Parece outro tempo,

Que eu não sei ao certo se realmente existiu.

Existem memórias, lampejos,

Algumas palavras, poucos gracejos.

Algumas marcas, outros devaneios...

Muitas conversas, tantos receios.

Eu percebo que houve uma vida anterior a essa,

E que eu, gradativamente, me esqueço dela.

Talvez por ser a apoteose de meus medos,

Ou a ocultação sutil de alguns desejos.

Amigos de uma vida inteira parecem passageiros...

Como se essa realidade fosse outra,

E a vida, que agora vivo, não estivesse relacionada à anterior.

Onde houve diferentes métodos e caminhos para o amor...

Mas, ah, a dor, nessa há dor.

Talvez seja um doce sabor amargo que outra boca me deixou,

Pois ela já deu o mel e eu não fui ousado suficiente para provar;

Sequer guardar e levar um pouco comigo.

Deixei morrer amigos, renascer inimigos,

Esquecer segredos e sonhos íntimos.

Tudo para recomeçar...

Não me dei conta que perdia tudo isso com o passar

Dos dias.

Só fui entender tudo isso agora, passado-se tanto tempo...

Como folhas, como vento;

Como folhas ao vento.

Entendo que aquilo foi juventude, uma época bela...

Que eu devia ter aproveitado, onde eu devia ter errado.

E encontrado nos erros, alguns acertos.

Alguns arranhões, algumas cicatrizes;

Talvez um coração partido,

Sentimentos infelizes, uma sina em crise.

Aquilo era um teste para a vida,

Mas eu pulei essa fase e, hoje, recordando essas memórias,

Que parecem de outra vida, eu vejo,

Com alarde e preocupação que eu não vivi do jeito certo.

Deixei que eles me guiassem na contramão...

E perdi toda a magia que devia ter poupado,

Entregando-a a ansiedade e ao medo de reprovação.

~Gabriel.