Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 22
Um Caminho


Notas iniciais do capítulo

Nos afastamos cada vez mais de Catelyn, e não a encontraremos mais até a Parte III da fic. Seguimos com Robb pela sua rota na direção do Oeste! Espero que gostem tanto de ler quanto eu gostei de escrever!
XOXO
A música do capítulo é A Thousand Eyes, de Of Monsters and Man.



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"I lie awake and watch it all
It feels like thousand eyes
I lie awake and watch it all
It feels like thousand eyes"

 

Para a partida, Cordyra arrumou-se em um vestido azul-escuro, com barras ainda mais escuras para esconder a lama e a sujeira que poderiam enfrentar no caminho. Era mais folgado na altura da cintura do que ela estava acostumada, mas o Meistre de Correrrio a avisou que não devia mais usar laços apertados no corpete por conta da criança em seu ventre. Também disse que ela tinha bons seios –de tamanho mediano, com mamilos que se projetavam para fora –e quadris, que eram largos e redondos e não dariam trabalho na hora do parto.

                No dia que eles haviam partido de Winterfell, a alvorada estivera vermelha de sangue. Já nesta manhã, havia o cometa, mas mesmo ele era acinzentado pela bruma outonal que se estendia por sobre a superfície do Ramo Vermelho, e sugava a cor da terra e das árvores como uma densa tinta branca aplicada sobre um quadro colorido. Sair de Correrrio era mais difícil que deixar Winterfell. Não porque havia se apegado ao castelo triangular, mas porque o rio tinha de ser atravessado até a margem ocidental, e havia um grande exército para um número menor de baixo, e foram preciso várias travessias até que todos estivessem seguros do outro lado.

                Quando finalmente se puseram em marcha na direção Oeste, então a luz do sol já tinha transformado a bruma de branca em dourada, e começava a dispersá-la com seu calor. Se estivessem em Winterfell, o outono já teria despejado neves altas o suficiente para cobrir seu tornozelo pela paisagem, mas nas Terras Verdes havia apenas um pouco de chuva, e um vento promissor soando do Norte.

—Vossa Graça, se me permite perguntar, será que está trazendo ouro bruto em suas malas? –Jocelyn perguntou, enquanto recebia ajuda de Olyvar para colocar suas malas em cima de uma carroça.

                Cordyra olhou para ela com repreensão.

—Estou levando alguns livros da biblioteca de Correrrio. Nos deixamos ficar moles em relação às suas lições. É uma mulher da rainha agora, e deve aprender o máximo que puder. –Então ela baixou um pouco a voz. –Além disso, achei alguns escritos sobre dragões. O Meistre Hugor não pareceu se importar que eu trouxesse alguns poucos exemplares.

                Robb cavalgava à cabeça da coluna, sob a esvoaçante bandeira branca de Winterfell. Pedia todos os dias que um de seus senhores se juntasse a ele para que pudessem conferenciar enquanto marchavam; honrava um homem de cada vez, sem mostrar favoritismos, escutando como o senhor seu pai escutara, pesando as palavras de um contra as de outro.

                A paisagem das Terras Fluviais era verde como o interior do Jardim de Inverno de Winterfell. As árvores não eram tão altas quanto aquelas do Norte, mas a vegetação se espalhava pelo chão de forma mais uniforme, um tapete de veludo esmeralda. Os troncos das árvores, cheios da umidade dos rios, eram igualmente verdes, com musgo crescendo em seus corpos de madeira. Se ela fosse Arya, teria catalogado cada uma daquelas plantas, mas Cordyra tinha outras tarefas.

Na maior parte do tempo, em seu cavalo de guerra negro, Cordyra cavalgava com Robb. Durante o dia, porém, se movia pela coluna, enquanto Robb conferenciava com seus senhores. Mantinha o ânimo dos soldados mais rasos dando um vislumbre de seus dragões, e tinha sempre uma de suas senhoras por perto; cada dia uma diferente. No terceiro dia de viagem, ela cavalgava com Elyria no flanco esquerdo quando foram abordadas por um cavaleiro. Lorde Tytos Blackwood, montado em um corcel de batalha tão magro quanto ele. Muito alto e muito esguio, o Senhor de Corvarbor tinha nariz adunco, cabelos longos e uma barba irregular negra e branca que exibia mais branco do que negro. Incrustada em prata na placa peitoral de sua reluzente armadura escarlate estava uma árvore branca, nua e morta, cercada por um bando de corvos em ônix levantando voo. Um manto de penas de corvos pendia de seus ombros.

Cordyra sabia bem que os Blackwood eram uma das poucas famílias das Terras Fluviais que ainda adoravam os Velhos Deuses, e mostravam isso orgulhosamente em seu brasão. Lorde Tytos não tivera nenhuma ressalva quando aderira à causa de Robb. Os Lannister estavam queimando suas plantações, e invadindo suas terras, então ele pegou suas armas e se juntou aos rebeldes que coroaram o Rei no Norte.

—Lorde Blackwood, onde anda Lucas? –Elyria, que nascera nas Terras Fluviais, perguntou com intimidade. Então se virou para a sua rainha. –Vossa Graça, Lucas é o segundo filho de Lorde Blackwood, e um dos homens a engrossar a marcha do Rei.

                Cordyra virou-se para o senhor de Corvarbor.

—Têm tudo de que precisam, lorde Tytos? Robb me falou sobre seu Lucas; um rapaz inteligente e honrado.

                Lorde Tytos fez uma pequena reverência quando se voltou a ela.

—Vossa Graça tem nos providenciado tudo de que precisamos. –Garantiu. Então pousou seus olhos nela com mais intensidade. –Minha rainha, se não for indevido de minha parte perguntar, Vossa Graça tem estudado sobre seus dragões?

                A rainha teve de se segurar para não olhar para cima. Em algum lugar, acima de suas cabeças, por de trás das nuvens, seus dragões brincavam um com o outro. Não era uma brincadeira inocente, Cordyra já percebera. Eles subiam o mais alto que podiam, então desciam numa confusão de azas e garras, atacando um ao outro. Treinavam. Baelon, por ser o maior, frequentemente saia em vantagem, mas Espectron, cujas escamas brancas se disfarçavam contra as nuvens, não ficava muito atrás.

—Tenho lido cada livro em que pus as mãos. –Ela disse com sinceridade. –Não são muitos, porém.

—Não seriam. –Lorde Tytos concordou. –A Cidadela talvez tenha um bom número ainda, mas, se os tem, não os compartilham. –Ao contrário dela, Lorde Tytos não teve reservas em olhar para cima, à procura de um vislumbre das pequenas feras. Eles agora tinham o tamanho de pequenos cachorros, e não caçavam sozinhos. –Li uma vez que um dragão pode ter vários cavaleiros ao longo de sua vida. Vivem mais que nós, e podem ser domados novamente. Mas um cavaleiro só pode montar um dragão, desde a Antiga Valíria. –Agora ele olhava para ela. Tinha olhos escuros e sinceros. –Se seus três irmãos estivessem vivos, seriam quatro para montá-los. Qual deles Vossa Graça pretende montar?

‘              Cordyra nunca havia considerado as coisas dessa forma. Eram jovens demais para que ela pudesse montá-los, então não havia pensado nisso. Os deuses eram cruéis; agora ela jamais seria capaz de parar de pensar nos irmãos que perdera. Rhaegar. Viserys. Daenerys. A última podia estar viva, mas era pouco provável que vivessem para se encontrar um dia, com o Mar Estreito e tanto mais entre elas. Cordyra era uma rainha, e, embora estivessem em guerra contra o Trono de Ferro, quando conseguissem paz e independência, ainda assim não poderia abrigar a sua irmã.

—Montarei Aurae quando ela for grande o suficiente. –Disse, com certeza. Simplesmente sabia, da forma como sabia que amava o filho dentro dela, e do mesmo modo como poderia reconhecer o rosto de Robb no escuro, no silêncio e na morte. Aurae não era a maior, ou a mais perigosa. Esse título provavelmente seria de Baelon, que daria uma melhor arma de guerra, mas Cordyra sabia que seria o dragão bronze e rosa que a levaria pelos ares. –Os outros serão montados por meus filhos.

                Era a conclusão lógica. Era preciso sangue Targaryen para montar um dragão, e ela era a única que restava em toda Westeros. Se nascesse de seu ventre um menino, montaria Baelon. Uma menina montaria Meleyna. Ela sentia que Espectron precisava ser guardado, embora tampouco soubesse para quê. Ela apenas sonhara que ele seria o último a ser montado.

                Lorde Tytos pareceu surpreso.  

—Vossa Graça, me perdoe a ousadia, mas... Os Stark sempre foram lobos.

                Aquilo de novo. Em Westeros, um filho recebia o nome do pai, não da mãe. Independente de como se parecesse. Mas desde que seus ovos haviam eclodido, os homens viam apenas Rhaella nela, nunca Brandon. Sempre fogo, volátil e quente, mas nunca o gelo duro e resiliente que havia por baixo. Seria o mesmo com seus filhos, percebeu. Os nortenhos aceitavam que ela fosse um dragão, desde que o senhor Stark fosse um lobo. Mas não seriam governados por um dragão, se seu filho fosse um. Os lobos sobreviviam ao inverno nortenho, os dragões, não.

                Não disse nada disso ao Lorde Blackwood, embora achasse que ele podia ler em seu rosto.

—Estarei partindo de volta a Corvarbor, que foi tomada pelos Lannisters. –Disse ele, mudando de assunto. –Mas juntarei minhas tropas às tropas do Rei assim que tiver minhas terras de volta.

                Mais tarde, quando entrou na tenda do Rei ao cair da noite, encontrou Robb conferenciando com seus senhores em torno de uma mesa improvisada com um mapa estendido sobre ela. Cordyra não pôde deixar de imaginar Aegon e seus homens ao redor da Mesa Pintada, como ela vira em sonhos. Robb posicionava-se na cabeceira da mesa, o rosto iluminado de amarelo bruxuleante da luz de velas, a barba ruiva que ele deixava crescer acrescentando cor de fogo ao conjunto. Lorde Rickard estava à sua direita, apontando um dedo no mapa.

—Temos homens o suficiente para passar pelo Dente Dourado. –Dizia Lorde Karstark. –Os castelos estarão guarnecidos, mas se fecharão à nossa passagem. Vão evitar dar luta, e os que derem serão saqueados.

                Robb ouviu a sua sugestão. Maege Mormont pensava diferente.

—O melhor é darmos a volta pelas montanhas e subir pelas florestas de Crakehall. –Dizia ela. –Não temos tempo o suficiente para montar um cerco para cada castelo que encontrarmos.

—Deixando as Terras Fluviais desprotegidas mais uma vez. –Apontou Jason Mallister, em concordância.

                Cordura deixou cair a cortina que fechava a tenda, e a mudança de luz chamou a atenção de Robb, que se empertigou de sua posição inclinada, olhando-a com seus olhos azuis brilhantes. Vento Cinzento atrás dele farejou o ar, deixando que Norte fosse encontra-lo. Ela o encarou de volta.

—O que pensa, minha senhora? –A voz dele não era muito mais que um sussurro, mas foi ouvida por toda a tenda.

                Todos os seus vassalos viraram na direção dela. Jason Mallister, cuja filha era Elyria, enrolou um dedo no bigode chanfrado.

                Cordyra se aproximou do mapa. Graças ao meistre Luwin, ela tinha uma excelente noção de cartografia, e podia ler a maioria dos mapas do mundo conhecido. Quando eram crianças, Meistre Luwin às vezes retirava toda a legenda do mapa, e os fazia analisar qual lugar retratava mesmo assim. Mas antes ele os ensinou a ler montanhas, montes, mares, rios e lagos. Foi também Meistre Luwin que os ensinou a fazer um mapa de tropas, como era o caso daquele. Quatro bonecos, cada um sugerindo mil cavaleiros, estavam agrupados na Torre do Viajante, terras da Casa Vance das Terras Fluviais. O Lorde Vance fora morto na Batalha do Dente Dourado, e já tinha um substituto. A Estrada do Rio os levaria pelo Dente Dourado, que era uma passagem entre dois montes que marcavam a entrada das Terras do Oeste.

—Penso que seria vantajoso passarmos despercebidos. Se passarmos pelo Dente Dourado, chegaremos a Sarsfield e eles rapidamente mandarão mensagens para todo o Oeste. –Ela meneou com a cabeça.

—Queremos atrair Lorde Tywin, Vossa Graça. –Apontou Lorde Umber.

—Depois de saquearmos suas terras, não antes. –Ela argumentou. No Norte, eles eram treinados para estocar comida, como esquilos. Tinham um grande exército, embora não tão grande quanto aquele que Renly juntara na Campina. As Terras Fluviais, arrasadas por terem sido campo de guerra, não seriam capazes de sustenta-los a todos. Embora o ideal mesmo era que voltassem para o Norte a tempo das Colheitas, que já deviam estar começando. Mulheres, idosos e crianças haviam sido tudo que o Rei no Norte deixara para garantir a sobrevivência deles por todo o inverno.

                Eles precisavam do saque do Oeste.

                Robb a olhou com orgulho.

—Minha Rainha diz a verdade. –Concluiu. –Deve haver outra forma. Não podemos perder o tempo que levaríamos para dar a volta nas montanhas, mas também não podemos nos anunciar, afinal, Sttaford está reunindo um exército em Cruzaboi, e pode querer nos encontrar.

—Não há outra forma. –Disse Stevron Frey, com sua voz de doninha. –Também sou contra uma investida à mostra, meu senhor. Digo que façamos tudo na calada da noite.

—Ora, Frey, eu não sabia que você podia invocar uma noite que durasse quatro ou cinco voltas de lua, que é o tempo que precisaríamos para a investida. –Galbart Glover rugiu com impaciência.

—Ora, que os Outros levem você, Lorde Glover! –Stevron levantou a voz contra o outro.

—Chega. –Disse Robb em voz baixa, mas o silêncio se estendeu pela tenda. –Amanhã decidiremos essa questão, pois precisamos nos pôr em marcha. Marcharemos amanhã ao meio-dia, seja qual for a direção. Agora, porém, vão às suas tendas e descansem.

                Os vassalos começaram a sair, sem resmungos, embora alguns falassem em voz baixa com os companheiros mais próximos. Eles deram a volta por Cordyra como um curso d’água. Maege Mormont murmurou com voz maternal, falando com o pequeno inchaço em sua barriga, e Lorde Umber abriu um sorriso de pai para ele. Enfim, todos foram embora, e ficaram apenas ela, Robert e os lobos.

                Robert esperou que o último dos vassalos passasse, e nenhum minuto a mais, então cruzou o espaço entre eles, dando a volta na mesa, e a puxou para os seus braços. Um dia, Cordyra havia sido capaz de apoiar o queixo no ombro dele, e olhar para o outro lado. Esses tempos passaram. Quando Robb pôs os braços ao seu redor, ela apoiou a bochecha em seu peito, e se deixou ser abraçada.

—Já se moveu? –Ele perguntou, descendo a palma de uma das mãos sobre o pé de sua barriga.

                Cordyra deixou escapar uma baixa risada.

—Não vai se mover até a sexta volta de lua, pelo menos. –Disse a ele, como dizia todas as noites.

                Robb olhou ao redor pela tenda. Vento Cinzento e Norte estavam deitados juntos em um canto, mas, afora eles, estavam sozinhos.

—Onde estão os dragões? –Ele perguntou.

—Fora. –Era a resposta usual. Os dragões haviam se acostumado maravilhosamente à liberdade da marcha, onde eles exploravam os céus e às vezes passavam horas fora de vista. Cordyra havia lido que eles ainda eram muito jovens para caçar sozinhos, então ainda mandava que alguém separasse alguma da carne assada do dia para eles.

                Robb pareceu pensativo, uma mão ainda descansando em sua barriga.

—Os Lannister ainda parecem não saber sobre eles, mas saberão assim que entrarmos nas Terras Ocidentais. –A mãos que estava acariciando sua barriga a segurou pela cintura. –Quais deles podem soltar fogo?

—Todos menos Meleyna. –Ela disse com segurança.

                O rei havia desprezado seus dragões na Batalha do Bosque dos Murmúrios, mas eles eram menores lá. Agora, talvez ele achasse uso para os animais, e para o seu sangue Targaryen. Mas Robb apenas assentiu. Se ele tinha planos para os seus dragões, não estava pretendendo compartilhá-los. Não estavam mais em Winterfell, Cordyra percebeu com tristeza.

—Estaríamos planejando o Festival da Colheita em Winterfell se houvesse paz. –Ela disse como quem nada queria. O Festival de Colheita era uma grande festa oferecida pelos Stark depois da primeira colheita do Outono; poucas vezes o Outono dava mais que três ou quatro colheitas. Era uma estação mais curta que o Inverno e o Verão. Então os vassalos e mesmo o povo comum era convidado à Vila de Inverno para celebrar uma boa colheita e orar aos Velhos Deuses por um longo Outono. A melhor parte, porém, a preferida de Cordyra, era a competição de vestidos outonais, quando as senhoras nobres confeccionavam vestidos com a temática de outono e os lordes votavam em qual era o mais belo. Cordyra havia desenhado para si, quando ainda tinha suas tintas e pincéis, uma bela peça, cujo corpete era duro e entroncado no formado de galhos nus de árvores, e a saia do vestido se estendia em um tapete de folhas amarelas, laranja e cobre de outono, feitas com seda. O mais provável, porém, era que a guerra se estendesse até muito depois da primeira colheita, e eles estivessem em Winterfell apenas para o Inverno. Ela continuou. –Espero que aqueles que ficaram consigam uma boa colheita. Velhos, mulheres e crianças fazem parecer que o milho e o trigo morrerão nas plantações sem jamais serem colhidos.

                O rei torceu a boca e deixou que a mão escorregasse dela. Quando ele não a tocou mais, Cordyra sentiu frio.

—Estaria em Winterfell se pudesse, mas, como não posso, deixei Bran em meu lugar. –Ele então deu um olhar diferente a ela, mais parecido com o que ele vinha destinando à Senhora Catelyn ultimamente. –Não paro de pensar que devia ter mandado você ao Ninho da Águia, para tentar negociar com minha tia. A senhora minha mãe disse que seria inútil, que a Senhora Arryn não vai se juntar à guerra, e que se acovardou, escondida nas alturas. Mas talvez os dragões e o lobo houvessem encantado o Jovem Robert como encantaram Willem Lannister.

                Cordyra abriu e fechou a boca, em choque. Robb não a dissera nem por um momento que considerara manda-la para Leste enquanto ele partia para Oeste. A senhora sua mãe o dissuadira, sim, mas uma coisa era manter sua esposa grávida em um castelo enquanto ele lutava batalhas, outra completamente diferente era manda-la sozinha numa missão de aliança.

                Também não queria pensar em Willem Lannister. Cordyra, apesar da conversa que tivera com Jaime antes de partir, e talvez até por causa dela, pedira longamente a Robb que tomasse o garoto como seu próprio escudeiro. Robb dissera a ela que não faria nenhum bem; os Lannisters não eram seus aliados, e Willem enfiaria uma faca nele assim que ajudasse a tirar sua armadura. Cordyra disse a ele que um reino quebrado precisaria de confiança quando a guerra terminasse. Os Lannisters ainda estariam em Rochedo Casterly, e os Stark em Winterfell, e não faria bem deixar sangue ruim correndo por debaixo daquela ponte. Robb disse que deixaria o sangue fluir.

—Quem mandaria comigo para o Ninho da Águia? –Ela perguntou, curiosa. Aquilo diria bastante. Se perguntou quando a língua deles virou a das palavras não ditas.

—Lorde Umber. –Robb respondeu imediatamente. –Lorde Mallister. Lorde Blackwood. Os homens deles, e alguns dos nossos. Seus dragões, e Norte.

                Cordyra quase se sentiu triste que ele não os mandara. Ela teria apreciado a companhia de cada um daqueles lordes. Mas as tropas de Robb teriam baixas consideráveis, e ela estaria longe dele.

                Houve um tempo em que Robb afirmava preferir perder um braço a estar longe dela. Mas isso fora quando eles eram crianças verdes de Verão, e agora eram Rei e Rainha do Inverno. Cordyra compreendeu, ou quis muito compreender. Mesmo Aegon, o Conquistador, mandava suas irmãs-esposas para negociarem alianças.

—Falando em alianças, teve notícias de Theon?

—Só fazem alguns dias. –Robb respondeu. Ele já estava sem armadura –não precisava dela para se reunir com seus homens –mas agora começou também a tirar a camisa de linho e a desatar os nós do calção. Cordyra observou, sentindo um comichão em seu baixo ventre.

—E da Senhora Catelyn? –Ela insistiu.

                Robb apenas balançou a cabeça negativamente uma segunda vez, e se deixou cair com cansaço da cama improvisada da barraca. Cordyra observou ele fechar os olhos, torcendo para que voltasse a abri-los mais uma vez, mas em apenas um momento, o seu rei ressoava suavemente, em uma respiração regular.

                Cordyra soprou as velas e deitou-se ao seu lado. Quando sonhou, ela uivava alto para a noite e, em seus sonhos, um lobo cinza e gigantesco respondia de volta.


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