Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 24
Regras tão aí pra serem quebradas




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Estar apaixonado é uma merda!

É patético, nojento, esquisito, imbecil pra caralho! Katsuki odeia todos os aspectos envolvidos nisso, ele sempre teve razão em não querer saber dessas merdas, muito mais interessado na glória e no sucesso que ser o número 1 lhe proporcionaria, e na real, cair na porrada com mil vilões até chegar no topo é bem mais fácil e menos confuso que essa merda de se apaixonar, ele sempre soube disso na teoria, e agora tem certeza na prática. 

Tudo o que Katsuki quer é bater no quarto do Kirishima e pedir pro palhaço lhe descer um soco na cara pra ver se ele toma tino e para de agir igual a um trouxa, mas não, nem isso ele pode fazer, por que que tipo de escroto ele seria se deixasse alguém machucar essa carinha redonda, macia, e linda pra caralho? Porra! Essa merda de troca de corpos tem que acabar!

E é aí que fode de verdade, porque desde o caminho de volta da praia, Katsuki vem pensando nisso: assim que eles voltarem pros próprios corpos, o Deku vai correndo dar a resposta pra confissão dela, e se ele disse que não vai rejeitá-la… merda! Até hoje de manhã, isso não era problema, Katsuki sabe que essa… coisa que ele sente por ela não vai dar em nada, e que o Deku tem mais é que vir e levá-la pra ela parar com essa ladainha toda. Só que aí ele teve a brilhante ideia de levar bolo pra ela, e os dois ficaram lá, no alto de uma pedra, olhando pro pôr-do-sol, tirando foto juntos, e a maldita teve a pachorra de dizer que ele pode chamá-la de Ochako, assim, como se não fosse nada, como se pegar o coração dele e torcer até que não seja mais que um monte de nervos não fosse nada pra ela, agora tudo que ele consegue pensar é que… ela não pode ficar com o Deku. Ele não a entende de verdade, não a vê em toda sua intensidade e fibra, não a adora, não como Katsuki. O nerd maldito não a merece.

—  Tá tudo bem? —  ela pergunta, pondo a mão no ombro dele, e porra, chega até a queimar onde ela encosta.

—  Por que não estaria? —  ele sacode o ombro pra se livrar do toque dela.

—  Sei lá, é que… você tá tão quieto… foi alguma coisa que eu falei? —  puta que pariu! Ela não pode fazer isso! Não, ela não tem direito de fazer essa voz tristinha e deixá-lo se sentindo culpado.

—  Tsk, deixa disso. Só tô me concentrando, por que você não faz o mesmo? —  ele consegue não soar tão rude, como se realmente tivesse sugerindo que o melhor agora é focar.

Até porque não é mentira. Assim que eles chegaram aos dormitórios, Katsuki foi correndo tomar um banho e tirar esse maiô maldito que o fez evitar espelhos ou qualquer coisa que refletisse a silhueta curvilínea dela a tarde toda. Quando ele saiu do banheiro, tinha uma mensagem do tal do Shoji no celular: “Boa noite, Uraraka-san! Tenho a informação que você me pediu, você pode descer até a área de convivência para conversarmos?”

E como ele não poderia estar mais fodido, quem foi a pessoa com quem ele deu de cara no elevador quando se dirigia à área comum? Uraraka. Quer dizer, Ochako. Os dois calados, mal se olhando, o elevador é uma merda porque não tem muito pra onde olhar por causa das paredes espelhadas, então Katsuki fechou os olhos por um segundo e respirou fundo, tentando ignorar a proximidade dela. Ela SEMPRE tá muito perto, e o problema não é esse, o problema, pra ele, é que não tem porra de problema nenhum nisso.

—  Boa noite, peço perdão por chamá-los de última hora, eu teria avisado mais cedo no aniversário do Midoriya-kun, mas quando os vi, vocês pareciam estar tendo um momento bem… particular, eu não quis atrapalhar. —  Porra, Katsuki sente-se corar na hora, que merda!

—  Tá bom. O que você descobriu? —  ele pergunta, lembrando-se que precisa focar!

—  Bom, confesso que não foi fácil, a qualidade da gravação das câmeras de segurança é baixa, não dava para ver nitidamente o número da placa, por exemplo, aqui eu não tinha certeza se era um 3 ou um 8.

—  É um 3. —  ela diz.

—  Hã? Tá louco? É um 8. —  ele retruca, e os dois se olham feio.

—  Viu? É exatamente disso que eu estou falando. —  não dá pra saber porque o cara tá de máscara, mas Katsuki acha que ele sorri —  Então eu pesquisei com as duas possibilidades, e… meu palpite é que é um 3 alterado para parecer um 8. —  Ochako dá um sorrisinho, mas não o encara. Tsk, ridícula! — Eu digo isso baseado nas rotas que os veículos com essas placas fizeram, a placa com o 8 circula muito em distritos comerciais e pontos turísticos, deve ser uma van de passeio, já a com o número 3 fica em longos períodos de inatividade e se desloca mais à noite, próxima à região portuária.

—  Então só pode ser essa. —  ele murmura com os olhos grudados na tela do laptop que o cara mexe —  Além da área do porto, por onde mais essa van circula?

—  Eu não consegui identificar os lugares exatos, o único ponto identificável foi uma região residencial em Chiba.

—  A casa do Kisaragi-san… —  ele escuta a Ochako murmurar.

—  Perdão?

—  Nada. —  ela cruza os braços e fecha a boca.

—  O interessante é que essa van normalmente se move muito às quintas-feiras à noite. Meu palpite é de que é o dia em que eles repassam remédios produzidos e estabelecem conexões.

—  Shoji, você… você achou muita coisa, por que não compartilhou o que sabe com as autoridades? —  a Ochako pergunta, e realmente, qual é a desse cara? Ele tem jeito de ser todo certinho tipo o Quatro-Olhos, mas vai saber.

—  Bom, é que… hackear e infiltrar geralmente necessita de métodos escusos. Minhas informações são tão úteis quanto são ilegais perante a polícia. —  ele responde, visivelmente envergonhado — Conto com a discrição de vocês.

—  A gente não é cagueta. —  ele diz firmemente — Fora que seria sacanagem com você depois de ter achado tudo isso em tão pouco tempo… hã… obrigada, Shoji-kun. —  Katsuki faz sua melhor imitação de Uraraka, deixando o cara bem sem-graça. Ha, o charme dela não falha mesmo.

—  Imagina, eu… eu gosto do desafio de procurar essas informações, digamos que é um bom treinamento. Mas, se vocês não se importam, eu preciso perguntar: vocês estão planejando tomar alguma medida contra essa organização, não estão? Por que planejam agir por si mesmos ao invés de confiar nas autoridades responsáveis?

—  Acho que já ficou claro que as “autoridades responsáveis” não conseguiram fazer nada. —  Ochako diz firmemente — A cada dia que passa, essas crianças são expostas a mais e mais horror, e não é justo.

—  De maneira nenhuma, mas vocês sabem que justiça vigilante não é bem vista, na verdade, pode trazer problemas pra vocês dois.

—  É um risco que a gente tá disposto a correr. —  ela acena com a cabeça e porra, nem se ela tentasse, conseguiria soar tanto quanto o próprio Katsuki, é… do caralho!

—  Contamos com sua discrição. —  ele complementa.

—  Bom, eu… não concordo, e não tenho a intenção de me envolver, o que significa que não vou impedí-los. Apenas me admira que vocês estejam dispostos a correr tal risco, você costuma ser uma garota correta, Uraraka-san, e você, Bakugou-san, engana à primeira vista, mas costuma seguir regras em geral.

É verdade, tirando o uniforme que ele acha estupidez usar igual a de todos os figurantes dessa escola e… uma ou outra briga aqui e ali, Katsuki segue as regras. Ele não é burro, sabe que pra chegar onde quer, precisa andar na linha. Se ele saísse por aí fazendo merda, ia ficar sempre de castigo, o que o faria perder aula e ficar pra trás no curso, e desse jeito, ele nunca conseguiria ser o herói número 1.

Só que aqui, preso no corpo da Ochako, Katsuki também fica longe de seu objetivo. Então não adianta, eles precisam salvar os pirralhos, foi o que ele combinou com o moleque que deve estar se esforçando pra destrocá-los. Katsuki olha rapidamente pra Ochako, ela devolve o olhar: assustado, claro, mas cheio de determinação.

—  Regras tão aí pra serem quebradas, Shoji-kun.

 

***

Ochako gargareja e cospe a pasta de dente na pia, olhando-se no espelho. É isso, eles têm o endereço de onde as crianças estão, podem ir até lá e salvá-las, cumprir com o que prometeram para o Hideki e acreditar que ele pode cumprir com a sua parte. Quintas-feiras são os dias de circulação, ou seja, o melhor dia para pegá-los desprevenidos. Ela e o Bakugou ainda não conversaram, mas Ochako sabe: eles vão agir nessa quinta-feira, daqui a quatro dias. O que acontece de lá em diante pode comprometer a carreira deles seriamente, a chance de passarem impunes é minúscula, ela sabe, mas… que escolha eles têm? Não fazerem nada e continuarem trocados? Porque isso também compromete a carreira e a vida deles em todos os aspectos possíveis.

Ok, estar no corpo do Bakugou não é tão ruim quanto costumava ser, ela já pegou o jeito em praticamente tudo, sem falar que… é um corpo incrível. Poderoso, imponente, forte… é como usar uma armadura 24 horas por dia. É estranho e ao mesmo tempo sublime como Ochako percebe como só a presença desse corpo transforma o ambiente, atraindo toda a energia e atenção para ele, ela… não costuma causar esse impacto em seu próprio corpo, então… é, estar no corpo do Bakugou é ótimo, mas precisa acabar.

Só que… enquanto ela tá aqui, não faria mal nenhum se divertir um pouquinho, faria? Apertando os lábios e dando uma rápida olhada na direção da ala feminina —  como se o Bakugou conseguisse ver alguma coisa daqui ou sequer tentaria — ela vai até a escrivaninha e a chuta, desemperrando a última gaveta igual ele fez ontem. Ochako pega os óculos e os põe, correndo pro banheiro pra se olhar no espelho… ela não consegue segurar os risinhos, quem imaginaria que Bakugou Katsuki compartilha de um traço tão característico do Iida, que é praticamente o oposto dele em tudo? E o Bakugou é ridículo por esconder isso, porque… o que tem de mais? Fora que… ele fica tão lindo, deveria era se orgulhar.

Ochako para por um segundo. Lindo? O Bakugou é lindo? Bom… não é como se ela nunca tivesse notado antes, a primeira vez foi quando ela conheceu algumas garotas do curso geral no metrô, que a perguntaram se ela era da mesma sala do “gato do Bakugou-san”, ela não pensou muito a fundo, mas sim, é difícil dizer que ele não atende a vários requisitos necessários para ser considerado bonito: alto, pele bronzeada, olhar penetrante, isso sem falar nos músculos, o abdômen dele parece esculpido de tão perfeito… e essa Ochako reparou meio sem querer quando tava malhando na academia e se abaixou pra pegar um peso, olhando-se no espelho: a bunda dele é super firme. Então sim, ela sempre soube que ele é bonito, mas tem algo de muito mais simples que beleza em vê-lo de óculos, dando um sorriso sincero, ou só… agindo sem aquela necessidade patológica de autoafirmação, sendo gentil, seguro de si… amável.

Ela se joga na cama com esse cheiro viciante de caramelo queimado e olha pra foto que eles tiraram juntos na praia… e sorte estar muito cansada, porque realmente não é bom continuar pensando no quanto Bakugou Katsuki é amável, e não é no sentido de amoroso, mas sim no sentido de digno de amor.

A manhã começaria bem preguiçosa se ela já não estivesse acostumada com o despertador, levantando-se rapidamente e correndo para o rotineiro banho de olhos fechados. Sem falhar, Ochako sai do quarto no mesmo minuto que o Kirishima sai do dele, o cabelo vermelho sempre de pé como se estivesse em alerta enquanto seu dono ainda parece um pouco sonolento.

—  Bom dia, B- droga, esqueci! Bom dia, Uraraka. —  ela dá uma risadinha e os dois caminham rumo ao elevador —  Então… preparada pra semana de provas? — Porque também tem essa, Ochako não se sente tão letárgica porque está tensa só de pensar que hoje começam as provas, e que ela tem a difícil missão de manter o status do Bakugou como segundo melhor aluno da sala. Por sorte, hoje é prova de história heróica com o Ectoplasm-sensei, e ela manda bem na matéria, o problema de verdade é amanhã com a prova prática do All Might, além da prova de matemática na sexta… Ochako sente um aperto ao pensar que talvez não seja capaz de fazer a prova, dependendo do desenrolar dos eventos na quinta-feira.

—  Ei, relaxa! Qualquer coisa, você tá sentada atrás da Hagakure, dá pra colar numa boa! —  o Kirishima comenta, e ela não consegue não rir, quando ela se acalma, percebe que o ruivo está olhando-a atentamente.

—  Algum… problema, Kirishima-kun? —  é uma pergunta bem boba, o que mais tem nesse momento é problema.

—  Não, nada! É que é muito esquisito, porque se eu falasse a mesma piada pro Bakugou, ele ia me xingar, e tipo… você é o Bakugou, mas ao mesmo tempo não é e… ah, esquece, eu só tô confuso porque é estranho o Bakugou rir de uma piada minha. —  por incrível que pareça, ela entendeu o que ele disse — Então… sobre o que vocês conversaram depois que eu saí ontem?

—  Oh… —  Ochako cora só de lembrar —  … nada demais, só o que a gente sempre conversa, ele me irrita de propósito, eu fico brava, ele acha graça… só isso… e… e você? O Kaminari-kun não estranhou seu sumiço?

—  Não, ele sabia que eu tava com “o Bakugou”, o Denki é de boa. —  ele dá de ombros.

—  Kirishima-kun, desculpa perguntar, mas… —  é uma coisa que ela vem pensando há algum tempo —  o Kaminari-kun não estranha essa… amizade que você tem com o Bakugou? Porque assim… eu não sei exatamente se o Bakugou é… hã…

—  O Bakugou com certeza não é gay. —  ele responde, poupando-a de terminar a frase —  E mesmo se fosse, a minha relação com ele não é assim… sabe, quando eu tava começando a entender que sou gay, eu pensei muito no quanto o Bakugou pesou nisso, porque… você deve saber disso melhor que eu, tem coisas nesse corpo aí que são impossíveis de ignorar! —  ele sorri com bochechas vermelhas, e Ochako o imita, como… como assim, ela sabe disso melhor que ele? — Por um tempo eu achei que até gostava dele, mas hoje eu vejo que não, o Bakugou é… sei lá, como alguém da minha família, sabe? — nossa, isso é bem… bonito de se dizer.

—  Tipo o Iida… —  ela murmura, e o Kirishima a olha, curioso —  Ah, é que… quando eu contei pra Tsu que tava gostando do Deku-kun, ela me perguntou como eu tinha certeza que não é a mesma coisa que eu sinto pelo Iida, já que nós três estamos sempre juntos e tal, aí eu expliquei que é diferente porque… é o que você falou, é como se ele fosse família, eu vejo o Iida como um irmão. —  Ochako torce o nariz, sentindo de repente uma imensa vontade de chorar de saudades daquele grandão quatro-olhos.

—  Bom, eu… não vejo o Bakugou como um irmão, ele tá mais pra meu vô: só reclama, me bate com os livros, dorme cedo e eu tenho certeza que um dia vão me ligar pedindo pra eu buscar ele na rua porque ele tá descontrolado. —  Ochako cai na gargalhada de novo, e o Kirishima dá uma risadinha.

—  Bom, com todo o respeito, mas… seu vô tá muito bem conservado, eu quero chegar assim na idade dele. —  os dois riem — Não, mas falando sério, Kirishima-kun, eu tenho certeza que ele gosta muito de você, de verdade, ele não me fala nada, mas… eu sei que ele tá com muita saudade de você.

—  Ah… valeu, Uraraka! —  ele coça a cabeça, sem-jeito —  Eu te abraçaria, mas acho que ia ser meio estranho…

—  Haha, um pouco… fora que eu ainda fico desconfortável de imaginar o Kaminari-kun pegando a gente se abraçando… —  ela confessa.

—  Relaxa, ele sabe que o Bakugou é meu vô, agora… se fosse o Togata-senpai, aí era outra história…

—  É? Ele tem ciúmes do Togata-senpai?

—  Vish, e como! Essa é a parte ruim de começar a namorar amigo, Uraraka: ele sabe de todo mundo por quem você já teve uma crush… —  Ochako arregala os olhos.

—  Kirishima-kun, você gostava do Togata-senpai??? —  o queixo dela cai em choque.

—  Hehehe, eu esqueço que você não é o Bakugou de verdade e falo coisas que ele já sabia… M-mas foi antes de ele e o Amajiki-senpai começarem a namorar, tá?  —  ele dá um sorrisinho sem-graça, e o resto da conversa no elevador é focada nesse novo fato fascinante pra ela, Ochako simplesmente não consegue imaginar o Togata-senpai com alguém que não seja o Amajiki-senpai, eles são… perfeitos um pro outro! O modelo de casal que ela gostaria de seguir caso… caso o Deku a aceitasse.

Ao chegarem na área de convivência, Ochako e Kirishima se juntam ao Kaminari e ao Sero para tomar café, e o assunto das provas volta a dominar o ambiente: todo mundo parece apreensivo com as provas de fim de semestre, e com certeza ninguém estudou ontem por causa da festa do Deku…

Os olhos dela pairam no Deku, sentado na mesa em frente junto da Tsu, do Iida e do Todoroki, o Bakugou também está ali, pouquíssimo interessado no que quer que eles estejam discutindo, focado no livro de História Heróica. Ah… estar no corpo do Bakugou é ótimo às vezes, mas nunca será tão bom quanto as conversas matinais que ela tem com a Tsu, o Iida, o Deku, e o Todoroki, mesmo que ele nem seja muito falante… ela tá com tanta saudade! E tem tanta coisa que Ochako gostaria de discutir com a Tsu, a honestidade crua dela, beirando no cinismo, e a maneira como ela sempre a faz pensar nas coisas objetivamente seria muito útil agora…

Porque da mesma maneira que a Tsu lhe perguntou se ela tinha certeza que os sentimentos pelo Deku não eram mais que um carinho fraternal como pelo Iida, Ochako precisa muito de ajuda pra tentar entender esses sentimentos pelo Bakugou.

E porque ao mesmo tempo que eles são muito diferentes, são também muito parecidos com os que ela tem pelo Deku… talvez até mais intensos.

 

***

Katsuki estica os braços, girando a lapiseira sobre o caderno preguiçosamente. Semana de prova só não é uma merda completa porque o povo da sala aquieta o cu um pouco e a maioria fica só estudando. A ideia dele era revisar sozinho, mas a Cara de Sapo o esperou terminar o almoço pra perguntar se eles podiam estudar juntos e… porra, essa é a melhor amiga da Ochako, ele não pode ficar fugindo dela. Um porque ela desconfiaria, dois porque… é a melhor amiga da Ochako. Ugh… estar apaixonado é mesmo uma merda!

—  Aqui, essa dá pra resolver pelo sistema de escalonamento, não dá?

—  Parece que sim… —  ele responde — Tsk, por que essa merda tá tão difícil?. —  ele resmunga. Deve ter a ver com o cérebro da Ochako ou alguma bizarrice assim. O fato é que concordar em estudar com a Menina Sapo tá sendo útil, ela entende a matéria e tem paciência pra explicar, Katsuki devia colocar aqueles idiotas pra estudar com ela e se livrar de tanta burrice.

—  Não pode apavorar, ribbit. Eu sempre te digo que você sabe o que fazer, mas fica tão nervosa que se perde. Relaxa, tá bom?

—  É, tá bom. —  ele murmura, surpreso por vê-la sorrir. —  O-obrigada, Tsu-chan.

—  Imagina, amigo é pra essas coisas, não? —  tá, ela pode até ser esquisita, mas algo nessa menina o lembra do Kirishima. Talvez seja a tranquilidade, o jeito como ela faz todos os problemas parecerem pequenos e simples de resolver, ou talvez seja como ela parece ficar mais à vontade perto da Ochako, assim como o Cabelo de Ouriço fica perto dele —  Além disso, preciso da sua ajuda com inglês. — é, ela até é meio folgada como o Kirishima, tsk.

—  Tá com dúvida em quê? —  ele tenta não bufar, pegando o livro de inglês e vendo as anotações da Ochako. A letra dela chega até a ser tosca de tão fofa, que merda é essa? Katsuki não suporta o fato de que tudo nela é adorável pra caralho!

Os dois continuam estudando por um bom tempo e porra, ela é muito mais fácil de ensinar que aqueles idiotas que vivem grudados nele, uma merda que quando essa troca de corpo acabar, ele não vai poder estudar com essa menina. 

Katsuki sente-se tensionar ao pensar que quando tudo voltar ao normal, ele e a Ochako vão fingir que nada dessa porra aconteceu, ela vai voltar a tratá-lo como só mais outro cara da sala, e ele mal vai olhar na cara dela, e o pior? Não vai ser nada demais pra ela, que vai estar ocupada demais vivendo o romancinho estúpido dela com o Deku.

—  Ochako-chan, tá tudo bem? —  não, porra! Lógico que não tá!

—  Sim, só tô estressada com as provas.

—  Ah claro, eu também, ribbit. Você ouviu o Iida falando? Parece que a prova do All Might vai ser feita em conjunto com a turma B…

—  Tsk, ele tá viajando! Qual o sentido de botar a gente pra brigar de novo com esse povo?

—  É, mas talvez não seja combate, e sim exercícios de resgate em conjunto? —  porra, só falta! Que merda é essa, All Might? — Até porque quando a gente for profissional, vai trabalhar com todo tipo de gente, dificilmente a gente vai conseguir trabalhar com o pessoal da sala, ribbit… embora tenham umas pessoas que eu imagino virando parceiros… a Kyouka-chan e o Kaminari-chan, o Aoyama-chan e a Mina-chan… até você e o Bakugou-chan, sabia?

—  É? —  ele ergue uma sobrancelha.

—  É, não sei bem o que vocês fazem nos seus treinos conjuntos, mas com as explosões dele e a sua Gravidade Zero, vocês são praticamente um foguete humano, ribbit. —  porra, sabe que ele já pensou a mesma coisa ao observar essas bolinhas nas mãos dela? Tem uma caralhada de coisas que eles poderiam fazer juntos se a Ochako não fosse tão arregona às vezes.

Mas será que é só arrego mesmo? A Menina Sapo aqui cantou a bola, a Cara de Lua tem mania de se apavorar à toa, é como se… ela não botasse fé em si mesma, que coisa mais estúpida! Como alguém tão esperta como ela consegue ser tão burra e não ver que o que ela faz com essas mãozinhas é do caralho? Ela é do caralho! Como caralhos ela não sabe disso ainda?

—  Tsk, achei que você não fosse com a cara do Bakugou-kun, Tsu. —  ele rosna.

—  Não tenho nada contra ele. E se você confia nele como seu parceiro de treino, então ele não pode ser de todo ruim. —  ela dá de ombros — Fora que ultimamente ele está quase agradável, é como se… você tivesse passado um pouco da sua personalidade para ele e vice-versa. Não que… você esteja agindo como ele, mas… sua boca tem estado bem mais suja, Ochako-chan. Talvez o Todoroki estivesse certo sobre vocês terem trocado de personalidade, ribbit. —  ih caralho!

—  O Todoroki-kun não sabe o que fala, como alguém acha normal falar uma coisa daquelas do nada?

—  É o jeito dele, você sabe… mas realmente, seria esquisito, não? Trocar de corpo com outra pessoa… —  ela parece pensativa — Se bem que eu li em algum lugar uma vez que casais que estão juntos há muito tempo começam a ficar parecidos… acho que a Tooru-chan e o Ojiro-chan já estão nesse caminho… a Yaomomo e a Kendo-chan… bom, elas sempre foram meio parecidas, né? —  se ela tá falando… — Imagina que esquisito seria para um casal, se eles fossem se beijar, estariam beijando a si mesmos, ribbit.

Katsuki sente o rosto pegar fogo. B-beijar? Tipo… na boca? Realmente, que coisa bizarra, se ele fosse beijar a Ochako, ia acabar beijando a própria boca, e o mesmo pra ela. Credo! Ele não quer nem pensar nisso! Por mais que Katsuki consiga vê-la quando se concentra de verdade, ainda sentiria a própria boca e… bleargh, que nojeira! Que raios essa Cara de Sapo foi falar um negócio desses? Agora ele fica pensando nessa merda e… porra, seria o pior primeiro beijo da história!

Ele ainda fica com essa merda na cabeça por mais um tempo, mas se força a esquecer quando encontra a Ochako na lavanderia, como eles combinaram mais cedo para conversar sobre o dia que vão entrar em ação. Eles estão de pleno acordo: tem que ser nessa quinta-feira e fim de papo.

—  Eu fico muito dividida, Bakugou-kun. Ao mesmo tempo que acho que a gente não pode fazer isso sozinhos, eu…

—  … você sabe que foderíamos com a vida de quem quer que se metesse nessa com a gente. —  ela acena com a cabeça tristemente. — Tsk, o Kirishima ia topar ajudar na hora.

—  O Deku também… —  ela suspira. Ah porra, lá vai ela!

—  Tsk, não duvido, aquele lá adora se meter onde não foi chamado.

—  Ele só se importa demais com os amigos, Bakugou-kun. Você é quem o conhece há mais tempo, como ainda pode não entender isso? —  ele fecha o punho, forçando-o contra uma das secadoras.

—  Vai ficar defendendo esse porra agora? Você é burra ou o quê?

—  Como é que é? —  ela o olha feio, soltando as palavras como se estivesse as cuspindo.

—  O que você tanto vê naquele nerd maldito? Você vira outra pessoa quando alguém fala um “a” dele, lambe o chão que ele pisa, e o palhaço nem teve a capacidade de responder a sua porra de confissão na hora!

—  B-Bakugou-kun, eu… não vou discutir isso com você, e… o que você sabe? Do que você entende?

—  Eu entendo que não é uma coisa que precisa de tempo pra pensar, ficar com você não é uma coisa pra se ter dúvida! —  ele vocifera, aproximando-se dela. Ela, que antes parecia furiosa, agora parece confusa. Merda, o que foi que ele acabou de falar? Katsuki desvia o olhar —  Você… você merece coisa melhor, só isso. — e agora parece chocada.

Por um segundo, ele se perde no momento, imaginando que estão destrocados, ela e seus grandes olhos castanhos, olhando-o com atenção e perplexidade, a boca levemente trêmula e aberta. Eles tão tão perto, se ele ficar na ponta dos pés, consegue beijá-la…

—  Eu… agradeço, mas… sou eu quem decide isso, não você. —  ela diz seriamente, arrumando a postura e mantendo distância entre eles —  E… nem sei porque você se importa, pode ficar tranquilo que o Deku não vai dar uma resposta pra você achando que sou eu, eu cuidei pra que isso não acontecesse.

—  Tsk, não é por isso que eu- eu não tô nem aí pra esse merda, Ochako, eu… —  ele vai falar o quê? “Eu gosto de você! Não entendo porra nenhuma do que tá acontecendo, mas só sei que gosto de você, e se fosse eu, não pensaria nem por um segundo na minha resposta!” Não, que merda é essa? Esquece essa porra, eles precisam salvar os pirralhos, precisam recuperar seus corpos, assim que isso acontecer, eles podem esquecer dessa merda toda e tocar com a vida normalmente. —  Tsk, esquece! Eu… eu tô indo dormir!

Como um covarde, ele dá meia volta e some da lavanderia, se segurando pra não fechar as mãos com muita força, preocupado em fincar as unhas nas palmas dessas mãos macias e gorduchinhas. Que merda! Ele não pode nem ficar longe dela direito, é só olhar pra baixo pra se afundar no cheiro e na maciez da pele dela, tão perto e ao mesmo tempo tão longe da única pessoa com quem ele se importa desse jeito, tão perto e tão longe de seu primeiro amor.

E porra, beijá-la assim seria nojento e bizarro, mas… Katsuki tá quase se arrependendo de não ter feito pra ver se ela entende.


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Notas finais do capítulo

Oioi! Aqui estamos com um capítulo mais ou menos sério antes da gente entrar no meu arco favorito dessa fic hihi

Obrigada por ler, espero que esteja curtindo!



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