Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 30
Futuro - Dormitório




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Shara se moveu de forma preguiçosa em sua cama, ela podia se sentir muito mais descansada agora que havia conseguido dormir um pouquinho, ela abriu os olhos lentamente, deixando a claridade entrar, ela sabia que estava no seu dormitório na Sonserina, ainda era dia e ela ouviu o barulho de algumas páginas sendo viradas, ela não estava sozinha, ela se reclinou um pouco na cama apenas para identificar quem poderia estar ali com ela naquele horário e se assustou ao se deparar com a cena improvável do professor Snape sentando em uma poltrona a apenas alguns metros de distância da sua cama, de pernas cruzadas e aparentemente entretido lendo o livro sobre visões que ele mesmo havia pego para ela no dia anterior, o que ele estava fazendo ali? Ele permaneceu ali o tempo todo? Será que ele a estava olhando dormir? Shara se lembrou de que ela não havia adormecido ali, oh céus, ela havia dormido nos braços dele, aquela tinha sido uma das piores conversas com ele até então, não que as outras tivessem sido fáceis ou tranquilas, mas ela sabia que para conseguir comprovar algo sobre ele, algo sobre o qual ela acreditava, ela precisaria testa-lo e isso significava provoca-lo, o que por si só já era bastante arriscado, mas assim mesmo ela fez, ela só podia estar louca. Os olhos do professor encontraram os dela ali e ela se sentou apenas para se acomodar um pouco melhor, se preparando para aquilo que pudesse vir, já que o fato dele estar ali, não poderia significar alguma coisa boa.

—Está aqui para me castigar? – ela perguntou receosa – eu sei que acabei passando dos limites mais cedo, honestamente eu não sei o que me deu... – ela o olhou aflita, enquanto mexia as mãos nervosamente, as mãos que ela notou estarem limpas agora, ele certamente deveria estar muito chateado com ela para estar ali no seu dormitório daquela maneira a esperando acordar, com certeza havia algo que ele queria dizer e que não poderia esperar até mais tarde.

—Deseja ser castiga Epson? - ele perguntou com pouca emoção, ela adorava essas perguntas, que ela não sabia muito bem como responder, afinal se ela disser que sim ele viria com aquele papo de justiceira e tudo mais e se ela disser que não seria mais no tipo “quem você pensa que é” não havia uma resposta correta para aquela pergunta.

—Talvez... eu mereça – ela disse por fim, se encolhendo e esperando o sermão.

—Você estava cansada – ele disse – me parece que você tem um péssimo humor quando não dorme o bastante – ele informou, ela estava tentando processar aquilo, já que ele meio que estava validando o comportamento dela ali, ele não soava bem... e ela detestava isso também, já que foi exatamente assim que a sua detenção havia começado no dia anterior.

—Não precisa me tratar diferente senhor... eu posso lidar com isso, seja lá o que for – ela disse o lembrando para não ir por aquele caminho.

—Não pense que vou poupa-la – ele disse com ironia – mas talvez devesse comer algo antes de continuarmos – ele informou apontando para uma bandeja que estava apoiada em cima do seu baú, haviam biscoitos de canela os seus preferidos e leite, ela sentiu seu estomago roncar, ela havia comido pouco no almoço e nada no café da manhã, era tentador, mas ela não sabia se deveria, podia ser algum tipo de pegadinha? Ela o olhou esperando mais algum sinal de confirmação, ele bufou incomodado – infelizmente não tive tempo de envenena-los – ele fez sinal para que ela pegasse.

—Eu não achei que pudesse – ela disse se levantando – afinal se o intuito fosse esse o senhor poderia ter me matado enquanto eu dormia – ela disse um pouco mais confiante – teria sido mais fácil.

—Certamente, confesso que foi tentador – ele comentou ainda sério e ela ficou na dúvida se aquilo foi alguma piada ou não? melhor não perguntar.

—Obrigada professor, o senhor trouxe os biscoitos? – ela não sabia muito bem como continuar uma conversa com ele a partir dali, era estranho tê-lo no seu dormitório e estranho tê-lo por perto enquanto ela dormia, porém ainda mais estranho era tê-lo trazendo biscoitos no seu dormitório enquanto ela dormia.

—Elfos – ele disse arqueando a sobrancelha, é claro, não seja ridícula, ou você imaginou que o professor pudesse carregar bandejas de biscoito pelos corredores, ela corou imaginando aquela cena, como se fosse possível... espera...

—Como eu cheguei aqui? – ela perguntou receosa, oh céus por favor não diga que me trouxe no colo, não diga que me carregou pelos corredores, eu não preciso de mais isso contra mim, ele parecia notar o pavor que ela certamente havia deixado transparecer ali.

—Eu a trouxe obviamente – ele disse – talvez não se lembre que dormiu...

—Eu me lembro... de tudo – ela disse o interrompendo enquanto colocava uma mão no rosto envergonhada, ela não precisava ouvi-lo repetir – alguém viu? – ela notou que ele sorria com o canto da boca.

—Se você se preocupasse com a sua vida na mesma medida que se preocupa com sua imagem, certamente não teríamos metade dos problemas com os quais você costuma se envolver – ele estava sério agora e ela pensou sobre aquilo por um momento, ela se preocupava com a sua vida, não se preocupava?

—Não gosto de chamar a atenção – ela disse por fim – nunca é bom, sabe já é difícil assim... – Ela apontou para o seu dormitório vazio - literalmente só existir em um ambiente onde ninguém deseja sua presença, então quem dirá quando você ainda proporciona conteúdo extra para eles zombarem de você, por isso e só por isso eu prefiro evitar – ela disse se lembrando dos alunos caçoando dela no almoço – e eu bem, tenho problemas... com o que o senhor chama mesmo? Controle de impulsos – ele a estava analisando ali – simplesmente não posso evitar algumas coisas – ela disse colocando mais um biscoito na boca, estavam deliciosos.

—Percebo – ele cruzou os braços.

—Biscoitos de canela são meus preferidos – ela disse percebendo que ele não diria mais nada a partir dali e ela não gostava daquele silencio que costumava surgir quando eles estavam juntos, ele não parecia se importar muito, mas ela achava bastante desconfortável – como os elfos podem saber disso? Sobre os biscoitos – ela perguntou curiosa, algumas coisas ainda a surpreendiam naquele mundo, já que aquilo era algo tão pessoal e ela não se lembrava de ter falado sobre isso com alguém – ele a encarou, ignorando sua pergunta.

—Pois bem – ele ainda a analisava, e isso era de fato bastante constrangedor – Existem alguns pontos que gostaria de discutir, vou iniciar pela ordem de relevância entre eles – ela o analisou com cautela, será que ele iria expulsa-la dessa vez? Bom talvez ela merecesse de alguma forma, mas ela se lembrou de como ele havia se sentado do lado dela no chão apenas algumas horas antes, e ela meio que havia dormido nos braços dele, afinal aquilo tinha que ser alguma coisa, não tinha? Enfim aquele homem era impossível de ler, talvez ela devesse simplesmente desistir.

—Estou pronta – ela disse se ajeitando, enquanto limpava a boca com as vestes e sentia que ele a estava reprovando por aquele comportamento.

—Controle de impulsos – ele disse – interessante que tenha mencionado isso – ela engoliu em seco, além de tudo ela ainda conseguia se auto sabotar – bom saber que é tão evidente para você como também é pra mim que a falta desse controle seja o seu maior problema aqui...

—Eu sei, eu posso ver... eu me desculpe... eu não queria... – ele fez sinal para que ela parasse, ela obedeceu, ela sabia que estava soando desesperada e confusa daquela forma, mas não era pra menos já que conversar com ele sempre fazia seu coração acelerar.

—Não me interrompa Epson – ele disse bravo e ela baixou os olhos – e olhos pra cima – ele pediu –  acredito que já tenha percebido que não tolero falta de respeito – ela assentiu positivamente, se controlando ali para não pedir desculpas mais uma vez – sua língua pode ser bastante afiada acredite – ele disse continuando – algo que eu posso resolver com bastante facilidade – ela o olhou assustada – conheço bons feitiços que poderão prender sua língua por tempo suficiente para faze-la aprender a controlar seus impulsos ao falar – ela iria comentar que não seria necessário, mas ele ergueu a mão sabendo que ela estava prestes a interrompe-lo mais uma vez ali – contudo, acredito que possamos resolver isso de outra maneira – ela assentiu um pouco mais aliviada.

—Eu sinto muito – ela disse por fim.

—É claro que você sente – ele a encarava e ela realmente estava se sentindo desconfortável ali – imagino que deva sentir muito também por ter dito... deixe me ver, como era mesmo – ele fez uma pausa fingindo pensar sobre aquilo – “se você não tivesse sido um completo babaca”-  ele a fuzilou, é tinha isso também, ela só podia estar maluca por externar aquilo daquela forma, ele tinha razão ela precisava urgentemente controlar seus impulsos, se quisesse se manter viva e inteira por mais tempo naquela escola.

—Me desculpe professor por dizer isso em voz alta – ela disse, se segurando para não baixar a cabeça ali, enquanto ouvia ele fechar o livro que estava no seu colo com bastante força fazendo um baque característico.

—Como disse? – ele perguntou se levantando, ela havia dito algo errado? Espera sim... droga, ela estava começando a ficar nervosa, ele a intimidava e isso não estava saindo como o esperado.

—Quer dizer, eu não quis dizer exatamente dessa forma – ela tentou, ele havia se levantado e estava se aproximando, ela se encolheu um pouco – eu não quis dizer na verdade, eu só pensei... quer dizer não que eu tenha pensado, eu só... me desculpe – ela estava muito encrencada, ela sabia, ela fechou os olhos esperando que ele fizesse sei lá o que, mas ele se aproximou da bandeja pegando um biscoito.

—Garota tola - ele disse – pare de agir como se estivesse prestes a ser massacrada.

—Eu meio que achei que estava prestes a ser massacrada – ela disse soltando o ar, desde quando ele comia biscoitos? Desde quando ele comia biscoitos na frente de um aluno? – senhor... – ela completou vendo que ele ainda estava a encarando naquele ponto.

—Biscoitos de canela são os meus preferidos também – ele disse – apesar de que ainda preferia os que a minha mãe fazia – é agora isso estava soando completamente fora de contexto outra vez, o que será que havia acontecido com a mãe dele? bom certamente aquele não era o momento para perguntar, mas isso pelo menos justificava os biscoitos de canela, eles tinham algumas coisas bem peculiares em comum – Epson, eu sei o que os alunos dessa escola pensam e dizem ao meu respeito – ele continuou a tirando do seus pensamentos – e ser chamado de babaca pode ser quase um elogio, diante de todos os outros insultos – ela o olhou intrigada – não pense que me importo, mas o que estou tentando te ensinar aqui é sobre a falta de respeito com os mais velhos, em especial seus professores – ela podia entender isso – coisa que não tolero e nem tolerarei.

—Eu prometo, não farei novamente, nunca mais, em toda a minha vida... – ela disse, o que mais ela poderia dizer? ela ainda estava acuada, ele parecia abafar um riso ao mordiscar mais um pedaço do biscoito que estava em suas mãos.

—Não faça promessas que não poderá cumprir – ele estava sério agora – isso parece muito tempo não acha? e certamente haverá outras situações, contudo ainda posso usar os feitiços que mencionei.

—Não tudo bem, eu posso lidar com isso, um dia de cada vez – ela respondeu.

—Me parece mais plausível – ele assentiu – agora penso que podemos passar para a próxima pauta dessa conversa – ela o olhou, esperando para saber o que ele tinha em mente e que viria a partir dali, mas era engraçado pensar que em ordem de relevância como ele mesmo havia dito, aquilo do babaca tenha sido o primeiro, e isso por que ele disse não se importar, enfim, melhor não comentar – acha algo engraçado Epson? – ele perguntou e ela se concentrou.

—Não senhor... me desculpe – ela o olhou – prossiga senhor.

— Muito bem, o colar – ele disse e ela espontaneamente passou a mão sobre ele, as vezes ela tinha a sensação que podia senti-lo pulsar, mas isso certamente era algo da sua cabeça - Epson se eu souber que você o retirou mais uma vez, independente de qual seja o motivo, não haverá perdão, eu lhe garanto que posso tranquilamente desenvolver algo para mantê-lo colado no seu pescoço além do que você passará o resto do ano letivo cumprindo detenções, com o Filch – ele enfatizou e estava ainda mais sério agora, ela já havia entendido a importância do colar, mas dito daquela forma, parecia haver algo a mais ali, e certamente havia algo a mais, ele estava preocupado, sim aquilo soava com preocupação.

—Eu não queria tira-lo e muito menos arremessa-lo daquela forma – ela disse arrependida - eu só… estava…

—Estava fazendo um teste – ele disse, sim era exatamente isso que ela estava fazendo, era a maneira que ela havia encontrado para conseguir provar pra ele aquilo que ela acreditava, e ela estava certa, havia válido a pena – um teste comigo, um tanto quanto imprudente de sua parte – ele assentiu, sim Shara sabia que não havia agido da forma certa, e ela podia não estar raciocinando adequadamente, mas ela faria aquilo outra vez se fosse necessário, afinal ele era a pessoa que sua mãe havia mencionado na carta e agora ambos sabiam disso.

—Bom deu certo não é mesmo? – ela deu de ombros, passando lentamente os olhos sobre ele outra vez.

—Epson, pare de tentar me provar coisas das quais eu não pedi – ele devolveu de forma fria – além do que eu realmente poderia tê-la machucado – ele informou – não se iluda, isso é algo que não posso evitar - Shara não acreditava nisso, ela preferia acreditar na sua mãe e no seu senso crítico sobre as pessoas, ela e ele se conheceram no passado, agora ela podia ver aquilo com bastante clareza, e de alguma forma sua mãe confiava nele, e Shara podia sentir que ele não era exatamente da forma como ele se orgulhava em dizer que era.

—Eu não vou mais tirar o colar - ela disse por fim.

—Resposta correta Epson - ele cruzou os braços, Shara não podia lê-lo ali, mas ela sabia que havia algo de errado e ela não podia deixar de fazer associações com aquilo.

—_A hidra veio atrás de mim, eu sei… - ela disse depois de pensar sobre os últimos acontecimentos, e ela notou que ao dizer aquilo, mesmo que de forma bastante sutil, algo havia mudado em sua fisionomia, ela estava certa sobre isso também, aquilo era realmente sobre ela – e agora o lago está sendo interditado por minha causa – ela disse de forma triste – eu sei que espera que eu use o colar por que não estou segura aqui, talvez eu não esteja segura em lugar nenhum - ela afirmou, notando também uma certa surpresa por parte dele ali, ela estava indo pelo caminho certo - mas além disso eu posso ver que também represento perigo para esse lugar e para as pessoas daqui, meus amigos e todos os outros, e eu sei que não deveria estar aqui – Shara não teve muito tempo para formular aquilo, apenas juntando oque Hermione havia dito de forma breve no almoço com o fato dela ter sido atacada daquela forma no lago, mas fazia sentido, ela era o problema em questão ali, e por algum motivo a Hidra estava atrás dela e a coisa mais certa a se fazer era deixá-los - o lar pode ser ruim, e por céus, eu o detesto com todas as minhas forças, mas enquanto eu morei lá por todos esses anos, eu vivi uma vida relativamente comum, sem riscos para os outros ou pra mim, quer dizer tem o Noah é claro, mas eu posso lidar com isso… - ela o olhou - professor eu quero ir embora daqui - ela pediu concluindo aquilo, e ele parecia confuso agora.

—Não diga besteiras Epson…  Você sabe que eu jamais permitiria isso - ele disse de forma enfática - francamente você fantasia demais - ela sabia que não era fantasia.

—Minha mãe sabia que vocês iriam me achar, ela de alguma maneira, queria me isolar e me manter suficientemente longe de tudo isso, porque ela sabia do perigo que eu poderia representar para as outras pessoas - ela disse ao mesmo tempo em que se dava conta disso, fazia bastante sentido agora, a única coisa que ela não conseguia entender era o motivo de tudo isso, quem ela era afinal de contas? Ela daria tudo pra saber sobre o seu passado e a sua história, onde aquela lenda entrava, o porquê das visões...

—Está enganada - ele disse se aproximando e segurando seu queixo, ele realmente fazia isso muito, era desconcertante - sua mãe - ele olhou no fundo dos seus olhos, ele parecia escolher as palavras com alguma dificuldade - fez tudo que estava ao seu alcance para protege-la - Nunca ninguém havia dito isso pra ela daquela forma, ela não sabia nada sobre sua família, e nada sobre a sua mãe, e ela não entendia, era tão difícil, e havia tanto para compreender - apenas use o colar - ele a soltou.

—Ela me deixou naquele lugar horrível - ela não podia acreditar que tinha dito aquilo em voz alta, por mais que ela sonhasse com uma mulher encantadora e sim fantasiasse coisas boas sobre ela, por mais que ela tentasse se esforçar para acreditar nela, nas únicas palavras que ela tinha para se apegar, escritas em um pedaço de papel e memorizadas em seu coração, e por mais que houvesse o colar, Shara não era mais uma criança e não podia deixar de se perguntar, por que ela havia o abandonado? Ela sabia que seus olhos estavam marejados outra vez, ela andava muito sensível ultimamente e esse não era o caso ali - Desculpe eu só estava pensando, isso não tem nada a ver é claro com isso - ela se desculpou, sem jeito, limpando os olhos com as mangas.

—Talvez não houvesse escolha - ele disse se afastando um pouco, ela não queria incomodá-lo e nem o aborrecer com isso.

—Podemos passar para o próximo assunto, se houver um é claro - ela quase podia implorar por aquilo agora, já que o clima havia ficado um tanto quanto pesado, e ela não queria estragar tudo outra vez.

—Como preferir - ele passou os olhos sobre ela - sente-se - ele pediu, ela estranhou o convite, mas o fez, se sentando na sua cama.

—Sobre a visão, você teve uma nova visão hoje e ela te assustou - ele a estava checando, sim aquela havia sido de fato uma visão terrível - você viu algo que fez os seus olhos sangrarem e isso não é comum - ele disse enquanto passava os dedos sobre a capa do livro que ele havia apoiado no braço da poltrona, será que ele havia lido algo nesse sentido lá? Certamente ela procuraria mais tarde - quero que me conte sobre isso - ele pediu e apenas o fato de lembrar daquilo outra vez foi mais que o suficiente para que ela se arrepiasse por completo, ela estava sentada na ponta da cama, mas ela se reclinou para trás, se encostando um pouco na cabeceira e puxando as pernas contra si, e fechando os olhos com força - Epson - ele a chamou - não há nada o que temer – ele havia dito, mas ainda assim era igualmente difícil de falar, ela suspirou.

—Eu vi uma mulher morrendo - ela disse, sentindo uma lágrima escorrer pelo seu rosto agora, o professor podia até ser alguém difícil de ler, mas ali não, era evidente que ele podia estar esperando qualquer coisa daquela visão, menos aquilo, por que dessa vez ele fez uma expressão bastante óbvia e fácil de identificar, ele estava horrorizado.

—Desculpe? - ele perguntou se recompondo.

—Eu sei é horrível… eu só queria tirar isso da minha cabeça - ela disse colocando as duas mãos na cabeça, ele parecia não saber muito bem o que fazer com aquilo ou com ela, ele estava perdido.

—Daremos um jeito nisso - ele disse por fim - contudo preciso que me conte o que viu - ela assentiu, ela poderia fazer isso.

—Era noite de lua cheia, foi o que me pareceu, e havia uma mulher ela estava de costas assim como a mulher da visão anterior, mas não era a mesma pessoa, ela estava fugindo, e ela estava numa floresta, alguma coisa ou alguém estava atrás dela, eu não sei ao certo… mas eu vi feixes de luz, acho que eram feitiços, ela estava com medo e eu podia sentir o medo dela, todo o medo dela, foi horrível - Shara disse isso devagar - havia um lago nas proximidades e então ela entrou no lago, não muito fundo, e ela submergiu nele, ela morreu afogada sem sequer se debater, e eu vi tudo, me pareceu que ela preferia aquela morte do que os feitiços - Shara encostou a cabeça sobre os joelhos, tentando enterrar ela ali, ela percebeu que ele havia se sentado na cama também.

—Ela não morreu - ele disse, aquilo fez ela levantar a cabeça e o olhar com incredulidade, como ele poderia afirmar aquilo?

—Eu sei o que eu vi… ela meio que foi puxada lá, ela morreu…  - Espera como ele podia ter certeza daquilo? Ou melhor como ele sabia sobre aquilo? - como? - ela pediu ainda mais desconfiada - como você pode saber? – ela exigiu.

—Por que o que você viu Shara, não é uma mulher de verdade - ele havia dito seu nome, ele fazia isso as vezes agora, mas ela notou que ele não estava olhando para ela como de costume, ele estava com o olhar fixo no nada, pensando em algo talvez? Ele estava completamente vidrado ele meio que estava preso nos seus próprios pensamentos ali e ele a estava assustando assim.

—Eu não entendo - ela disse - eu sei o que vi… era uma mulher com medo – ela tentou se lembrar para ter certeza de que não havia perdido nada.

—Escute, você disse que podia sentir as emoções? - ele perguntou se levantando de forma apressada a pegando desprevenida.

—Sim, as emoções elas eram muito reais… - ele a interrompeu

—Epson isso é muito sério, preste bastante atenção - ele estava agindo de forma esquisita outra vez, e aquele comportamento a deixava ainda mais aflita - você precisa me prometer de que não contará sobre isso para mais ninguém, ninguém está me ouvindo? - ela assentiu e ele estava sério, aquele não era bem o tipo de coisa que ela gostaria de sair falando por aí, e mesmo que aquela mulher não tivesse morrido, ou seja lá o que ela fosse, ela estava com medo muito medo agora.

—O que é isso tudo? E por que o senhor está agindo assim? - ela perguntou, sentindo um frio percorrer sua espinha.

—Preciso encontrar o diretor - ele disse, mais para ele mesmo do que para ela, ele parecia um tanto quanto desnorteado, nada comum, era evidente que algo de muito errado estava acontecendo, ele disse que era sério e tinha haver com aquela visão, pelo que tudo indicava ele não iria fornecer mais nenhuma informação ali, já que ele queria manter sigilo sobre aquilo, ele se virou para ela, novamente com aquela expressão de preocupação que ela havia conseguido ler anteriormente - Epson preciso que me prometa mais uma coisa - ela o olhou assustada, duas promessas em um único dia, sim era mesmo ruim - você não deve sair de dentro desse castelo por nada, nenhuma distração especialmente no período noturno, consegue entender isso? – ela não conseguia, por que?

—Por que? - ela precisava saber, havia algo acontecendo ali bem à sua volta, por que ela não podia sair? como aquilo tinha a ver com ela? Ela estava em pânico, se a intenção dele era não a assustar ele literalmente estava indo pela direção contrária e por que ela não poderia saber? Não era justo.

—Apenas faça o que estou mandando - ele disse mudando o tom de voz, ela se encolheu, ela sabia que aquilo estava encerrado, ela colocou a mão sobre o colar, como se ele pudesse lhe trazer algum conforto.

—Por que não me conta? Como eu posso me defender de algo se eu nem sei contra o que estou lidando? - ela tentou, mas se ele estava disposto a não contar, ele não faria e não haveria argumentos suficientes para convencê-lo do contrário.

—Se você não sair da escola, não haverá com o que se preocupar - ele estava impaciente agora, ele disse que precisava encontrar o diretor, ela bufou inconformada.

—E os demais alunos? - ela pediu - eles também correm algum perigo? – ela precisava saber.

—Deixe que o diretor resolva isso - ele caminhou até a porta do dormitório, aquilo estava definitivamente encerrado - Epson - ele se virou antes de sair - não me decepcione, eu certamente não estou brincando sobre isso - ela assentiu, era frustrante demais não ter nenhuma informação, mas ela assentiu.

—Eu não vou sair da escola - ela sabia que ele queria ouvi-la dizer - e nem estarei tirando o colar - ele assentiu aparentemente mais aliviado.

—Antes que me esqueça, você tem mais uma semana para entregar o ensaio de transfiguração, esse prazo também se aplica as demais atividades em atraso, todas elas Epson – ele disse com uma certa dureza, já que ela deveria ter deixado transparecer sua indignação -  portanto tenha tudo em dia até lá, estarei monitorando de perto - ele disse sumindo escadaria abaixo, uma semana seria bom para o ensaio, mas as demais matérias pareciam um pouco excessivo, e ela se jogou para trás, caindo em cima do seu travesseiro, ela devia ter pedido uma poção para dor de cabeça.


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Notas finais do capítulo

Acabei não colocando na história, por que simplesmente não consegui encaixar, mas acho bacana justificar o por que Snape estava ali no dormitório com ela, simplesmente esperando que ela acordasse, bem isso não se deve ao fato de que ele queria ou precisava dizer aquelas coisas, naquele momento, penso que ele não seria assim tão imediatista, mas sim, por que no final do capitulo anterior, ele havia prometido para ela que ele não iria embora, e enfim cumprir promessas, isso sabemos muito bem que ele faz.
Sobre os últimos acontecimentos, eu sei que parecem bastante tumultuados, prometo que a história vai espaçar um pouco mais agora. Mas é que simplesmente fazia um pouco de sentido seguir assim... e vamos lá, Shara é anos luz a sua idade, ela precisa de tão pouco para compreender muito, mas ela só não se ligou ainda de quem ela é filha... pensa quando ela compreender! Ansiosos? :)



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