Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 16
Um outro tipo de regra




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— Então, Uraraka-san, o que você está sentindo? —  a enfermeira pergunta, esperando pacientemente com uma prancheta na mão e uma caneta na outra.

— Cadê a Recovery Girl? —  Katsuki pergunta, olhando de um lado a outro, tentando não balançar as pernas freneticamente.

—  A Recovery Girl é acionada apenas para casos urgentes ultimamente. Eu tomo conta da enfermaria em casos cotidianos. Por quê? Você precisa da Recovery Girl?

—  Lógico! O que que tem de “cotidiano” em sangrar do nada e ficar com essa dor maldita na barriga?

—  Sangrando? Você teve algum ferimento? Onde?

—  Não tem ferimento nenhum porque eu nunca encostei lá, nem vem! —  ele se defende nervosamente.

—  “Lá”? —  a enfermeira sorri igual a uma imbecil, e Katsuki se arrepende mortalmente de ter vindo aqui, mas que outra opção ele tinha? Como caralhos ele ia chegar na Cara de Lua e falar que acordou sangrando… por entre as pernas sem ela achar que ele fez alguma coisa esquisita como um… como um… tarado maldito? —  Uraraka-san, eu sei que você deve estar assustada, mas preciso que você se acalme e me explique direitinho o que houve. Então, quando começou o sangramento?

—  Não sei, eu acordei de manhã, fui tomar banho e quando abri o olho, tava tudo vermelho, aí fui pra aula e a dor na barriga começou, achei que fosse diarreia ou sei lá e fui no banheiro, quando eu tirei a… a calcinha, tava tudo vermelho de novo. —  puta que pariu, só de lembrar ele se arrepia todo! Agora falando sobre isso, parece ainda pior.

—  Entendi. —  a enfermeira faz algumas anotações —  Eu vou te dar um remedinho pra dor e deixar você descansar um pouco. Pode deitar ali que eu já levo seu remédio.

—  Só isso? —  ele quer soltar um palavrão, mas sabe que não pode. Ou talvez possa, não é possível que a Uraraka não ficaria puta com a enfermeira cagando pro sangramento e pra dor dela.

—  Como assim?

—  Eu tô sangrando! Sangrando… lá! —  ele tenta não gritar, mas sente que vai ser inevitável com essa enfermeira fazendo essa cara de tonta.

—  Uraraka-san, você está com 16 anos, certo?  — ela lê na ficha e depois o olha de novo —  Você toma algum anticoncepcional? — porra, um o quê? Não, pera, ele sabe o que é isso, mas como caralhos vai saber se a Cara de Lua toma isso? —  Pela sua expressão, eu acredito que não… mas vocês tiveram aula de educação sexual no semestre passado, não tiveram?

— Nada do que foi falado lá tem a ver com isso aqui. — ele resmunga.

— Tem certeza? — ela leva a mão ao queixo e o observa, será que tá desconfiada que ele fez alguma coisa estranha? —  Uraraka-san, será que essa é a sua menarca?

—  Minha o quê?

—  É a primeira vez que você menstrua?

—  QUE EU O QUÊ? —  ele berra. Que porra ela disse? M- mens- menstruar? Tipo, aquela coisa que mulheres têm? PUTA QUE PARIU, ISSO SÓ PODE SER A PORRA DE UM PESADELO!

—  A idade mais comum para a menarca é por volta dos 12 ou 13 anos, com 16 é um pouco mais raro e pode ser sinal de algum problema. Talvez nós devêssemos fazer alguns exames só pra conferir e eu vou pedir um encaminhamento para o ginecologista, pode ser?

—  N-não, não precisa. —  ele recusa, voltando a se sentar —  Não é a primeira vez. — Pelo menos ele acha que não, Katsuki viu um pacote em que tava escrito “absorventes” na gaveta de calcinhas da Cara de Lua, e como tava aberto, ele só presumiu que ela já usou essas coisas antes. Essa merda não serve pra nenhuma outra coisa além disso, né?

—  Então… por que você ficou tão surpresa? Está adiantada? —  porra, ele não tem a menor ideia do que essa mulher tá falando, Katsuki só sabe que precisa fechar o bico e parar de fazer ainda mais papel de idiota, então só assente com a cabeça e desvia o olhar, lembrando-se de não apertar as mãos uma contra a outra se não quiser parar no teto —  Ah… ciclo irregular é mais comum, mas se persistir, eu reforço que você procure um ginecologista, pode ser problema hormonal. Aqui o seu remedinho, pode deitar ali e descansar até a cólica passar, depois você pega sua declaração para entregar para o professor responsável.

—  Tá… foi mal… pelo chilique. —  ele murmura. É, não vale a pena berrar com a enfermeira, é com a Cara de Lua que ele precisa brigar por não ter contado que essa porra ia acontecer. Não ia deixar de ser nojento e medonho, mas pelo menos ele teria se preparado um pouco e não teria vindo fazer papel de otário na enfermaria. Maldita Uraraka!

—  Imagina, querida! É normal, os hormônios são difíceis de se lidar, né? Descansa um pouco. —   a enfermeira sorri, e Katsuki toma o maldito comprimido.

Que cacete, Uraraka! Ela é idiota, por acaso? Porque ele tá sempre falando que ela não conta o que é importante e o quanto isso fode com ele, e mesmo assim, só mesmo dando uns berros e pondo-a contra a parede pra fazer ela falar, que saco! Onde que ele ia imaginar que Uraraka Ochako tem muito mais a esconder atrás desse sorrisão enorme e essas bochechas gigantes? Quer dizer, desde que eles lutaram no Festival Esportivo ano passado que ele tem uma noção de que ela é muito mais que uma idiota de cara redonda que fica na sombra do nerd de merda e dos outros imbecis com quem ela anda, mas porra, todo dia ele descobre uma coisa nova que o faz querer explodir o cérebro, isso é cansativo pra caralho! Katsuki precisa sair logo desse corpo pelo bem da própria cabeça, não dá mais!

Mas, por enquanto, ele só pode encarar o teto e xingar baixinho. Caralho, essa porra dói demais! Parece uma dor de piriri piorada, que sobe pros peitos, fazendo-os parecer mais pesados do que já são, sem falar na hora que ele espirrou e… credo, melhor nem lembrar. Ele fecha os olhos, essa troca de corpos é uma merda, forçando-o a lidar com coisas que ele nunca achou que teria que se preocupar. E isso não é só sobre estar de chico, não.

Katsuki se lembra da conversa que eles tiveram no metrô, voltando pra escola. Porra, o que deu nele de sair contando sobre a culpa da aposentadoria do All Might e sobre o incômodo com o escuro? Ela não tem nada com isso, não precisa saber de nada disso pra fingir ser ele, e mesmo assim, ele desembuchou como se fosse a coisa mais normal do mundo! Passar tempo com a Carinha de Lua faz isso com ele: tratar coisas que antes ele considerava absurdas como normais. Katsuki nunca duvidou do quão forte a Uraraka pode ser, ele só não entende que tipo de força é essa e porque o deixa tão fraco. Essa porra precisa acabar antes que ele fique tão fraco a ponto de achar que é hora de parar de ser teimoso e ir contar tudo pro Aizawa.



***

—  Olá, Bakugou-kun. —  a Tsuyu levanta a cabeça e a encara, Ochako fica um pouco surpresa, ela não esperava encontrar alguém na porta da enfermaria —  Você também veio ver a Ochako-chan, ribbit?

Ela só balança a cabeça, incapaz de dar uma resposta coerente com a Tsuyu olhando-a tão intensamente. Ochako tá com tanta saudade da melhor amiga que até dói. Tem tanta coisa que ela quer falar pra ela, vários detalhezinhos que ela viu aqui e ali que a fazem lembrar dela. Mas ela simplesmente não pode, não se quiser voltar pro próprio corpo e fingir que nada disso aconteceu.

—  Faz tempo que você tá aí?

—  Desde que acabou a aula. A enfermeira me deixou entrar, mas a Ochako-chan estava dormindo, ribbit. —  ela vai matar o Bakugou por sempre fingir que tá dormindo quando os amigos dela se preocupam, ela sabe que ele não tá dormindo coisa nenhuma pelas mensagens malcriadas que ele fica mandando, exigindo que ela venha vê-lo pra ele berrar com ela pessoalmente, babaca! —  Imagino que você também esteja preocupado, ribbit.

—  Tsk, só porque eu não quero atrasar nosso cronograma de treino. —  ela resmunga, imaginando que o Bakugou diria algo nesse sentido, mesmo que não seja bem o que ele realmente pensa.

—  Ah sim, o treino de vocês, ribbit. —  normalmente o tom da Tsuyu é inexpressivo, mas Ochako a conhece bem demais, ela sabe que tem um quê de amargor nesse “ribbit” —  Ela tem vindo à enfermaria constantemente desde que vocês começaram a treinar juntos, não acha?

—  O que você quer dizer, Ts- hã… Menina Sapo?

— Que eu espero que ela não esteja se esforçando além do limite pra te acompanhar. Ou melhor, que você não esteja a pressionando pra te acompanhar, ribbit.

Ochako sabe que a preocupação é genuína e a intenção é das melhores, mas ela não gosta de como isso soa, porque dá a entender que o Bakugou é algum tipo de monstro e que ela é uma garotinha incapaz de impor um limite no jeito que ele pode tratá-la. Se a Tsuyu soubesse de como Ochako bate o pé e o faz baixar a bola, ela nunca diria isso.

—  A Uraraka consegue me acompanhar. —  na maior parte do tempo, sim, e isso é chocante até pra ela mesma —  Pode confiar mais na sua amiga. — Tsuyu a encara sem piscar, e Ochako se sente suar frio, ela só consegue imaginar que a melhor amiga está furiosa.

— Certo, era isso que eu queria ouvir, ribbit. —  ela sorri com a língua pra fora — Você realmente a respeita, não é, Bakugou-kun?

—  Sim. —  Ochako responde com tanta certeza que é como se o próprio Bakugou estivesse aqui pra falar por ela, porque disso ela realmente não tem dúvida. Ele a respeita muito como heroína, colega de classe e, em certo nível, como amiga. O sábado no metrô é a maior prova de que não só ele a respeita, como confia muito nela, e o sentimento é 100% recíproco.

—  Bom saber, ribbit. —  Tsuyu se levanta da poltrona e apoia a mão no ombro dele — É, parece que você e o Midoriya-kun estão destinados a serem rivais em tudo mesmo.

—  É o quê? —  ela inclina a cabeça levemente em confusão, e antes que a Tsuyu possa se explicar, o semblante dela fica sério novamente, Ochako segue o olhar dela e encontra o professor Aizawa parado próximo à entrada do corredor.

—  Bakugou, eu estava procurando por você. Queira me acompanhar.

—  Algum problema, sensei? —  ela tenta não engolir em seco, olhando rapidamente pra Tsuyu em confusão.

—  Só me acompanhe, é uma ordem.

—  Pode ir, eu falo pra Ochako-chan que você passou aqui e teve que ir. Ela vai entender, ribbit. —  não vai entender porque é o Bakugou, mas ela não tem escolha. Ochako acena com a cabeça e acompanha o professor.

Ela senta na cadeira quando é ordenada, tentando ignorar esse frio na barriga. É a primeira vez que ela fica tão próxima do diretor Nezu, com apenas a escrivaninha dele os separando.

—  Então… Bakugou Katsuki-kun, você aceita alguma coisa pra beber? Água, chá? Eu ouvi dizer que os jovens hoje em dia preferem energéticos a café, não consigo imaginar como, pessoalmente o gosto do café… —  ela quer muito prestar atenção, mas é tão difícil quando o diretor começa a divagar desse jeito, Ochako sente o olhar escapar na direção do professor Aizawa, em pé ao lado do diretor, braços cruzados e uma expressão ainda mais modorrenta do que o normal, e inacreditavelmente assustadora.

—  Com todo o respeito, diretor, mas podemos ir direto ao ponto? —  Aizawa sugere cuidadosamente, e o diretor apenas sorri, assentindo.

—  Claro, claro. Bakugou Katsuki-kun, como tem passado? Eu devo dizer, achei que suas vindas até aqui se tornariam mais frequentes, mas pelo contrário, elas rarearam bastante esse ano, não? Seu comportamento ainda não é o ideal, mas é bem melhor do que no seu primeiro ano aqui, não é mesmo?

—  Então… eu tô aqui agora porque… eu não tenho vindo muito aqui? Vocês vão brigar comigo porque eu não tô dando trabalho? —  ela pergunta com sinceridade, fazendo o diretor rir com gosto, enquanto o professor permanece imóvel.

—  Ninguém vai brigar com você, mas não é uma lógica ruim essa sua. —  o diretor se aproxima da escrivaninha — Você realmente não tem dado trabalho, é quase como…

—  Como se não fosse você. —  Aizawa completa friamente.

—  Como é que é? —  ela dá um sorrisinho debochado para disfarçar a pontada no estômago que sentiu.

—  Bakugou-kun, você foi um dos convocados a ajudar em uma missão comandada pela admirável senhora Ryukyu, estou correto? Você pode me dar detalhes sobre a operação?

—  Era… uma missão de reconhecimento, infiltração e possível confronto em um laboratório clandestino onde cientistas estão forçando crianças a desenvolverem individualidades antes do tempo e que não são as individualidades que eles desenvolveriam em situações normais. A gente ia checar o laboratório, colher informações e apreender algum dos responsáveis pelo laboratório, na melhor das hipóteses.

—  Certo, certo. E o que aconteceu?

—  Uma das crianças com… uma individualidade de sombra ou alguma coisa assim notou a nossa presença e alertou o pessoal do laboratório, então outras crianças vieram lutar e nos distrair enquanto o laboratório era desmanchado e as provas destruídas.

—  E em relação a você e o aluno Bakugou Katsuki? —  Ochako pisca uma vez, confusa. Ele falou “Bakugou Katsuki” como se… ele não estivesse aqui? Ok, ele não tá, mas… ah, é sério isso? Eles querem fazê-la confessar com um truque tão bobo desses?

—  Quê? Eu sou o Bakugou Katsuki, que papo é esse? —  ela corrige a postura, abrindo as pernas e fazendo aquela cara maníaca do Bakugou.

—  Perdão, perdão… é a abstinência por conta do café, queira me desculpar —  ai, o diretor é uma coisinha fofa, mas que péssimo ator, tadinho! — Eu quis dizer em relação a você e à aluna Uraraka Ochako?

—  A Cara de Lua se meteu na minha luta com um dos pivetes porque achou que eu não tinha percebido um ataque vindo pelas costas, a cabeçona redonda dela bateu na minha e é só o que eu lembro, depois eu acordei na enfermaria.

—  Entendo, entendo… Aizawa?

—  Você sabe que nós fizemos vários exames para checar se estava tudo certo com vocês. Exames de sangue, eletrocardiogramas, ressonâncias e tomografias.

—  Sei, sei. A velha me mostrou. —  isso é verdade, a mãe do Bakugou realmente mostrou os exames dele pra ela.

—  Então você com certeza sabe que a tomografia apresentou uma alteração. —  o professor diz, aproximando-se calmamente com uma folha em mãos — Esse é o seu exame, percebe aqui como o hipocampo parece maior em comparação aos exames que você fez antes de entrar na escola? —   ele aponta, e honestamente, Ochako não tá vendo nada.

—  E daí?

—  É provado cientificamente que o hipocampo é ligeiramente maior no cérebro feminino. —   o diretor explica — Os exames da Uraraka-san apontam um crescimento da amígdala, que também é cientificamente provado ser um pouco maior no cérebro masculino.

Isso… isso é sério? Será que é possível mesmo que eles tenham literalmente trocado de cérebro? Não, mas… não, não tem como, trocar um cérebro é algo inimaginável, impossível de se realizar, ela pode não ser a aluna mais brilhante, mas estudou sistema neurológico na aula de biologia e sabe que existem milhares de terminações nervosas no cérebro, o que impedem um transplante de ser feito, mesmo que existam muitos estudos sobre isso. Não, eles não trocaram de cérebro, eles trocaram… de consciência. Ou melhor, de essência. Se Ochako tem reflexos excelentes nesse corpo, é porque o cérebro do Bakugou já está condicionado a enviar comandos para esse corpo dessa forma. Não, isso é… outro blefe?

—  Tsk, e daí? Vocês tão querendo dizer que eu e a Cara de Lua trocamos de cérebro, é? Que ideia mais est-

—  Se é tão estúpida, você não se importaria de se submeter à individualidade do Shinsou e responder a algumas perguntas. Certo, Bakugou? —  o Aizawa-sensei a interrompe.

O Shinsou? Que ela se lembre, ele está num tipo de intercâmbio que o próprio Aizawa conseguiu pra ele. Ela e um grupo pequeno de pessoas das turmas A e B organizaram uma festinha de despedida pra ele. Ochako não tem certeza se a individualidade dele faz efeito por videochamada ou algo do tipo, tendo-o visto usá-la apenas pessoalmente.

 

Além disso… o Shinsou explicou pra ela e pro Deku uma vez: não é assim que a lavagem cerebral dele funciona, ele não pode dar ordens que forcem o alvo a pensar para responder, só pode ordenar coisas do tipo "diga que você e o Bakugou estão trocados", e isso não provaria nada, porque é só algo que ela seria induzida a dizer, não uma confissão legítima. E mesmo se conseguisse, o Shinsou só consegue afetar seu alvo depois de conseguir uma resposta. Se ela decidisse ignorá-lo e ficar calada…

 

Ochako pensa mais um pouco e… só pode ser outro pega, o professor Aizawa quer que ela aponte tudo isso, porque a Uraraka Ochako ia saber de detalhes desse tipo, o Bakugou Katsuki nem deve ter se dado ao trabalho de aprender o nome do Shinsou. E mesmo se tivesse, ele não recuaria. 

 

Ah, então é por isso que ela foi trazida aqui, não é? Porque o professor Aizawa sabe que é ela, ele sabe que ela não aguentaria essa pressão, que sentiria peso na consciência por continuar mentindo e falaria a verdade, já que é para o bem dela e do Bakugou. Bom, como o próprio diria: foda-se isso tudo!

—  Não sei quem é esse, mas pode trazer ele aqui que eu mostro pra ele e pra quem quiser ver que eu sou eu. —  Ochako se sente crescer, adrenalina e tensão a encorajam a agir o mais ameaçadoramente possível.

—  Aizawa, eu acho que já ouvimos o bastante. —  o diretor intervém nessa disputa de quem demora mais tempo pra piscar. Claro que é o sensei.

—  É, acho que sim… —  ele se afasta, sacando um colírio do bolso —  Bom, Bakugou, parece que eu me enganei.

—  É, parece que sim.  Posso ir?

—  Claro, Bakugou-kun. —  o diretor assente gentilmente.

—  Valeu. —  antes de sair, Ochako precisa dizer só mais isso —  Esses exames aí são uma montagem muito da mal-feita, o senhor mesmo ensinou pra gente que não existem diferenças anatômicas práticas no cérebro feminino e masculino. —  ela nem fica pra ver a cara do diretor ou do professor, apenas fecha a porta atrás dela, lutando contra a vontade de se dar um tapa na cara por tanto atrevimento.

Ochako está louca, e se não fosse um blefe? E se o Shinsou estivesse por aqui? E se a individualidade dele tivesse evoluído durante o intercâmbio ou algo assim? De onde veio essa coragem para arriscar desse jeito?

Essa última parte ela sabe: de alguma parte do cérebro do Bakugou.



***

Katsuki aperta a caneca na mão, observando a roupa girar na máquina de lavar enquanto balança o pé energicamente em nervosismo. Quando traz a caneca à boca é que percebe que ativou a Gravidade Zero sem querer. Argh, que porra! Ele esqueceu de erguer os mindinhos de novo! Caceta, deve ter um jeito mais prático de bloquear a individualidade dela que não seja usar luvas horrorosas o tempo inteiro…

Mas foda-se isso agora, eles têm um problema maior. O que caralhos o Aizawa quer pra ter levado a Cara de Lua com ele? Katsuki se lembra do calafrio que lhe desceu a espinha quando a Menina Sapo veio buscá-lo na enfermaria e disse que o Bakugoubtambém tava preocupado, mas teve que ir quando o professor o levou, “ele parecia estar encrencado”. Porra!

Uma parte dele sempre soube, mas preferiu ignorar. O Aizawa sabe que eles tão trocados, ele deve ter percebido que tava falando com o Bakugou quando ele admitiu ter começado a briga no terraço duas semanas atrás. Imbecil! Katsuki foi um idiota por não ter se controlado e sentido a necessidade de desafiar o professor daquele jeito, olha no que deu! O cara deve ter dado um jeito de fazer a Uraraka desembuchar e, a qualquer momento, vão chegar os oficiais pra levá-lo até um hospital, onde ele e ela serão internados até que achem uma maneira de destrocá-los, o que, sem o pivete, pode ser nunca.

Mas não, a Cara de Lua não ia abrir a boca assim, ela já teve a chance de fazer isso antes e não fez. Não, ela também quer sair dessa sem que ninguém perceba, sem que ninguém se incomode. Essa é a Uraraka, sempre pensando nos outros mais do que nela mesma.

Só que… será que ela pensa tanto nos outros a ponto de manter esse segredo porque é o que ele quer? Porque se for esse o caso… Katsuki se lembra do que aquele nerd de merda disse “Por que não pediram ajuda? Você eu até entendo, Kacchan, já a Uraraka-san…” “Isso deve estar sendo tão difícil pra ela…” Porra, será mesmo? Será que ela… tá sofrendo com tudo isso? E a culpa é dele e de sua babaquice?

Seus pensamentos são interrompidos pela própria Uraraka, que chega na lavanderia muito tempo depois do que eles tinham combinado por mensagem.

—  Porra, Bochecha, onde é que você se m- —  antes que ele possa terminar, ela corre até ele e o abraça. Simples assim, e do nada.

É como se a individualidade dele e a dela se misturassem, Katsuki sente como se estivesse flutuando e sendo bombardeado ao mesmo tempo. Parece horrível, mas não é.

—  Desculpa, depois você briga comigo, mas agora eu preciso mesmo sentir meu corpo assim, Bakugou-kun, por favor! —  ela tá com a cara enfiada no cabelo dele, então a voz sai meio abafada, mas Katsuki ainda consegue perceber: ela tá chorando.

—  T-tá. —  ele murmura, relaxando um pouco sob o aperto dela —  Só… devagar, Cara de Lua, meu corpo é muito maior e mais pesado que o seu, porra!

—  S-sim… me desculpa… —  ela diz, fungando e o liberando. Porra, também… também não precisava soltar de uma vez só —  O Aizawa-sensei sabe, Bakugou-kun.

—  Imaginei. E o que você fez?

—  Eu? Eu meti o louco e fingi que era você. —  ela dá um sorriso histérico — Ele e o diretor Nezu tentaram me quebrar, mas eu fiquei firme, eu… não recuei, Bakugou-kun.

—  Olha aqui, Uraraka, se você… se essa merda toda for demais pra você, acho que a gente pode arranjar outro jeito de sair dessa.

—  Tipo o quê?

—  Ah… não sei, não pensei direito nisso, mas…

—  Então vamos seguir com isso, Bakugou-kun, talvez não seja a melhor ideia do mundo, mas pelo menos é algo concreto! Eu confio em você, você… confia em mim pra gente continuar nessa?

Caralho, ela ainda pergunta? Como ela ainda pode duvidar do quanto ele confia nela?

—  Mais do que você pensa, Bochecha. —  ele diz firmemente — A gente vai sair dessa do mesmo jeito que a gente entrou!

Ela sorri e o abraça de novo, e Katsuki não protesta o quanto quer ou o quanto deveria. Porque duas coisas são certas: primeiro, ele não volta atrás em uma decisão, então eles vão sim sair dessa juntos, do mesmo jeito que entraram.

 

Segundo: ele tá completamente apaixonado por essa garota.

E Bakugou Katsuki seria um imbecil se não conseguisse cumprir o que promete pra garota que ele gosta.

—  Obrigada, Bakugou-kun! —  ela limpa as lágrimas e sorri de novo —  Por tudo mesmo, inclusive por lavar minhas roupas. — e aponta para a máquina de lavar.

—  Não tive escolha, já que sua roupa de cama tava suja de sangue.

—  S-sangue? P-por quê? O que aconteceu? Eu fui te ver na enfermaria, mas não sabia o que era, e você não me explicou por mensagem, você se cortou ou… pera, a minha roupa de cama?

—  O shorts do pijama e a saia do uniforme também. Não é minha culpa já que você nunca me ensinou a como usar a porra de um absorvente, só fui aprender tentando colocar mesmo. —  ele a olha feio, mas… por incrível que pareça, Katsuki não tá tão puto assim. Porra, ela acabou de fazê-lo lembrar o porquê de eles não poderem recuar. O que é a coragem dela de ir lá e encarar o Eraserhead e o diretor perto de um sanguinho? Não é nada!

—Eu… eu não expliquei como funciona porque achei que a gente voltaria ao normal antes! E… costuma vir mais pro fim do mês… eu… AAARGH! — ela esconde o rosto nas mãos. Não dá mesmo pra ficar puto quando ela age desse jeito bonitinho.

—  Então essa porra tá mesmo adiantada. — ele conclui, segurando o sorriso.


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Notas finais do capítulo

Eu pensei em colocar um aviso no começo do capítulo sobre o que aconteceria, mas:
1 - estragaria a surpresa;
2 - menstruação é uma coisa completamente normal, e não consigo imaginar ninguém que sentiria incômodo em ler sobre algo do tipo. Se alguém porventura se ofender, só lamento (lamento é nada). Acho que assuntos assim tinham é que aparecer mais nas histórias (inclusive nas minhas próprias :v)

Modéstia bem à parte, eu me senti muito esperta com o nome desse capítulo, e fiquei meio frustrada na primeira vez que postei que ninguém percebeu o trocadilho, aí lembrei que chamar menstruação de regra é um negócio mais antigo, do tipo de coisa que se encontraria num livro do Jorge Amado ou do movimento naturalista (sim, eu sou formada em Letras, caso não tenha dado pra perceber huahushsu)

O capítulo também teve umas alterações nos diálogos do Katsuki com a enfermeira, na Ochako pensando em como a individualidade do Shinsou funciona, e no diálogo final sobre a menstruação. Nada que afete o enredo, eu só quis elaborar melhor algumas coisas

E O KATSUKI ASSUMIU ESTAR APAIXONADO! No capítulo 12, ele conclui que gosta dela, e a maioria dos leitores entendeu que era um gostar romântico, bom... não era, o gostar romântico veio só agora mesmo.

Ufa, falei demais, né?

Obrigada por ler! Espero que esteja curtindo!



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