Além Do Que É Divino - Volume 01 escrita por Malli


Capítulo 9
Criando A Imagem Mental(Parte 2)




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As aulas enfim acabaram!!! Além da conversa com a Omori, hoje foi um dia sem incidentes, estou feliz por ter chegado ao fim. Pegando minha mochila, deixo a sala ao lado de Ren e Tatsuo. Caminhamos pelos longos corredores repletos de estudantes, em direção à entrada do prédio. Os dois estão falando com entusiasmo sobre um novo filme de terror que sairá dentro de três meses, parece que ambos são grandes fãs de uma das atrizes que estrelarão no filme. Eu me contento em somente ouvi-los. Quando estamos saindo do prédio, eu me empurro para o meio da conversa.

—Tenho que dar uma notícia sacudidora. Hoje não vou poder sair com vocês dois.

—Como assim e por qual motivo?

—É! O que você está balbuciando aí? Por acaso isto poderia ser interpretado como sinónimo de que você não está desfrutando de nossa companhia? Mas como você pode insinuar isso de forma tão cruel, Ikuto?!

Tatsuo agarra a minha camisa enquanto seus olhos úmidos vibram, leves lágrimas brotando neles.

—Não estou insinuando nada, eu só tenho um compromisso! Cara, não seja uma rainha do drama.

—Compromisso?

Os dois patetas murmuram ao mesmo tempo em desconcerto. Nem mesmo três segundos depois, suas expressões confusas se dissipam e sorrisos maliciosos desabrocham em seus rostos. Uwoh, isto não pode ser bom.

—Um compromisso, hein? Parece um pouco suspeito. Quem é a pessoa com quem você vai se encontrar? Uma garota por acaso?

Meu rosto fica um pouco vermelho por causa da precisão do chute do Tatsuo.

Por que ele é tão bom em acertar quando se trata de mulheres? Se ao menos ele fosse assim para outros assuntos, minha vida seria muito mais fácil.

Conforme eles viam o estado de inconstância em que me encontro, ambos soltaram um risinho fervoroso.

—Ah garoto malandro, arranjando uma namorada antes de nós, né, seu grande garanhão! Quem é a garota sortuda?

—Pare de fazer suposições absurdas e sem fundamento! É que eu peguei o caderno de anotações da Omori emprestado e acidentalmente trouxe comigo, só à pouco me lembrei que tenho de devolvê-lo.

 

—Haha! Não se engana um especialista do amor.

—Desde quando um idiota como você é conhecedor de amor? Estou te afirmando a verdade!

—Você não tem que ser tímido e esconder isso de nós.

—Nós entendemos, e isso não é uma coisa boa também? Você vai ficar sozinho com a garota por quem você tem uma grande paixão, uma chance como essa cai sobre um homem uma vez na vida, então não a desperdice.

Eu abaixei minha cabeça e respirei fundo, oprimindo meu impulso para esbofeteá-los na parte de trás da nuca. Estes dois nunca me dão ouvidos, por isso tenho o ponto de vista de que tentar dar uma explanação não serviria.

Ainda assim, é gratificante ver o quanto eles me apoiam, somos como irmãos que sempre terão as costas um do outro e eu realmente amo e prezo nosso vínculo de longa data.

—Quero ouvir todos os detalhes depois, está bem? Você não vai escapulir.

—O que você é? Uma garotinha querendo saber as últimas fofocas quentes?

—Mantenha em mente para levar um preservativo contigo, Ikuto. A proteção é importante, eu também acredito que você não aprecie muito a ideia de virar pai tão cedo. Então, até logo!

—Calem essas bocas e vão embora logo, seus idiotas!

Sem prestar atenção ao meu insulto, os dois riram na cara dura para mim e se retiraram da escola. Eu vou em direção ao portão e me encosto à parede ao lado dele. As palavras de Ren grudadas na minha cabeça como cola.

Vou ficar sozinho com Omori e, além disso, vou até a casa dela.

Maldição! Por que meu coração insiste em bater tão rápido? Eu não deveria me sentir assim só porque estarei a sós com uma garota! Não estou mais na escola primária nem no ensino fundamental onde estas reações infantis são comuns, estou no meu último ano do ensino médio! Quase um homem adulto já porra!

Conforme meus pensamentos giram em uma correria ardente, uma pequena mão bate no meu ombro. Tomando outro gole de ar para acalmar meu coração pulsante, viro-me para ver Omori, suas órbitas azuis cristalinos irrompendo minha vista.

—Desculpe, eu o fiz esperar muito tempo?

—Não é preciso toda apoquentada por causa disso, acho que estou aqui há mais de dois minutos? Provavelmente menos do que isso.

Seu rosto fofo tem seus traços suavizados, a mitigação transbordando.

—Ainda bem, não sou fã de deixar alguém esperar. Então, devemos ir, Ikuto-kun?

Eu apenas permito um ligeiro 'uhum' escapar pois não tenho muito a dizer.

Passamos a avançar um ao lado do outro pelas ruas que dentro de algumas horas serão banhadas pela luz laranja do pôr-do-sol. Devo tentar engajá-la em uma conversa para matar o tempo? Uma noção válida, além disso, estou ansioso para fazer uma pergunta a ela.

—Diga Omori.

—Sim?

—Por que você me chama pelo meu primeiro nome? É verdade que estamos na mesma classe, mas não somos amigos íntimos.

Ela levou uma mão fina próxima a seu ombro e ficou encaracolando um fio de seu cabelo roxo, esse movimento a tornou ainda mais bela.

Estar apaixonada é duro, mesmo o mais simples dos atos parece ser a coisa mais preciosa. Um clamor a todos os meus camaradas passando por tempos difíceis em suas vidas amorosas lá fora!

—Não gosto de formalidades, então prefiro chamá-lo pelo primeiro nome, mas caso isso o incomode, posso parar de fazê-lo e me dirigir a você pelo sobrenome.

Meus ombros encolheram em despreocupação.

—Não me importo que você me chame de Ikuto, mas, por favor, sem sufixo, e também quero chamá-la pelo seu primeiro nome.

—Huh?

—Essa proposta não é do seu agrado?

Ela abana a cabeça em resposta.

—Não me importo de jeito nenhum.

—Que maravilha! - Eu chilreio para ela.

A quietude das ruas vazias nos abraça, mas ao contrário da primeira vez que nos encontramos há mais de um ano, não estou suficientemente nervoso para suar litros ou para incrementar minha ansiedade, creio que construí uma resistência a isso, felizmente.

—Queria te perguntar algo já que estou curioso.

—Ninguém está impedindo que você se pronuncie.

—Eu sei, então, como você descobriu onde eu moro... Aika?

Aika olha para mim com uma expressão em branco.

—Ikuto, por acaso você já esqueceu que eu sou uma maga?

É, Errada ela não está. Por que eu pensei em uma pergunta tão estúpida! É claro que ela deve ter usado um feitiço...

—Indagação besta por mim, a resposta é óbvia, foi mal.

—Nah, só estou zombando de você. Sua carteira estava jogada em um canto no chão, revistei ela e encontrei seu documento de identidade, havia lá uma nota com seu endereço, você a fez justamente para situações iguais as de ontem e em que você a perdesse, não? Claro, tirando toda a parte de ter sua vida por um fio contra um ser demoníaco.

—Haha, você é uma brincalhona das grandes, talvez fosse bom levar em conta ter uma carreira dando shows de stand-up.

Alcançamos o cruzamento que atravesso todos os dias quando saio da escola com meus dois amigos panacas. Aika e eu tomamos a esquerda e prosseguimos nosso percurso. Pouco tempo depois, a garota parou em frente a uma casa branca. Aparenta ser grande, mas não superdimensionada, uma boa casa para uma família de 4 ou 5 pessoas viverem, dando uma imagem de aconchego.

Passamos pelo pequeno portão prateado. Em frente a entrada, Aika puxou uma chave dourada de dentro de sua bolsa e abriu a porta de madeira calcária. Ela entrou primeiro e eu segui logo atrás.

Por dentro, a casa parece ainda maior do que de uma vista externa. As paredes dos corredores são brancas e as da sala de estar têm uma tonalidade verde escura, um sofá preto está no centro, e em frente a móvel está uma mesinha transparente. Uma TV que deve ter 50 polegadas foi fixada na parede. Compacta à sala de estar, uma pequena cozinha com pia de aço inox e armários e prateleiras de vidro é visível.

—Sente-se um pouco Ikuto, você pode se sentir à vontade aqui.

Fazendo o que me foi pedido, eu me sento no sofá e noto o quão confortável ele é.

—Obrigado por me receber. E onde está o cachorrinho que salvamos ano retrasado? Você não o acolheu?

—Você ainda se lembra? Isso me deixa um pouco feliz. Lamentavelmente, eu tive que dá-lo para adoção. Quando se trabalha como uma maga, é difícil ter tempo para um animal de estimação.

—Devia ter adivinhado.

—Vai querer algo para beber? Água? Suco? Chá?

—Um copo de água está bom.

Ela assentiu suavemente e foi para a cozinha.

Esperando seu retorno, eu vasculho o quarto com meus olhos, pousando em um retrato em uma prateleira branca. Na foto, uma Aika de uns 2 ou 3 anos de idade está sendo segurada por um homem por volta dos trinta anos.

Além da coloração do cabelo, os dois são incrivelmente parecidos, então a única presunção a ser feita é que ele deve ser o pai dela.

Durante a observação da foto, senti o sofá afundar um pouco ao meu lado, logo, uma mão segurando um copo frio aparecesse em meu campo de visão.

—Aqui está.

—Muito obrigado.

Trago o copo à boca e tomo um pequeno golo.

—Então, este homem na foto, ele é seu pai?

—Ele é, nós somos muito semelhantes, não somos?

—De verdade, posso ver alguns traços dele em você, principalmente os olhos. Ele parece ser um bom homem.

O rosto de Aika assume uma expressão sombria, um minúsculo sorriso melancólico se arrasta por seus lábios.

—É verdade, ele era, sem dúvida, um grande homem e um pai incrível.

Ela está usando o passado quando se refere a ele, o que mostra que ele definitivamente não está vivo. Droga, estou pisando em cascas de ovos agora mesmo. É melhor ficar quieto, se eu tagarelar demais posso machucá-la sem intenção.

Termino minha água em um único gole e ponho o copo em cima da mesa.

—Por que você me trouxe para sua casa?

Esta pergunta parece tê-la tirado de qualquer transe em que ela estivesse.

—Você sempre vai diretamente ao assunto principal, não é, Ikuto?

Eu me contento em encolher de ombros desdenhosamente para enfatizar o que estou prestes a dizer.

—Só acho que é melhor não se desviar muito do tema principal.

—A frontalidade é uma qualidade sua que estou começando a apreciar muito, sabe, é um ponto atraente.

Sinto que meu rosto começa a queimar com seu elogio. Acho que ela mesma não percebe que está sendo muito direta, apenas em um sentido diferente da palavra.

—Por um acaso não há nenhuma sensação de vergonha em você ao dizer este tipo de coisa?

—Sinto muito, mas vergonha é uma palavra que não se encontra no meu dicionário.

Eu cubro meu rosto com as duas mãos em exasperação. Aika deixa sair um último riso antes de recuperar sua expressão séria.

—Deixe de lado a conversa fiada Ikuto, você está realizando o contrário do que disse antes. Eu o trouxe aqui por duas razões, primeiro para que possamos marcar um horário para patrulharmos a cidade, e segundo para que eu possa ajudá-lo em aprender a usar sua energia divina.

—Utilizar a energia divina?

—Sim, ou você acha que eu o impeliria a patrulhar a cidade com seu nível atual de força?

—Bem...

Na verdade, era exatamente essa ação que eu pensava que ela tomaria..

—Ouça bem Ikuto, não querendo parecer maldosa, mas já sendo, você seria apenas um peso morto. Eu não tenho o menor desejo de ter que salvar sua pele o tempo todo, esta é a melhor alternativa.

Ai! Sinto meu coração sendo trespassado por facas e lanças invisíveis.

Palavras que são ásperas e afiadas, mas que são verídicas. Eu abraço esta realidade com pesar.

—Me diga, o que você pretende fazer e de que maneira? Exceto por ontem, eu nunca usei a energia divina.

—Simples, te darei algumas instruções e quero que as siga à risca, está bem?

—Certo.

—Bom, primeiro feche os olhos e inspire e expire profundamente em um ritmo que lhe pareça satisfatório.

Renitentemente, eu faço o que me é mandado.

—Agora quero que você visualize inúmeras válvulas em seus braços, quando for capaz de imaginar isto, levante a mão direita.

Válvulas? Que tipo de instrução de bosta é essa? Confesso que é algo incomum, mas soa tão estúpido..... Eu quero expressar meu descontentamento, mas ela se mostra tão séria... É melhor eu me resignar e seguir as instruções dela sem ficar raciocinando cada uma.

Eu me concentro o máximo que posso e em poucos minutos consigo moldar uma imagem perfeita em minha mente enquanto levanto a mão.

—Finja que você está abrindo uma das válvulas a um ritmo lento, deixando passar só uma pequena explosão de vapor.

Não dou nenhum sinal de resposta, mas em minha imagem mental, eu faço exatamente de acordo.

—O vapor está sendo liberado, você pode senti-lo, não é mesmo?

Eu dou um pequeno sinal de que sim.

—Suponha que seus braços são canos pelos quais o vapor fluirá, enviando-o para apenas um de seus braços.

Na minha mente, vejo o cano dentro do meu braço, o vapor começa a entrar nele. É um pouco estranho, até parece que meu braço está mais sensível e fosse dominado por um formigamento, ficando dormente pouco a pouco.

—Abra seus olhos gradualmente, mas mantenha-se concentrado e não perca a imagem que você construiu.

Suavemente, eu os abro e comprovo como um pequenino brilho ganhou vida na minha mão, sua cor é esbranquiçada, delineando meu punho. Ficando bastante animado com o que estou vendo, dou um largo sorriso, que desaparece assim como a luz do meu punho cintila e depois desvanece da existência.

—Não! porcaria, brilha de novo!

—Calma, não foi um resultado ruim, na verdade, estou bem impressionadoa que você foi capaz de acumular sua energia com sucesso, mesmo sendo uma soma medíocre, ainda é uma tarefa difícil, então fazê-lo durante sua primeira vez é incrível.

—Não sei se devo me sentir grato ou incomodado com seu comentário.

Ela me ignora como se eu não tivesse dito nada em primeiro lugar.

—Faça-o todos os dias por pelo menos uma hora, depois de pegar o jeito, você não precisará mais usar imagens mentais, acumulando e usando sua energia divina será instintivo e tão fácil quanto respirar.

—É sério? Isso é ótimo! Mas você sabe, me dizendo para imaginar uma válvula? Eu tinha visto em alguns shows de TV e mangás mestres instruindo seus discípulos a se enxergarem como um riacho ou uma rocha, mas esta é a primeira vez que ouço alguém dando válvulas como exemplos, esquisito, mas deu resultado.

—Shush! Eu sei que poderia ter usado outros exemplos, mas esse da válvula me foi ensinada por uma pessoa querida e funcionou bem para mim quando eu era uma principiante no aprendizado de controle da mana, você tem é que ser grato.

Hmhm, então alguém importante em sua vida foi quem lhe ensinou isso, hã? Interessante.

Aika dá uma tosse que, do meu ver, soa dolorosamente falsa.

—Esqueça, com o acúmulo de energia já testado, quero verificar mais uma coisa.

—E isso seria?

Ela sorri presunçosamente, levanta-se do sofá, bate levemente a saia para desenrugá-la, e sai para o corredor.

Eu sento em silêncio, olhando para ela até que ela se vira para mim com um giro e uma sobrancelha levantada.

—Pretende ficar sentado aí? Você deveria me seguir.

Desnecessário dizer que saí prontamente do sofá e caminhei atrás dela. Tentei colocar meus olhos em qualquer lugar, exceto em seu traseiro bem desenvolvido. Ainda bem que os professores e o corpo docente vetaram o primeiro desenho do uniforme feminino, a saia deveria ser mais curta do que o normal e bem ajustada ao corpo das meninas.

Um modelo como esse seria ilegal em outras escolas, mas nosso colégio tem aquele velho pervertido do Saizou como diretor, ele foi inflexível e determinado a criar um uniforme que contivesse uma aura erótica. Como aquele velho tarado foi autorizado a conseguir um emprego como educador é praticamente um enigma.

Mesmo com as saias das meninas atualmente sendo niveladas no joelho, a visão clara das pernas cremosas e do rabo firme da Aika ainda é proeminente! O que não é nada mal, mas torna mais difícil se concentrar em qualquer coisa além disso.

Nós continuamos a seguir em frente. Diante de nós, uma porta preta com linhas prateadas correndo verticalmente para baixo podia ser vista. Aika virou a maçaneta e abriu a porta. Uma longa escadaria seguia para baixo, a escuridão que a envolve me faz ter a impressão de que não há fim à vista. Não proferindo palavras, Aika foi descendo os degraus comigo indo logo depois dela.

Na moral, acho que já se passaram cinco minutos desde que iniciamos a nossa descida e, por incrível que pareça, ainda não há indicação de que estamos chegando ao fim. Mas não me darei ao trabalho de levantar nenhuma reclamação, tenho certeza que o lado jocoso desta garota decidirá se manifestar e sei que ela, de alguma forma, conseguirá me provocar ou me ridicularizar. Às vezes, o silêncio é a solução do sábio.

Por fim, após mais três minutos inteiros de escuridão sem limites, chegamos ao que só pode ser o fim da escadaria.

Não sei onde estamos, mas ouço um som baixo, quase como um motor que começa a ganhar força. De repente, luzes brilhantes clarearam o lugar que até agora estava escuro como breu.

Eu reflexivamente coloco minha mão na frente do meu rosto e só a retirei depois de me acostumar com a claridade.

Meus olhos se alargam diante do que vejo.

—Mas o que....?!

Um espaço gigantesco está bem na minha frente. Deve ter pelo menos setenta metros quadrados, o piso é completamente liso, refletindo a luz de várias lâmpadas que antes me haviam cegado. Em um canto, posso ver uma pilha de sacos de pancada destruídos, todos com furos em forma de punhos ou pés. Estas são todas as pistas que preciso para entender que a Aika é uma poderosa lutadora.

— O que achou? Curtiu? Esta é minha sala de treinamento pessoal.

—Sala de treinamento? Você não pode chamar isto de sala! É imenso! Por acaso este é o estádio nacional do Japão? Como isso é possível?!

—Ufufufu é o segredo de uma mulher~♪♪♫, então eu não posso revelar essa informação!

—Vai ser assim é? Mas afinal, por que estamos aqui? - Os lábios dela estenderam até as pontas de seu rosto em um sorriso jubiloso.

—Você sabe Ikuto-kun, eu ouvi dizer que você aprendeu a lutar com seus pais e que você é um grande artista marcial. Um dos melhores pelo que pude reunir em torno do recinto da escola.

Sua voz é doce demais para o meu gosto...

Tenho um mau pressentimento sobre isso.

—A, acho que sim?

—Por isso a euzinha aqui estava pensando que esta é uma boa oportunidade para testar suas habilidades de luta.

O sorriso no rosto dela me dá arrepios, não é doce ou brincalhão, é um sorriso ameaçador, sinto-me como se estivesse na mira de um predador, um rato encurralado por um gato.

—A-Aika-san? Não podemos falar sobre isso?

O seu sorriso se alargou ainda mais (se isso for humanamente possível), e ela entrou em uma posição de luta.

—Não! Agora chega de conversa, é melhor estar preparado porque eu vou ir com tudo o que tenho, Ikuto...!!!!

Gritando no topo de seus pulmões, Aika corre a toda velocidade para mim, aparecendo na minha frente em um nanosegundo. Antes mesmo que eu possa dar um passo, ela gira e me bate com a palma da mão direita. O ataque se conecta com meu peito e eu perco momentaneamente o fôlego. A força do golpe é tão grande que sou jogado para trás e aterrisso de costas no chão duro.

Como era de se esperar, ela é realmente boa, até hoje eu nunca tive problemas contra meus adversários, sejam eles artistas marciais talentosos dos torneios dos quais participei, delinquentes semelhantes aos do dia em que conheci Aika ou mesmo lutadores de rua, mas esta garota.... ela me iguala em técnica!

Gemendo de dor, eu olhei para cima e vi Aika saltando no ar, com a perna esquerda levantada acima da própria cabeça. Antes que o chute me acertasse, eu me virei para trás e acabei terminando em uma posição agachada.

Essa garota.....! Será que ela esqueceu que está usando uma saia?! Eu já venho tendo alguns vislumbres da calcinha dela (que por sinal são vermelhas, escolha bem atrevida) ao longo de nossa luta.... Estou atônito por ela ainda não ter descoberto um detalhe tão aparente. Vou deixar isso de lado por enquanto, este não é o lugar nem a hora certa para que eu me preocupe com tais tolices.

Me ergui o mais rápido possível, ainda desconfiado da Aika.

Ela mais uma vez se dirige a mim, apontando um chute lateral para o lado direito da minha cabeça. Abaixo meu corpo enquanto coloco uma mão no chão e mando um chute giratório que é facilmente contornado.

Apertando os músculos das minhas pernas, eu salto de volta para manter uma distância segura entre nós.

—Eu estou surpresa, não pensei que você pudesse lutar no meu nível, é de se admirar.

Aika me felicita, sua linguagem corporal mostra soltura. Admito que, embora ela me elogiasse tão preguiçosamente, eu ainda estava encantado.

—Não posso dizer o mesmo porque já sabia que você era uma grande lutadora, mas quem teria pensado que seu principal estilo de luta seria Bajiquan? É difícil encontrar alguém que pratique esta arte marcial, embora eu também tenha notado outros estilos em seus movimentos.

Ela ri com bom humor.

—Você é realmente uma pessoa observadora Ikuto, mas o que diz é certo. Baji pode ser minha principal arte marcial, mas eu tenho maestria em vários estilos.

—Que coincidência engraçada.

Aika pôs sua cabeça para o lado em confusão.

—Coincidência?

—Eu também fui ensinado vários estilos, o que significa que somos iguais.

—Oh, então era a isso que você se referia? Acho que é uma coisa boa de se saber, pois assim você não vai poder reclamar da minha vitória, dando razões estúpidas como "só perdi porque não aprendi tantos estilos de combate como você" ou qualquer outra desculpinha esfarrapada.

Cara, eu posso ter um paixão por essa garota, mas esse lado provocador dela realmente me irrita às vezes, é isso que as pessoas querem dizer quando afirmam que é impossível saber como é realmente alguém até que você esteja ao seu lado diariamente?

—Eu é que deveria dizer isto, só espero não te fazer chorar depois de te dar uma surra.

O sorriso no rosto de Aika desaparece e ela estreita os olhos. Eu posso ver uma veia destacada na testa dela.

—Hah! Você gosta de me provocar, mas fica furiosa quando eu lhe retribuo o favor? Que garota sem classe.

Desta vez, sou eu quem zomba. Ela não diz nada e seus cachos roxos cobrem parte do rosto fino, escondendo seus olhos. Quando ela lança eles para mim, constato intenções assassinas em suas piscinas azul que parecem prometer uma grande quantidade de dor para mim. Heh, ela está realmente zangada agora, mas era isso que eu queria.

Uma luta, treinamento ou não, sempre tem que ser bem disputada.

Coloco meus punhos na minha frente e afasto as pernas.

Não posso nem mesmo tentar ir com calma, se não for com tudo o que tenho, vou sofrer uma derrota esmagadora.

O clima é partido ao meio pelo som de nossos passos quando corremos em direção ao outro. Aika tenta esmurrar meu rosto, eu paro o ataque e, pegando seu braço, giro meus quadris, atirando-a sobre meu ombro. Em uma incrível demonstração de flexibilidade, a garota torceu e esticou seu corpo, mandando um chute giratório que eu por sorte impedi de conectar usando meu braço esquerdo.

Com nossos espíritos de luta se elevando, nos afastamos um do outro, apenas para fechar a distância pouco depois e retomar nosso combate.

E foi justamente dessa forma que passamos a próxima hora, trocando golpes devastadores entre nós, acertando alguns aqui e ali, mas com a maioria deles sendo bloqueados ou esquivados pelo outro, enquanto enormes sorrisos permaneciam estampados em nossos rostos.


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