma pirralha nos braços, provavelmente a dona do monstro de catarro.

—  Por que eu não estou nem um pouco surpreso em te ver metido nessa, Midoriya? Deixe-me adivinhar, o Kirishima também está por aqui, correto? —  ele lança um olhar afiado na direção de Katsuki.

—  Se tudo deu certo, ele abateu a van desse povo e já deve estar com o Bakugou. —  ele responde mecanicamente.

—  Claro. —  o Aizawa dá um longo suspiro —  Bom… a punição fica para depois, temos problemas maiores pra lidarmos agora. Essas crianças estão assustadas e usando essas individualidades quebradas sem controle, o que dá tempo para os responsáveis por isso sumirem com as evidências e fugirem para uma nova base de operação. Escutem bem, nós estamos responsáveis pelo controle de danos, a prioridade é proteger essas crianças de si mesmas, deixem o trabalho de captura dos responsáveis para os heróis profissionais.

—  Tem heróis profissionais metidos nisso? —  Katsuki pergunta.

—  Evidente. Certo, hora de agirmos. —  ele põe a mão na orelha, deve ter um transmissor —  Tentacole, de acordo com suas informações, de quantas crianças exatamente estamos falando?

— Quem raios é esse Tentacole? — Katsuki questiona.

— É o Shoji-kun. — o Deku informa.

—  Peraí… Shoji? —  então de repente, tudo faz sentido —  Ele caguetou a gente! Aquele…

—  Você devia era agradecê-lo, é graças a ele que você não vai perder sua licença provisória. Francamente, você realmente achou que apenas você e mais três colegas dariam conta de uma porção de crianças descontroladas? Essa é uma operação gigantesca, coordenada por heróis profissionais em conjunto da polícia. Sua irresponsabilidade e arrogância passaram dos limites, Uraraka. Ou devo dizer, Bakugou? —  Katsuki fecha o punho em irritação.

—  Eraserhead, então você sabia mesmo  da…? — o Deku pergunta,

—  É lógico que sabia, Deku! Tsk, ele sabia desde o começo… mas esquece isso agora, tem um bando de pivetes que a gente tem que tirar daqui, quem mais vocês trouxeram de reforço além do Meio a Meio aí?

—  A Yaoyorozu, o Kaminari e o Sero. Não se preocupe, nenhum deles sabe da sua… situação. —  o Meio a Meio responde — Bom, talvez a Yaoyorozu acabe percebendo como eu percebi, ela é bastante intuitiva.

—  Tá se achando muito esperto agora, né, Todoroki maldito?

—  O Inasa me deve uma tigela de soba por conta disso, então não é como se eu pudesse dizer que não estou um pouco orgulhoso de minhas habilidades de dedução. —  ele dá um meio sorriso debochado e Katsuki se segura pra não dar um tapa na cara desse otário pra mandá-lo à lua — Então, Midoriya, pode me contar se eu estiver certo sobre a identidade do seu pai.

—  Todoroki-kun, a gente já não tinha se entendido sobre isso?

—  Certo, vocês terão todo o tempo do mundo para discutirem isso depois, vamos focar na missão. Tentacole, quantas crianças? Certo… cerca de 20, a maioria com individualidades desconhecidas. Sabemos que há um garoto com uma espécie de individualidade de sombras, agora uma garota que pode criar um monstro de slime… e um que solta vidros pelos dedos, essa foi encontrada pelo… hã… “Dynamight” e já se entregou para a polícia lá fora. —  Katsuki dá um sorriso arrogante. Boa, Ochako! Mostra pra ele que eles dariam conta dessa porra, sim! — Creati, confirme sua posição… certo, ela está tratando os ferimentos do Dynamight… — peraí, o quê?

—  Ela se machucou?! Que caralhos aconteceu?

—  Um corte na perna, não está inconsciente. —  ele respira aliviado. Porra, Ochako! Ela não pode assustá-lo assim! Katsuki já não queria ter se separado dela naquela hora, mesmo que fosse parte do plano. Não porque ela não dá conta, é lógico que dá, mas… ele queria estar junto dela, resgatando aqueles pivetes —  Prossigamos. Deku, você vem comigo, vamos levar essa criança até a polícia lá fora. Shouto e… Uravity, aparentemente, — ele revira os olhos — vasculhem o perímetro adiante, evitem todo e qualquer tipo de confronto contra crianças, se elas atacarem, defendam-se e tentem impedí-las.

—  Claro. —  agora é ele que revira os olhos, até parece que eles não sabem que não é pra descer a porrada em um bando de pirralhos!

—  Essas… botas aí são pra quê? —  Aizawa o olha, ligeiramente curioso.

—  Hã? Arrumei no departamento de suporte, dá pra controlar pra onde eu vou quando tô flutuando. Vai falar que tem algum problema com isso?

—  Não… —  ele as encara, depois olha pra ele e parece dar um leve sorriso. —  Vamos indo, Deku.

—  Nós também… Uravity. —  o Meio a Meio sai rumo à direção que o Aizawa os indicou —  Posso fazer apenas uma pergunta?

—  Que que foi agora?

—  Em uma escala de um a dez, o quão confortável é uma saia? —  Katsuki olha pra trás pra ver a cara desse idiota. 

Obviamente, ele tá sério, o que só pode significar que essa é uma pergunta séria. Katsuki respira fundo e olha pros lados, pra ter certeza que não tem mais ninguém para ouví-lo.

—  Onze. Agora vamo logo, porra!

 

***

 

Como era de se esperar, encontrar os pirralhos é bem fácil, até porque não tem nada pra “encontrar”, eles que vêm pra cima sem um pingo de medo e hesitação, atacando adoidado. Por mais que Katsuki não goste de baixar a bola e ir com calma, ele entende porque não pode vir com tudo pra cima desses pivetes. Porra, eles mal chegam na altura das pernas dele, e olha que esse corpo é baixinho, sem falar nesses olhos gigantes e ligeiramente vidrados, Katsuki nem se sentiria bem batendo em um bando de moleques que nem sabem o que tão fazendo, só seria… covardia pra caralho. É covardia pra caralho o que fizeram com essas crianças, o fedelho que conseguiu escapar tá certo de não conseguir esquecer essa merda, mesmo que já esteja com o velho dele.

—  Por que eu e você estamos sempre lidando com crianças problemáticas? —  o Meio-a-Meio pergunta, em posição de ataque quando eles são cercados por dois pivetes.

—  Tsk, só que você construir a porra de um tobogã não vai resolver porra nenhuma agora! Aí, molecada! Fica pianinho que a gente não quer machucar vocês, a gente tá aqui pra tirar vocês desse buraco!

—  É mentira! Vocês mataram o Hideki-kun!

—  Hideki-kun?

—  É o pivete que me deixou assim… O fed- o Hideki-kun não tá morto, ele tá com o pai dele, e tá preocupado com vocês, a gente só tá aqui porque ele ajudou a gente a achar vocês!

—  Mentira! Mentira! Mentira! —  a fedelha começa a despirocar, ajoelhando-se e tremendo. Katsuki olha horrorizado quando um negócio começa a brotar das costas dela, surgindo como galhos… não, não é isso, parecem asas… de morcego! Que porra é essa?

—  Impressionante como sua habilidade com crianças não evoluiu em praticamente nada…

—  VAI SE FODER! —  os dois se mantêm de costas um pro outro, rodando levemente, em alerta, quando o outro pirralho revela sua individualidade: os dedos dele se alongam, ganhando uma aparência cascuda e rígida, algo parecido com raízes ou alguma porra assim.

—  Deixo o garoto com você. —  o Meio-a-Meio anuncia, partindo para o ataque contra a menina, e Katsuki nem tem tempo de responder, tendo seu pé puxado por uma das raízes. Ele se solta com um breve chute, pulando pra trás ao se apoiar nas mãos. Porra, essa individualidade aqui é totalmente de ataque, Katsuki não vai conseguir pará-lo se ficar só de defendendo, mas ele também não pode machucá-lo. Pensa, o que a Ochako faria? Ela falou que ele dominou a Gravidade Zero, mas não é verdade, Katsuki não consegue pensar de uma maneira que não seja ofensiva, já ela é flexível e criativa… ahá!

—  Hora do show! —  ele sorri quando aperta o botão acoplado no cinto e toca no ombro para ficar mais leve —  Aí, pirralho! Pega-pega, tá com você!

Katsuki se joga pra cima, lançando um rápido olhar na direção das botas, a Ochako tava apavorada de passar parte do suor acumulado nas granadas para os tanques desse treco, mas essa porra funciona mesmo, a garota doida que fez isso daqui não é tão tosca assim no fim. As raízes o seguem conforme ele se move pelo ar, um pouco mais desajeitado e rápido que tava planejando, mas dá pra se virar. Ele se apoia contra uma das paredes, deixando que as raízes se choquem contra a estrutura, e porra, elas são mais fortes que parecem, porque causam um puta de um estrago, rachando a parede e quase quebrando um pedaço da viga de metal que sustenta o teto, mas ele não tá nem aí, continua se movendo do jeito que dá, como se fosse uma bola de pinball.

Ele chega a se aproximar do Meio-a-Meio, que lança um breve e repreensivo olhar na direção dele. Tsk, o imbecil não precisa nem abrir a boca, Katsuki sabe que ele acha que tá perdendo tempo e energia, mas espera só um pouco, Todoroki maldito! Ele pode não dominar a Gravidade Zero como ela domina, mas se vira bem pra caralho!

Katsuki se move em curvas e saltos contra as paredes, as raízes o acompanham, e por um momento ele fica aliviado por ter só um pivete como adversário, porque um adulto já teria percebido o que ele tá fazendo. Ou não, alguns vilões são burros pra caralho! Nem perceberiam que o plano não era só ficar zanzando pelos ares como uma borboleta sonsa, não era nem mesmo despistar essas raízes, muito pelo contrário, só funcionaria se elas o seguissem pra todo lado que ele vai, porque assim, elas acabam se embolando em um grande nó…

… até um ponto em que não conseguem mais se mexer. Katsuki põe as mãos nos quadris e assiste quando as pontas das raízes se esticam e dobram para alcançá-lo, mas não conseguem.

Ele desativa a Gravidade Zero e aperta o botão pra desligar as botas assim que sobe nas grandes estirpes, percebendo que elas são bem frágeis quando ele pisa, provavelmente porque é uma individualidade mal-formada e forçada.

Katsuki continua andando até chegar ao moleque, que o encara muito mais com medo do que raiva, se encolhendo quando ele desce das raízes e para bem ao seu lado.

—  Entendeu agora que a gente não quer machucar vocês? O tal do Hideki ia ficar puto se mais alguma coisa acontecesse. —  ele se ajoelha, pondo a mão no ombro do moleque — Você consegue guardar isso daí sozinho ou precisa de ajuda?

O pivete não responde, só começa a mover as raízes, que vão se retraindo lentamente. Esse garoto aqui já tá um pouco melhor do que o da troca de corpos, que nem sabe se consegue reverter os efeitos da individualidade… tsk, e se depois desse trabalho todo o pivete ainda não conseguir?

—  Boa, qual seu nome?

—  K- Katsuo…

—  Aí, quase meu… quase xará de um amigo meu. Ele é um cara fodão com uma individualidade bem louca que vai ser o maior herói de todos os tempos, e você? Quer ser herói? —  o moleque só o encara com bochechas vermelhas e olhos curiosos, fazendo um leve “sim” com a cabeça — Então já pode começar saindo daqui e indo encontrar a polícia lá fora. Não precisa ter medo, eles vão te ajudar e não vão deixar os caras maus te pegarem de novo, entendeu? —  Katsuki sorri, sem pensar muito se é um daqueles sorrisos iluminados que ela normalmente faria, ele só… sorri naturalmente, como um herói faria nesse momento. Porque segundo a Ochako, ele pode ser tudo que quiser e se esforçar pra ser… inclusive um herói que as crianças vão admirar —  Vem que eu te levo. Tudo certo aí, Meio-a-Meio?

—  Sim, pode levá-lo, eu te encontro lá fora. —  ele responde como se não tivesse bloqueando ataques de uma menina meio morcego assustadora.

Ele liga as botas novamente e parte com o pivete agarrado firme à sua cintura. É, é um corpo macio e confortável pra se apoiar, Katsuki sabe o quão fácil relaxar pode ser sob o toque dela.

—  Aqui, o… Shouto já deve estar trazendo mais uma. —  ele informa assim que avista os policiais acolhendo os pivetes. 

Dando uma rápida olhada ao redor, Katsuki consegue ver uns quinze fedelhos, o Aizawa falou que tinha mais ou menos vinte, falta pouco pra acabar, e embora ele não esteja nem um pouco animado pra ouvir sermão de deus e o mundo depois que todos os pirralhos estiverem salvos, ele tá aliviado que tá acabando.

As individualidades desses tampinhas podem ser perigosas por estarem fora de controle, mas não são assim lá muito fortes, nesse ritmo, vai acabar tudo bem rápido.

De repente, um estrondo que faz tremer o chão, e o moleque se agarra mais forte na perna dele. Katsuki arregala os olhos ao ver que parte do teto do galpão foi destruído pra dar espaço a uma criatura enorme e medonha, que põe o monstro de geleca daquela outra menina no chinelo. 

Não só esse monstrengo é maior, como muito mais sinistro, com tentáculos finos e compridos se agitando freneticamente, parece algo como uma água-viva gigante e, tal qual como uma água-viva, os tentáculos parecem queimar quando batem contra o galpão e deixam marcas nas paredes e no que sobrou do teto.

—  Ah não… —  ele ouve alguém atrás dele, provavelmente um policial, espantar-se.

Daqui ele consegue ver o Eraserhead e o Kirishima sobre a construção, desviando das chicoteadas dos tentáculos gigantescos. E então ele se vê, ou melhor, ele a vê, tentando se equilibrar com manobras e explosões no ar, e Katsuki não tem dúvida, gentilmente faz o menino se soltar da perna dele e ativa a Gravidade Zero junto das botas, partindo para cima como um foguete até alcançar seu próprio corpo e permitir que pouse sobre seus braços.

—  Já vai, Cara de Anjinho?

 

***

—  B-Bakugou-kun, o que você…? As botas! Funcionam mesmo! — ela arregala os olhos, tentando olhá-las melhor, mas é difícil se mover no ar, ainda mais com ele segurando-a como… como se eles estivessem em uma cena de mangá shoujo! Ochako cora ao perceber que, pra quem olha de fora, essa cena é meio ridícula, então não faz sentido ela sentir borboletas no estômago porque ele a segura em seus braços como… como um noivo segura uma noiva —  V-você pode me soltar, eu não ia cair…

—  Agora não vai. —  ele a solta, e Ochako continua flutuando. Claro, ele ativou a Gravidade Zero nela —  Como tá a perna?

—  Ah, tá tudo bem! A Yaomomo desinfetou e colocou bandagens, vai ficar tudo bem, eu prometo. —  ela sente que deveria pedir desculpas por ter deixado o corpo dele se machucar, mas… Ochako sabe que ele não gosta quando ela pede desculpas demais. —  ... e acho que ela sabe que nós estamos trocados.

—  Tsk, a essa altura, é mais fácil ver quem é que NÃO sabe. —  ele revira os olhos — Esse daí é o último fedelho?

—  Sim, a gente encontrou ela escondida, mas ela tava apavorada e acabou virando… isso aí.

—  Porra, seria bom demais pra ser verdade que o último pirralho não ia ser algum tipo de chefão de videogame, os filhos da puta devem ter escondido esse daí de propósito!

—  Com certeza. A gente conseguiu prender uma das mulheres e interrogá-la e ela disse que o melhor tava guardado pro final.

—  Tsk, esse povo é doente! —  ele dá uma olhada ao redor —  Por que caralhos o Eraserhead já não anulou a individualidade dessa menina?

—  Bom, parece que… não vai surtir efeito porque é uma individualidade forçada, não é natural no corpo dela… ela é basicamente como aqueles nomus, só… menos assustadora.

—  Uma porra de uma água-viva gigante no meio da cidade não é assustadora pra você? —  ele rosna, observando — Tsk, essa coisa não vai morrer por causa da brisa do mar também.

—  É, o único jeito de sumir com ela é alcançando a menininha, que tá ali no meio, embaixo da “cabeça” da água-viva, e convencê-la a se acalmar.

—  É esse o plano? Que bosta!

—  Você tem um melhor, Katsuki? —  ela soa muito mais grossa do que gostaria, e também não planejava chamá-lo pelo primeiro nome… ele também parece bem surpreso.

—  Tsk, você podia explodir esses tentáculos… não, vai machucar a pirralha e deixá-la ainda mais assustada, fora que tentáculo de água-viva pode queimar mesmo se for arrancado. —  ela quer perguntar como ele sabe disso, mas agora não é hora pra questionar os conhecimentos sobre anatomia das águas-vivas, principalmente se for útil — Quem vocês tão tentando mandar pra acalmar a menina?

—  A Yaoyorozu e o Deku.

—  Tsk, que perda de tempo! É você que tem que ir lá!

—  E-eu? —  Ochako arregala os olhos.

—  Lógico, porra! Você é a única que sabe conversar com criança do jeito certo, o Deku é muito mole e a outra é muito chata, é você que tem que ir. Você… é boa com essas coisas de… conversar com gente e tal. —  ele olha pro lado, envergonhado. E Ochako sente o coração pular uma batida — Anda, vamo atrás do Eraserhead.

Ele a puxa pelo braço, carregando-a pelo ar como se ela fosse um balão de hélio, e o pior é que ela nem tenta impedí-lo, nem… quer. Se o Bakugou acha que ela dá conta, Ochako não consegue discordar.

—  Vejo que vocês se encontraram de novo. —  o Aizawa-sensei observa, ofegante — Onde está o Todoroki? Nós podemos usar o gelo dele para paralisar os tentáculos.

—  Os tentáculos congelados vão ficar pesados, o que a gente tem que fazer é afastar os tentáculos sem ela perceber… ainda dá pra usar o Meio-a-Meio, só que pra congelar só uma parte.

—  Bakugou, o que você está sugerindo… —  o Eraserhead aperta os olhos — Não. De jeito nenhum. Muito perigoso.

—  Pensa comigo, se os tentáculos estiverem leves, vão subir e abrir espaço pra gente chegar no centro, eu só preciso que o Todoroki congele o pedaço que eu encosto pra eu não me fritar. —  é esse o plano… Ochako já tinha entendido sem ele falar porque… ela meio que pensou na mesma coisa — A Ochako vai poder subir com as explosões e acalmar a pirralha.

—  Entendo… você consegue, Ur- Dynamight?

—  Eu… eu acho que sim, só não sei porq-

—  Porque é tipo sua segunda individualidade, você… sabe convencer as pessoas, faz elas te escutarem, elas falarem o que tem de errado, essas merdas.

—  Nossa, você faz parecer tão incrível… —  ela revira os olhos.

—  Cala a boca! É útil, não é?

—  Não é todo herói que se garante em sua habilidade com lidar com pessoas… bom, tirando o maior de todos os tempos. —  o Eraserhead contempla, sorrindo levemente pra ela. É, se for olhar o atual ranking de heróis profissionais, todos eles são fortes, poderosos e incríveis, mas… poucos têm essa habilidade que eles tão falando.

—  Tudo bem, eu vou. Eu vou convencer a garotinha. —  Ochako engole em seco e acena com firmeza.

—  Nós te daremos cobertura. Creati, vamos reagrupar, houve uma mudança na estratégia. —  ele fala com o comunicador na orelha.

O grupo se reencontra sob uma fenda criada quando parte do teto desabou ao ceder para o surgimento de uma água-viva gigante. Todo mundo parece… acabado e frustrado, esse time foi montado às pressas e nenhuma das individualidades é compatível com essa situação, talvez se o Koda estivesse aqui, eles poderiam resolver isso de maneira mais simples.

—  Certo, o que vamos fazer é: Shouto e Uravity vão afastar os tentáculos. Shouto, lembre-se de congelar apenas o necessário para que seja tocado, não extrapole. Dynamight irá acalmar a criança.

—  Pffft, é sério isso? —  o Sero ri, e todo mundo olha pra ele —  Quer dizer, nada contra o Bakubro, mas… desde quando ele é bom com crianças?

—  Eu… confio no Kacchan, acho que não tem ninguém mais qualificado pra isso que ele. —  o Deku diz firmemente, e Ochako suprime um sorriso.

—  Também acho que ele é nossa melhor opção. —  o Todoroki complementa, e Ochako não consegue evitar o rubor. Ele confia nela pra isso! O Todoroki!

—  Manda a ver, Bakubro! Falaí, Denki!  — o Kirishima dá uma sacudida no Kaminari, que tá apoiado nele.

—  Weeeey!  — ele… tenta fazer um joinha, mas tá frito demais pra isso, tadinho…

—  Certo, eu vou! Vamo acabar com isso!

—  Ótimo, os outros dão cobertura. Red Riot, acho melhor você levar o Chargebolt. —  e dessa forma, todos se dispersam.

Ochako espera os outros se afastarem e segura um dos braceletes de seu uniforme quando o Bakugou passa por ela. Ele a olha, curioso.

—  Que foi?

—  Eu… hã… aqui! —  ela tira a máscara e entrega pra ele. —  Acho melhor ir sem ela, de… de cara limpa.

—  Tsk, minha máscara foi feita pra meter medo mesmo!

—  E-eu sei, mas… acho que é melhor se ela me vir assim, você tem… um olhar imponente e… um sorriso muito bonito, a máscara acaba escondendo isso…

—  S-sorriso… que merda é essa agora? —  ele consegue ficar ainda mais vermelho.

—  É sério! Você… você deveria sorrir mais, Katsuki-kun, seu sorriso é… muito bonito, isso é… outra coisa que eu queria ter te falado antes. —  ela fala com firmeza, ignorando a própria vergonha. Tem muitas coisas que Ochako gostaria de dizer pra ele…

“Eu acho… não, eu sei que me apaixonei por você.”

Ela se arrepia toda, isso não é hora nem lugar pra falar nisso, então… assim que isso acabar, assim que a garotinha estiver salva, assim que eles estiverem rumo à U.A., prestes a tomar a bronca de suas vidas, Ochako vai falar. Talvez não seja o certo, e talvez ela devesse conversar com o Deku antes, mas… não dá pra não falar, ele provavelmente vai ficar bravo e lembrá-la de que não quer perder tempo com essas coisas, mas ela precisa falar, nada de bom veio de suprimir sentimentos e fingir que eles não estão aqui, Ochako já aprendeu isso.

— Conto… conto com você! —  ela diz, abaixando-se para dar um beijo na bochecha dele antes de se lançar para baixo. Bom, tecnicamente é a própria bochecha, mas Ochako não se arrepende.

O plano completamente insano começa, e ela assiste aos tentáculos que se mexem energicamente começarem a flutuar, como se eles realmente estivessem debaixo d’água, seria uma cena muito bonita se ela não conhecesse o contexto da situação.

—  Quando eles erguerem mais da metade, você já estará seguro para subir com as explosões. —  a Yaomomo explica, ela com certeza percebeu que tem alguma coisa estranha, mas até aqui tem mantido o profissionalismo e evitado a curiosidade.

—  Sim. —  ela olha pra cima mais uma vez. O Katsuki não deve estar muito feliz de ter que cooperar com o Todoroki, mas é incrível o quão sério e profissional ele pode ser, é outra coisa encantadora nele.

—  A gente vai te dar cobertura. Se você sentir que tá perigoso, eu e a Creati podemos te pegar. —  o Deku diz em tom complacente, porém firme.

—  Eu sei. —  ela concorda —  Obrigada! Me desejem boa sorte!

Assim que ela vê uma abertura, Ochako lança a primeira explosão, subindo alguns metros, e continua. Olhar pra baixo não é uma opção. Aproximando-se, ela vê a garotinha, protegida por uma barreira de aparência gelatinosa, os punhos cerrados em frente ao peito enquanto ela parece tremer, tentando se concentrar.

Aparentemente, essa parte de baixo também pode queimar, não com a mesma intensidade dos tentáculos, mas ainda assim. As luvas do uniforme de Ground Zero a protegem quando ela encosta gentilmente na água-viva, de frente para a garota.

—  Não precisa ter medo! Eu quero te ajudar! Meu nome é Bak… Uraraka Ochako! —  ela berra, e a garotinha abre os olhos, encarando-a — Eu sei, é nome de menina, né? Bom, eu posso não parecer menina agora, mas… eu sou que nem você, o Kisaragi-kun me deixou assim, você conhece ele, né? Ó, ele tá à salvo, a gente só tá aqui hoje porque ele nos mostrou como encontrar vocês, ele… se importa muito com você, vocês são amigos, não são? —  a menininha apenas acena com a cabeça — Ah, amigos são importantes! Eu tenho um monte de amigos que gosto muito, dois deles tão lá embaixo prontos pra me pegar se eu cair. — ela sorri gentilmente, mantendo uma mão esticada para baixo e soltando explosões pequenas para se manter no ar — Você e seus amigos devem ter sofrido muito nesses últimos meses, eu nem consigo imaginar o quão assustada e triste você tá, mas eu quero muito te ajudar, todos nós queremos, nós não queremos vocês aqui sendo forçados a fazer o que não querem. Eu não sei o que vai acontecer daqui pra frente, eu tô… apavorada também, não vou mentir, mas eu tenho meus amigos, tenho várias pessoas que eu amo e quero proteger, assim como você. Você… você quer me falar seu nome?

—  Ruki, e essa é a Mochi. —  a água-viva tem nome? Ai… Ochako sente um aperto no coração.

—  Mochi? Hahaha, que nome fofo! Eu adoro mochi! É minha comida favorita!  — ela ri, a garotinha faz que vai falar alguma coisa, mas se retrai, Ochako acha que ela ia falar “A minha também!”. Então… Ruki-chan, desculpe por ter assustado você e a Mochi-chan, prometo que nada de ruim vai acontecer com ela ou com você, ela é sua amiga também, né? —  a garotinha faz que sim com a cabeça — Você consegue acalmá-la?

—  Eu… não… sei.

—  Tá tudo bem! Ninguém é bom de primeira em nada, só… tenta ficar calma, tá bom? Respira bem fundo que nem eu tô fazendo, ó. —  Ochako inspira e expira profundamente, e a água viva se mexe, causando um breve tremor.

E pouco a pouco, ela começa a reduzir de tamanho, Ochako sorri, tentando não se mostrar completamente aliviada na frente da garotinha.

—  Muito obrigada, Ruki-chan! —  ela sorri, e a garotinha cora. É, o sorriso do Bakugou é muito lindo mesmo, Ochako não pode culpá-la.

Ela se prepara para descer, olhando brevemente para baixo. Parando com as mini explosões por uns segundos, começa a descender. Ela continua olhando para cima com cautela, esperando tomar uma distância segura antes de detonar uma explosão para cima e se equilibrar.

Mas Ochako já foi alertada sobre sua cautela excessiva. “Arregona” é do que Katsuki a chama, porque ela deveria ter descido mais rápido. Se ela estivesse mais próxima do chão, não teria um tentáculo um pouco menor que os outros vindo em sua direção.

—  Ochako!

Ela nem tem tempo de reagir, sendo arremessada para longe por um par de mãos empurrando-a fortemente para o lado. Mas antes que caia, ela assiste ao próprio corpo convulsionar pelo choque do tentáculo contra as costas, e o horror da cena é tamanho que ela nem consegue ouvir o próprio grito arranhar a garganta. 

Em um gesto desesperado, ela o agarra pelas mãos e o puxa para si com força, e os dois partem em queda livre rumo ao chão. Antes que eles caiam completamente, os dois corpos flutuam alguns centímetros acima do chão, até que ela ouve um “Liberar” sussurrado, e os dois caem com uma delicadeza que seria poética se Ochako desconhecesse o contexto da situação.

Contexto esse que é ver seu próprio corpo com dificuldade para respirar, com as costas em carne viva, é como se saísse fumaça dos enormes cortes que escapam pelo uniforme rasgado. É uma cena aterradora, e ela só consegue pensar que daria tudo pra estar em seu próprio corpo agora, porque vê-lo nesse estado dói muito mais.

—  Katsuki! Ah não! Não, não, não! Fica acordado! Ei, fica comigo! Katsuki!—  ela segura o rosto dele em ambas as mãos, ele parece se esforçar pra manter os olhos abertos — Katsuki! Você… por que você fez isso? Você… —  as lágrimas rolam e a visão dela fica turva.

—  Não… não… é óbvio? É porque… eu… eu te… —  Ochako arregala os olhos, ele… ele não vai falar aquilo, não, não é possível, esse é o Bakugou, ele não… ele não é assim! Mas ele também não é do tipo que se arrisca tanto por outra pessoa… ele não… ele não a ama, claro que não! —  eu te… devia uma.

E com isso, ele colapsa imóvel sobre ela.


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Notas finais do capítulo

Oioi! E aqui estou com o fim do penúltimo arco, já tamo bem no finzinho u.u

Relendo agora pra corrigir, eu acho alguns diálogos desse e do último capítulo beeem cringe huhahuhujhs, mas fazeroq

Obrigada por ler! Espero que esteja curtindo!



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