Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 17
Lembra da oitava regra?




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Ochako bate o lápis contra o caderno impacientemente, ainda tentando se lembrar das explicações do professor Aizawa para achar um jeito de resolver essas equações. Ela suspira, talvez ele estivesse certo e eles realmente trocaram de cérebro, porque se aqui, dentro dessa cabeça, é o cérebro do Bakugou, então ela deveria ser capaz de usá-lo para raciocinar matematicamente, não?

Essa pressão está deixando-a ansiosa, não só porque ela não entende a matéria, mas porque… se as coisas continuarem assim, ela vai ter que fazer as provas finais em nome dele e vice-versa. Pra ela vai ser ótimo, as notas de Uraraka Ochako vão subir mais que um foguete, já as dele… bom, não que ela vá zerar, Ochako não é tão burra assim, ela só… tem a tendência de ficar sempre ali no meio, nada terrível, mas nada muito extraordinário também, só… na média. Conhecendo o Bakugou, a última coisa que ele quer é ter seu nome associado a algo “na média”.

Por isso que eles precisam trocar logo, mas como? Eles prometeram pra Nejire-senpai que não iam fazer nada arriscado. Uma besteira que eles façam e ela vai ser forçada a delatá-los, e é muito difícil não fazer besteira se eles não têm nenhuma pista concreta de onde esteja o garotinho, é praticamente impossível não fazerem besteira com eles desse jeito, agindo completamente sozinhos. É, esse é o problema maior, eles estão sozinhos, não têm ninguém a quem recorrer… quer dizer, não se eles quiserem continuar protegendo esse segredo.

Bom, mas isso tudo é hipotético, o fato é que independente de em qual corpo ela estará, Ochako ainda terá que fazer a prova, então precisa saber a matéria, ela veio à área de convivência para estudar uma hora antes do que havia combinado com os garotos, para ver se entende alguma coisa o suficiente e tentar ajudá-los, mas… quanta inocência, ela não sabe nada nem pra si mesma.

Folheando o caderno de exercícios, ela bufa. Sem muito ânimo, Ochako pega o caderno do Bakugou pra dar uma olhada no que ele anotou das aulas. Correndo o olho pelas páginas, é impossível não notar o quanto a caligrafia dele é bonita. Quem olha para aquela cara fechada e aquele uniforme meticulosamente desleixado jamais diria que esse menino é o segundo melhor aluno da sala tanto nas matérias práticas quanto teóricas, jamais sequer imaginaria que ele tem uma letra tão caprichada e anotações bem organizadas. Ochako sorri, Bakugou tem toda aquela pose, mas no fundo, ele é um grande nerd. É algo que ela já tinha notado antes, mas conviver com isso diretamente muda muito a maneira de vê-lo. Se vai ficar algo bom disso tudo quando acabar, talvez seja o fato de que ela tá conhecendo a fundo alguém que sempre a intrigou, de certa forma.

E não é que as anotações dele são úteis? Ochako segue o passo a passo de como ele escreveu no caderno e… as equações fazem um pouco de sentido. Hum… vai ver é o cérebro dele funcionando porque entrou em contato com o conteúdo da maneira que tá acostumado, que doideira. Ela acena a cabeça para si mesma, apertando o lápis na mão e curvando-se sobre a mesa, mas é interrompida por uma figura familiar até demais.

—  Ah, o-oi, Kacchan! —  Ochako gela, tentando se lembrar qual foi a última vez que falou com ele, a última vez que ela o viu. Na verdade, com todo o rolo com a senpai no sábado e o interrogatório do professor Aizawa ontem, ela percebe que tem um bom tempo que sequer… pensa no Deku.

—  O que… o que você quer, Deku? —  ela o olha de cima a baixo, e ele fica mais vermelho que um pimentão.

—  Eu só precisava falar com você rapidinho, mas se você tiver ocupado, eu volto outra hora!

—  Não, pode falar!  — ela limpa a garganta, lembrando-se que não é assim que fala —  Já que você já tá aqui, né? Eu que não quero ver essa sua cara de idiota duas vezes no mesmo dia.

—  Ha… haha, claro, claro!  — por algum motivo, ele parece achar realmente engraçado. Hã? Desde quando o Deku acha graça nos insultos do Bakugou? —  Então, Kacchan… — ele se senta na cadeira ao lado dela. Ochako sente que deveria gritar com ele para sair, mas… ela realmente não quer, apenas fingindo um olhar de desagrado —  Não sei se você sabe, quer dizer, se você lembra, mas domingo é meu aniversário.

Ochako solta o caderno que tem em mãos na mesa, a lembrança a atingindo como um chute no estômago. Como… como ela esqueceu, assim? Ela tem os aniversários dos amigos todos anotados no calendário em seu quarto, o dele tá anotado com uma caneta verde bem chamativa. Ela sente uma pontada no peito ao se lembrar de que jurou pra si mesma que, independente de qual fosse a resposta dele para a confissão, ela usaria toda a sua mínima habilidade em culinária para fazer um bolo pra ele. Estranho como parece que isso aconteceu há tanto tempo, e a confissão era o que dominava os seus pensamentos. Já agora…

—  Tá. —  é a única resposta que ela consegue soltar.

—  E, hã… o pessoal tá organizando uma festinha pra mim. Bom, na verdade, não só pra mim, pro Togata-senpai também. —  ele pausa, e parece se lembrar de algo — Ah, o Togata-senpai, não sei se você conhece ele, Kacchan. Bom, você já deve ter ouvido falar porque ele era do Big 3 e você é bem atualizado no que diz respeito a heróis promissores, então não é estranho que você pelo menos já tenha ouvido falar, mesmo que nunca tenha o conhecido pessoalmente —  e ele dispara a falar. Por que será que ele tá tão nervoso? Ochako se sente mal, querendo pegar na mão dele pra acalmá-lo.

—  Eu já ouvi falar e conheci ele na academia aquele dia. —  ela responde o mais secamente possível — Para de jogar conversa fora e vai direto ao ponto, Deku.

—  S-sim! Me desculpe! Enfim… vai ter uma festinha lá perto do píer no domingo às 14h, a classe toda vai, então… se você quiser ir, eu tô te convidando.

Ochako sente o corpo esquentar, mas é de felicidade. Porque ela pode não ser ela agora, e o Bakugou não é o Bakugou, mas o Deku ainda é o Deku. Sempre gentil, sempre dando o seu melhor pra se aproximar, mesmo de alguém que não quer muita proximidade, sempre o garoto que quer todo mundo ao seu redor feliz… ela tá com tanta saudade dele… quer tanto abraçá-lo e pedir desculpas por estar sendo uma amiga tão ruim nesses últimos tempos.

— Eu… hã, seria muito legal se você viesse, Kacchan! Todo mundo vai, o Kirishima-kun, o Kaminari-kun, o Sero-kun, a Ashido-san… ah, a Uraraka-san também! —  ele sorri gentilmente — Enfim… era só isso, eu vou deixar você estudar.

—  Eu esqueci do seu aniversário… —  antes que ela se dê conta, as palavras escapam de sua boca.

—  Hã? Ah… tudo bem! Não se preocupa com isso, não! Eu entendo, você tá bem ocupado ultimamente, né? —  ele coça a parte de trás da cabeça. Se ele soubesse da metade... — Não… não precisa se preocupar com nada, tá bom... —  Deku respira fundo — … Kacchan?

O silêncio na área de convivência só faz essa cena parecer ainda mais dramática e intensa, a voz do Deku não é aguda e nervosa como sempre. Ele soa mais seguro, parece a voz que usa quando está tentando acalmar civis, como se todos os problemas do mundo pudessem ser resolvidos porque ele disse que vai resolver. E só por um minuto, ela realmente acredita que não tem com o que se preocupar mesmo.

Ochako sai do transe quando vozes invadem a entrada do prédio, risadas que só podem ser da Mina e da Tooru ecoam até que entram pela porta. A Mina sorri e dá um tchauzinho animado pra ela, mas nem espera pra ver se ela vai retribuir ou não —  ela não vai, obviamente. Logo atrás delas, vêm o Bakugou e a Yaomomo, ele parece escutá-la sem muito interesse, depois sem nenhum interesse quando o olhar dele encontra o de Ochako, encarando-a quando ele nota a companhia dela na mesa.

— Aahh, eu preciso ir, Kacchan! Boa… boa sorte nos seus estudos! —  ele praticamente pula da cadeira e sai correndo dali, e ela mal tem tempo de processar o que foi tudo isso, porque pouco tempo depois, os garotos aparecem para serem tutorados.

E apesar de uma tutoria de Bakugou Katsuki consistir em muita gritaria e às vezes em agressão física, Ochako sente que não vai conseguir ser muito Bakugou no momento.



***

Katsuki quer muito socar alguma coisa ou alguém. Em condições normais, as mãos dele começariam a pinicar de tanta vontade de explodir alguma coisa pelos ares, mas nas atuais condições, assistir a alguma coisa aleatória flutuar não tem o mesmo efeito de aliviar o estresse dele, muito pelo contrário. Ele fecha as mãos, tentando se acalmar.

Maldito Deku! Que caralhos ele pensa que tava fazendo? Katsuki não deixou claro o bastante pra ele ficar bem longe da Cara de Lua? Do jeito que aquele lá é, deve ter começado a gaguejar perto dela, se bobear ele até trocou os nomes. Pela cara dela quando ele entrou com as meninas, alguma merda aquele imbecil deve ter falado. Ah, mas ele vai ver o dele!

—  Deku-kun, você tem um minuto? —  ele dá um daqueles sorrisinhos sonsos ao se aproximar do nerd algumas horas depois na bancada da cozinha. Um bando de olhares curiosos pousam nele. Que porra esses moleques querem?

—  U-Uraraka-san!  — o nerd pula na cadeira, olhando ao redor e se certificando que a Uraraka tá distraída com o Kirishima e os outros na mesa de estudos —  Pode falar!

—  A sós. —  ele tenta forçar um sorriso, ignorando o silêncio que se estabelece entre os outros idiotas.

—  Hã… claro! —  o Deku se levanta da cadeira —  Vocês me dão licença, pessoal? Não vou demorar.

—  Se você tiver com sorte. —  Katsuki retruca, sabendo que foi idiotice responder assim.

—  Oh, eu sinto uma energia tão perigosa vindo da mademoiselle Uraraka ultimamente… Si effrayant!  — o esquisitão que cheira a queijo leva as mãos ao rosto dramaticamente.

—  O Dark Shadow me disse que forças ocultas atuam sobre a Uraraka-san no momento. —  o Frango das Trevas cruza os braços e fecha os olhos.

—  Não digam bobagens. —  o Quatro-Olhos arruma os óculos —  Midoriya-kun, pode ir, parece ser importante… —  e então ele se vira pra ele — Se for algo em que eu possa ajudar, Uraraka-kun, eu- —  Katsuki o ignora, dando as costas quando o Deku finalmente o segue para fora do prédio.

Quando eles ficam longe o suficiente para que os idiotas não possam nem vê-los de lá de dentro, Katsuki cruza os braços e o encara.

—  Eu só vou perguntar uma vez: que caralhos você tava falando com ela, seu merda?

—  Kacchan, eu juro que não tem nada a ver com a… situação de vocês, eu… só queria convidá-la pro meu aniversário no domingo.

Ah, a tal festa de aniversário no píer que o povo da sala vai dar pra esse nerd de merda e pro marombado que tava com a menina unicórnio aquele dia, as meninas tavam comentando sobre essa merda no caminho pros dormitórios. Katsuki sente-se enjoado só de lembrar como a Celofane o agarrou pelos ombros e perguntou, num tom muito esquisito, o que ele ia dar de aniversário pro nerd… porra, que nojo!

—  Você é imbecil? Por que caralhos você foi convidá-la? Nem se fosse eu mesmo naquele corpo, você podia chegar assim de boa!

—  Eu te chamaria pro meu aniversário, Kacchan! —  o nerd se defende, achando que esse é um puta de um argumento —  Mas eu… eu a convidei porque se ela ficasse sabendo, ia achar que eu não ia querer que ela fosse.

—  Foda-se, porque ela não vai mesmo. —  Katsuki dá de ombros.

—  Não é você quem decide isso, Kacchan. —  o nerd o olha muito sério, como se conseguisse botar medo nele.

—  Sou eu sim, é meu corpo, e EU nunca ia sair de casa pra ir no seu aniversário, Deku. Se ela aparecer lá, vão perceber que tem coisa errada! É só por causa disso que eu tô indo nessa merda!

—  Kacchan, se a Uraraka-san quiser ir, ela vai. Pode ser o seu corpo, mas a decisão é dela. —  o nerd suspira — Eu entendo que você queira guardar seu segredo, mas… é crueldade querer isolá-la. A Uraraka-san é uma pessoa querida que gosta de estar com os amigos dela, privá-la disso só vai fazer mal pra ela.

—  Cala a boca! Desde quando você virou especialista na Carinha de Lua, seu imbecil?

—  Eu e ela somos amigos há mais de um ano, pode acreditar em mim quando eu digo que essa situação a assusta muito mais do que ela demonstra. Eu vi ela estudando hoje na sala, Kacchan. Ela tá… solitária.

Porra, e ele não sabe disso? Ontem foi a prova. Quando ela chegou chorando na lavanderia e o abraçou, Katsuki tem certeza que foi a gota d’água pra ela. A Cara de Lua tá sempre disfarçando com sorrisinhos e motivação, mas no fundo, ela é muito mais intensa e preocupada, é lógico que essa situação toda a deixa maluca, tanto quanto ele, mas por algum motivo, ela sente a necessidade de esconder sua frustração.

—  Tsk.

— Mesmo que seja no seu corpo, ela precisa estar com os amigos dela um pouquinho, Kacchan. E… acho que ela também ia querer que você fosse mais gentil com o Iida-kun quando se passa por ela. Eles são muito amigos, sabe? Acho que mais até que eu e ela...

—  Não me diz o que fazer, Deku. —  ele enfia as mãos nos bolsos da jaqueta e dá meia volta —  E outra coisa: avisa pro All Might não falar comigo por esses dias. Se ele vier querendo falar desse seu segredo ou qualquer coisa assim, vai dar merda tanto pra mim quanto pra você.

—  Nossa! É mesmo, né? —  o nerd arregala os olhos —  Vou falar, sim. Vou dizer que você anda ocupado e não pode ser incomodado com meus problemas…

—  Ou você pode contar seu segredo pra ela. —  ele dá de ombros.

—  O segredo do One for All? N-não, eu não… posso contar pra ninguém, eu só te contei porque você descobriu de qualquer jeito, Kacchan, mas eu não posso contar pra ela…

—  Você não confia nela? —  puta merda! Que caralhos ele tá falando?

Deve ser essa maldita da menstruação, Katsuki não tá raciocinando direito desde ontem por causa dessa merda. É, ele deu uma pesquisada sobre essa coisa depois que saiu da enfermaria, e parece que a tal da menstruação mexe com os hormônios e faz as meninas ficarem estranhas. Só pode ser isso, ele tá estranho por causa dos hormônios, só isso pode explicar o porquê de ele estar esquecendo suas prioridades, tipo encontrar o pivete, e dando moral pras besteiras inúteis do Deku. Porra, ele tá tão louco no estrógeno que tá até achando um absurdo esse nerd cretino não querer contar pra Uraraka um segredo que ele combinou só com o maior herói de todos os tempos. Essa combinação de hormônios de garota mais… aquele lance lá de ele estar, hã… interessado nela, tá deixando Katsuki doido de pedra. Que porra é essa?

—  Eu confio nela, confio muito! Mas se a Uraraka-san souber, pode ser perigoso pra ela. É… a principal razão pela qual eu não posso aceitar a confissão dela, mas… — o nerd abaixa a cabeça, como se falar essas palavras o machucasse de verdade.

—  Mas?

—  Mas eu… também não quero rejeitá-la, porque eu não quero perd- —   tsk, só faltava esse nerd achar que Katsuki vai mesmo ficar aqui servindo de confidente amoroso dele, tomar no cu.

—  Tsk. —  ele chuta a grama  — Foda-se isso, só fica longe dela enquanto a gente estiver trocado, seu imbecil!

Katsuki sai andando, a vontade de socar alguém ou alguma coisa nunca foi tão grande.



***

—  Acorda aí, Cara de Lua.

Ochako pula de surpresa ao sentir-se sendo sacudida levemente por uma mão em seu ombro. Esfregando os olhos, ela dá de cara consigo mesma, o que é péssimo, porque significa que o Bakugou veio acordá-la depois de ela ter cochilado sobre a mesa de estudos.

—  B-Bakugou-kun! Que horas são?

— Onze e meia. Já passou da hora de eu estar na cama. —  ele responde secamente, pegando-a de surpresa por não estar bravo e julgando-a por ter dormido enquanto estudava.

—  Ah sim, eu… queria estudar mais um pouco. Eu ajudei os meninos, e acho que entendi a matéria melhor, mas foi cansativo…

—  E eu não sei? Qualquer um fica cansado com a burrice daqueles moleques! —  ele reclama — Amanhã você estuda mais, Cara de Lua.

—  Sim, sim, é que… a matéria é difícil, e as provas começam semana que vem, né? Eu não sei se a gente vai ter destrocado até lá, então vou ter que fazer a sua prova, né? E você é um dos melhores alunos, então…

—  A gente já vai ter destrocado até lá, cabeção. —  ele murmura, fechando os livros e cadernos pra ela.

—  Como você tem certeza?

—  Porque eu sei onde a gente pode achar alguma coisa sobre o pivete. —  ele olha pros lados antes de sacar um pedaço de jornal todo amassado e colocar na mesa, aproximando-se dela enquanto fala baixinho —  Tá vendo? Olha ele aqui!

Ochako vê a foto do garotinho, ele está sentado no que parece ser uma maca ao lado de um senhor vestindo jaleco. Na legenda da foto: “O geneticista Kisaragi Hoshide estuda uma maneira de mapear a individualidade que seu filho, Kisaragi Hideki (4), irá apresentar quando tiver a idade necessária.”

—  Kisaragi Hideki… nós temos um nome! —  ela sorri diante da revelação.

—  Não só isso, a gente tem o nome do velho do pivete. Eu fiz umas pesquisas, e parece que o cara era o pica das galáxias nesses estudos de individualidade, mas se aposentou tem mais ou menos um ano, desde que o filho dele sumiu.

—  Ele foi raptado! Tadinho dele, deve achar que o filho morreu… —  Ochako abaixa a cabeça.

— Enfim, o cara não tá mais na ativa como cientista, mas tem um instituto de pesquisas nessa área que leva o nome dele na Universidade de Tóquio. Se a gente for lá, pode ser que a gente consiga alguma informação de onde achar esse velho. O moleque não tá mais no prédio, mas eu tenho certeza que esse jornal aqui é dele-

—  O que significa que ele aproveitou a confusão daquele dia pra fugir do laboratório e poder encontrar o pai.

—  Isso. Achando o velho, tem uma chance muito grande que a gente ache o moleque. —  ele joga os cadernos com força na mesa depois de empilhá-los.

—  Bakugou-kun, você é incrível por ter descoberto tudo isso, mas… como a gente vai conseguir informações sobre esse senhor? Não acho que a universidade sai divulgando endereço e contato assim… você… você não tá planejando roubar a informação, tá?

—  Lógico que não, Uraraka! Tá maluca? Se a gente for pego, fodeu! Não, a gente vai conseguir de algum jeito, é por isso que sábado a gente precisa ir na Universidade de Tóquio.

—  A gente não vai fazer nada perigoso, certo? Você prometeu pra Nejire-senpai, Bakugou-kun.

—  Eu sei, Bochecha. Confia em mim. —  O Bakugou é arrogante e confia demais nas próprias ideias pra assumir quando são ruins, mas tem algo no tom dele, baixo e confiante, completamente oposto à gritaria insana  que expõe o quanto ele pode ser inseguro na maior parte do tempo, que faz com que Ochako seja incapaz de duvidar dele.

—  Ok, sábado. —  ela assente — Bom, então… eu vou dormir, vou acordar cedo amanhã pra revisar mais um pouco.

—  Tsk, a gente pode estudar depois da aula. —  ele dá de ombros.

—  Ah, claro… e que tal na hora do almoço? Eu levo os livros lá pro terraço e-

—  Não, amanhã a gente vai almoçar no refeitório. —  Ochako não contém a surpresa. Há quase três semanas, ela e o Bakugou vem almoçando sozinhos no terraço, segundo ele porque ela dá muita bandeira quando come, por isso eles têm que se esconder, mas… se ele quer almoçar na frente de todo mundo amanhã, isso significa que ele confia nela para fingir ser ele, certo? —  Você não vai poder sentar com os imbecis dos seus amigos, vai ter que sentar com o Kirishima e os outros idiotas.

—  Ah, tá ótimo! Tomara que a Mina-chan apareça, se tiver pelo menos ela de menina, eu fico mais tranquila. —  ele a olha feio — Mas eu não vou falar nem fazer nada que entregue a gente, Bakugou-kun, pode ficar tranquilo!

—  Acho bom mesmo, não faz eu me arrepender de concordar com isso, Cara de Lua! —  ele se recolhe de novo na cadeira — Agora vai dormir, amanhã a gente estuda junto depois da aula. A gente já vai ter destrocado até as provas começarem, mas eu tenho que estudar de qualquer jeito. —  ela se pergunta se ele tá esquecendo a matéria por que tá com o cérebro dela, sentindo-se culpada — Não dá pra perder tempo, ainda mais que a gente já vai perder domingo por causa da porra do aniversário daquele nerd maldito! —  Ochako o encara em surpresa. Como ele…? Ah, ele sabe da festa porque as meninas com certeza devem ter comentado, mas como ele sabe que ela sabe? Ou melhor, como ele sabe que ela quer ir? — Tá olhando o quê?

—  N-nada, eu só… achei que seria estranho o Bakugou Katsuki ir ao aniversário do Deku, eu… achei que seria melhor eu não ir.

—  Tsk, o Cabelo de Merda ia ficar na minha orelha pra eu ir, então eu ia acabar indo pra ele parar de encher o saco. Pode ter certeza que ele vai fazer isso contigo, então lembra de falar “Tá, tá, eu vou se você calar a boca, seu merda, me deixa em paz!” —  ele diz isso tudo evitando olhá-la.

—  Ok, eu não vou esquecer. —  ela sorri carinhosamente — Obrigada, Bakugou-kun. —  ele continua desviando o olhar, mas Ochako nota como as bochechas dele parecem vermelhas.

—  Tá, tá, vai dormir logo! —  ele empurra os cadernos em direção a ela, e só então Ochako nota algo estranho.

Olhando pras mãos dele, que são as dela mesma, no caso, ela percebe que as pontas dos dedos anelares estão cobertos por um tipo de borracha rosa.

—  Bakugou-kun?

—  Que foi agora?

—  O que é isso aí? —  ela aponta pros dedos, ele os olha e depois os esconde atrás das costas.

—  Eu esqueço de erguer a porra dos mindinhos, aquela maldita da Rosinha ficou rindo da minha cara porque eu fico levitando coisas do nada, então eu comprei umas luvas de lavar louça e cortei, assim dá pra usar as mãos sem ficar com um dedo erguido o tempo inteiro. Algum problema com isso? —  antes que ela possa dizer que não, ele abre a boca mais uma vez — Eu comprei com meu dinheiro, antes que você pergunte.

—  Não, eu imaginei. É… bem esperto. Me deixa até frustrada por nunca ter pensado nisso antes. —  ela admite, sem jeito — Gostei da cor.

—  Lógico que gostou. Rosa é sua cor favorita, porra.

Em tese, não significa nada, ela contou pra ele que gosta de rosa quando eles estavam trocando informações básicas um sobre o outro. Ochako quer achar que não, mas o jeito que o Bakugou fala dá a entender que ele escolheu luvas cor-de-rosa porque é a cor favorita dela. É como se houvesse pares de várias cores, e ele não pegou as rosas aleatoriamente, ele… estava pensando nela ao fazer sua escolha. É, realmente, algo muito bom vai ficar disso tudo, ela está conhecendo lados dele que a maioria das pessoas desconhece ou ignora, e isso a faz sorrir.

Ochako olha para frente, a visão dela tá um pouco borrada, por algum motivo, mas ao apertar os olhos, ela acaba se vendo no reflexo do vidro da janela, a imagem a faz perder o fôlego por um segundo, ela nunca viu um sorriso assim no rosto do Bakugou, não maníaco ou sádico, mas um sorriso genuíno, parecido com o que ele tinha naquela foto que a senhora Bakugou mostrou a ela.

Decididamente, o Bakugou deveria sorrir mais, o sorriso dele é… muito lindo.


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Notas finais do capítulo

Oioi! Chegando com att no sábado pois amanhã a essa hora estarei me desdobrando sobre uma prova de concurso público, sigam me desejando sorte porque já estudei o máximo que eu conseguiria :'))

Obrigada por ler, espero que esteja curtindo!



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