O aviso de que o capitão Kirk deveria descer à engenharia veio tarde demais. Tudo que ele avistou foi a esposa perdendo os sentidos aos poucos, dentro da câmara de concentração. Em sua mente, ele gritava sem parar que sabia que ela tentaria algo assim, que mais uma vez ela se sacrificaria pelo bem de todos. Mas o silêncio tomou conta de Jim, seu choque foi maior que qualquer tipo de revolta, fazendo que ficasse de joelhos, diante da imagem caída da esposa.

—A nave... - ela arfou baixinho, dando ao menos um pouco de esperança ao marido - está segura?

—Sim - ele confirmou, sentindo lágrimas se formando no canto dos olhos.

—A necessidade de muitos se sobrepôs à necessidade de poucos ou de um - Spock explicou suas ações mais uma vez - Jim...

Ela chamou e ele percebeu que ela estava mais fraca a cada instante que passava, a vida da esposa passando diante dos olhos dele, sem que ele pudesse fazer nada para impedir, apenas observar.

—Não importa o que aconteça, eu serei sempre sua leal esposa, vida longa e próspera... - seu último ato foi lhe mostrar a saudação vulcana, respirando pela última vez.

A mão de Jim tocou o vidro que os separava, a única coisa que podia fazer para se aproximar dela. A dor que estava esgueirando seu coração finalmente tinha o alcançado, esmagando seu peito por completo. Sua vontade era de gritar, mas ele se conteve, abaixou a cabeça e chorou copiosamente, até sentir a mão consoladora de McCoy em seu ombro. Ao olhar para cima, Jim viu que o médico ostentava a mesma expressão triste dele. 

David tinha chegado à engenharia e olhando para os pais prostrados, não demorou para entender o que tinha acontecido.

—Mãe... - ele arfou, ao se deixar cair de joelhos ante a câmera, se deixando chorar e sentir a tristeza da perda - mamãe... o que você fez?

Um pouco mais calmo, Jim se levantou e foi até o filho, percebendo que era sua hora de consolá-lo.

—Ela fez o que era certo, morreu como uma heroína - a voz abatida de Kirk afirmou.

Era difícil se manter de pé depois de ter perdido o amor de sua vida, mas ainda havia uma nave estelar à espera de seu comando.

—____________

As horas seguintes foram dedicadas ao preparo do funeral. Depois das primeiras horas, a percepção do tamanho da perda foi crescendo na mente de James Kirk. Não era só ele que tinha perdido a esposa e companheira de anos, mas sua tripulação perdeu uma amiga e seus filhos, sua mãe. Eles todos mereciam prestar suas últimas homenagens. Com coragem e tomando seu lugar, Jim iniciou seu discurso.

—Nunca houve pessoa mais leal, dedicada e comprometida que eu tenha conhecido do que minha esposa - ele disse, tentando manter a voz firme - ela foi minha primeira oficial por anos e esse relacionamento cresceu e se tornou um amor, pelo qual eu estou grato por ter tempo de ter vivido com ela. Nunca houve quem eu conhecesse que definisse melhor o que era ser... humano.

Antes que a câmara funerária partisse, Jim se deu ao luxo de chorar tocando a estrutura que guardava sua esposa, se debruçando de joelhos por cima dela.

—Eu queria tanto impedir isso... - disse ele, entre lágrimas - tudo que eu queria era partir antes de você, mas... pra onde quer que vá, Spock, que nosso amor nos una outra vez, eu sei que sempre vou te amar.

Lentamente, ele saiu de sua posição, tendo o conforto de David dessa vez. Eles deixaram a  câmara funerária partir e prosseguiram em levar a nave até o destino esperado. A lembrança e memória de Spock acompanhando os tripulantes, desde aquele momento e para sempre.

—_________________

Juntar forças para contar a Amanda e a Georgina o que tinham acontecido com sua mãe foi a próxima missão de Jim e David. O jovem tinha decidido ficar com o pai, vendo que precisavam um do outro no momento. Foi assim que ele estava quando entraram em contato com as irmãs dele.

—Papai, David! Faz tempo que não nos falamos! - Amanda os recebeu com alegria.

—Eu estou aqui também, Mandy - Ginna se fez presente - eu também não sei do que se trata.

—Eu sei que me ausentei por um tempo, seu irmão também - Jim se justificou rapidamente - mas minhas queridas filhas, as notícias que eu tenho pra vocês não são nada boas.

—Pai, por favor, não nos assusta assim - Georgina pediu, já assustada.

—Mamãe não está aqui, isso quer dizer... - Amanda deduziu - algo grave, o pior... minha mãe está morta, é isso?

—Eu não queria dizer tão abruptamente, mas é verdade, ela morreu há algumas semanas, no cumprimento do dever, como podem imaginar - Jim explicou, se deixando chorar um pouco, logo em seguida.

A tela foi invadida pelo choro e comoção das garotas Kirk, sentindo a tristeza e pesar da notícia. Amanda pensava na chance perdida de se despedir, Georgina foi levada até a última vez que falou com a mãe, se despedindo dela, recebendo seu último conselho. O fato de que não a veriam nunca mais as devastou de maneira visível por seu pai, o que fez a dor do próprio Kirk aumentar.

—O que eu mais queria, minhas meninas, era poder consolá-las no momento, mas a única coisa que eu posso dizer é que... - ele tentou se recompor - sua mãe amava muito vocês, e ela sabia que vocês a amavam.

Só restou à família se apegar uns aos outros, mesmo que à distância. Seria o desafio dos Kirk desvendar viver uma vida sem Spock, o que no momento, parecia impossível.