A Essência do Dever escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 38
Lidando com o luto




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A próxima coisa que Jim fez depois de deixar a esposa para trás foi voltar aos seus aposentos. Sua ideia racional era organizar as coisas dela e despachá-las de volta a algum lugar em que fossem úteis, mas ele simplesmente não pôde. O aroma de sua esposa ainda estava impregnado por ali, o que fez o coração de Jim se apertar ainda mais.

Não tendo como fugir da situação de luto, ele apenas se prostou sob a cama e começou a chorar copiosamente, torcendo para que ninguém o visse naquele estado. Ainda assim, sabia que não haveria problema algum para sua tripulação vê-lo daquela forma, já que era totalmente compreensível sua tristeza.

Quem realmente o viu daquela forma foi David, sabendo que era seu dever confortá-lo, quando, naquele momento, seu pai precisava disso mais que ele.

O rapaz se aproximou e tocou o ombro do pai, da forma mais delicada possível. Kirk se sobressaltou, um tanto assustado.

—David? - ele se ergueu aos poucos.

—Pai, me desculpe, eu não queria incomodar, mas também precisava ver como você estava - ele se justificou.

—Horrível, como pode constatar - Jim passou as duas mãos sobre o rosto, frustrado.

—Não se julgue, você tem todo direito - David o corrigiu com delicadeza - ela era sua esposa e você a amava demais, a falta dela é simplesmente irreparável. Se eu pudesse fazer alguma coisa, eu...

—Você a conhecia, David - foi a vez de Jim consolá-lo - ela nos amava, mas era fiel ao seu dever, e além disso, entendia que tinha que fazer o necessário pra nos proteger, eu só não consigo parar de pensar que deveria ser eu, eu era o capitão...

—Assim como ela - o rapaz apontou - pai, você mesmo disse a razão dela ter agido assim, é inútil imaginar outros cenários impossíveis, só podemos manter a memória viva dela em nossos corações, a honrando com nossas vidas, é o que ela gostaria.

—É o que ela gostaria - Kirk concordou, ainda com o coração abalado.

Algumas horas depois, a Enterprise recebeu sua ordem de retornar à Terra para ser desativada. Era como se a morte de Spock fosse a facada no coração de Kirk e devolver sua preciosa nave fosse o golpe final. Só lhe restava obedecer, como um fiel oficial. Ao menos, como alento, no meio da viagem, Amanda e Georgina vieram de encontro com ele.

—Papai! - Gina se jogou nos braços dele, chorando abertamente, Jim apenas a segurou e afagou seus cabelos.

Amanda trocou um olhar sombrio com o irmão, compartilhando da mesma dor que ele. Os dois trocaram um abraço, mais contido, mas cheio de solidariedade.

—Nós sentimos muito, papai - a mais velha se manifestou - com certeza a dor de vocês deve ser muito maior que a nossa.

—Não, não, Mandy, eles tiveram a chance de se despedir, e nós nunca mais vamos vê-la, nunca mais vamos ter a chance de falar com ela - Georgina se voltou para a irmã.

—Medir nossa dor não vai nos levar a lugar nenhum - Kirk aconselhou - apenas dói, e dor é dor, não importa seu tamanho. Eu ao menos estou feliz de tê-las aqui comigo, meninas.

—Claro, não o deixaríamos, papai - Amanda respondeu de forma mais séria.

Dos três irmãos Kirk, com certeza ela era a que mais se parecia com a mãe.

—Bom, nós vamos voltar à Terra, a Enterprise será desativada - o pai deu as tristes notícias, num tom de voz melancólico e cansado.

—Eu sinto muito - disse a mais velha - por mais triste que seja, talvez um tempo de descanso seja exatamente do que o senhor precisa.

—Mas tirar a nave do papai agora seria perder mais uma coisa que ele ama - Gina comentou.

—Meninas, por favor - Kirk disse, já com certa impaciência.

—Eu vou levar vocês pros aposentos - David se ofereceu, a fim de terminar com as brigas de uma vez.

Assim, Kirk foi deixado com seus próprios pensamentos e luto. Era um vazio terrível que ele sabia, que nada mais poderia preencher. Ninguém era e ninguém jamais seria como sua esposa. Ainda assim, ele sabia que o que Spock queria era que ele seguisse em frente, que servir a Frota Estelar era parte importante de quem ele era.

Alguns dias depois, Kirk se despediu dos filhos, cada um voltando para sua própria ocupação, incluindo David, que tinha uma missão emotiva pela frente.

—Me designaram para monitorar Genesis - ele explicou - acho que é cedo demais, mas se tem uma coisa que aprendi com vocês foi cumprir meu dever.

—Eu entendo, filho - Jim apertou seu ombro afetuosamente - só posso dizer boa sorte e agradecer por estar comigo.

—Nós somos família, temos que ficar juntos - David sorriu, mesmo de um jeito triste, dava para compreender que entendia muito bem o significado de sua frase.

Ele então abraçou o pai e esperou pelo transporte na próxima base estelar. O jovem Kirk ficou empolgado com a companhia de Saavik em ajudá-lo na sua missão. Conhecia-a desde mais jovem e por mais que ela fosse séria e reservada, sabia lidar bem com ela. O que os deixou intrigados com a varredura no planeta foi o sinal de uma forma de vida, o que deixou David em alerta, e perigosamente esperançoso, porém ele não compartilhou seus pensamentos com Saavik. À essa altura, acreditava que ela já tinha uma ideia do que ele pensava, sem precisar de palavras serem ditas em voz alta.

Enquanto a dupla se ocupava com o trabalho, o Almirante Kirk entregava sua amada nave à base estelar, de maneira bastante relutante, mas sem muito o que fazer no fim das contas. Era realmente o fim de uma era. 

Sua leal tripulação tentou descansar um pouco, incluindo seu próprio líder, até que algo intrigante e completamente estranho aconteceu.

Jim encontrou Leonard em um estado catatônico, quase como se sob um efeito de algo sobrenatural.

—O que foi, Magro? - Jim o agarrou pelos ombros, tentando trazê-lo de volta à razão.

—Jim, o que você fez? - o médico perguntou, mas de alguma forma, Kirk sabia que não tinha vindo dele a pergunta - me leve pra casa... pra casa...

—Leonard, nós estamos em casa - Jim insistiu - o que quer dizer?

—Monte Seleia... você prometeu... - murmurou ele de volta.

—Monte Seleia? Mas isso fica em... Vulcano - ao pronunciar o nome do planeta natal da esposa, uma vaga ideia lhe ocorreu.

Talvez algum resquício de Spock estivesse em McCoy, ou talvez, fosse só uma lembrança no processo de luto. Fosse o que estivesse acontecendo, o almirante guiou seu velho amigo até seus aposentos, numa tentativa de ajudá-lo. Ele esperava que com o tempo, inclusive ele, todos ficassem bem novamente.


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