Além Do Que É Divino - Volume 01 escrita por Malli


Capítulo 8
Criando A Imagem Mental(Parte 1)




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No dia seguinte, acabei me atrasado para a aula e levei uma repreensão severa do Aomoto, professor de física, antes dele ordenar que eu me sentasse (ele até ameaçou me mandar para o escritório do diretor se eu me atrasasse novamente durante este ano letivo). A caminho da minha carteira, escutava os alunos rindo e zombando de mim. Essa galera não tem nada melhor pra fazer na vida.

Sim, Tatsuo e Ren também estavam tirando sarro, eles vão enfrentar minha ira mais tarde.

Quando eu finalmente me sentei, virei-me para olhar na direção da Omori. Ela nem deu o ar da graça para mim quando cheguei e está totalmente concentrada na lição. Omori tinha dito ontem que havia outros assuntos que ela deseja discutir, então mais cedo ou mais tarde ela virá conversar comigo...ou assim espero.

Três aulas terrivelmente chatas depois, a campainha tocou, marcando o início da nossa pausa. Erguendo-me da mesa, notei Ren e Tatsuo se aproximando de mim.

—Bora Ikuto, hoje eu não pude trazer um lanche, então terei que enfrentar aquela linha infernal no refeitório.

—Eu também me esqueci de trazer meu almoço, ei Tatsuo, você pode me comprar um sanduíche e uma caixinha de suco, por favor?

—Tá de brincadeira? Estou apertado de dinheiro este mês!

—Não seja mesquinho, é só por hoje! Você vai mesmo deixar seu querido amigo morrer de fome?

—....Que droga, beleza, eu compro para você. Mas você tem que me pagar de volta o mais depressa possível!

—De boa, eu vou entregar o dinheiro de volta no máximo até a próxima semana.

À medida que os dois estavam conversando, assisti como Omori se levantou e estava prestes a sair para o corredor. Ela se deteve na porta, fitou-me e fez gestos com a cabeça para que eu a seguisse de uma forma quase imperceptível.

Em resposta, meus olhos voltam para meus dois amigos.

—Vocês podem ir indo na frente para o refeitório, tenho que discutir algumas coisas com nosso professor.

—Discutir? Você nunca teve dificuldades quando se trata de matérias escolares.

—Até os inteligentes têm problemas para entender algumas das tarefas que o Aomoto nos dá. Lembra quando ele nos passou um teste surpresa que era no nível de um exame de entrada para Universidade?

—Pior que lembro, foi um dia de merda. Bem, faz sentido, estaremos no lugar de costume então é só colar lá.

—Tente não demorar muito, Ikuto.

Uma vez que os dois partiram, saí da sala e procurei pela Omori discretamente. Tive um vislumbre de cabelos arroxeados no final do corredor, quando ela reparou que eu a avistei, ela retomou o seu andar. Fiquei seguindo-a, assobiando como quem não quer nada.

Indo lá fora, percebi que estamos nos fundos do colégio, uma área bastante deserta que não é muito aproveitada por outros alunos.

Continuei caminhando, mas não via nenhum sinal da Omori. Virando para a direita, uma mão saltou da esquina e tapou minha boca enquanto outra saiu e agarrou minha camisa.

—Mhhmmmm....!!!

Meu agressor me puxa contra a parede com força e, por instinto, eu dou um soco na direção da pessoa que me agarrou. Meu punho é parado por uma mão pequena e macia, sem esforço. Ao espreitar o rosto da pessoa, vejo olhos azuis me encarando com intensidade perfurante, eles brilham em euforia e diversão.

—Ara, você não sabe que é um comportamento covarde tentar bater numa mulher, Ikuto-kun? E aqui eu pensava que você supostamente era um cavalheiro.

Omori falou isso com uma notável jovialidade em sua voz, tirando sua mão direita da minha boca e liberando minha camisa no processo.

—Sabe, eu gostaria muito de entender por que você decidiu agir como uma sequestradora agora mesmo.

—Simplesmente queria lhe dar um pequeno susto, não tinha nenhum significado profundo.

—E o que você ganha em me assustar?!

Ela expressa um biquinho inocente. Pare de mostrar feições tão bonitinhas mulher, é demais para o meu pobre coração!

—Um pouco de diversão neste dia enfadonho?

Eu sinto uma veia pulsando na minha testa.

—Se foi só para isso que você me fez vir aqui, eu vou embora.

—Uou, um pouco de senso de humor seria bom, mas parece estar realmente te faltando.

É meio estranho ver essa faceta marota da Omori, considerando que ela é sempre séria nas aulas e não fala com ninguém, exceto com os funcionários da escola.

—Sem rodeios então, vou direto ao que importa.

Ela mostrou uma face grave.

—Quero pedir a sua ajuda.

—Ajuda? Com o que exatamente?

—Ikuto-kun, um Daeva não pode entrar no mundo humano por si só.

—Então?

—Usa essa sua cabeça Inteligente, isso implica que alguém o tenha invocado para o nosso mundo.

Levou alguns momentos, mas o peso de suas palavras finalmente recaíram sobre mim e eu me dei conta do que ela insinuava.

—Bom que você compreendeu o quadro geral. Se esse demônio foi convocado, isso significa que o idealizador ainda está solto por aí. Quero sua ajuda para encontrar essa pessoa antes que ele ou ela use o Daeva para assassinar ainda mais pessoas.

Fico em silêncio por alguns minutos, repassando o que me foi dito. Esta é uma questão séria. Depois de pensar por um tempo, tomo minha decisão e sob os olhos expectantes da Omori, respiro fundo e respondo:

—Eu me recuso!

Para engrandecer minha resposta, formo um X com ambos os braços.

—Hah?!!! O que você quer dizer com "se recusa"?! A vida de meros inocentes está em jogo! Ou você vai me dizer que não se importa?

Evidentemente, minha resposta a irritou fortemente.

Não posso dizer que estou surpreso com a reação dela. A sociedade dita que devemos ajudar as pessoas necessitadas enquanto a espiritualidade e a integridade humana pregam que oferecendo bondade você recebe o dobro em troca, então, pelo bom senso, a escolha adequada seria ajudar uma pessoa....., mas quando um ser humano está em uma posição delicada como a que me encontro, e enfrentando seres sobrenaturais para piorar isso, você acha de verdade que uma pessoa racional aceitará de bom grado arriscar sua própria vida para salvar alguém que nem sequer conhece? É bem difícil, para não falar impossível, de imaginar, a menos que tal pessoa não se importe de se mudar para o mundo dos mortos.

Com o não que dei a Omori, acho que meu senso de autopreservação mostra fortemente que não quero e nem planejo morrer em uma idade tão jovem.

—Escuta Omori, sei que parece insensível de minha parte ao seu ver, mas não vou sacrificar minha vida por um bando de estranhos, não os conheço, eles são apenas rostos na multidão, então não pretendo participar desta loucura.

—Essa é uma linha de pensamento muito egoísta, Ikuto-kun, e aqui eu pensava que você era um cara altruísta! Mas talvez eu o tenha julgado mal.

—Todos os humanos são egoístas por natureza, Omori, mesmo aqueles que se consideram justos colocarão sua própria sobrevivência acima da dos outros quando o medo os atingir.

Olhos que se alargaram mais do que antes, Omori deve definitivamente ficou chocada com minha resposta.

Não tendo mais nada que eu deseje falar, eu lhe virei as costas.

—Já vou indo. Mais uma vez, sinto muito, mas quero poder levar uma vida normal, não tenho interesse em me envolver em assuntos do mundo sobrenatural.

Dito isto, iniciei uma caminhada de volta para o prédio da escola.

—É essa a sua decisão final Ikuto-kun? Tudo bem, não tenho escolha se não aceitar, mas se mais Daevas forem conjurados, o que você acha que vai acontecer? Ninguém estará seguro, nem mesmo as pessoas mais próximas a você.

O que ela acabara de dizer me fez fazer uma pausa. Omori deve ter visto isto como uma oportunidade positiva porque ela ligou as engrenagens e foi a todo vapor com seu discurso.

—Acha que não há nenhuma chance de que sua família ou amigos sejam atacados? Você realmente quer que eles sejam mortos e devorados? Você quer que os familiares deles sintam a dor e a tristeza de perder um ente querido? Você quer sentir essa dor esmagadora?

Cerrei meus punhos com tanta força que não me surpreenderia se a pele e a carne se abrissem e eles começassem a sangrar. Meus dentes rangeram devido ao atrito do contato entre meus ossos maxilares, senti como se eles pudessem rachar a qualquer minuto se eu continuasse rangendo-os.

Sei que é apenas chantagem emocional em uma tentativa desesperada de me levar a cooperar, mas reconheço a verdade nas coisas que me foram ditas. A perspectiva de que alguém importante para mim será atacado ainda existe, apenas o pensamento de que ou meus pais ou Ren e Tatsuo poderiam se tornar vítimas me deixa furioso pra caralho!

Voltando-me para Omori, eu atiro nela um olhar mortal, ela segurou minha olhada de peso com suas orbes azuis claras. Esta troca durou pouco tempo, até que chegou um momento em que perdi a perseverança para continuar com esta ''disputa'' e gemi em derrota. Esta droga de garota realmente não pensa em ceder de forma alguma!

—Devo estar fora de mim para dizer isto de fato, mas eu me rendo, a vitória é sua. Vou te ajudar.

Omori sorriu de lado, como se já estivesse esperando esta resposta. Tch, que mina tão ardilosa.

—Perfeita. Com isso resolvido, vou pedir para que me espere em frente ao portão depois das aulas terminarem.

—Para quê?

A resposta dela é um simples rolar de olhos.

—O que você acha? Vamos até a minha casa.

Oh sim, vamos para a casa dela, isso é lógico.

Espere, freie esta porcaria de carro e dê marcha atrás.... A casa da Omori?

—O que você quer dizer com vamos para sua casa?!

Sinto meu coração batendo em um ritmo turbulento e descompassivo dentro do meu peito. Omori cobre seus ouvidos com as duas mãos.

—Você precisa mesmo berrar tão alto?

—Ooops, erro meu, desculpe.

Murmurei vendo-a vejo massagear seus ouvidos.

—Não faz mal, não foi nada demais.

Omori contemplou seu relógio de pulso, seu rosto torcendo-se em uma expressão amarga.

—Só faltam dez minutos para o fim do intervalo e eu ainda não comi nada. Ugh...! Teria sido mais sábio ter feito uma parada no refeitório primeiro para comprar algum lanche antes de vir aqui te convencer a me ajudar, agora não deve ter sobrado mais nada lá...!

Sua expressão ficou um pouco triste e senti certa pena por ela, mas por sorte eu tive uma ideia favorável. Sentei-me no chão e tirei meu pote com os condimentos preparados por minha mãe de dentro da sacola que carregava. Omori, que continuava um pouco abatida, fixa seus cristais azuis diretamente em mim. Eu dei leves tapinhas no chão, indicando para ela sentar-se ao meu lado, o que ela realizou com um tanto de relutância.

Abrindo a lancheira, eu a ofereçi à Omori, que a observou com descrença.

—Tem certeza, Ikuto-kun? Você não precisa fazer isso, eu é que esqueci de pegar algo para comer.

—Não há problema Omori, estou fazendo isso porque quero, sem mencionar que você tem que se alimentar bem, não quero que você fique doente e falte às aulas.

Caso contrário, de que outra forma eu admiraria sua beleza? Nunca vou dizer isso em voz alta, soa muito tosco.

Dei um sorriso e habilmente fisguei um tamagoyaki com meus pauzinhos, levando-o até o rosto da garota de cabelos roxos e colocando-o bem na frente de sua boca.

—Aqui, me dá um grande ahhhhhhh!!!

—N-não me trate como criança! E, v,você não vai usar esses pauzinhos?

—Sim, mas e daí?

— N-não é nada...

Gradualmente, Omori abriu a boca e comeu o tamagoyaki que eu lhe oferecia. Por alguma razão, ela evitava olhar para mim, suas bochechas manchadas de um vermelho vivo, acho melhor eu não perguntar.

Nós passamos os minutos restantes comendo em solidão aconchegante. Depois de saciar nossa fome e embalar nossas coisas, voltamos para a sala de aula com uma sensação de paz.

Na porta da sal, eu senti Omori sutilmente agarrar meu braço.

—Não esqueça do que te falei, espera por mim em frente ao portão de entrada.

Acenei, dando um "ok" fraco e regressei ao meu lugar. Pouco depois de me sentar, vi Ren e Tatsuo entrando. Assim que se sentaram, os dois passaram a me incomodar, perguntando por que eu não apareci em nosso lugar habitual. Perdendo uma parte de minha paciência, afirmei com uma voz seca que o assunto que eu deveria abordar com o Aomoto havia demorado mais do que o esperado. Dizendo-lhes para se calarem, eu direcionei meu foco ao que o professor da aula atual estava ensinando.


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