Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 25
As Senhoras




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Robb não tirou os olhos dela um minuto enquanto Jocelyn desatava os nós de seu corpete, puxava para baixo seu vestido, desfazia as tranças em seu cabelo e a deixava apenas com a camisola de linho que vestia por baixo de tudo. As mãos de Jocelyn eram ágeis e competentes, mas Cordyra pensou que houve hesitação na hora de puxar o vestido ensanguentado para baixo. Se perguntou se a matança e o fogo a haviam chocado, porque Cordyra não perderia uma noite de sono por aquilo.

                O próprio rei já tinha tido sua armadura tirada por Olyvar Frey, seu escudeiro. Vestia uma camisa de linho e calças, ainda de botas. A Irmã Negra pairava ao seu lado, dentro da bainha, encostada num baú. Mesmo coberta, tinha um brilho faminto no prateado de seu aço valiriano.

                Não havia um Bosque Sagrado por perto onde Robb pudesse rezar aos seus deuses, mas ele não parecia agitado sobre aquilo em particular.

                Assim que Jocelyn começou a se afastar dela com o vestido manchado para guarda-lo, Robb cobriu a distância entre eles em poucos passos e a tomou nos braços. Ele não agiria daquela forma na frente dos vassalos, e de seus senhores, mas Jocelyn era confiável o suficiente, então Cordyra deixou que ele a puxasse contra o seu peito e enterrasse o rosto em suas madeixas douradas. Cordyra também se inclinou contra o corpo dele, como um girassol para a luz.

                Quando ele levantou o rosto para ela, o seu olhar era feroz.

—Por que foi você a capturar Lorde Jast, e não Hal? –Robb perguntou a ela, incisivo.

                Cordyra olhou de lado para Jocelyn, que estivera presente. Sentia que Robb a estava testando, mas não sabia qual era o teste, ou de que maneira poderia passar nele. Ela mordeu o lábio inferior, pensando.

                Em parte, Cordyra tomara as rédeas da situação porque é o que Robb teria feito. Era ela a rainha, e, portanto, estava responsável pelos homens que andavam com ela. Sua função era protege-los e tomar as ações que considerava mais adequadas. A maior parte, porém, era que Cordyra e Aurae haviam, por um momento, compartilhado o mesmo corpo, e ela sentia que era mais dragão do que menina depois da experiência. Havia mandado que Baelon tocasse fogo na floresta porque queria sentir o calor.

—Por que o tio Eddard manejava ele mesmo a espada contra os fora-da-lei? –Ela perguntou de volta.

                Robb fechou os olhos como se a pergunta houvesse machucado.

                Ela aproveitou para olhar o seu rosto. Havia ficado mais magro desde que a guerra começara, e perdido toda a suavidade de menino. O maxilar era uma linha reta e quadrada, as sobrancelhas em cima dos olhos tinham uma constituição dura, impassível, e a coroa em seus cabelos assentava com mais conforto do que quando fora posta ali. Cordyra procurou o menino que ela conhecera, nos cachos que se enrolavam como vinhas nas têmporas, nas pálpebras tão finas como pergaminho. Havia uma palidez em seu rosto que era nova para ela.

Cordyra ficou olhando para ele. Enquanto Robb crescia com ela em Winterfell, ela pensou ser o menino mais bonito que já tinha visto. Agora, observando novamente — nunca tinha olhado assim para um menino, não deste jeito que trazia sangue para o rosto e apertava o peito —, queria, mais do que qualquer coisa, tocá-lo, sentir o cabelo macio, ver se os braços musculosos eram tão firmes quanto pareciam, ou se as palmas calejadas eram ásperas. Colocar a bochecha contra a dele e sentir seus cílios esfregarem a própria pele. Cílios tão longos...

—É preciso ver a morte com os próprios olhos, ou nos esquecemos de como ela se parece. –Respondeu Robb, recitando as palavras do pai, sem abrir os olhos. Uma vez, havia pensado que Robb se parecia com Catelyn, enquanto Jon era todo o pai. Agora via que isso havia sido um engano. Havia muito de Lorde Eddard em seu nariz reto, na posição das sobrancelhas e no canto da boca quando estava sério.

                Ela levantou uma mão, que pairou um segundo sobre seu rosto antes de ela pousá-la numa das bochechas dele com leveza. A barba embaixo de sua palma era áspera e hirsuta, e num tom de vermelho mais intenso que os cabelos.

—Também faço parte de sua guerra. –Disse Cordyra a ele, porque era verdade. –Não está me trazendo como acessório. –O lembrou. –Não treinei com você e Jon no pátio, mas me debrucei sobre mapas com você. Não lembra?

—Comigo e com Jon. –Robb respondeu, agora abrindo os olhos. O modo como ele disse “Jon” foi como se fosse dizer outra coisa, como “irmão” ou “casa”, mas mudasse de ideia no último minuto. –Ele saberia.

                Cordyra engoliu em seco.

—Saberia de quê?

—Que nenhuma vitória vai trazer o pai de volta. –Robb disse, e sua voz soou áspera como a barba, como as montanhas pedregosas que eles haviam atravessado até ali.

                Cordyra poderia ter dito aquilo a ele, se Robb tivesse perguntado. Mas havia parecido cruel dizer aquilo para fazê-lo voltar para casa. Quando voltassem a Winterfell, seria Robb a sentar no cadeirão dos Stark.

—Não. –Ela concordou cuidadosamente. –Mas pode trazer as meninas. –Ela não tinha mais ilusões sobre a troca de Jaime, então não foi naquela direção. –Assuste Tywin Lannister. –Pediu ela. –Faça-o implorar por trégua, por paz. Queime todo o Oeste, e o faça devolvê-las. O tio iria as querer de volta.

                A garganta dele se moveu quando ele engoliu, olhando para baixo.

—Então voltaremos para casa? –Ele perguntou, e soou tanto como o Robb menino que Cordyra quase se desmanchou.

—Winterfell. –Ela concordou, e a palavra pareceu mágica, devolvendo cor para as bochechas dele. –Com as meninas, e Bran e Rickon.

—E Jon. –Ele acrescentou.

                Ela hesitou.

—Jon é um Irmão Juramentado agora.

                Robb balançou a cabeça.

—Ele iria. –Então hesitou mais uma vez, e dessa vez a pausa foi tão longa que Cordyra pensou que o assunto havia simplesmente acabado. –Se algo acontecer comigo, os Lannister irão atrás de você.

                Cordyra mudou o peso de um pé para o outro, agora desconfortável. Sabia daquela informação, é claro. Iriam pelo seu bebê, que era o herdeiro de Winterfell, mas também iriam pelos dragões. Talvez matassem a ela e aos dragões, mas, se eles ficassem grandes demais para isso, podiam apenas matá-la. Fosse como fosse, não seria deixada em paz.

—Sim. –Concordou lentamente. Pensou em si mesma com Jaime Lannister nas masmorras de Correrrio. Se fosse o contrário, ele tampouco a libertaria.

—Bem. Não alcançaram os seus irmãos em Essos, não é verdade? –Ele perguntou. –Você tem sonhado com a princesa Daenerys. Então está viva. Você também poderia.

—Quer que eu vá para Essos?

                Ele assentiu.

—Se algo me acontecer, vá. –Ele disse. –Encontre seus irmãos, crie nosso herdeiro.

                Cordyra pensou por um segundo.

—E Rickon e Bran? –Insistiu. –Não vou deixá-los.

—São crianças. –Robb apontou. –Os Lannister pedirão seus lobos, certamente. Mas dobrarão os joelhos, e serão senhores de Winterfell. Você, não. É uma Targaryen, além de Stark. É rainha.

—E tenho meus dragões. –Acrescentou por ele. Então estreitou seus olhos roxos para Robb, um pouco venenosa. –Eles foram úteis hoje, não é? Embora não tenha querido usá-los.

                Robb, por outro lado, abriu os olhos para que parecessem grandes e francos. Era aquele olhar que fazia com que todas as criadas em Winterfell caíssem de amores por eles, e que fizera Alys Karstark tropeçar em seus pés aos onze anos tentando conquista-lo.

—Sou o Jovem Lobo, não o Jovem Dragão. –Robb apontou, apenas um pouco cheio de si mesmo, de forma que fez Cordyra esconder um sorriso. –E estou os usando. Queimaram os campos.

                Cordyra deu um passo para mais perto dele. Embora Robb fosse maior, mais largo e mais alto, ele deu um passo para trás. Ele a segurou pelos ombros para impedi-la de continuar avançando, e ela falou:

—Também foram Baelon e Aurae a me proteger. –Apontou com cinismo. –Imagine se não estivessem aqui.

—Sei o que quer dizer. –Sua voz era séria. –Oferecerei um ovo aos Frey, quando um de seus dragões puser ovos. Mas com Stevron morto, precisarei que mandem outro representante para que possa os passar a informação.

                Algo em Cordyra, que estivera retesado desde que chegara à Correrrio, se partiu em uma torrente caudalosa de alívio. Seus olhos pinicaram e queimaram com lágrimas, mas ela não as deixou cair. Com a garganta arranhado, ela assentiu rigidamente. Robb a olhava como que achando graça.

—Obrigada. –Deixou escapar. –Por fazer isso por mim.

                Ele pareceu como se achasse graça, mas então ficou mais sério.

—Às vezes, temo que você gostaria que eu fizesse mais. –Admitiu.

                Foi a vez de Cordyra hesitar.

—Como o quê?

                Ele estava olhando o seu rosto tão intensamente que era um milagre que não abrisse sua cabeça com a força do pensamento.

—Não deseja sentar-se no Trono de Ferro? –Ele perguntou. –É a única herdeira em Westeros.

                Ah. Ela odiaria aquilo.

—Ilegítima. –Ele disse a palavra rapidamente, para ver se passava pouco tempo em sua boca e não deixava um gosto tão amargo para trás. –O Rei Robert me legitimou, mas como filha de Brandon, não como Targaryen.

                Robb não parecia satisfeito.

—Ainda assim. –Insistiu. –Se seus irmãos voltassem, talvez quisesse que você...

—Parece uma possibilidade remota. –Ela falou. –Vi Viserys morrendo. Daenerys é apenas uma garota, ainda mais nova que eu sou.

                O rei estava a observando, como se esperasse uma reação dela ao admitir a morte do irmão. Mas jamais conhecera Viserys, e já tinha de se preocupar com a morte de muitas pessoas para lamentar a dele. Era provável que nem soubesse que ela existia. A ideia de conhecer Daenerys era mais tentadora. Eram tão parecidas em aparência que Cordyra ficara fascinada com a irmã em seus sonhos.

—Diga-me isto: espera que eu faça com que o exército nortenho marche até Porto Real?

                Cordyra respondeu com toda a honestidade:

—Quero que marche para Winterfell. –Disse ela. –Quero ser Rainha no Norte, em casa.

                Quando Robb expirou, havia um alívio infinito em sua expressão. Ela se perguntou o porquê de eles não terem tido aquela conversa antes. Robb se preocupava que ela desejasse um trono sobre o qual nunca sequer pensara. Não tinha desejo de se sentar no Trono de Ferro, não importava que os Targaryen tivessem se sentado nele por trezentos anos. Ela sentiu um arrepio.

— Está com frio? — Entrelaçando os dedos nos dela, Robb pegou a mão de Cordyra e pressionou-a contra a própria bochecha. Ela foi surpreendida pelo calor febril da pele dele. — Cordyra. —Disse, com a voz grossa e suave de desejo, e ela se inclinou em direção a ele, balançando como uma árvore cujos galhos estavam pesados pela neve. Seu corpo todo doía; ela doía, como se houvesse um vazio oco dentro de si. Tinha mais consciência de Robb do que jamais tinha tido de qualquer outra coisa ou pessoa na vida, do brilho fraco do azul sob as pálpebras semifechadas, da sombra de barba na mandíbula, das suaves cicatrizes brancas que marcavam a pele dos ombros e da garganta; e mais do que qualquer outra coisa, da boca, do seu formato de lua crescente, da leve rachadura no centro do lábio inferior. Quando ele se inclinou e encostou os lábios nos dela, Cordyra o segurou, como se fosse se afogar caso soltasse.

                Na manhã seguinte, Cordyra ficou surpresa ao descobrir que suas senhoras estavam todas reunidas, e clamavam para que se juntasse a ela. Fez com que Jocelyn a vestisse em alguma coisa adequada, desde que as roupas da noite anterior haviam ficado inapresentáveis de sangue. Do lado de fora, fazia um belo dia de sol, com ventos amenos soprando nas barracas. Robb e os homens se reuniriam de tarde, e ele a havia chamado para participar da reunião, mas, enquanto isso não ocorria, os Lordes haviam se juntado a alguns cavaleiros para um campeonato informal de lanças.

                Não havia uma arena propriamente dita no acampamento, então os homens haviam improvisado o terreno mais baixo para as competições, e os outros se juntaram no terreno mais alto para assistir. Cordyra, acompanhada de Jocelyn, achou suas três senhoras sentadas em cima de uma colcha de pano, com cestas de frutas ao seu redor, adquiridas no saque a Cruzaboi, que estava bem abastecida da última colheita. Haviam maçãs, peras e belos queijos redondos e macios.

                Cordyra sentou-se no chão com as senhoras. Alys usava um vestido azul-claro que fazia seus olhos brilharem, e Rosey havia deixado seus cabelos castanhos caírem por cima dos ombros.

—Vossa Graça, chegou bem a tempo! –Exclamou Elyria, que usava um deslumbrante vestido amarelo, com punho de tule, e um decote quadrado. Tinha um sorriso malicioso no rosto. –Os cavaleiros estão se juntando na Arena.

                Chamar de Arena era gentileza. O espaço mal passava de um campo vazio. No seu centro, segurando lanças, os homens se encontravam, e foi lá que Cordyra se juntou a elas. Cordyra rapidamente localizou Robb, de armadura e com um sorriso fácil que ressoou no campo quando Pequeno-Jon segredou-lhe algo ao ouvido. O sorriso malicioso não tinha escapado do rosto de Elyria quando ela cutucou Rosey para que falasse com Cordyra.

—Estávamos conversando sobre quais são os Lordes mais bonitos, Vossa Graça. –Disse Rosey com um risinho. As meninas falavam baixo para que os homens ao redor não as ouvissem, mas mesmo os mais próximos estavam longe. –Qual deles pensa que é o mais belo?

                Cordyra desviou os olhos para as outras garotas, surpresa.

—Robb. –Respondeu imediatamente. Não havia dúvidas sobre isso; claro e vermelho, Robb se destacava na multidão como um pingo de sangue na água. Como uma hemorragia inteira. Mesmo sua risada era mais brilhante. –O rei Robb.

—Também acho. –Disse Rosey Frey imediatamente, ansiosa em agradar. Cordyra sorriu para ela.

                Elyria, porém, não parecia satisfeita.

—Lady Alys disse que o rei Robb tinha um belo irmão em Winterfell. –Disse, como quem nada quer. –Diga-nos se é verdade, Vossa Graça, pois não sei se acredito nela.

                Cordyra olhou para Alys, que corou e virou os olhos para baixo. Cordyra não devia estar gostando da conversa; era uma rainha, e uma mulher casada, não uma garota. Mas havia algo de excitante no tom de confidência de Elyria de que ela gostava.

—Eu disse que sor Patrek era muito bonito também. –Alys tentou se defender.  –Mas Lady Elyria jura que ele dorme com sua espada na cama.

                Rosey deixou escapar uma risadinha quando o sorriso de Elyria cresceu no rosto, animada em falar mal de seu irmão, e mesmo Cordyra deixou que um dos cantos de seu lábio se elevasse.

—Jon Snow era diferente de Robb. –Ela disse, afinal. –Parecia com o pai.

—Não cheguei a conhecer Lorde Stark. –Insistiu Elyria, os olhos brilhando enquanto ela se inclinava para frente de forma a ouvir melhor. –Como Jon Snow é?

                Soturno, quieto e amoroso foram as palavras que vieram à cabeça de Cordyra, mas sabia que não era o que as senhoras queriam ouvir. Elas queriam saber das melhores partes, das que faziam de Jon um homem, não um irmão. Cordyra pensou que elas teriam gostado de Theon houvesse acompanhado aquela marcha ao invés de ir para as Ilhas de Ferro. Cordyra se perguntou se havia alguma chance de Theon gostar da malícia de Elyria.

—Melhor espadachim que Robb. –Ela contou. –Mas Robb era melhor com a lança. Era quase tão alto, mas mais esguio. –Resolveu provocar um pouco. –Lady Alys poderia contar.

                Alys Karstark estava ligeiramente vermelha, mas anuiu com a cabeça.

—Dançava bem, também. –Acrescentou. –E tinha olhos cinzentos como o Norte.

—Ora. –Elyria tinha um tom de riso na fala. –Aí está uma verdadeira poesia, Lady Alys. –Mas então ela se virou para Cordyra de novo. –Bem, falar nos nossos rapazes é maravilhoso, mas e os inimigos? O que Vossa Graça acha de Jaime Lannister, por exemplo?

                Cordyra sentiu que o sangue estava sendo drenado de seu rosto. Suas senhoras também deviam ter percebido, pois se entreolharam, e Alys olhou tão feio para Elyria que ela pareceu se arrepender da pergunta. Foi então que Cordyra percebeu que teria de responder, ou elas imaginariam coisas que não existiam. Mas como explicar que, por um momento, ela pensara que ele era o homem mais bonito que ela conhecia, lá em Winterfell? Havia se sentido lisonjeada ao entrar no salão acompanhada dele, e gostara de como ele a abordara nos corredores, como um leão à espreita; ele parecera quente macio quando ela tropeçara para dentro de seus braços. Mas então eles se encontraram em Correrrio, e Jaime Lannister não era nada do que ela lembrava; haviam tirado o leão e deixado a sombra, igualmente perigosa, mas mais sombria. Em Winterfell, havia achado que ele se parecia com um homem, de um jeito que tanto Jon quanto Robb eram jovens demais para alcançar.

—Sor Jaime foi muito cavalheiro, até que deixou de ser. –Ela respondeu laconicamente, e colocou um pedaço de queijo na boca, desejando não ter se sentado com as senhoras.

—Ele é o regicida, afinal. –Alys concordou com ela, desprezo colorindo sua voz como um quadro de rancor. Cordyra se lembrou e que Jaime era o responsável pela morte de seus dois irmãos. Então virou-se para a outra com ares vingativos. –Você, porém, ainda não nos confidenciou nada, Lady Mallister, embora tenha feito muitas perguntas.

                Lady Mallister deu de ombros tão desavergonhadamente quanto era possível.

—Ora, Lucas Blackwood é o solteiro mais interessante que temos por aqui. –Disse, sem pensar duas vezes.

—Depois do senhor seu irmão. –Apontou Rosey, ao que Elyria torceu o nariz; claramente a jovem Mallister não tinha uma opinião tão alta de Patrek.

—Patrek não é um senhor, apenas espada juramentada do Rei. –Elyria fez pouco. –Lorde Edmund Tully não é de se jogar fora, tampouco. Tem belos cabelos ruivos. Eu seria sua tia, Vossa Alteza.

                Cordyra franziu a testa para ela.

—Edmund não é Lorde enquanto Lorde Hoster viver. –Ela a fez lembrar, afinal, sua tia Catelyn parecera incomodada sobre aquilo. –Mas, sim, suponho que seja um bom partido, se sua noiva for capaz de ignorar o seu gosto por tomar liberdades com as moças do vilarejo.

                Rosey deu logo de ombros.

—A maioria dos lordes age assim. –Disse ela. –Não seria ruim ao menos ser senhora de Correrrio em tal situação. Afinal, o exército está cheio de seguidoras de acampamento, que é um nome mais gentil para sabem o quê. Onde será que os homens estão quando fora de nossas vistas?

                A rainha achava que já havia superado aquelas desconfianças há muito tempo. Sabia que, em Winterfell, Theon tinha o costume de frequentar a Vila de Inverno, onde mantinha relações não-respeitáveis com algumas garotas, como a tal Kyra, que se contorcia como uma doninha. Às vezes, Robb e Jon também iam à Vila, e Cordyra sempre ficava se perguntando. Surpreendentemente, foi o próprio Theon a garantir a ela que Robb jamais agira daquela forma. Mas aquele tinha sido o Robb menino. Como o rei Robb agia quando era pressionado por seus vassalos, e admirado pela coroa em sua cabeça, ela não sabia dizer.

                Rosey se virou para Jocelyn, que raramente era inclusa nas conversas.

—Qual guarda você acha o mais belo, Jocelyn? –Rosey perguntou.

                É claro que Jocelyn jamais poderia sequer sonhar com os grandes senhores e lordes, então não fazia sentido perguntar a ela sobre estes. Cordyra virou-se para ver se a criada se incomodava –tinha Jocelyn em muita alta consideração para permitir que mesmo as suas senhoras a incomodassem –mas ela simplesmente deu de ombros.

—Hallis Mollen é bastante bonito, minha senhora. –Comentou.

                Cordyra a olhou cheia de surpresa. Era verdade que Jocelyn estava sempre acompanhada da guarda de Winterfell, por ser criada pessoal de Cordyra, e claro que eles deviam conviver bastante, mas jamais havia observado nenhuma interação suspeita entre ela e Hal. Será que havia sido assim tão desatenta? Jocelyn simplesmente sorriu para ela.

—Sim, ele é mesmo bonito. –Cordyra concordou, mas estava distante, os pensamentos longe, de volta a Robb. Lá embaixo, ele gritava com animação para Pequeno-Jon, que combatia.

                Se Jon estivesse na marcha com eles, Cordyra podia confiar seus medos ao primo, e ele riria dela, mas com uma leveza que indicava não que ela era tola, mas que estava sendo naquele momento. Mas havia apenas Robb, e uma senhora não devia fazer certas perguntas ao seu marido, para caso a resposta fosse desagradável. Ela tentou imaginar o que Jon a diria, exatamente, mas as palavras não vieram, apenas a sensação de consolo.


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