Horizon: Nemesis Burst escrita por lohanacarter


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Prontos para encarar Ted Faro?



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“Somptow disse que o reator pode me dar o que eu preciso pra me fortalecer de novo. Pra me recompor, e assim poder saudar as crianças. 

Vão precisar de mim. Dos meus conselhos. Da minha orientação. E aí não estarei mais sozinho.”

— Ted Faro

 

Com o arco preparado em mãos, Aloy caminhou lentamente na direção da imagem que vira no foco. Não deu pra ver muito mais do que uma sombra roxa, mas ela sabia que era grande. E perigoso. Seria possível mesmo que aquela coisa tivesse emitido um sinal para Gaia? 

Talvez não fosse possível salvar Ted Faro. Aloy achava que talvez só pudesse dar logo fim ao seu sofrimento milenar e deixá-lo descansar, depois de viver mil anos como um monstro enjaulado. Não que ele não merecesse, mas era horrível pensar em alguém condenado a viver assim. Já que estava lá, faria isso.

Então ela viu.

Era uma espécie de máquina, mas ela parecia defeituosa. Os membros inferiores eram muito mais finos que o resto do corpo, o que dificultava para que aquilo se movesse. Tinha pelo menos três metros e meio de altura, e soltava grunhidos que lembravam a Aloy sons de choro. Seria possível?

Ted Faro estava… Chorando?

Aloy sentiu a respiração falhar e o coração disparar diante da ameaça. Não sabia como abordá-lo. Se ele ainda tivesse consciência, talvez não devesse feri-lo. No entanto, se ele fosse uma máquina destrutiva, o elemento surpresa a ajudaria. 

Droga, o que deveria fazer?

Ela analisou a aberração. O foco fez a leitura e lhe deu as informações que precisava: ele era vulnerável a munição envenenada. Indo além, analisou as peças. Haviam várias, mas uma em especial lhe chamou a atenção.

No centro da máquina, havia um cilindro do tamanho de uma pessoa. Estava protegida por outras travas, que também eram peças removíveis. Se ela atirasse nas travas, poderia derrubar o cilindro. Eram, no total, doze. Seis de cada lado. Não seria nada fácil.

Mas o interessante é que ela conseguia ver que havia uma pessoa dentro do cilindro. Um homem. Se estivesse certa, a máquina era a carcaça que o protegia. Por algum motivo, Faro não conseguia mais sair. A carcaça havia tomado conta dele, e ele havia praticamente se tornado uma máquina ao decorrer de todos aqueles anos. 

Bem, ela precisaria atacar então. Esperava que ele entendesse que ela estava ajudando e a deixasse tirar as travas problemas. Respirando fundo para se acalmar, Aloy destacou as doze travas através do Foco. E então atirou a primeira flecha.

A flecha acertou, mas não foi suficiente para derrubar a trava. Ela tremeu, indicando que poderia ser removida. Mas isso também chamou a atenção de Ted Faro, que se virou na direção dela e rugiu.

— DROGA! — berrou Aloy, em posição de ataque. Certo, aquilo seria uma luta então. — Estou tentando te ajudar, Ted, mas que droga!

A máquina não respondeu. Apenas atacou. Aloy teve dúvidas se ele emitira mesmo o sinal, porque não parecia estar consciente. Mesmo assim, Aloy manteve seu plano: atirar flechas de ácido nas travas para, assim, derretê-las e tornar aquela luta mais fácil.

A sorte era que, com membros inferiores tão finos e um corpo tão pesado, Ted Faro era lento. Seus ataques eram pesados, mas não era difícil desviar deles. Ele ergueu a grande pata e atacou, Aloy rolou pelo chão e ele acertou uma das estruturas da sala, fazendo o ambiente tremer. 

— Pare com isso, idiota! — ela gritou, acertando mais uma flecha de ácido. Até aquele momento, havia conseguido derreter três das doze travas. — Você vai derrubar tudo e nos soterrar aqui.

Aloy falou aquilo sem intenção alguma de ser ouvida, mas o que veio em seguida a surpreendeu: a máquina ficou estática. O brilho vermelho de seus olhos deu lugar a uma luz azul, e virou-se pra ela.

E falou. A máquina falou.

— Lis? — era uma voz metálica, mas inconfundivelmente era voz de Ted Faro. Os sons de choro voltaram, e Aloy fico estática, mortificada com o que estava presenciando. — Por, favor… Lis, me ajude. Está doendo… 

Ele ainda tinha consciência.

Mas aquilo não demorou muito, e os olhos vermelhos indicaram a Aloy que era novamente a máquina assassina, e não Ted Faro, que estava no controle. Porém, aquilo havia lhe dito o que ela precisava saber: Ted Faro estava vivo e consciente, mas sofrendo dentro daquela coisa. E não conseguia manter o controle por muito tempo.

Ela precisava derreter aquelas travas antes que fosse tarde e os dois acabassem soterrados lá embaixo.

Sem tempo para o choque, Aloy trincou os dentes e voltou a atirar. Mais duas travas corroídas; faltavam sete. Faro atacou mais uma vez, e Aloy desviou atirando mais duas flechas. Tinha que agradecer a Rost por ter sido tão insistente em melhorar sua mira. 

Faltava pouco.

Quando havia tirado mais quatro travas, faltando apenas mais uma, a máquina a encurralou, jogando-a no chão e aprendendo. Aloy pensou que esse seria seu fim, mas no último instante, a consciência de Ted Faro voltou a se projetar e a máquina parou de atacar.

Agora, Lis! Acabe com isso agora! 

Ela não fez perguntas. Atirou sua última flecha.

O cilindro caiu. E a máquina se desfez em pedaços.

***

Aloy precisou se recuperar antes de se levantar. Seu coração estava a mil. Não podia acreditar no que tinha acabado de presenciar, parecia mais um pesadelo! Mas ela se lembrou que precisava tirar Ted Faro do cilindro, verificar se ainda estava vivo. Sentando-se no chão, Aloy controlou a respiração e buscou o canal de Beta pelo Foco.

— Beta — ela chamou, arfando. — Preciso de você aqui agora.

Estou indo! Você está bem?

— Estou viva. Não dá tempo pra explicar, você precisa correr pra cá.

Beta nem discutiu; apenas desligou. Aloy buscou pelo cilindro de Ted Faro e correu até ele, procurando uma forma de abrir. O que não foi difícil visto que eram as travas que ela havia destruído que realmente faziam o trabalho de mantê-lo fechado. 

Ela sabia o que ia encontrar lá dentro, mas foi chocante mesmo assim. Ted Faro escorregou para fora, do que parecia ser um tanque de criogênio. Ele estava nu e gelado, e parecia morto. Porém, Aloy ouviu os batimentos de seu coração e soltou um suspiro aliviado. Ainda estava vivo.

— Aloy! — ouviu a voz de Beta chamá-la. Não foi surpresa nenhuma  quando ela parou e encarou Ted Faro, chocada. — Então era mesmo ele?

— Sim. Estava vivendo dentro dessa máquina — ela apontou a máquina deformada destruída. — Acho que ele ficou trancado lá dentro e não conseguiu mais sair. Você acha que ele vai sobreviver?

Beta se ajoelhou ao lado de Aloy e ativou o Foco.

— Batimentos cardíacos estáveis… Órgãos vitais em funcionamento — analisou Beta. — Ele parece bem. Não sei como isso funcionava, mas o manteve vivo.

— Então ele é imortal, como os Zeniths — concluiu Aloy.

Beta crispou os lábios.

— Não sei dizer. Não vejo a mesma mudança nos tecidos dele, estão diferentes de um ser humano normal, mas não é como os Zeniths — explicou. — Eu precisaria estudar um pouco mais. De qualquer maneira, ele não vai morrer.

— Isso é bom — respondeu Aloy. — Ele pode ser um cretino, mas é um cretino que pode ter as informações que precisamos.

***

Os cinco soldados Quen acabaram sendo úteis. Depois do choque inicial de todos eles ao verem mais um Ancestral vivo, ajudaram Aloy e Beta a encontrar algo para enrolar no corpo nu de Ted Faro e carregá-lo para fora. Não foi exatamente uma tarefa fácil, precisaram abrir um caminho maior do que o pequeno túnel pelo qual tinham entrado, mas conseguiram sair. 

Em Terrafirme, Aloy conteve o desejo de revirar os olhos quando o povo se emocionou com a chegada do “Homem que salvou o mundo”. Algumas mulheres correram para encontrar roupas para vesti-lo, e os curandeiros o levaram para uma tenda para ajudá-lo a se hidratar. 

Quando disseram que ele estava estável, Aloy entrou dentro da tenda. Ted Faro dormia tranquilo, com a respiração estável, e ela teve vontade de acordá-lo com socos e pontapés ao vê-lo tão tranquilo mesmo depois de todo estrago que havia causado. Primeiro a Praga Faro, depois apagar Apolo e manter a nova geração de humanos na ignorância.

Era uma tremenda cara-de-pau. Ainda por cima havia feito aquela gravação dizendo como ele seria importante naquele novo mundo, claramente esperando ser uma espécie de deus, esperando ser adorado pelos novos humanos. Como era narcisista e mesquinho…

Seus pensamentos foram interrompidos pelos gemidos de Ted Faro acordando. Ela se virou para ele, e viu o choque nos olhos dele quando a viu. Faro ficou boquiaberto, olhando-a da cabeça aos pés, como se não acreditasse no que estava vendo.

— Lis? —ele murmurou, chocado. — Meu Deus, Lis… Você sobreviveu e… — ele arqueou uma sobrancelha. — Parece até que rejuvenesceu.

Aloy conteve a vontade de rir. Ele achava que ela era Elisabet.

— Então não foi um sonho — ele sussurrou, passando as mãos pelo colchão de palha que estava deitado. — Você realmente me salvou. Me tirou de dentro daquela máquina.

Aloy assentiu, e se aproximou. Ela se agachou diante dele, analisando-o. Ele estava exatamente igual ao que ela vira nos hologramas que o vira antes. Não envelhecera um único ano. 

— Como aquela máquina engoliu você? — perguntou. — Ela te controlava?

— Acho que eu falhei, de novo, em produzir uma máquina que me obedece — ele riu sem humor. — Por um tempo, apesar das mudanças que ela vinha fazendo no meu corpo, eu ainda conseguia controlar. Mas, um dia… Ela simplesmente parou de me responder. Me trancou lá dentro.

— E ela tinha acesso a tudo, inclusive sua consciência — concluiu Aloy.

— Eu conseguia, algumas vezes, estar no controle da minha consciência — ele explicou. — Mas parecia que eu estava vivendo em um sonho, num corpo que não era meu. Quando eu te vi, achei que estava sonhando.

— Mas você emitiu um sinal de alerta para Gaia — pontuou Aloy. — Como?

Faro juntou as sobrancelhas, parecendo tentar se lembrar.

— Não sei direito. Eu me lembro de ter visto pessoas. Tentei me comunicar, mas eles tentaram me matar — ele sussurrou. Aloy observou que isso parecia deixá-lo deprimido. — Mas saber que haviam pessoas me deu esperança. Então, tentei buscar um canal de comunicação todas as vezes que eu estava consciente, ao invés da máquina. E acho que encontrei um canal. Não sabia o que era, apenas busquei ajuda.

Aloy assentiu. Ela não conseguiu evitar de sentir pena. Mesmo que Ted Faro fosse a pessoa odiosa que era, era triste uma pessoa viver tanto tempo como ele havia vivido. Sozinho, engolido por uma máquina, sem saber o que era real ou fantasia. Muitas vezes, nem sendo ele mesmo.

— E você, Lis? — ele perguntou, curioso, esticando o pescoço na direção dela. — Como sobreviveu? E porque está tão… Jovem?

Aloy abriu a boca para responder, mas foi interrompida por Beta, que entrou naquele momento.

— Aloy, vim ver como… Ah, ele acordou.

Os olhos de Ted Faro se arregalaram tanto que Aloy pensou que iria saltar das órbitas. Demorou alguns segundos para que ele finalmente conseguisse colocar o cérebro para processar e entender o que estava acontecendo.

— Clones! — ele exclamou. — Lis fez clones de si mesma. Quando?

— Tem muita coisa que você não sabe — disse Aloy. — Basta dizer que eu fui feita por Gaia para consertar o sistema de Terraformação quando ela se destruiu, e Beta foi criada pelos membros da Far Zenith, enquanto eles voltavam para a Terra.

— Espera… — ele ergueu as sobrancelhas. — A Odisseia não explodiu? Como assim, consertar o sistema de Terraformação? 

— Eles mentiram… Enfim, você vai ter tempo pra assimilar tudo — respondeu Aloy, sem paciência. — Olha aqui, Ted, eu não te trouxe aqui pra brincar de ser deus. Eu te trouxe aqui porque precisamos da sua ajuda. É o mínimo que você pode fazer, depois de ter apagado Apolo e deixado a gente na ignorância.

Ted Faro teve a decência de parecer envergonhado com a acusação de Aloy, e isso só fez ela sentir mais raiva. 

— Eu faço o que quiser, Lis… Aloy — ele se corrigiu, lembrando-se de como Beta havia lhe chamado. — É só dizer, e eu faço.

Ela achava difícil confiar nele, duvidava que ele faria tudo que ela dissesse, mas ela teria meios de controlá-lo. Porém, foi Beta quem se aproximou e olhou para ele, bastante séria.

— O que você sabe sobre transcendência digital?


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Notas finais do capítulo

Será que o cretino vai ser útil ou vai dar mais problemas pra Aloy? Vejo vocês no próximo capítulo, espero que gostem ♥



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