Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 9
Crianças e Adultos


Notas iniciais do capítulo

Sei que não tenho postado notas nos capítulos, mas isso se dá porque não angariei ainda leitores para a fic. Se houver algum fantasma por aí, adoraria saber sua opinião!
A música do capítulo é Wolf, da banda First Aid Kit.



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"Wolf-mother, where you been?
You look so worn, so thin
You're a taker, devils-maker
Let me hear you sing, hey-ya hey-ya

Wolf-father, at the door
You don't smile anymore
You're a drifter, shape-shifter
Let me see you run, hey-ya hey-ya"

 

Norte correu à sua frente, rápida demais para que as pernas de Cordyra pudessem acompanhá-la. Os dragões passaram acima de sua cabeça, contra o fundo azul do céu, voando baixo. O bosque sagrado, cheio de árvores sentinelas se estendia diante deles. Lá na frente, Rickon gritou, sua voz cortando o ar com uma alegria pungente, infantil.

                Cordyra os alcançou. Os dragões não estavam pousados no chão, mas empoleirados nas árvores, longe da confusão, mas observando curiosos. Tinham muito interesse em tudo quanto era interação. Observavam curiosos quando Robb se aproximava para beijá-la, e abriam as azas, incomodados, quando ela lia livros para o ainda desacordado Bran. Rickon ainda tinha medo deles, então nunca se aproximavam. Os lobos, por outro lado, corriam ao redor do menino, abrindo as patas e balançando os rabos, fazendo o jovem Stark rir alto.

                Apertou os lábios. Aquele momento, com os lobos, era um dos poucos que podiam deixar o caçula feliz. Rickon vivia enfezado, batendo portas e chorando alto pelo castelo. Robb fazia um esforço para ajudá-la, mas ele tinha que treinar com espadas, e receber cartas dos vassalos de seu pai. Resolvia os problemas mais triviais, mas outros repassava para Lorde Eddard. Cordyra sabia que ele repassava o mínimo possível; não para ser mais lorde, mas porque seu pai já tinha de cuidar de todo o reino lá no Sul.

                Rickon o seguia para cima e para baixo com seu lobo, quando tinha tempo livre. Arrumara um pedaço de pau que fingia ser uma espada como a de Robb, e a brandia contra os cavaleiros. Os mais desinteressados davam risada, mas alguns dos mais gentis cruzavam batalhas fingidas com o caçula, batalhas nas quais Rickon sempre ganhava.

                Foi levada de volta à realidade, sentada debaixo da árvore-coração, o represeiro do bosque sagrado de Winterfell, quando, de repente, o lobo ainda não nomeado de Bran –o mais inteligente deles, que sempre conseguia romper as barreiras de Robb e Rickon quando brincavam –parou e cheiro o ar. Rickon reclamou, pois quando o primeiro parou, Felpudo, Norte e Vento Cinzento também pausaram.

                Então o lobo de Bran disparou pelo bosque, na direção do castelo, sem a menor explicação. Os outros três pareceram hesitantes sobre segui-lo, e Norte se aproximou, cheirando as saias de Cordyra até que esta se levantasse.  

—Temos de voltar. –Anunciou para Rickon, que chorou alto durante todo o caminho de volta. Cordyra teve de pegá-lo no colo para que a acompanhasse, e mesmo assim o menino não deixou de verter lágrimas salgadas por toda a face.

                Os dragões acompanhavam de longe. Ela estava ciente deles mesmo enquanto beijava o rosto do primo para secar suas lágrimas de sal. Aurae sempre era a que voava mais perto, e o branco Espectro, silencioso e invisível contra a neve branca, a lembrava de fantasma, o lobo do primo bastardo, Jon. Sentia a falta do primo como se alguém tivesse arrancado um de seus membros. Às vezes, ela se encontrava no caminho para seu antigo quarto, antes de lembrar-se que Jon não mais dormia ali. Outras, via Theon e Robb batendo espadas no pátio, e ficava confusa com a cena, incompleta sem o outro.

                Baelon era o mais ousado; voava mais alto que os outros, e já aprendera a levantar a fileira de espinhos nas costas. Mesmo seus espinhos eram negros, como a íris vertical de seus olhos. Meleyna era, de todos, a mais segura; não voava ainda, acompanhava os irmãos do chão. Havia sido o menor dos ovos, e era também o menor dos filhotes, com o corpo azul, e a membrana cor de bronze entre as azas.

                Quando o grupo de três lobos, quatro dragões, uma jovem e um bebê chegou ao pátio, Robb vinha saindo do castelo principal. Vento Cinzento correu em sua direção e se pôs num instante junto a seus calcanhares. Rickon havia parado de chorar, e olhava desolado por cima de seu ombro. Cordyra olhou para o rosto de Robb.

                Ele tinha um sorriso branco aberto tão largo que parecia que rasgaria o seu rosto. Os olhos azuis brilhavam como o céu de inverno. Andou a passos largos de encontro ao grupo, e, quando so alcançou, deu um abraço nela e em Rickon, juntos, como se não os visse há muitos dias. Cordyra teria retribuído o abraço, mas não tinha como, de tão apertados que os braços dele eram ao seu redor. Rickon respirava com dificuldade, mas parecia menos chateado do que antes.

—Bran está acordado. –Anunciou. Quando encarou os olhos de Cordyra, ela viu seus próprios pensamento refletidos no rosto dele. –Mandarei uma carta para Jon.

                Cordyra sorriu.

—E para os seus pais, e irmãs. –Completou. Robb sentia falta do meio-irmão. Havia dividido toda uma vida com Jon antes que ele fosse embora. Se ela sentia falta dele como de um membro, não pode imaginar o que Robb sentia. –Não escreva sobre os dragões.

—Não. –Robb concordou. –Na situação em que estamos, qualquer carta pode ser aberta. Levemos Rickon para ver Bran. Deu um nome ao seu lobo. Corri para a enfermaria quando o lobo de Bran passou por mim como um raio. Pensei que fosse outro ataque. Quando cheguei lá, o lobo estava aos seus pés, na cama, e Bran o chamava de Verão.

                Sendo assim, Robb tomou Rickon de seus braços, e Cordyra deixou que os dragões entrassem no castelo com eles, mas decidiu que não deveria leva-los para Bran ainda, então passou no quarto e os deixou ao cuidado de Jocelyn, com quem tinham já alguma familiaridade. Então correu para alcançar os dois primos na enfermaria.

                Era uma bela cena, quando ela empurrou a porta pesada de madeira, as três cabeças vermelhas de Robb, Rickon e Bran bem juntas umas das outras, falando baixo, na companhia de seus lobos. A voz de Robb era suave como uma canção. Ela encostou a porta com um clique alto, para avisar que tinha chegado. Robb se inclinou para baixo e ela teve uma visão do primo; parecia Bran ainda, exceto que mais magro, e com os ossos mais proeminentes, e pálido, terrivelmente pálido, como o verdadeiro Bran, nascido e criado no verão, jamais fora.

                Cordyra não fez festa. Não precisava. Tinha certeza de que Bran poderia ver em seu rosto o quão feliz estava com a sua recuperação.

—Soube que chamou seu lobo de Verão. –Disse a ele como se não tivesse estado desacordado nas últimas semanas. Deixaria as perguntas para Meistre Luwin.        

                O nome parecia a ela cheio de esperança. O lobo de Robb era o mais rápido, então o nomeou de Vento Cinzento. O de John era branco e silencioso, e foi batizado de Fantasma. Rickon era criança, e chamou o seu de Felpudo. Arya e Sansa haviam os nomeado de acordo com suas personalidades; Nymeria e Lady.

                Cordyra tinha de provar que era uma Stark, e chamou sua loba, ironicamente a mais diferente da matilha, de Norte.

                Bran não podia saber quanto tempo passara desacordado desde sua queda, mas havia nomeado seu lobo com um nome que, em Westeros, significava esperança.

—Sim. –Respondeu Bran, lacônico e estranhamente sério. Havia sido um menino alegre, com um gosto por desobedecer às regras da mãe, quando subia por todas as paredes de Winterfell. Parecia distante agora, como se nem tudo nele houvesse voltado completamente. Cordyra gostaria de se aproximar, mas não sabia se poderia. Não parecia o garoto que ela vira andar nu por toda Winterfell aos dois anos de idade.

                Cordyra abriu e fechou a boca algumas vezes, ligeiramente constrangida. Nunca havia ficado constrangida perto de Bran, mas havia algo de novo e perturbador sobre ele.            

                O momento, felizmente, foi interrompido pela chegada oportuna de Meistre Luwin, parecendo afobado após ter subido pelas escadas. O meistre colocou os três Stark para fora, dizendo que tinha muitos exames a fazer sobre o aparentemente recuperado Bran. Ao sair, Cordyra notou o meistre beliscando sua perna e Bran fazendo um gesto negativo com a cabeça.

                Rickon ficou para trás, pois não entenderia os exames do meistre de qualquer forma. Robb e Cordyra se encontraram sozinhos no corredor, trocando olhares.

—Ele disse algo sobre quem o empurrou? –Cordyra perguntou.

                Robb balançou a cabeça.

—Parece não lembrar. –Respondeu. –Acha que ele está diferente?

                Então ela não havia sido a única a notar. Ponderou sobre o assunto.

—Deve estar assustado. –Concluiu. –Caiu de uma torre, e acordou semanas depois, sem lembranças do ocorrido. Ele ia para o Sul com o pai, ser cavaleiro, mas agora nem a mãe, nem o pai estão em casa.

                Ele mudou o peso de um pé para o outro.

—É claro. –Anuiu com a cabeça. –Devia ter pensado nisso. –Então focou os olhos azuis nela. Eram como o gelo do fim do verão; frios, até que rachassem e tudo embaixo fosse gentil.

                Cordyra respirou fundo.

—Tyrion não me enviou os livros. Talvez nunca tenha recebido a mensagem, foi apenas um corvo. –Disse Cordyra, mordendo os lábios até que saísse um pouco de sangue. Ela lambeu o líquido vermelho, e sentiu gosto de ferro. –Preciso saber mais sobre eles. Não sei o quanto devem crescer, ou quando. Aprendemos a alimentá-los, mas não sei quando caçarão sozinhos, e quanto estrago eu devo esperar de suas caçadas. Preciso saber, Robb.

                O noivo ouviu tudo com a cabeça baixa, assentindo levemente, os olhos fixos no chão.

—Mande chamar quem precisar. –Disse, finalmente. –Em especialista de Lis, um meistre da Cidadela, o que for preciso.

                Aquela era a parte mais difícil.

—Não é necessário. –Sussurrou baixo. –O homem que procuro é um meistre muito mais perto que isso. Aemon Targaryen é o meistre na patrulha da noite.

                Robb levantou os olhos. Primeiro, surpresa correu pela sua expressão com um rio. Depois, foi consternação.

—A Guarda de Winterfell já está desfalcada. –Ele falou, mas não com ela. –Não posso ir eu mesmo, deve haver sempre um Stark, e Bran ainda está fraco. Talvez Theon se predispuser... –Ele calou-se, meditando. –Faço um trato.

                Cordyra cruzou os braços, desconfiada.

—Diga, então, suas condições.

                Robb pareceu crescer em largura, e em estatura, como se houvesse crescido dois anos naqueles dois minutos de meditação.

—Vá para a Patrulha, fale com Aemon, descubra sobre seus dragões. Mas antes.... Case-se comigo.


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