Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 7
A Criada


Notas iniciais do capítulo

Olá para quem quer que esteja lendo!
A música do capítulo é It Will Come Back, de Hozier.
Boa leitura!



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"Don't give it a hand, offer it a soul
Honey, make this easy
Leave it to the land, this is what it knows
Honey, that's how it sleeps"

 

Jocelyn não se importava de trabalhar na cozinha, mas não pôde negar um certo alívio quando a disseram que mudaria de posição. As cozinhas eram quentes, por causa das grandes fornalhas, e lá ela tinha companheiras que batiam o pão de manhã, e mexiam a sopa da noite. Mas a roupa marrom sem graça tinha um tecido grosso que pinicava ao toque, os dormitórios eram muito escuros, e os homens tentavam subir em suas camas à noite, tendo que ser afastados às pesadas.

                O Lorde Stark, ao partir para o Sul, levara com ele cinquenta pessoas do pessoal do castelo. As vagas abertas foram amplamente disputadas, mas Jocelyn não estava se quer na briga quando foi convocada ao serviço da jovem senhora Stark.

                Jocelyn conhecia bem o castelo, pois até os oito anos era encarregada de acender as lareiras. Não conhecia, porém, os deveres de uma criada pessoal. A filha do chefe da cozinha, Gage, fora criada pessoal da senhora Sansa Stark, antes de ela ir ao Sul, e o pai de Nabo não deixá-la acompanhar, então a explicou rapidamente suas tarefas: ajudaria a senhora a se vestir, pentearia e trançaria seus cabelos, disponibilizaria seus ouvidos, trocaria sua roupa de cama, conheceria seus horários, estaria sempre disponível quando ela precisasse. Acima de tudo, guardaria os segredos da senhora como se fossem os seus próprios segredos.

                A última parte a deixou imediatamente ansiosa. Às vezes, quando chegava uma nova adição ao quadro de funcionários, chegavam também histórias sobre os grandes senhores e senhoras de todos os Sete Reinos. Diziam que algumas senhoras levavam amantes às suas camas quando a noite caia e as velas eram apagadas, e que alguns senhores gostavam de dormir com outros senhores. Jocelyn trabalhara em Winterfell a vida inteira, e os Stark sempre a tinham parecido gente decente, mas, com os nobres, era sempre difícil saber.

                Por isso, quando entrou no quarto da Senhora Cordyra de manhã cedo para escovar e trançar seus cabelos, estava com a imaginação correndo solta. O quarto da jovem senhora era um largo aposento na ala Norte do castelo, com janelas altas e cortinas de veludo brancas. Uma cama com dossel escondia a senhora, que ainda dormia. Jocelyn sabia que era seu dever acordá-la, então respirou fundo e puxou os panos do dossel.

                Para sua surpresa, a jovem senhora não se deitava sozinha. O cabelo louro-pálido cobria o travesseiro de um lado e, quase coberto pela colcha de peles, apenas o cabelo ruivo de fora, estava o que parecia ser um menino.

                Ah, não... Jocelyn pensou imediatamente. Fosse o jovem senhor Robb, a garota estaria arruinada. Não importava que eles estivessem prometidos em casamento, um senhor fazia o que lhe aprazia, e poucos tinham interesse nas mulheres depois de usá-las aos seus fins. Mas o que uma garota nobre entenderia de ser usada?, ela se perguntou.

                Ficou congelada no lugar mesmo quando a jovem garota lentamente abriu os olhos, movendo os braços e pernas em movimentos de alongamento, e a encarou.

                Tinha grandes olhos violeta em formato de amêndoas. Eram olhos impressionantes, pois Jocelyn nunca antes tinha visto nada daquela cor, e a estavam encarando com surpresa, mas não alarme, como devia uma mulher pega naquela situação. Jocelyn, por pudor, desviou os seus próprios olhos.

—Me desculpe, senhora. Fui mandada para ser sua nova criada. –Anunciou. Não era tímida, mas Cordyra Stark a havia intimidado.

                Ao invés de responde-la, ou tomar conhecimento de sua presença, a garota Stark inclinou-se sobre o corpo de seu companheiro de cama, e descobriu-lhe o rosto. Jocelyn sentiu-se, de repente, muito mais envergonhada. O garoto sobre a cama não era o jovem lorde Stark, herdeiro de Winterfell, mas o irmão mais novo de todos, o pequeno senhor Rickon. Jocelyn havia sido tola, e deixado sua imaginação correr à sua frente. Vira os cabelos ruivos, e nem a ocorrera tentar medir o corpo debaixo do lençol.

                A senhora Cordyra a olhava, esperando.

—Diga-me seu nome. –Pediu. A voz era gentil. Jocelyn tinha a mesma idade que a jovem senhora, mas jamais havia convivido com ela. As crianças Stark brincavam com os criados, sim, mas, desde a infância, a senhora Cordyra só tinha olhos para os dois primos mais velhos.

—Sou Jocelyn Rivers, senhora Stark. –Tinha aquele nome quando fora trazida a Winterfell e ninguém jamais a chamara de outra coisa. Fora trazida pelo próprio Lorde Eddard. Diziam que sua mãe implorara que ele a levasse, a desse de comer, e a colocasse a seu serviço. Sua mãe não era ninguém, uma trabalhadora qualquer no castelo de Correrrio, mas o senhor consentiu com seu pedido mesmo assim.

                A senhora assentiu de forma ausente, os olhos no caçula Stark, deitado na cama, movendo apenas a barriga macia para cima e para baixo quando respirava. A menina tamborilou os dedos na cama um segundo, hesitando, mas depois passou uma mão rápida na cabeça do garoto, e levantou-se.

—Muito bem, Srta. Rivers, temos um longo dia a começar. –Anunciou e pôs-se a andar pelo quarto. Abriu um baú, e tirou de dentro dele um vestido cinza de tecido macio, uma capa de lã e uma escola de cabelos. Tudo isso enquanto falava com Jocelyn. –Lorde Stark levou Jory, o capitão da Guarda, para o Sul com ele, e precisamos de um novo capitão. Preciso estar com Robb para escolhê-lo. A Velha Ama deve ficar com Rickon nesse meio tempo. Também precisamos de um intendente, e Robb deve procurar novos recrutas para a Guarda, pois meu tio levou quase todos os bons homens com ele. –Entregou a escova de cabelos na mão de Jocelyn e lhe deu as costas para que passasse na cabeça dela. Jocelyn sabia que, se não mostrasse competência, estaria logo de volta na cozinha, então, com mãos hábeis, trançou o cabelo da senhora em uma coroa em cima da cabeça. –Por último, a senhora Stark é minha tia, Catelyn. Pode me chamar de senhora Cordyra. Como devo chamar você? Rivers é um nome de bastarda no Sul, não é?

                Ela não falou de forma a ofender –estava apenas atestando um fato. Isso não suavizou o golpe. Não fazia mal ser de baixo nascimento; uma moça de baixo nascimento podia trabalhar, e ter um casamento razoável com um bom homem. Passariam dificuldade no inverno, mas havia esperança de alguma prosperidade durante o verão. Poderiam trabalhar como um casal para uma grande Casa, como os Stark, mas podiam também receber uma pequena propriedade e dela viver.       

                Nada disso era igualmente verdade para uma moça bastarda. O adultério era uma mancha que não saia, nem quando lavada a suor. Uma moça bastarda tinha de trabalhar duas vezes mais para ser reconhecida como as outras, e mesmo assim jamais teria um bom marido; os bons homens não casavam com as mulheres bastardas. A falta de um pai também era falta de proteção; seu sobrenome indicava que, o que quer que fizessem com ela, não seria pago de volta, passaria em branco.

                Claro, os homens de Winterfell não eram maus. Havia Mikken, o ferreiro, que tinha sua idade, era cheio de marra, e, embora a lançasse olhares quando ela passava carregando água ou suprimentos para a cozinha, jamais levantara uma mão para tocá-la sem permissão. Havia também Farlen, o cavalariço, que cheirava a estábulos, e sempre tinha uma piada para fazê-la rir. Os nortenhos eram homens austeros, e, em Winterfell, estavam sob o olhar justo de Eddard Stark, e ousavam pouco em sua presença.

                Exceto por Greyjoy. Theon achava-se muito engraçado, e, quando batia espadas no pátio com os guardas, tirava a camisa e jogava para alguma das garotas que assistiam quietas no canto. Palla, Joseth, Bandy e Shyra davam risinhos e coravam, então no fim do dia ele levava uma delas para o quarto.

                Jocelyn tinha pouco interesse no quarto de Theon, o que o jovem fidalgo parecia ter levado como um desafio pessoal. Quando a encontrava do lado de fora, carregando sacos de batata pela neve, se oferecia para ajudá-la, mas era apenas uma desculpa para suas mãos deslizarem no tecido áspero do vestido, procurando uma abertura para a parte de dentro, mais quente e macia. Jocelyn rapidamente aprendera a dizer não, e quando isso passou a não adiantar, pois ele era muito prestativo, a andar com Mikken nos calcanhares.

                Ainda assim, Theon estava sempre dizendo que um dia não resistiria aos seus olhos muito azuis, e cabelos muito negros.

—Pode me chamar de Jocelyn, senhora Cordyra. –Respondeu finalmente, experimentando o nome dela. Soava estrangeiro, como se não houvesse sido criado em Westeros, as letras rolando pela sua língua de uma forma diferente da usual.

—É um bom nome. –Respondeu Cordyra com um sorriso. –Assim como esse é um bom penteado que me fez. Por favor, chame a Velha Ama para ficar com Rickon, e começaremos o dia.

                De fato, começaram. A senhora tomou café da manhã ali mesmo no quarto; pão, ovos, geleia e cerveja preta. Então levantou-se, foi até o quarto da tia, onde a fez comer alguma coisa da bandeja, mesmo que a tia tenha respondido a suas perguntas sobre o primo apenas como monossílabos. Depois disso, encontrou o senhor Robb no pátio, onde ele batia espadas com um dos poucos membros restantes da guarda.

                Jocelyn ficou um pouco para trás, corada. Sabia que estava sendo indevida, mas, assim que o senhor Robb acenou para ela, ao ser apresentada por Cordyra, corou e perdeu todas as habilidades com as palavras. O senhor Robb não era tão alto quanto Theon, mas era mais largo, mais colorido, com suas madeixas vermelhas e olhos azuis, e seu sorriso era mais sincero. Ele e sua noiva trocaram algumas palavras, então ele se recolheu, pôs algumas roupas, e Jocelyn os seguiu para os aposentos do meistre Luwin.

                O meistre Luwin olhava por uma lente alguns papéis quando deixou que eles entrassem em sua sala. Levantou os olhos para os dois, mal reconhecendo Jocelyn, quieta na entrada da porta. Cordyra pôs um pergaminho marcado com números em tinta preta na frente do meistre.

—Os gastos com a visita real. –Ela anunciou. –Estive nas cozinhas, e falei com a chefe das camareiras. Alguns tecidos foram estragados, assim como algumas taças, que terão de ser repostos. Sem falar no gasto com comida e bebida, que foi dos mais altos.

                O meistre leu as informações contidas no papel atentamente, parecendo mal se dar conta das palavras da jovem.

—Bem. –Levantou os olhos e cruzou as mãos magras e longas sobre a mesa. –Está muito bem feito. –Sua voz era gentil. –Porém, esse não é o papel de vocês. A senhora Catelyn deve lidar com esses números. Podem acabar fazendo algo que ela não faria, e então...

—Minha mãe está de luto. –Entrepôs o jovem senhor.

                Cordyra assentia com a cabeça.

—Não podemos pedir que saia do lado de seu filho. –A voz dela era angustiada. –Está acamado...

—Vai ficar bem. –Mas mesmo Jocelyn pôde ouvir a incerteza na voz do meistre. –A senhora Catelyn deve cuidar de Winterfell, porque é o que se espera dela como senhora. Vocês, jovens, terão essa mesma responsabilidade um dia. Mas é crueldade coloca-la em seus ombros mais cedo do que poderia ser.

—A senhora minha tia cumpre com a responsabilidade dela com Winterfell há quinze anos. –Cordyra apontou. –Merece tempo com seu filho acamado.

                A voz do meistre era bastante final. Era mais baixo que Robb, e mais magro que Cordyra, mas, quando falava com eles, eram duas crianças novamente, pegas tentando contrabandear comida da cozinha para os seus quartos durante a noite.

—Vocês terão essa responsabilidade pelo dobro do tempo, se os deuses forem bons. –Meistre Luwin levantou-se com dificuldade. Nenhum dos dois se ofereceu para ajuda-lo, mas abriram caminho para deixa-lo passar. –Venha, Robb. Catelyn deve nomear um novo intendente, um novo mestre dos cavalos e....

—Um novo capitão da guarda, além de uma septã. –Robb completou, eficiente, como se para mostrar que estava comprometido com a gestão do castelo.

                Na saída, Jocelyn observou, com um pouco de inveja, enquanto o jovem senhor virava a cabeça e piscava para a noiva. Cordyra estava bem composta, e deu um sorriso para o noivo pelas costas do meistre. Porém, uma vez que os dois estavam fora, a senhora se deixou cair na cadeira do meistre, o rosto expressando um cansaço que não condizia com a sua idade.

                Ela notou Jocelyn a olhando com curiosidade, e forçou um sorriso.

—Bem, isso nos deixa com algum tempo livre. –Comentou, com a voz leve. Observou Jocelyn por mais um segundo e, talvez notando que ela não fora enganada, suspirou. –Acho que eles subestimam a dor de uma mãe. –Disse. –A senhora Catelyn devia ter tempo com seu filho.

                Os olhos penetrantes de Cordyra estavam sobre ela, e Jocelyn viu a verdade saindo pelos seus lábios sem que houvesse planejado.

—Talvez esteja subestimando a força da senhora Stark. –Disse. Então arregalou os olhos, temendo ter ido longe demais. Completou rapidamente. –Senhora.

                A outra não parecia nem ligeiramente surpresa com sua sinceridade. Tampouco notou o tardar do título de tratamento.

—É verdade que minha tia é uma mulher corajosa. –Cedeu. –A Rebelião de Robert estava no auge quando Robb nasceu. Ela o pôs no mundo, sem saber se seu marido voltaria da guerra. Quando voltou, trouxe consigo Jon. Mas ela suportou mesmo assim.

                Seu tom de voz era desejoso. “Corajosa” não era um adjetivo geralmente empregado às mulheres. Corajosos eram os homens que lutavam e morriam em batalha, e pouca atenção era dada às mulheres que cuidavam da casa e da família enquanto isso acontecia. Pouco importava que o seio de uma mulher fosse a primeira comida até de um guerreiro, e seu ventre, a primeira casa.

—Ela voltará à tona quando for o momento certo, senhora Cordyra. –Prometeu Jocelyn, para confortá-la. Podia ainda não ser o baú que guardava todos os segredos da senhora, mas talvez um dia viesse a ser, e queria que pudesse confiar plenamente nela. –E saberá como agiu bem em sua ausência.

                Mas a jovem senhora não estava mais a ouvindo. Os lobos, do lado de fora, estavam uivando. O modo como os Stark se comportavam sobre os lobos era um tanto quanto perturbador, Jocelyn pensou. O mundo ao redor da menina pareceu sumir, e seus olhos violeta foram para a janela, pensativos. Ela se agarrava à cadeira. Então latidos igualmente altos se juntaram aos uivos.

—Os cachorros do canil. –Jocelyn percebeu, estranhando. Eram cachorros de caça, treinados para serem quietos, ou espantariam a presa, o javali, ou o cervo, antes que os caçadores pudessem chegar até eles. Mas ali estavam, ladrando alto.

—Os ovos. –Disse a senhora rapidamente, olhando pelo vidro da janela, e se lançou para a porta a passos rápidos. Jocelyn não sabia se devia segui-la, pois, os senhores geralmente avisavam quando queriam a companhia de seus criados, mas, olhando pela janela, viu a torre alta da biblioteca, do lado de fora dos muros, pegando fogo e soltando uma fumaça espessa para o céu.

                Então correu atrás da outra.

                Parecia que cada residente restante em Winterfell havia corrido para o pátio para observar a torre queimar. Alguns dos moradores mais energéticos carregavam baldes de água, e outros mais práticos, recolhiam a neve do chão e iam em direção à torre. A voz de Robb Stark se erguia, mais alta que a confusão, dando funções aos desocupados, e guiando aqueles que já tinham arrumado o seu lugar. Ele mesmo carregava dois baldes cheios de neve, e ia na direção da torre. A senhora Cordyra não estava em lugar algum para ser vista.

                Gage, o cozinheiro, gritava para quem quisesse ouvir que sua filha estava lá dentro, limpando, junto com outras três garotas. Sor Rodrick, ao ouvi-lo, tentou investir contra o fogo com o seu próprio corpo, e abrir caminho, mas logo voltou, com as barras da roupa chamuscadas.

                Mikken, Farlen e Theon estavam cada um ao lado de Robb, indo e voltando com ele conforme o quarto tentava diminuir o fogo. Então, sem mais explicações, um som alto estrondou o pátio.

                Era como pedra rachando. Por um segundo, Jocelyn protegeu a cabeça, com medo de que a torre caísse sobre ela, e não foi a única. Mesmo Gage havia parado de gritar, e olhava para a torre com terror. Então, ouve mais um barulho, e outro, e mais outro, os três últimos mais baixos que o primeiro, mas igualmente opressores.

—Evacuem o pátio! –Disse o senhor Robb para Theon, Mikken e Farlen. –Tirem todos daqui. Sor Rodrick!

                Dois lobos gigantes chegaram junto do senhor, o avermelhado e um cinza-chumbo. Mesmo o grande Sor Rodrick pareceu se mover desconfortável sobre seus pés. Jocelyn tinha que avisá-lo... a sua senhora, sua noiva, sua prometida. Tinha de ter coragem.

—Senhor Stark. –Chamou. Robb a olhou de lado, mas, do outro lado de seu ouvido, Sor Rodrick falava em sistemas de irrigação, e água nas paredes. Ela chamou mais alto. –Por favor, senhor Stark. A jovem senhora Stark saiu correndo quando viu a biblioteca, e não a encontro mais desde então.

                Tanto o castelão quanto o senhor pareceram congelar. Robb olhou para ela com seus olhos muito azuis, então olhou para baixo, onde o menor de todos os lobos gigantes parecia apenas ligeiramente agitado.

—Acha que ela foi à biblioteca? –Ele parecia incrédulo. –Cordyra não seria tão tola, ela...

—Robb!

                O fogo estava se extinguindo. Algumas vigas de madeira haviam desabado logo na entrada da torre, e por isso ninguém havia conseguido passar. Mesmo assim, parecia que estavam sendo empurradas de dentro, cedendo sob o peso de alguma força. As meninas, a filha de Gage, a jovem senhora Stark, se os deuses fossem bons, que as devolvessem.

                O jovem senhor não estava mais ao lado dela, nem os lobos. Com as suas patas pesadas, eles empurraram a madeira, que afundou sob o peso dos empurrões, e Robb tirou sua espada do cinto e começou a cortá-la, com cuidado para que não fosse até o outro lado a atingisse as meninas. Sor Rodrik não estava muito atrás, com a sua própria espada, embora mantivesse uma distância segura dos dois grandes animais.

                Aos tropeços, um corpo feminino saiu do incêndio. Seu vestido estava irreconhecível, em frangalhos, deixando entrever pele pálida suja de fuligem, mas, muito rapidamente, o jovem lorde tirou sua capa fez de cortina. A moça tinha pernas brancas, seu corpo parecia deformado nos ombros, estava suja de carvão, poeira e reboco e, embora seu rosto estivesse enegrecido, os cabelos louros estavam presos na mesma trança que Jocelyn fizera naquela manhã.

                Quis chorar de alívio, e estava prestes a se lançar à frente para dizer quão aliviada estava em ver a jovem senhora, como havia sido louca em se jogar num prédio em chamas, mas então a forma deformada em seu ombro se moveu na direção da luz, e Jocelyn viu olhos negros, muito negros, mas brilhantes, e, prestando mais atenção, havia um corpo com escamas negras.

                Mesmo o jovem senhor hesitou. Haviam mais do primeiro; nos braços da senhora dois outros se enroscavam, os olhos fechados, as caldas balançando. Um quarto agarrava-se à perna dela, tentando subir ao colo.

                A jovem senhora parecia apenas cansada, e nada mais.

—Jocelyn, prepare um banho. –Disse, a voz rouca de inalar fumaça. –Robb, venha comigo.


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