Além Do Que É Divino - Volume 01 escrita por Malli


Capítulo 4
Caminhada Noturna(Parte 3)




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A parte restante do dia passou relativamente depressa, e antes que eu me desse conta, nossas aulas tinham terminado e estávamos saindo do prédio principal do colégio Haruoka.

Ren, Tatsuo e eu participamos do clube "ir direto para casa" (embora eu tenha sido convidado várias vezes por clubes de artes marciais durante o tempo em que estudei aqui) e, consequentemente, sempre saímos juntos. A questão de eu não entrar em um clube não é nem por preguiça nem por falta de desejo, quando ingressei nesta escola eu me candidatei a uma variedade de clubes, a única razão de eu estar na "equipe de volta para casa" atualmente é que não importa qual dos clubes eu tentei frequentar, ou eles não chamaram minha atenção ou no final tornavam-se enfadonhos.

O céu ainda estava limpo e sem vestígios de nuvens no minuto em que partimos da escola.

Meus dois amigos se envolveram em uma discussão imediata e o assunto que estes idiotas decidiram abordar era absurdamente diferente daquele que tivemsos sobre os estranhos assassinatos, o ponto central deste novo colóquio não era outro senão mulheres, como é de se esperar desta dupla dinâmica, ou melhor, como se pode esperar das mentes depravadas de jovens homens.

—Sabe, Ikuto, eu queria lhe fazer esta pergunta já há algum tempo, mas sempre achei que não era uma ideia tão boa assim.

Tatsuo havia terminado sua conversa com Ren sobre qual garota de nossa classe tinha o maior par de seios(que tópico sem substância) e se voltou para mim.

—Não há como saber se a pergunta é péssima se você continuar hesitando, apenas desembuche o que você quer saber.

—Se você está dizendo...então aqui vai... -Tatsuo fingiu respirar fundo, talvez tentando criar um efeito mais radical, este idiota do caralho - Qual é a razão de você gostar tanto da Omori?

O conteúdo súbito de sua questão me fez tropeçar um par de passos à frente.

—O, o quê?!

—Eu sei que ela é bonita e inteligente, mas aquela garota não interage com praticamente ninguém e não importa quem tente iniciar uma conversa apropriada com ela sempre é ignorado, por isso estou meio curioso em saber por que você está tão interessado nela.

—Tenho de concordar com o Tatsuo, e admito que também estou genuinamente intrigado.

Ambos olham para mim intensamente, desejosos por saber minha resposta.

—Não é da conta de vocês!

—Booh, que desmancha-prazeres.

Ambos ficaram com um ar decepcionado, o que quase me fez sentir mal por eles. Eu disse quase. Logo depois, o desânimo se evaporou e eles estouraram em gargalhadas com o meu desconforto. Desgraçados! Que tipo de amigos são eles para rir tanto de mim?

Chegando a um cruzamento, eu me despedi deles o mais humanamente rápido que se é permitido e me diriji para minha casa. A pergunta de Tatsuo continuava zumbindo em meus ouvidos.

A razão pela qual eu gosto da Omori? Apenas porque, como eu havia citado anteriormente, vi um lado dela que outros não conhecem, acho que você poderia dizer que vi o verdadeiro eu de Omori Aika? Ou pelo menos uma parte do seu verdadeiro eu.

Com toda seriedade, eu não a conheço desde o jardim de infância ou algo parecido, então não somos realmente amigos de infância ou nada parecido, só passou um pouco mais de um ano e meio desde que trocamos palavras pela primeira vez, naquela época estávamos ambos terminando nosso primeiro ano do ensino médio.

Foi um fim de semana ensolarado e quente, não seria exagero dizer que o calor nas ruas era equiparado ao de um forno ou sauna, um verdadeiro inferno na terra.

Eu estava andando pela cidade e bebendo uma garrafa de água fria não só para acalmar minha garganta, mas para recuperar toda a água perdida pelo meu corpo de todo o suor que escorria de mim.

Só de lembrar como aquele dia já estava quente me fazia sentir todo quente, mesmo com a brisa fria de hoje.

Além do clima escaldante, o tédio estava me consumindo por dentro. Meus planos naquele dia eram ir a uma piscina pública, mas a única que eu conhecia estava fechada para manutenção e limpeza. Ir para um arcade não era uma opção, pois ficava sempre lotado nos fins de semana, não havia como eu ficar em um espaço fechado ao lado de sabe-se lá quantas pessoas e todas elas transpirando sem parar. Ao me aproximar de uma ponte que tinha visto dias melhores, avistei quatro pessoas de pé debaixo dela.

Era um pequeno grupo de rufiões que estavam formando um semicírculo e atormentando um cachorro, que parecia ser um filhote de talvez alguns meses de idade. O grupo estava gritando e reclamando devido ao cachorro mijando acidentalmente em uma de suas motocicletas, dizendo coisas como que pequenino deveria compensar pelas sua ações e entretê-los por um tempo.
Os canalhas típicos que gostam de abusar dos mais fracos, sejam eles humanos ou animais. Eu estava consciente de como valentões desse tipo gostam de procurar encrenca e alvos que poderiam se submeter à violência, os criadores de gal games devem ter experiência com esse tipo de pessoas nojentas, pois a maneira como retratam os marginais nesses jogos é espantosamente semelhante.

Se nos jogos eu já tinha o forte desejo de erradicar esta raça conhecida como "delinquentes juvenis", imagine o que eu senti quando ouvi o que eles estavam dizendo? Nada além de repugnância e raiva escapou de mim e foi dirigido a este grupo. Para tratar um animal dessa maneira? E um filhote acima disso? Somente os psicopatas ou as pessoas mais desprezíveis estavam dispostos a fazer aquilo.

Minha intenção era caminhar em direção a eles, pronto para deter seus abusos, mas antes mesmo que eu pudesse me aproximar, uma menina saltou para dentro do semicírculo. Eu nem havia notado sua chegada, era como se ela fosse um camaleão que havia parado de se camuflar e se revelado para o inimigo. Os arruaceiros nem sequer tiveram a chance de piscar os olhos, Omori avançou no meio deles e, como um tsunami, destruiu tudo em seu caminho. 

Dando um cotovelo no rosto daquele que aparentemente era o líder, ela deu um passo para trás e depois mandou prontamente um chute giratório na cabeça do segundo marginal, o que resultou em ambos os homens caírem de cara no chão, derrubados em questão de segundos.

Com exceção de meus pais, eu nunca havia visto movimentos tão fluidos antes.

Os outros dois, que assistiam quase como se estivessem hipnotizados, conseguiram sair de seu estupor e tentaram atacá-la.


Usando uma velocidade muito superior à deles, Omori esquivou-se dos ataques com poucos problemas e, entrando no espaço pessoal do adversário mais próximo, entregou um gancho preciso no queixo dele, mandando-o vários metros para trás.

O punk de cabelo escuro que restava a encarou com horror. A jovem correu até ele, dando a impressão de que estava deslizando pelo chão, e acertou uma joelhada dolorosa em seu abdômen, deixando-o sem fôlego. A próxima coisa que o atingiu foi a palma da garota, que atingiu a parte de trás de seu pescoço e o fez desmaiar.

Quando ela terminou sua sessão de "destruição em massa" (como eu escolhi adoravelmente chamar), Omori caminhou até o cão, que estava estendido no chão. Quase poderia jurar que ele estava olhando para ela com espanto e admiração. Se o cachorro tivesse a capacidade de falar, estou absolutamente certo de que ele diria "Isto foi uma loucura".

Com um sorriso triste no rosto e um arrependimento preenchendo seus olhos, Omori se agachou ao lado do animal.

—Você realmente não parece muito bem, pequenino. Sinto muito não ter conseguido chegar mais cedo.

A voz dela tinha um tom suave com sinais de tristeza. O cachorro deu um latido muito fraco como se dissesse "tudo bem, não precisa se preocupar", mas quando tentou se mover, deixou sair um gemido de dor. Ela o segurou cuidadosamente e o levantou. Sua condição era verdadeiramente lamentável.

— Preciso levá-lo a um médico, e logo!

—Espere!

Nem eu sabia porque havia gritado daquela maneira, foi uma ação impulsiva, mas era tarde demais para lamentar. Ela se virou para me confrontar. Eu estava um pouco nervoso, então limpei a garganta e comecei a me explicar.

—Eu conheço um hospital veterinário que fica perto daqui. Se você me permitir, posso lhe mostrar o caminho.

Omori me segurou em seu olhar intenso, como se estivesse me estudando para identificar se havia alguma intenção oculta em minha oferta. Comecei a sentir o suor que tinha secado se acumular novamente e correr da minha testa até o pescoço, costas e através do meu peito. Depois do que parecia minutos, mas eram apenas cinco segundos, ela acenou positivamente e demos início a caminhar juntos, sempre cautelosos para que o cachorro não sentisse mais dores.

A caminhada foi muito mais curta do que eu pensava, um pouco mais do que dez minutos. Eu até tentei puxar uma pequena conversa, mas tudo o que consegui foram respostas curtas e diretas, então resolvi desistir e ficar de bico calado.

Chegamos ao hospital veterinário pouco depois e deixamos o cão aos cuidados do médico de plantão. Sentamos em um sofá ao lado da recepção enquanto aguardávamos por notícias. Ao contemplar o rosto de Omori, pude ver que ela estava um pouco inquieta.

—Ei, relaxe! Eu sei que ele vai ficar bem, o doutor vai tratá-lo com cuidado.
'A prioridade é tranquilizá-la, era o que pensei, e foi por isso que pronunciei estas palavras com tanto entusiasmo. Vi que uma expressão espantada tomou conta de seu rosto, e então a surpresa deu lugar a um minúsculo sorriso, quase imperceptível, em seus lábios rosados.

Confesso que este pequeno ato foi suficiente para me cativar, mas decidi desviar o olhar e observar a clínica de modo casual.

Felizmente para nós, não demorou mais do que uma hora para o médico voltar, trazendo a notícia. Segundo ele, o estado do cão era muito ruim, ele tinha três costelas quebradas e duas patas fraturadas, mas afortunadamente, não foi um caso de vida ou morte.


—Grande julgamento de ambos para trazê-lo aqui sem perda de tempo. Tudo está bem agora, nosso pequeno amigo só precisa ficar imobilizado por um tempo e não fazer nenhum esforço físico, dentro um mês ele poderá ser liberado.

Nós suspiramos aliviados, era reconfortante saber que um cachorrinho tão fofo ficará bem.

—Quem de vocês é responsável pelo animal?

Maldição, eu não tinha pensado nisso! Eu sou alérgico aos pêlos de animais, então não posso ficar com ele!

—Sou eu.

—Huh?

Será que eu ouvi bem?

—Ótimo, por favor, deixe suas informações de contato com a recepcionista para que possamos ligar quando ele estiver se sentindo melhor.

Acenando para ele, ela fez o que lhe foi dito e deu seu número de telefone para a recepcionista não tão amigável.

A referida mulher franziu o cenho, fazendo-me questionar sua capacidade profissional, mas pelo menos ela se obrigou a ficar quieta e fez a tarefa designada pelo médico.

Deixamos o prédio em completo silêncio, mas desta vez, a quietude criou uma atmosfera confortável ao nosso redor.

—Ei qual é seu nome?

Pestanejei por alguns instantes, a pergunta me pegou desprevenida, mas eu me recompus num instante.

—Sou Arai Ikuto.

—Arai....Ikuto....

Ela murmurou como se estivesse testando o som do meu nome em seus lábios, e então...

—Obrigada por sua ajuda, você não precisava me acompanhar até aqui, mas mesmo assim fez questão de vir para ter certeza de que nosso amiguinho estava bem.


Ela expressou sua gratidão com um sorriso brilhante em seu rosto. Eu não sabia a razão, mas naquele momento, senti meu coração dar um salto inesperado dentro do meu peito.

Não confiando em minhas habilidades de fala, eu simplesmente assenti com a cabeça e fiz alguns ruídos estranhos com a boca.

Ao vê-la partir, não pude deixar de pensar que talvez tenha sido amor à primeira vista ou pelo menos uma forte atração. Eu imaginava que toda a ocorrência era muito parecida com a história de meu pai, o que abaixou meu espírito, mas não o apagou completamente. Só depois que não consegui mais vê-la é que me lembrei de um detalhe essencial.

—Merda! Como eu poderia esquecer de perguntar o nome dela? Mandou bem nessa hein, Ikuto! A primeira garota que te atrai e você se esquece de pedir o pelo nome da moça.

Eu passei o resto do dia de mau humor e foi palpável, pois até meus pais notaram meu estado e me perguntaram se eu estava bem. Três dias mais tarde, descobri que nós íamos à mesma escola, mas estávamos em classes diferentes. Em vez de tentar me aproximar dela, contentei-me em apenas admirá-la de longe. Sinceramente, me senti como um daqueles perseguidores estranhos agora que parei para pensar sobre aquela época, mas nunca fiz nada como segui-la até sua casa ou roubar itens insignificantes e guardá-los como lembranças, apenas alguém louco de verdade demonstraria este tipo de comportamento. Voltando ao ponto, por sorte, naquele ano fomos colocados na mesma classe e eu obriguei a mim mesmo a fazer uma promessa, decidi que até a formatura eu iria ganhar a coragem necessária para declarar meus sentimentos a ela.

Uma história que, embora não necessariamente emocionante, ainda é de importância significativa para mim. Mas não adianta nem mesmo contar a Tatsuo e Ren sobre isso, esses caras não entenderiam o meu lado, os bastardos nunca deixariam de me incomodar com isso, então é melhor não comentar de jeito nenhum.

Os dois são o tipo de pessoas com uma mentalidade simples, agem sem pensar nas consequências, o que resulta em várias situações problemáticas, e quem normalmente tem que tirá-los de tais situações? A resposta correta é...eu.

Além destes probleminhas que às vezes causam, vou deixar claro que eles são grandes pessoas e amigos confiáveis, e tenho orgulho de poder chamá-los de companheiros.

É lógico que nunca direi isto diretamente a eles, seria vergonhoso demais.

Ainda assim, até mesmo com a forte amizade que nós três mantemos, não é natural para mim ter um ou dois segredos que não quero compartilhar? Neste caso específico, só quero manter meu primeiro encontro com a Aika só para mim.

Eu estava tão perdido em minhas memórias que antes de me dar conta, eu me encontrei parado em frente à minha casa. Com um cansado "estou de volta", tirei meus sapatos, desci o corredor e comecei a subir as escadas.

—Iku-chan, pare aí! - A chamada de minha mãe me fez petrificar na hora.

—O que há de errado, mãe?

—Faça um favor a mim. Você poderia ir ao mercado e comprar alguns ingredientes para o jantar, por favor? Eu pretendia perguntar ao seu pai, mas ele está trancado em seu escritório, resolvendo alguns problemas relacionados ao trabalho.


Droga, fazer compras é uma das minhas coisas que menos gosto no mundo, uma tarefa tão monótona, mas como é um pedido de minha querida mãe, não tenho outra escolha senão atendê-la.

—Muito bem, deixe-me tirar o uniforme e vestir uma roupa mais confortável.

Ela dá um joinha para mim e volta aos seus deveres. Vou até o meu quarto e me troco, vestindo uns jeans gastos e uma camiseta de manga comprida com capuz branco. Em seguida, pego um par de sapatos pretos com listras cinzentas nas laterais. Satisfeito com minha escolha, volto para a cozinha e pego o dinheiro dela.


—Aqui estão 3.000 ienes, escrevi todos os ingredientes que quero neste papel, por isso não o perca!

—Você pode apostar, eu serei como um guarda penitenciário em seu turno e este papel será meu prisioneiro, sempre estarei de olho nele.

—Tenha cuidado, jovem guarda, as histórias sobre este assassino "fantasma" estão sendo constantemente transmitidas na TV.

—Não se preocupe, afinal, fui ensinado a lutar pelos melhores mestres dessa cidade.

Estou exalando confiança e orgulho, o que, por alguma razão, faz minha mãe rir.

—Sim, mas lembre-se que ser bom no combate corpo a corpo não lhe dá nenhuma vantagem se seu oponente estiver armado com uma pistola ou qualquer outro tipo de arma de fogo.

—Estou cônscio disso, se for esse o caso, antes que ele tenha a chance de apontar, correrei em ziguezague o mais rápido que puder e pedirei ajuda, que tal esta sugestão? - Ela levanta um dedo no queixo de uma maneira pensativa.

—Hmm...Essa é uma opção mais viável~.

—Tudo certo, vou seguir este plano, estou indo então, volto dentro de uma hora ou duas!

Terminamos nossa troca de piadas e eu vou até a porta para calçar meus sapatos e saio de casa. O céu já está escuro e um vento gelado varre as ruas do bairro. O mercado está um pouco longe, leva pelo menos vinte e cinco minutos para chegar lá, e como sou um pouco desatento, só depois de ter chego a um ponto de relativa distância é que noto que esqueci de pegar meu celular, o que implica, nenhum rock bom para ouvir no caminho. E assim minha viagem continua, eu sozinho com meus próprios pensamentos e perambulando pelas ruas invulgarmente sossegadas do bairro durante o início da noite.

—Uoooh...! Isso mesmo, é possível cortar trajeto pelo parque que tem nas proximidades, o que faz com que a caminhada de vinte e cinco minutos caia para apenas dez.

Feliz por ter lembrado este detalhe que, embora diminuto, ainda fez uma enorme diferença, apressei meus passos para chegar ao parque o mais rápido possível.

Consigo recordar de ter brincado muito aqui quando eu era criança, mas agora é apenas uma memória distante e não me lembro nem do nome deste lugar.

Embora esteja em bom estado, parece que quase ninguém o visita, uma pena, já que certamente é desperdício de um espaço tão bom, espero que não decidam fechar o parque e construir algum prédio ou área lojista aqui como resultado da inatividade.

Ao passar pela entrada, tenho uma sensação estranha. É como se uma corrente elétrica estivesse passando pelo meu corpo e algum tipo de distorção ocorresse no ar. Tudo parece estar errado. Eu ignoro isto, pensando que deve ser o cansaço depois de um longo e maçante dia na escola, e continuo meu caminho.

O parque não é gigantesco, mas ainda é bastante espaçoso, com um playground e uma área repleta de árvores que se parecem muito com um mini bosque. Andando perto do que seria "o início do bosque", eu parei logo quando ouvi um certo barulho. Era um som quase imperceptível, como se dois objetos estivessem colidindo.

.... Estranho, um ruído metálico como aquele à noite não é normal, especialmente em uma área coberta por tantas árvores.

Sentindo um pouco de apreensão, comecei a me afastar de lá, desta vez com um ritmo um pouco mais apertado e quase instantaneamente, o som se tornou mais alto.

Agora eu também posso ver algum tipo de luz e faíscas, mas não sei dizer dessa distância qual é a sua fonte. Quando finalmente estou perto da saída, solto a respiração que nem sabia que estava retendo. O que quer que esteja acontecendo lá dentro, é melhor não me envolver e dar o fora daqui, curiosidade só pode me levar para um final ruim.

Nesse exato momento, duas figuras emergem da floresta em velocidade acelerada.

Como é noite, não consigo ver bem, mas com o pouco de luz do luar caindo sobre eles, ainda dá para ver suas formas. Uma das figuras é claramente feminina e seu corpo está bem desenvolvido.

Ao olhar para a outra pessoa, meu coração quase pára.

—Que porra é aquela?

Eu murmurei incrédulo.

A outra silhueta era simplesmente toda preta com a forma de algum tipo de besta. A julgar pelo seu contorno, era como uma mistura entre a parte superior de um urso, a parte inferior de um leão, e garras semelhantes às de um gato selvagem. Seus olhos eram vermelhos carmesim e tinha pelo menos três metros de altura. Sua boca tinha caninos mais afiados do que os de um tubarão, e eram totalmente amarelados. Mesmo de tão longe se podia sentir o fedor da podridão que emanava desta boca horrenda.

Eu sempre fui o tipo de cara que nunca acreditou em deuses, demônios ou no sobrenatural em geral, carregando comigo o famoso dilema "só o que pode ser provado cientificamente como real deve ser acreditado". Mas esta coisa não pode ser chamada nem de humana nem de animal, ela só poderia ser descrita como um monstro.


Os dois combatentes estavam travados em uma batalha feroz. A mulher estava usando tudo à sua disposição, desde bolas de fogo até os punhos, o que me deu a impressão de não ter nenhuma proteção, mas seus esforços estavam se revelando fúteis, parecia que o monstro sentia quase nada, houve apenas uma pequena reação dessa criatura quando a mulher atirou suas chamas, o fogo parecia ao menos gerar uma irritação semelhante à de um mosquito na coisa. O que estou testemunhando é algo fora do comum e que qualquer ser humano normal consideraria impossível.

Parece que nenhum deles reparou em mim, é melhor eu tentar sair daqui o mais devagar e despercebido possível, porque se eu ficar aqui, posso ser apanhado nisto tudo, e se isso acontecer, certamente serei morto.

Muito lentamente, levanto o meu pé direito e dou um passo atrás, mas no minuto em que meu pé toca o chão, um ligeiro barulho é gerado.

Baixando meu olhar para o chão, vejo, para minha grande desgraça, que pisei num punhado de pedras, o passo foi muito tênue, o som feito só podia ser notado por alguém se a pessoa estivesse bem ao meu lado. Olhando de volta para os dois combatentes, meu corpo se enche de medo. Apesar de estar a pelo menos uns 30 metros de distância, a criatura virou sua cabeça e me olhou com aqueles olhos vermelhos profundos.

Fechando a distância entre eles, a coisa deu um soco na mulher, que grunhiu de dor. Seu corpo foi atirado para trás, chocando-se contra três árvores e quebrando todas no processo. Então, o ser não perdeu tempo e correu em minha direção a velocidades irrisórias.

—Idiota! Não fique parado, corra se quiser continuar a viver!

A mulher caída gritou comigo em sua impotência, mas antes que eu pudesse me virar e fazer o que me foi instruído, o monstro apareceu na minha frente, um sorriso bestial estampado em seu rosto negro.

Em um breve momento, ouvi o som de um objeto afiado penetrando a carne, e a sensação de sangue jorrando de mim, seguida de uma dor excruciante.

Olhando para baixo, eu não podia acreditar no que meus olhos viam.

As quatro garras do monstro tinham perfurado meu estômago e o atravessado por completo.


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