James Kirk apenas esperava que o dia seguinte fosse um pouco mais calmo, mas ele sabia que, ao ver Sarek, embaixador de Vulcano na Terra, mas também seu sogro, teria que enfrentar outro tipo de luto. Vulcanos eram muito fechados em sua cultura e ele não tinha muita ideia de como Sarek estaria lidando com a perda da filha.

—Embaixador - ele disse, o cumprimentando, o recebendo em seus aposentos em breve desativados.

—Você me fez uma promessa, James Kirk, mas não pôde cumpri-la - Sarek disse sem rodeios, de forma veemente - como marido da minha filha, deveria protegê-la.

—Acredite, senhor, daria minha vida, minha alma se fosse para salvá-la - seu genro respondeu de forma humilde.

—Entendo que o corpo dela se foi, mas ainda há seu katra, ele deve ser devolvido a Vulcano - Sarek instruiu.

—-Katra? - o termo escapou ao conhecimento de James, o deixando mais confuso ainda.

—Seu espírito, ela deve ter deixado com alguém - o vulcano explicou mais um pouco - na mente de alguém, a sua, como marido de Spock, faria mais sentido. Poderia observar sua mente?

—Sim - Jim concordou imediatamente, querendo entender melhor tudo aquilo.

Um elo mental com o genro revelou a Sarek os últimos momentos da filha e a dor da perda que ele estava enfrentando.

—As necessidade de muitos se sobrepõem às necessidades de poucos - repetiu Sarek, um tanto maravilhado.

—Ou de um - Jim completou, se lembrando do momento.

—Não está com você, sinto muito - seu sogro resumiu sua busca por ali - quem foi a última pessoa com quem Spock falou?

Uma rápida busca pelos arquivos mais o estado catatônico de Leonard fez com que Jim compreendesse rapidamente do que se tratava tudo aquilo.

—McCoy! - ele exclamou, entendendo - ele não estava bem ontem, faz sentido, então precisamos ir o mais rápido possível até Vulcano.

—Eu providenciarei o que for necessário para o descanso do katra da minha filha - Sarek concordou com o plano.

Jim então se voltou para sua fiel tripulação, compreendendo que devia uma última missão à esposa, sem contar que também estava salvando a vida de seu melhor amigo. Apesar dos riscos e grandes chances de arruinarem suas carreiras, Scotty, Uhura, Sulu e Chekov seguiram seu amado capitão e seu médico.

A Enterprise furtada sob o comando de Jim Kirk novamente estava a caminho de Genesis quando Saavik e David seguiam um forte sinal de vida, até se depararem com algo que parecia impossível. Genesis criava vida a partir da morte e era isso que tinha acontecido com a garotinha vulcana com frio e assustada na frente deles.

—Mamãe? - exclamou David, sem acreditar no que tinha acabado de dizer, muito menos que aquela garotinha podia ser sua mãe.

—Eu sou Saavik, consegue me entender? - a vulcana tentou alguma comunicação - lembra-se de nós?

Nenhuma resposta veio de Spock, apenas um olhar indagador, fora de foco. 

—Nós estamos aqui para ajudá-la - David explicou, tentando controlar as emoções confusas que ver a mãe viva na sua frente, mesmo que em outra forma, estavam lhe causando.

Os três se abrigaram do frio enquanto esperavam uma resposta de comunicação de sua nave. Infelizmente, esse foi um tempo perfeito para que inimigos ocultos se revelassem a eles. 

Klingons atacaram o planeta, buscando a fonte de poder de Genesis, o que foi negado a eles pelos oficiais da Frota que estavam ali. Um sinal da Enterprise chegou até o comunicador de David, o que o deixou apreensivo.

—Aqui é o almirante Kirk da Frota Estelar, responda, tenente Saavik - a voz de James ecoou pelo aparelho, chamando a atenção dos klingons.

—Você me dará o poder de Genesis, ou matarei os reféns, os três - ameaçou o comandante Kurge de sua nave.

—Três? - Jim deixou sua surpresa transparecer.

—Senhor - David o chamou, tentando ser discreto - encontramos uma garota vulcana, uma cientista conhecida por você.

—Ela está viva? - o almirante engoliu em seco, tentando controlar suas emoções.

—Não da forma que pensa, almirante - disse Saavik rapidamente.

—Se não me der o que quer, matarei um dos reféns - reforçou o klingon.

—Transporte-se para cá e poderemos conversar melhor, mas não machuque ninguém - Kirk sugeriu, mantendo a cautela.

—Não está entendendo, almirante - insistiu o klingon, ordenando aos seus subalternos que matassem um dos reféns.

Vendo que Spock seria a vítima escolhida, David se interpôs entre o guerreiro e sua mãe. Saavik quis agir, mas colocaria sua vida em risco também. O treinamento da Frota mais um pouco de esperteza pela adrenalina da sobrevivência fizeram com que David conseguisse vencer a luta, mas sem escapar de se ferir gravemente.

—Não posso dar o que quer se não fizer o que estou pedindo - Jim insistiu novamente.

—Um deles já foi abatido, almirante, tem certeza que quer todos mortos? - propôs Kurge.

—Saavik, o que aconteceu? - um pouco do desespero do almirante escapou de sua voz.

—David está morto - ela podia não ter certeza, mas a lógica só levava-a a acreditar nisso.

A notícia deixou Jim abalado, atordoado demais para pensar direito. Tinha acabado de ganhar a esposa de volta de um jeito que ainda não conseguia compreender totalmente, apenas para perder seu filho caçula, que estava bem ali com ela, a protegendo de todo mal.

—Eu darei o que quer - afirmou o almirante, entendendo que teria tempo para lamentar depois.

Quando os klingons subiram à bordo, Kirk e sua pequena tripulação tinham decido ao planeta. Só restou observar o que Jim foi obrigado a fazer, a Enterprise tinha se autodestruído, levando os inimigos com ela. 

—O que foi que eu fiz? - ele murmurou em voz alta, enquanto via seu velho lar se despedaçar em queda livre.

—O que você sempre faz, Jim - Magro tentou consolá-lo - uma chance de vida em meio à morte.

Sua tripulação o seguiu até os reféns, Jim suspirou aliviado ao ver que Saavik estava bem, enquanto Leonard correu até David, na esperança de que estivesse bem de alguma forma. Foi então que os olhos cansados do almirante avistaram sua esposa.

Ele não tinha ouvido os relatos de que ela tinha sido encontrada como uma criança, mas agora ela era claramente a Spock de que se lembrava, tirando o olhar perdido e assustado.

—Não se preocupe, nós vamos sair daqui, prometo - ele disse, ao tocar o rosto dela com cuidado.

Sem muita alternativa, Kurge transportou todos para sua nave, a fim de ter alguma vantagem. Ele então desceu ao planeta, travando uma batalha contra Kirk, enquanto ele tentava proteger a esposa. O planeta colapsava ao redor deles, o que fez com que Kurge encontrasse seu fim junto com Genesis.

Jim subiu à Ave de Rapina Klingon com sua esposa confusa se agarrando ao seu ombro, na esperança de ao menos sobreviver.