Filha de Gelo e Fogo escrita por Dafne Guedes


Capítulo 17
Rei No Norte


Notas iniciais do capítulo

Eis Robb Stark de novo, pessoal.
A música do capítlo é Seven Nation Army. Boa leitura!



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"I'm gonna fight 'em all
A seven nation army couldn't hold me back
They're gonna rip it off
Taking their time right behind my back
And I'm talking to myself at night
Because I can't forget"

 

O Ramo Verde corria ali rápido e profundo, mas os Frey tinham construído uma ponte sobre ele havia muitos séculos e enriquecido com o dinheiro que os homens pagavam para atravessar –os outros lordes jamais os perdoariam por isso, e sempre seriam considerados uma Casa de menor importância, embora ninguém fosse dizer isso na frente deles. A ponte era um sólido arco de pedra lisa e cinzenta, suficientemente largo para que duas carroças passassem lado a lado; a Torre da Água erguia-se no centro da ponte, dominando quer a estrada, quer o rio com suas seteiras, alçapões e portas levadiças. Os Frey levaram três gerações para completar a ponte; quando terminaram, construíram robustas fortalezas de madeira em cada extremidade para que ninguém a atravessasse sem sua autorização. Havia muito tempo a madeira tinha dado lugar à pedra.

As Gêmeas, dois castelos atarracados, feios e fortes, idênticos em todos os aspectos, com a ponte unindo-os em arco, guardavam a travessia havia séculos. Grandes muralhas exteriores, profundos fossos e pesados portões de carvalho e ferro protegiam os caminhos, as bases da ponte erguiam-se do interior de robustas fortalezas internas, havia um antemuro e uma porta levadiça em cada margem, e a Torre da Água defendia o arco propriamente dito.

Cordyra viera correndo com mais cavaleiros do que gostaria. Além de Olyvar, Robb deixara mais uma dezena de homens, entre eles dois arqueiros, para fazer a sua escolta até Correrrio. Em Fosso Cailin, eles descansaram e comeram, e a corrida até as Gêmeas depois disso fora mais rápida do que descer da Muralha. Sem confiar em estalagens, eles haviam montado acampamento à beira do rio, e, em uma ocasião, dormido nas ruínas de Pedrasvelhas, onde um dos garotos tocara um alaúde, e ela cantara Jenny de Pedrasvelhas, embora afirmasse que a prima Sansa tinha uma voz muito melhor para as canções. Cordyra sempre preferira dançar.

Uma vez nas gêmeas, foram recebidos na ponte levadiça por um jovem com cara de fuinha, que os levara para dentro quando ela pediu passagem. Os estandartes dos Stark estavam levantados e, embora ela tenha declarado ter pressa, o jovem chamado Stevron Frey fez questão que ela fosse levada para dentro, onde receberiam ao menos uma refeição.

Lorde Walder tinha noventa anos, uma mirrada fuinha cor-de-rosa de cabeça calva e manchada, demasiado artrítico para se erguer sem ajuda. A esposa, uma moça pálida e delicada de dezesseis anos, caminhou ao lado da sua liteira quando o trouxeram para o salão. Sentava-se numa cadeira elevada de carvalho negro, cujo espaldar estava esculpido como duas torres ligadas por uma ponte.

—É um prazer estar em sua presença, Lorde Frey. – Cordyra disse, e foi até ele para plantar um beijo em sua mão seca e fina. O velho a olhou de soslaio com uma expressão de suspeita.

—Duvido. –Ele disse bruscamente. –Deve estar querendo apressar-se para a companhia de seu jovem esposo. –Ele deu um olhar nela, e no lobo que a acompanhava. Então nos dragões. Cada um empoleirado em um de seus ombros. –Ele também trazia uns desses quando passou aqui. Eu disse que não há dragões em Westeros há mais de cem anos, mas aqui estão. Espero da parte dele se casar com a última Targaryen. Vejo porque ele se recusou a casar-se com uma de minhas meninas.

                Cordyra teve a impressão de que não poderia hesitar diante do velho.

—Tenho certeza de que são adoráveis moças. –Disse-lhe. –Mas estamos prometidos desde a tenra infância, desde antes dos dragões.

                O lorde Frey a lançou um olhar astuto.

—O pai dele sabia, então. –Decidiu. –Estão chamando o homem de traidor por toda Westeros. Os Stark sempre se acharam muito honrados, mas ele criou uma cria do Rei Louco debaixo do nariz do rei Robert, e agora esse também ‘tá morto. –Cordyra abriu a boca para dizer-lhe que era filha de Brandon Stark, mas ele não havia terminado de falar. –Então veio a filha de lorde Tully pedir minha ajuda. Deixei-os passar, mocinha. Vê? Por um preço, claro. Ah, sim, foi caro, mas o senhorzinho estava ansioso pela Travessia.

—Deixará que eu passe também? –Perguntou a ele, decidindo não dar mais atenção do que o necessário à conversa do velho.

                Lorde Frey fez um gesto desinteressado de mão.

—Claro, menina. Apenas queria ver seu rosto, saber se era mesmo Targaryen como estão dizendo por aí, mas claro que é. –O velho a olhava com uma intensidade perturbadora. –Vá, vá! Atravesse a ponte!  

—Agradeço, lorde Frey. –Cordyra o disse com cortesia.

—Lembre a seu senhor do que fiz. –Pediu, a voz como um sapo. –Diga-o que a deixei passar.

—Direi. –Garantiu, e foi-se embora.

                Encontrou seus companheiros de viagem do lado de fora. Hallis segurava seu cavalo, e Jocelyn ria de algo que Quent disse. Ela montou e pediu que Jocelyn cavalgasse ao seu lado. Ela queria segurar Aurae bem perto do peito como uma vez fizera com Rickon, mas não conseguia fazê-lo enquanto segurava as rédeas do cavalo. Mesmo assim, o dragão pareceu pressentir sua necessidade, pois se acomodou ao redor do pescoço como se fosse o colarinho de sua roupa, e o calor que ela exalava acalmou seu coração um pouco.

                Trocara as pesadas roupas nortenhas que vinha usando por um vestido de seda azul-acinzentado, com mangas abertas que caiam como uma capa para trás, e um cinto incrustado de ametistas. Tinha um cordão amarrado como cinto ao redor da cintura, e um decote maior do que ela jamais usara, se estendendo até o seu esterno, expondo todo o colo pálido. Nunca tivera a oportunidade de usar tal vestido, pois sempre fora donzela, e o frio do Norte não era auspicioso para tais vestimentas.

                As Gêmeas não eram assim tão longe de Correrrio, mas pareceu que aquela foi a viagem mais longa que já fizera. Vomitara por sobre o cavalo, e, quando foi a vestir, Jocelyn ouviu ela reclamar da dor nos seios.

                A garota arregalou os olhos.

—Já teve seu sangue de lua, senhora?

                Cordyra a olhou sem palavras para responder.

                Quando compreendeu o que se passava, a urgência de chegar ficou apenas mais acentuada. Robb tinha de saber; haveria um herdeiro para Winterfell em breve. Aquela responsabilidade seria tirada das costas de Bran. Seria um companheiro para Rickon, não muito mais novo que ele era. Bateria espadas com Rickon, e Bran o contaria todas as histórias que conhecia.

                Quando chegaram ao Bosque dos Murmúrios, Cordyra ouviu novamente as águas do Ramo Vermelho correndo enlouquecidas, em uma correnteza regular. Ela galopou, sendo seguida de perto pelos companheiros. Sabia que era loucura; havia a possibilidade de Jaime Lannister ter ganhado aquela batalha, e então ela estaria correndo direto para uma armadilha com o herdeiro de Winterfell na barriga, mas não pôde evitar.

                Quando ela pôs os olhos no castelo em todos os baluartes esvoaçava o estandarte da Casa Tully: uma truta saltante, de prata, em fundo ondulado de azul e vermelho. Era uma visão estimulante, de vitória. Tinha um estranho sabor. Soube que Robb estava lá dentro, tinha de estar. O castelo Tully parecia um grande navio de pedra, com sua proa apontando para jusante. Suas muralhas de arenito estavam ensopadas de uma luz de tom dourado-avermelhado, e eram infinitamente altas.

                Um homem esperava por eles; atravessaram o rio em um pequeno barco, ela sentada na popa, até o outro lado. Correram pelo Pedregoso, deixando a forte corrente empurrá-los para lá da Torre da Roda, com o trovejar da correnteza ao seu redor. Abaixo da Torre da Roda descreveram uma curva larga e cortaram as águas agitadas. Os homens puseram os ombros no esforço. O arco largo do Portão da Água surgiu à vista, e Cordyra ouviu o tinir de pesadas correntes quando a grande porta levadiça de ferro foi içada. Ergueu-se lentamente enquanto se aproximavam, e Cordyra viu que a parte de baixo estava vermelha de ferrugem. Os trinta centímetros inferiores pingaram lama sobre eles quando passaram por baixo, com as pontas farpadas a meros centímetros de suas cabeças.

                A fortaleza tinha três lados, como o próprio Correrrio, e um homem familiar veio até ela. Cordyra entregou sua nova espada nas mãos de Jocelyn, que arregalou levemente os olhos com a responsabilidade.

—Lorde Umber. –Cumprimentou Cordyra. –Conte-me.

                O senhor da Última Lareira contou a ela sobre como eles haviam vindo das Gêmeas incógnitos, e como o Regicida havia dividido suas tropas pelas três margens de Correrrio que, quando atacadas pelos homens de Robb, engrossados pelas tropas Mallister, haviam caído desesperadamente numa batalha ganha. Disse que o senhor seu esposo era um estrategista nato, e contou sobre como o seu lobo batalhara ao lado dele, como sua sombra sedenta por sangue.

—Meus dragões nada fizeram? –Perguntou Cordyra.

                Lorde Umber deu de ombros.

—Ficaram no acampamento. Só um deles cospe fogo, e lorde Robb pareceu pensar que não teriam utilidade na batalha.

                Cordyra sentiu um misto de alívio e exasperação.

—Me leve a ele. –Pediu, por fim.

—Estamos em conselho de guerra. –Avisou-a Lorde Umber, mas a levou mesmo assim.

                O conselho de guerra reuniu-se no Grande Salão, em quatro longas mesas de montar dispostas num quadrado quebrado. De um lado havia o que Cordyra imaginou serem os senhores do rio, mas ela não conhecia seus rostos. Os senhores do Norte sentaram-se do lado oposto, com Catelyn e Robb. Eram minoria. Grande-Jon a deixou na porta e sentou-se à esquerda de Robb, e em seguida Theon Greyjoy; Galbart Glover e a Senhora Mormont estavam à direita da tia Catelyn. Lorde Rickard Karstark, com a longa barba por lavar e pentear. Aparentemente já discutiam há algum tempo, e as vozes se elevavam, e depois baixavam, dedos eram apontados e risadas eram compartilhadas.

                Cordyra ficou na porta, nas sombras, onde não era vista. Norte farejou sua mão, e ganiu baixinho quando viu que Vento Cinzento também estava lá dentro.

— Renly não é o rei - disse Robb. Era a primeira vez que Cordyra ouvia sua voz na discussão, e pensou que seu peito fosse se desfazer. Ele deixara a barba crescer um pouco mais, e havia algo nele, nos olhos, que era mais duro que antes.

— Não pode pretender aderir a Joffrey, senhor - disse Galbart Glover. - Ele ordenou a morte de seu pai.

                Algo dentro de Cordyra quebrou-se. Meus dragões, pensou. Desejou que alguém a houvesse dado a notícia antes. Pensou no tio, observando os meninos baterem espadas no pátio, e na recusa dele em deixa-la fazer parte. Mas agora ela tinha uma espada de qualquer forma. A realidade se desfez diante de seus olhos, e quando se ergueu já não era mais a mesma. Quantos pais de crianças a guerra estava levando? Quantos lordes verdes, que jamais haviam experimentado o gosto de uma mulher, ou batido armas de aço, estavam se erguendo?

— Isso faz dele um mal. - Respondeu Robb. - Não sei se faz de Renly rei. Joffrey ainda é o filho legítimo mais velho de Robert, por isso o trono é dele segundo todas as leis do reino. Se ele morresse, e pretendo fazer com que morra, tem um irmão mais novo. Tommen segue na linha de sucessão a Joffrey.

— Tommen não é menos Lannister que o irmão! - Exclamou Sor Marq Piper.

—É como diz - disse Robb, perturbado. - Mas, mesmo assim, se nenhum deles for rei, como pode Lorde Renly sê-lo? Ele é o irmão mais novo de Robert. Bran não pode ser Senhor de Winterfell antes de mim, e Renly não pode ser rei antes de Lorde Stannis.

A Senhora Mormont concordou.

— Lorde Stannis tem a melhor pretensão.

— Renly foi coroado - disse Marq Piper, - Jardim de Cima e Ponta Tempestade apoiam sua pretensão, e os de Dorne não ficarão atrás. Se Winterfell e Correrrio acrescentarem suas forças às dele, teremos cinco das sete grandes casas atrás dele. Seis, se os Arryn se moverem! Seis contra o Rochedo! Senhores, dentro de um ano teremos todas as suas cabeças em lanças, a rainha e o rei rapaz, Lorde Tywin, o Duende, o Regicida, Sor Kevan, todos! Será isto que ganharemos se nos juntarmos ao Rei Renly. Que tem Lorde Stannis contra isso para que ponhamos tudo de lado?

— O direito - disse teimosamente Robb.

— Tem, então, intenção de nos declarar por Stannis? - Perguntou Edmure.

— Não sei - disse Robb. - Rezei para saber o que fazer, mas os deuses não responderam. Os Lannister mataram meu pai por traição, e sabemos que isso foi uma mentira, mas se Joífrey for o rei de direito e lutarmos contra ele, nós seremos traidores.

                Dor e orgulho brigavam furiosamente dentro de Cordyra. Que deuses cruéis haviam tirado seu tio e feito de seu rapaz um homem antes da hora. Mas também foram bons os deuses, porque Robb era o homem certo para liderar os outros.

—O senhor meu pai aconselharia cautela - disse um idoso, com o sorriso de fuinha de um Frey, Cordyra apostaria uma mão nisso. - Esperem, deixem que esses dois reis joguem o seu jogo de tronos. Quando terminarem de lutar, podemos dobrar os joelhos ao vencedor, ou podemos nos opor a ele, conforme seja a nossa escolha. Com Renly armando-se, é provável que Lorde Tywin acolha bem uma trégua... e a devolução em bom estado de seu filho. Nobres senhores, permitam-me que vá conferenciar com ele em Harrenhal e nos arranje bons termos e resgates...

Um rugido de afronta afogou a sua voz.

— Covarde! –Trovejou Grande-Jon.

— Suplicar por uma trégua só fará com que pareçamos fracos –Declarou a Senhora Mormont.

— Que se danem os resgates, não devemos abdicar do Regicida –Gritou Rickard Karstark.

— Por que não fazer a paz? –Perguntou Catelyn.

                Todos os olhares se viraram para a senhora sua tia. Mas era Robb que ela encarava.

— Senhora, eles assassinaram o senhor meu pai, seu esposo. –Disse ele em tom sombrio. Desembainhou a espada e pousou-a na mesa à sua frente, fazendo cintilar o aço brilhante contra a madeira rústica. - Esta é a única paz que eu tenho a dar aos Lannister.

Grande-Jon berrou a sua concordância, e outros homens acrescentaram suas vozes, gritando, desembainhando espadas e batendo na mesa com os punhos. Catelyn esperou até que se calassem.

— Senhores! –Disse ela então. –Lorde Eddard era seu suserano, mas eu partilhei sua cama e dei à luz os seus filhos. Julgam que o amo menos que os senhores? –Sua voz quase se quebrou, mas Catelyn inspirou longamente e sossegou. –Robb, se esta espada pudesse trazê-lo de volta, eu nunca deixaria que a embainhasse até que Ned estivesse de novo ao meu lado..., mas ele partiu, e uma centena de Bosques dos Murmúrios não mudarão isso. Ned partiu, tal como Daryn Hornwood, tal como os valentes filhos de Lorde Karstark, tal como muitos outros bons homens, e nenhum deles regressará para nós. Precisaremos ainda de mais mortes?

— É uma mulher, senhora. –Estrondeou Grande-Jon com sua voz grave. - As mulheres não compreendem estas coisas.

— É o sexo gentil. –Disse Lorde Karstark, com rugas de dor frescas no rosto. - Um homem tem necessidade de vingança.

— Dê-me Cersei Lannister, Lorde Karstark, e verá quão gentil uma mulher pode ser –Respondeu Catelyn. –Eu talvez não compreenda as táticas e a estratégia... mas compreendo a futilidade. Partimos para a guerra quando os exércitos Lannister assolavam as terras do rio, e Ned era um prisioneiro, falsamente acusado de traição. Lutamos para nos defender e para conquistar a liberdade do meu senhor. Pois bem, uma parte está feita, e a outra, para sempre além do nosso alcance. Farei luto por Ned até o fim dos meus dias, mas tenho de pensar nos vivos. Quero as minhas filhas de volta, e a rainha ainda as tem. Se tiver de trocar os nossos quatro Lannister pelas duas Stark deles, chamarei a isso uma pechincha e darei graças aos deuses. Quero-o a salvo, Robb, governando em Winterfell do assento do seu pai. Quero que desfrute sua vida, que segure um filho nos braços. Quero pôr fim a isto. Quero ir para casa, senhores, e chorar pelo meu esposo.

O salão ficou muito silencioso quando Catelyn parou de falar. Cordyra não gostaria de tomar o lugar de sua tia, mas suas pernas já doíam, e ela pensou que talvez fosse a hora de ser vista, então caminhou para dentro do Salão, a sua loba ao seu lado, maior do que fora quando ela e Robb separaram caminho em Winterfell, e os dragões em cada ombro.

Estão discutindo o assunto errado, Cordyra quis dizer a eles. Há males piores que os Lannister invadindo suas terras nortenhas.

                Robb estreitou os olhos levemente, como se não acreditasse no que via, então levantou-se e sua cadeira se arrastou pelo chão de pedra com um estrondo. Ele pareceu como se quisesse sair de trás da mesa e pegá-la nos braços, mas Cordyra sabia bem que os vassalos encarariam como os arroubos de uma criança, então falou antes que ele se movesse:

—Senhores, soube de suas batalhas, de suas perdas. –Disse a todos. –Lamento por elas, e vibro por suas vitórias. –Então virou-se para Robb. –Estou ouvindo há algum tempo, e devo dizer que concordo com minha tia. É protetor do Norte agora, Robb. Peçamos de volta Sansa e Arya, em troca de baixarmos nossas espadas. Nosso lugar não é aqui. Temos apenas o outono agora, antes do Inverno. Três ou quatro colheitas, com sorte. Precisamos abastecer os galpões, e cozer roupas quentes. O Inverno Está Chegando.

                Enquanto falava, Cordyra foi tomando um lugar no conselho. O lugar ao lado de Robb, que geralmente ocupava, não estava vago, mas viu uma cadeira ao lado da tia e se acomodou. A mais velha segurou sua mão enquanto elas esperavam pela resposta às suas palavras.

— Paz - disse Brynden, tio da senhora Catelyn. - A paz é doce, minha senhora..., mas em que termos? De nada serve forjar um arado a partir de uma espada se for necessário forjar de novo a espada no dia seguinte.

— Para que morreram Torrhen e o meu Eddard, se tiver de regressar a Karhold sem nada a não ser os seus ossos? –Perguntou Rickard Karstark.

— Sim. –Disse Lorde Bracken. - Gregor Clegane arrasou meus campos, massacrou meu povo e transformou Barreira de Pedra em uma ruína fumegante. Deverei agora dobrar o joelho àqueles que lhe deram as ordens? Para que lutamos, se pusermos tudo como era antes?

Lorde Blackwood concordou, para surpresa e desânimo de Cordyra.

— E se fizéssemos a paz com o Rei Joífrey, não seríamos então traidores para o Rei Renly? E se o veado vencer o leão, em que situação ficaremos?

— Seja o que for que decidirem, nunca chamarei um Lannister de rei. –Declarou Marq Piper.

— Nem eu! –Gritou o pequeno Derry. –Nunca o farei!

De novo começaram os gritos. Robb estava olhando para ela, mas estava muito longe para que pudessem tocar nas mãos um do outro, na língua silenciosa que sempre haviam compartilhado na infância. Perguntou-se se ele estava pensando nas irmãs, como Cordyra estava. Era sua chance. Levariam Sansa e Arya para casa; era preciso apenas uma palavra de Robb. Além disso, logo ela colocaria no mundo um bebê, para ajudar com a ferida aberta da morte de seu tio.

—Senhores! – Gritou Jon Umber, fazendo a voz reverberar nas traves. - Eis o que eu digo a esses dois reis! –Cuspiu. –Renly Baratheon não é nada para mim, e Stannis também não. Por que haveriam de governar a mim e aos meus de uma cadeira florida qualquer em Jardim de Cima ou Dorne? Que sabem eles da Muralha ou da Mata de Lobos, ou das sepulturas dos Primeiros Homens? Até os seus deuses estão errados. Que os Outros levem também os Lannister, já tive deles mais do que a minha conta. –Esticou a mão atrás do ombro e puxou a sua imensa espada longa de duas mãos. –Por que não havemos de nos governar de novo a nós próprios? Foi com os dragões que casamos, e o único dragão que restou está aqui conosco! –Apontou com a lâmina para Cordyra, então para Robb. - Está ali o único rei perante o qual pretendo vergar o meu joelho, senhores –Trovejou. –O Rei do Norte!

Ajoelhou-se, e depositou a espada aos pés do senhor de Winterfell.

— Aceitarei a paz nesses termos - disse Lorde Karstark. - Podem ficar com o seu castelo vermelho e com a sua cadeira de ferro também - tirou a espada da bainha. - O Rei do Norte! –Disse, ajoelhando-se ao lado de Grande-Jon.

Maege Mormont pôs-se em pé.

— O Rei do Inverno! –Declarou, e pousou sua maça de espigões ao lado das espadas.

E os senhores do rio também estavam se erguendo, Blackwood, Bracken e Mallister, casas que nunca tinham sido governadas por Winterfell, mas Cordyra viu-os erguer-se e puxar as lâminas, vergando os joelhos e gritando as velhas palavras que não eram ouvidas no reino havia mais de trezentos anos, desde que Aegon, o Dragão, chegara para fazer dos Sete Reinos um só... mas agora eram ouvidas de novo, ressoando no madeirame do salão de Correrrio:

— O Rei do Norte!

— O Rei do Norte!

— O Rei do Norte!


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