Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 29
Capítulo 29 - Os guardiões: parte 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809104/chapter/29

A atmosfera natalina em Londres adornava a cidade com seu manto branco, resultado de uma nevasca que transformava a tarde de dezembro em um espetáculo gélido. O jato de Charlie aterrissava nas proximidades da imponente sede da Widmore, e junto dele estavam Tyler e Richard. O frio silencioso envolvia o trio enquanto eles se dirigiam apressadamente para dentro da sede, evitando trocas de palavras que pudessem desencadear conflitos iminentes.

Ao adentrarem o local, a surpresa se refletia nos olhos de todos: Richard estava vivo. Penelope apressou-se em direção ao filho, mas sua expressão logo se transformou em pânico ao perceber a presença de Richard.

— O que ele está fazendo aqui? — indagou ela, impaciente.

— Não se preocupe comigo, Penelope. Onde estão os candidatos de Jacob? — questionou Richard, ostentando uma calma visível.

— Não irei levá-lo até eles. Sinto muito. — retrucou Penelope. Desmond apareceu logo em seguida.

— Richard?! — exclamou ele, impressionado.

— Olá, Desmond. — cumprimentou Richard.

— Como pode estar vivo? — indagou Desmond, completamente confuso.

— Vou direto ao ponto. Alvar me trouxe de volta à vida. Neste momento, ele quer que todos vocês colaborem com ele, e tudo ficará bem. Simples assim. — disse Richard, exibindo um sorriso franco em seu rosto.

— E por que acha que iremos colaborar com ele? — questionou Penelope.

— Porque ele está com seu pai. E seu pai está vivo. — revelou Richard, fazendo com que Penelope arregalasse os olhos. Todos os presentes ficaram atônitos. Desmond aproximou-se dele e disse:

— Ben matou Charles. — revelou Desmond. Penelope fitou-o, chocada com a informação.

— Seu filho mandou me matar, Desmond. E de fato, eu morri. E estou aqui, bem na sua frente. — comentou Richard.

Desmond e Penelope voltaram seus olhares para Charlie, que encarava os próprios pés.

— Charles está vivo e sob domínio de Alvar. Isso significa que essa corporação e toda sua estrutura retornarão ao seu chefe original. — concluiu Richard, deixando Penelope, Desmond e os demais presentes perplexos diante da complexidade da situação nas corporações Widmore. A realidade era que não havia muitas opções a considerar naquele momento tenso.

Enquanto o drama se desenrolava em Londres, na ilha, a tensão persistia entre os seguidores de Aaron. Apesar da aparente calmaria, o temor da chegada iminente de Wilbert e seu exército pairava no ar, levando-os a espalhar armadilhas ao redor do terreno. Walt, em meio ao matagal, estava ocupado urinando quando um som vindo da floresta chamou sua atenção. Yan e Bernard surgiram, envolvendo Walt dos dois lados. Bernard segurava uma espingarda, enquanto Yan trazia cordas nas mãos.

— Você deveria ter ido embora. — comentou Bernard, desferindo uma coronhada na cabeça de Walt, fazendo-o desmaiar.

— Amarre ele. — ordenou Bernard a Yan, que prontamente o fez.

Enquanto isso, na praia, Rose, Bianca e Emma preparavam o café. A manhã parecia calma, mesmo diante do período tenso em que se encontravam.

— Sinto falta de Zack e da Cindy. — confessou Emma, sentada em uma cadeira improvisada ao lado de Rose, que a acompanhava naquela tranquilidade matinal.

— Sinto muito pela Cindy. Quanto a Zack, não se preocupe, minha querida. Ele está bem. Logo veremos ele de novo. — consolou Rose, com um sorriso afetuoso.

— Eu queria mesmo era voltar para casa, mas fazer o quê? — Comentou Bianca, rindo sem graça.

— Não deveríamos ir atrás de Ji Yeon? — Indagou Emma.

— Aquela maluca? Ela disse que sabia que o que estava fazendo. Ela vai voltar, confia. — Disse Bianca, rindo. Rose balançou a cabeça e continuou a tomar seu café.

Aaron e Hugo surgiram na praia, trazendo um javali para o almoço. Ao se aproximarem das três, Hugo comentou a Aaron:

— Me senti como John Locke te acompanhando nessa caçada.

— Eu não lembro nada do John, eu era um bebê. Aprendi a caçar com os decalos. — declarou Aaron.

— Bom, pelo menos não vamos comer peixe hoje de novo. — brincou Rose, sorrindo.

— Finalmente. — disse Hugo.

— Vocês viram Bernard? Quero que ele ajude a limpar esse porco. — perguntou Aaron.

— Não o vi esta manhã. Pensei que estivesse com vocês. — comentou Rose, deixando Aaron desconfiado.

Enquanto isso, em uma parte afastada, Jessy e Clementine colhiam frutas e trocavam palavras.

— Como pode simplesmente aceitar tudo isso como normal? — indagou Jessy.

— Não aceitei. Mas o que posso fazer? Estou vendo tudo acontecer diante dos meus olhos. — respondeu Clementine. De repente, barulhos vindos da mata interromperam a conversa.

— Jessy, você escutou isso? — alertou Clementine, abaixando-se para pegar uma fruta.

— Escutei o que? — indagou Jessy. Os barulhos indicavam alguém sendo arrastado. Rapidamente, as duas foram investigar e depararam-se com Bernard e Yan carregando Walt desacordado pela mata. Ambas correram até eles.

— O que estão fazendo? — indagou Jessy.

— Não se intrometa. — advertiu Bernard.

— Não somos animais. Não fazemos isso com as pessoas. — protestou Jessy.

Clementine abaixou a cabeça e disse: — Deixa eles fazerem o que estão fazendo.

— Como é? — indagou Jessy, surpresa com a fala de Clementine.

— Esse desgraçado me fez de refém, quase me matou, sequestrou a esposa dele, e você ainda o quer livre? — argumentou Clementine. Jessy ficou pensativa, e Clementine concluiu: — Foi o que pensei.

Yan continuou arrastando Walt, enquanto Bernard disse a elas: — Não conte a ninguém o que estamos fazendo.

— E se perguntarem sobre o Walt? — indagou Jessy.

— Diga que ele foi embora. — ordenou Bernard, antes de partir junto com Yan. Jessy estava assustada, mas naquele momento, não havia muita escolha a fazer.

Enquanto o enigma se desdobrava na ilha, em Alexandria, Charles Widmore, inexplicavelmente vivo, enfrentava Ben. A incredulidade tomou conta de Ben ao perceber que o homem que ele pensava ter assassinado estava diante dele.

— Não pode ser, eu te matei. — exclamou Ben, em desespero.

— Sim, de fato, você me matou. Com três tiros para ser mais exato. — revelou Charles, abrindo seu sobretudo para mostrar as marcas de tiros em seu corpo.

— Então. O que vai fazer? Vai me matar também? — indagou Ben, impassível.

— Não se preocupe, Ben. Não farei nada contigo. Você não merece a morte. O inferno que você está vivendo agora é bem pior que a morte. — afirmou Charles, sorrindo.

— E por que estamos aqui? Para que tudo isso? — questionou Ben.

— Minuts mentiu para você, Ben. Naquele dia na ilha, eu disse a ele que Desmond era o único capaz de desativar todos os poderes da ilha e assim evitar que Taurus roubasse o poder dela, mesmo que Minuts fugisse com a aparência de John Locke. Você me matou logo em seguida, lembra? — explicou Charles.

— Então você não se preocupava se Minuts iria ou não fugir? — indagou Ben.

— Minuts era perigoso e tinha ameaçado Penny, mas sem os poderes da ilha, ele era apenas um homem comum, como ele sempre foi antes de se tornar um guardião. Se Jack tivesse mantido a fonte da energia desativada, todo esse conto de fadas teria acabado. Mas estamos aqui e agora. — disse Charles.

— Como você saiu de lá? Você morreu na ilha, é impossível você estar aqui. — comentou Ben.

— Um grupo que seguia Minuts me levou até a fonte do templo e me trouxe de volta à vida. Minuts queria muito saber onde eu havia escondido o Desmond, pois ele sabia do perigo que ele representava para ele, mas aí, eu fugi, pelos fundos do templo, descobri a saída secreta do Jacob e fui encontrado pelo irmão do Sayid no deserto e hoje estou aqui.

— E qual o plano? — indagou Ben. Dois guardas chegaram com o corpo de Zack e o depositaram em uma das gavetas que estranhamente já tinha o seu nome gravado.

— Já te contei tudo que sei até agora. Eu já falei até demais. Nunca quis que você soubesse que Alvar Hanso era Taurus, por isso, naquele dia, eu pedi a Minuts para não falar nada perto de você. — disse Charles.

— Não me importo nem um pouco com a rinha de vocês dois. O plano está em andamento. Charles agora trabalhará para mim, assim como Eloise, Zack, Walt, Ricardus e muitos outros. E você, Ben, de que lado está? — indagou Alvar, olhando fixamente para Ben, que estava completamente assustado.

Ben viu que estava sem saída, em um ato de desespero, ajoelhou-se diante os pés de Alvar.

— Não seja ridículo. — disse Alvar. Charles riu.

Em Londres, o impasse era entre Richard, Penelope e Desmond, que estavam parados olhando um para o outro. Charlie e Tyler mantinham uma distância respeitosa.

— Eu quero uma prova. — comentou Penelope.

— Uma prova de quê? — indagou Richard.

Penelope, com os olhos lacrimejando, comentou: — De que meu pai está vivo. Eu quero vê-lo.

— Não temos tempo para isso agora. No momento certo, vocês se reencontrarão. Nesse momento eu quero que você me leve até James, Kate e Claire. — disse Richard.

— E o que exatamente você quer com eles? — indagou Desmond.

Richard deu um sorriso maléfico. — Não está óbvio? Vou matá-los.

Desmond partiu para cima de Richard para segurá-lo, e Penelope acionou os seguranças para deter Richard.

— Você está louco? Nunca permitiremos isso. — disse Desmond.

Os seguranças logo chegaram e imobilizaram Richard. Antes de ser apagado por um dos seguranças, bradou:

— Ele virá atrás deles. Não adianta escondê-los por muito tempo.

Todos os presentes ficaram assustados. Desmond olhou para Penelope e disse:

— Temos que caçar Alvar e matá-lo.

— Você acha que se isso fosse possível já não teríamos feito, Dess? Nossa única chance é mandando os três de volta para a ilha o mais rápido possível. Lá eles estarão mais seguros. — concluiu Penelope, deixando Desmond pensativo. Charlie e Tyler se aproximaram.

— Pai tenho que te confessar uma coisa. — Disse Charlie.

— Diga. — Disse Desmond.

— Eu e Tyler iremos para a ilha junto aos três. — Disse Charlie.

Desmond olhou para Penelope, irritado gritou:

— Você sabia disso?

— Sim, Desmond, eu sabia. — Disse Penelope.

Desmond bufou forte, irritado abandonou-os. Penelope abaixou sua cabeça, mas decidiu deixar Desmond partir, afinal, qualquer coisa que ela falasse naquele momento poderia piorar a situação.

Em Alexandria, os corredores da estação da Dharma a Linha eram percorridos por Alvar, Ben e Charles. Diálogos sussurrados revelavam uma tensão palpável entre eles.

— Qual o objetivo agora? — indagou Ben.

— Você pergunta demais, Ben. Ainda não confio em sua lealdade, então, responderei o mínimo de perguntas possíveis. — disse Alvar.

— Então por que não me mata e me traz de volta à vida? Não é assim que você fez com os outros? Assim eu seria leal a você completamente. — provocou Ben.

— Nem sempre funciona. — respondeu Alvar.

— O quê? Então você não sabe se Eloise ou o Zack irão voltar à vida? — indagou Ben.

— Ben. Se eu quisesse te matar, isso seria muito fácil para mim. Mas tem pessoas que eu prefiro apenas manipular, como você e Frank. Então, nesse momento, apenas fique em silêncio e me siga. — ordenou Alvar. Charles permanecia calado, mas com um sorriso de satisfação estampado no rosto.

Os três chegaram a uma sala de reuniões, onde cadeiras rodeavam uma imponente mesa. Fotos dos antigos membros da Dharma como Doutor Chang e os deGroots decoravam as paredes, evocando a memória daqueles que antes compunham a elite da iniciativa.

— Aqui era a sala onde tudo era decidido. — comentou Alvar.

— Então essa estação não era apenas uma prisão. — observou Ben.

— Os prisioneiros que vinham para cá eram cobaias de estudos da corporação. Se eles saíssem da ilha, passavam por exames para saber se sofreram alguma alteração por estarem lá por muito tempo. — explicou Alvar.

— Engenhosos, mas eram uns idiotas. — disse Charles.

— Concordo plenamente. — afirmou Alvar. — Parte dos poderes que Taweret roubou de mim estão naquela ilha, e foi isso que te trouxe de volta à vida, Charles, assim como Sayid. Vocês humanos nunca entenderiam os fenômenos que acontecem lá. A vida, assim como a morte, são uma coisa só, e eu e Taweret podíamos controlar isso facilmente. Jacob, usando o poder de Taweret, trouxe John Locke de volta à vida e curou Rose Nadier do seu câncer terminal. Isso a Dharma nunca iria conseguir explicar. E aqui sentavam as mentes mais brilhantes da terra. Meros mortais inúteis estudando algo que eles achavam que era apenas ciência.

— Mas você ajudou a construir a Dharma. — disse Charles.

— Se esses idiotas não tivessem sido mortos pelos habitantes da ilha, eles conseguiriam extrair e me trazer facilmente os poderes da ilha até mim. Era só questão de tempo. — explicou Alvar.

— Ben participou da Purgação de 1992. — disse Charles.

— É, eu sei. Mas não guardo rancor dele por isso. Acredito que ele será útil no momento certo. Nesse momento, vamos apenas nos preparar para o retorno da Dharma. — disse Alvar, caminhando até um local onde havia vinho. Pegou três taças, entregou-as nas mãos deles e os serviu. — Senhores, aqui recomeçamos oficialmente a ressurreição da Dharma.

Então, os três brindaram. Ben, com um sorriso falso no rosto, também brindou. Alvar fez um sinal para um guarda levar Ben. Ben o olhou e perguntou: — Por quê?

— Só queria que soubesse que você não é ninguém. — disse Alvar.

— Desculpa, Ben, desta vez você perdeu. — comentou Charles, e então o guarda levou Ben dali.

— Só falta uma coisinha. — disse Alvar, olhando fixamente para Charles.

Enquanto isso, em Londres, a sede da empresa recebia uma ligação que ecoava pelos corredores. — Alô?! — respondeu a atendente. — Entendi, vou transferir a ligação.

Na sala de Penelope, junto ao seu filho, a tensão aumentava. — Por que mandou matá-lo? — indagou Penelope a Charlie sobre Richard.

— Mãe, você viu o que vovô pesquisou. Richard era um escravo comprado por Magnus Hanso, que é o próprio Alvar Hanso. Cedo ou tarde, ele iria levá-lo como seu escravo. — explicou Charlie.

— Mas você poderia ter me avisado. Agora veja a situação em que estamos. Richard poderia ter sido levado de volta à ilha junto com os três. Agora não sabemos o que vai acontecer. — lamentou Penelope, andando de um lado para o outro, até que o telefone tocou e ela atendeu.

— Pois não?! — disse ela.

— É um prazer finalmente falar com você, Penelope Hume. — disse uma voz do outro lado da linha.

— Quem está falando? — indagou ela.

— Meu nome é Alvar Hanso, você já me conhece, tenho certeza. Quero que saiba que a partir de hoje a Widmore pertence a mim. — afirmou Alvar.

Penelope ficou imóvel. Charlie se aproximou de sua mãe e disse: — O que houve, mãe?

Penelope balançou a cabeça e se recompôs, depois disse no telefone: — Quero falar com meu pai. Eu sei que ele está vivo. Passe para ele.

— Oi, filha. — disse Charles, pegando o telefone.

— Pai?! — indagou ela, tremendo e chorando. — É o senhor mesmo? Como pode?

— Filha, vai ficar tudo bem. Apenas colabore com o Hanso e tudo ficará bem, minha querida. Eu prometo. — assegurou Charles.

— Não, pai, por favor, não faça isso. — suplicou Penelope, aos prantos.

— É para nosso próprio bem. Ou ele vai matar você, Desmond, Charlie e a todos. Ele é muito perigoso. — alertou Charles.

Penelope estava aos prantos, mal conseguia falar. Charlie estava ao seu lado completamente emotivo em ver sua mãe naquele estado.

— O que eu tenho que fazer, pai? — indagou ela, já sem esperança.

— Minha garota. — disse Charles. — Estaremos em Londres amanhã. E mais, James, Kate e Claire precisam estar aí também. Somente assim ele poupará nossa família.

— Ele vai matá-los, pai. — disse ela, tremendo.

— Vai ficar tudo bem, só faça como pedi. Te amo. — disse Charles, até que Alvar pegou o telefone e disse:

— Viu só? É simples. Seu pai vai voltar a comandar a Widmore normalmente, claro, sob minha tutela, e tudo ficará tudo bem com vocês.

Alvar desligou o telefone. Penelope estava aos prantos, e seu filho tentou consolá-la, sem muito sucesso.

Nos arredores de Londres, em um hospital, James se encontrava com Albert, que estava com sua perna em recuperação. James indagou:

— Como está sua perna?

— Melhorando a cada dia. Lembrando que foi você que atirou. — brincou Albert.

— Você tentou matar Richard. — disse James, deu um sorriso logo em seguida. — Eu deveria ter deixado.

— Não veio aqui apenas me visitar, não é? — Indagou Albert.

— Tive uma crise de ansiedade. Bobagem. — Disse James, sorrindo.

— Vai mesmo voltar à ilha? — Indagou Albert.

— Com toda certeza. Preciso ter certeza de que Clementine está bem. E tem todo aquele papo de salvar o mundo e tal. Estou quase ficando maluco igual aquele Careca Bastardo do John. — Disse James, rindo de si mesmo.

— John?

— Ah, você iria adorar conhecê-lo. Pena que ele morreu e um cara aí tomou seu corpo para atormentar nossa vida. — Disse James.

— Não está falando coisa com coisa. Que remédio te deram?

— Clonazepam. — Disse James, levantando-se. — Uma vez, me enganaram falando que colocaram um marca-passo no meu peito e que se meu coração batesse muito rápido, ele iria explodir. Então, ele não explodiu, mas agora descobri que tenho ansiedade.

— Você tem ótimas histórias, cara.

— Espera para ouvir as aventuras da ilha misteriosa do Pacífico. Um clássico. Ou talvez, "Bad Twin", não terminei de ler. — Disse James, sorrindo, então, seu telefone tocou; era Penelope.

— O que você quer? — Indagou ele.

— Escuta, preciso que me encontre agora. Vocês irão para a ilha hoje. Sem mais. — Disse ela.

— Como é? Eu nem me preparei psicologicamente para isso ainda, poderosa chefe. — Disse ele.

— James. É sério. Tem alguém vindo matar vocês. Precisa fugir agora. — Disse ela. — Me encontrem no mesmo lugar.

Penelope desligou o telefone, e James deu uma respirada funda, dizendo a si mesmo: — Droga.

— O que houve? — Indagou Albert, vendo a situação de James após o telefonema.

— Preciso ir, senhor gratidão. A poderosa chefe me chama. — Disse James.

— Nos veremos de novo?

— Isso soa meio estranho. Mas espero que sim. — Disse James, e saiu.

Enquanto as reviravoltas se desdobravam fora da ilha, na ilha em si, Walt despertava, ainda meio atordoado pela coronhada que levara. Encontrava-se amarrado a uma árvore, com Bernard apontando uma espingarda diretamente para sua cabeça, enquanto Yan observava o desenrolar da cena em silêncio.

— Vai em frente. — disse Walt, recompondo-se.

Bernard baixou a arma e disse:

— Eu não sei que droga aconteceu com você, moleque. Independente disso, vai ficar aqui, preso. — afirmou Bernard.

— Eu não consigo controlar esse desejo de servir ao homem que me trouxe de volta à vida. Mesmo que eu tente, parece que ele controla as minhas vontades o tempo todo. — desabafou Walt.

Bernard bufou, enquanto Yan observava a situação impassível.

— Rapaz, escuta. Eu não conseguiria te matar, nem se eu quisesse. Eu lembro de você pequeno, brincando com seu cachorro pela praia. Eu sei que esse menino ainda existe em você. — disse Bernard.

— Eu vi o Vincent. Ou pelo menos algo parecido com ele. Ele me levou até aquela caverna onde Jack nos manteve por um tempo. Lá encontrei meu pai e conversamos. Por mais que eu tente resistir, é muito forte, Bernard. Eu prefiro que me mantenha aqui ou me mate. — confessou Walt.

— A sua vontade prevalecerá então. — afirmou Bernard, respirando fundo, quando, de repente, um tiro certeiro acertou-o na cabeça, matando-o na hora.

Yan ficou desesperado ao ver aquela cena. Walt e ele olharam para todos os lados e viram soldados se aproximando pela região. Wilbert chegou logo em seguida.

— Ora, ora. Se não é o desertor. — disse Wilbert, referindo-se a Walt.

— Wilbert?! — comentou Yan.

— Olá, Yan. Bom revê-lo. — disse Wilbert, com um sorriso no rosto. Um dos soldados trouxe Ji Yeon amarrada, acordada e completamente machucada. — Encontramos essa perdida perambulando pela nossa ilha e viemos trazer ela de volta para vocês.

— Desgraçado! — gritou Yan.

— Você é muito corajoso, rapaz. Mas não pense que não irei matá-lo um dia. Mas ainda não consigo fazer isso com nenhum de vocês, infelizmente. — disse Wilbert.

— Então o que você veio fazer aqui? — indagou Yan.

O soldado jogou Ji Yeon no chão. Wilbert virou para Yan e disse:

— Diga ao Aaron, o tal do Hanbal, que Alvar assumiu a Widmore e em breve os candidatos, mesmo os rejeitados, que vivem fora da ilha, serão mortos. Só para vocês saberem que estão em desvantagem e em menor número.

Os soldados se aproximaram de Walt e o desamarraram. O seguraram e o levaram sob escolta.

— Manda um abraço para o pessoal no meu nome. Até logo, Yan. — disse Wilbert, saindo juntamente com seus soldados. Yan respirou fundo. Apesar de ter demonstrado toda aquela coragem, o seu medo estava estampado nos olhos. Ao olhar o corpo de Bernard no chão, seu coração ficou apertado.

Alguns minutos se passaram, e Yan estava na praia, correndo até chegar onde Aaron se encontrava, limpando o javali que havia caçado. Yan gritava pelo seu nome.

— Yan?! Onde esteve? — indagou Aaron.

— Aaron, Wilbert apareceu e disse muitas coisas ruins. Cara, não temos como vencer, por favor, nos leve de volta. Nos tire dessa. — disse Yan, desesperado.

Todos se aproximaram dele, atônitos.

— Se acalme, cara. — disse Hugo.

— O que foi que ele disse? — indagou Aaron.

— Alvar agora é o novo dono das corporações Widmore. Ele assumiu tudo. Esse não seria o tal de Taurus? Então, ele está controlando tudo agora. — disse Yan, descontroladamente.

— Traga um copo d’água para ele. — solicitou Aaron a Bianca.

— Onde está Bernard? — indagou Rose.

Yan fechou os olhos por alguns minutos. — Sinto muito. Ele o matou. — disse Yan, emotivo.

Rose saiu de perto deles, caminhou em direção à praia sozinha. Emma a acompanhou e a abraçou. Rose caiu aos prantos.

— Você disse que iríamos vencer, Aaron. — disse Clementine. — O que nós iremos fazer, droga? Não temos armas e nem sabemos usar. Somos meros humanos perto do que esse tal Taurus pode fazer.

Aaron se afastou. Clementine revirou os olhos e, junto com Jessy e Bianca, foram consolar Rose. Hugo acompanhou Aaron. Aaron parecia andar sem rumo dentro da floresta, andou por alguns minutos até que chegou na caverna. Hugo adentrou o local juntamente com ele.

— Por que estamos aqui? — indagou Hugo, bufando forte por ter andado tanto.

— Não temos escolha, temos que consultar eles. — disse Aaron.

Aaron se preparava para um ritual ancestral. Ele sabia que para enfrentar Taurus, a entidade que agora havia se tornado o maior desafio, ele precisava de orientação e poder além de sua compreensão. Pegou alguns gravetos amarrados a uns panos e um isqueiro estava em suas mãos.

Diante de uma antiga rocha, Aaron acendeu tochas ao redor, criando um círculo de luz no meio da escuridão. Ondas suaves de energia pareciam dançar ao seu redor, enquanto ele começava a recitar palavras antigas em um idioma quase esquecido, aquele falado pelos decalos. Seu coração estava cheio de determinação, e ele se concentrou em sua conexão com a ilha.

À medida que suas palavras ecoavam, a atmosfera ao seu redor começou a mudar. Hugo apenas observava, completamente admirado. O ar ficou eletrificado, e uma sensação de presença encheu o ambiente. Uma luz brilhante começou a emanar da rocha, e uma série de figuras etéreas começaram a se materializar no centro do círculo.

Primeiro, apareceu Hannah, filha de Aaron, a figura enigmática com olhos sábios e cabelos escuros que dançavam como chamas. Ela havia sido a mãe adotiva de Jacob, e agora, ela estava ali como um espírito ancestral, uma guardiã do passado, seguida de Jacob que apareceu como um jovem de cabelos loiros, olhos intensos e uma serenidade que transcendia o tempo. Sua mãe adotiva havia sido a guardiã que ficou mais tempo no cargo, recebendo o título após seu pai, Aaron, perder a guerra contra os rikotis em 2951 a.C. Ela permaneceu no cargo até 4 d.C, mais de 2900 anos, quando passou o cargo para seu “filho”, Jacob, que foi o segundo a ficar mais tempo no cargo, cerca de 2000 anos. A conexão de ambos com a ilha era muito complexa.

E então, como uma aparição luminosa, surgiu Jack Shephard. Seus olhos refletiam a sabedoria que ele havia adquirido em sua jornada, e seu sorriso era cheio de carinho. Ele era o tio de Aaron, uma figura desconhecida para o jovem até agora.

Aaron estava emocionado e humilde diante da presença desses antigos guardiões que também foram seus sucessores. Ele se ajoelhou perante eles, reconhecendo sua linhagem e a responsabilidade que carregava. As vozes deles ecoaram em sua mente, uma harmonia de sabedoria compartilhada.

— Pai — disse Hannah com suavidade. — Senti sua falta. Que bom saber que ainda está vivo.

— Parece que finalmente poderemos conversar com adultos, certo Aaron? Você é praticamente meu avô por adoção. — Riu Jacob.

— Para falar a verdade, essa é a primeira vez que eu vejo você, meu neto. — Disse Aaron, rindo.

E então, Jack se aproximou de Aaron, colocando uma mão afetuosa em seu ombro. — Fui praticamente um pai para você quando você tinha uns dois anos de idade, mas não acompanhei seu crescimento, Aaron. Está enorme. E olá também, Hugo. Você não mudou nada.

Hugo acenou, cumprimentando Jack. Estava completamente inerte diante aquele momento.

— Por que nos invocou? — Indagou Jacob.

— Como enfrentar Taurus novamente e vencer? — perguntou Aaron, sua voz ecoando com reverência e urgência. — Da última vez, não deu certo. As pessoas que vocês escolheram estão confusas e não parecem realmente preparadas para isso.

Hannah sorriu com sabedoria. — Você, mais do que ninguém, sabe que você perdeu a última batalha porque você quis.

Aaron deu um sorriso para sua filha, disse: — Taurus não me deu escolha.

— Ele te deu uma escolha e você preferiu que ele poupasse a vida de Minuts. E agora, veja, Minuts te traiu, pai. — Disse Hannah.

— Quem é Minuts? — Indagou Jacob.

— Como você conviveu com ele tanto tempo e não sabe? É o cara que estava usando o corpo do seu irmão. Vocês o chamavam de fumaça preta, monstro fumaça, diabo, homem de preto, enfim. — Disse Aaron.

— Faça os escolhidos beberem da fonte e todos serão seus soldados, como no passado. Eles já têm os poderes deles, mas só irão acreditar quando beberem da água. Taweret já os preparou, eles que não sabem. — Disse Hannah.

— Então, todos são guardiões? — Indagou Hugo.

— Eu te falei que eu não era o único Hugo. Enfim, então, preciso prepará-los novamente, como fiz no passado com Minuts, Titis, Hegnus e Tevan? — Indagou Aaron.

— Exatamente isso. Eles são basicamente herdeiros dos poderes deles. Roger, Clementine, Yan, Miguel e os demais. Você já sabe formar um exército. Traga os soldados de Roger de volta para o lado certo, você tem esse poder, Aaron, e tudo terminará bem. Você é a esperança da ilha, pai. Mantenha-se firme em sua missão. — Disse Hannah.

As figuras dos guardiões começaram a desaparecer, suas vozes ecoando suavemente no ar.  Aaron permaneceu naquele lugar sagrado, sentindo a reverberação das palavras e da energia que havia compartilhado com eles. Um vento suave sussurrava entre as árvores, carregando consigo memórias do passado e esperança para o futuro.

Enquanto Aaron se recolhia em seus pensamentos, uma figura familiar se aproximou dele. Era Jack Shephard, um homem que ele nunca conheceu pessoalmente, pelo menos, não como adulto, mas cuja presença sempre havia sido tangível através das histórias e das memórias compartilhadas por aqueles que o amaram. Hugo percebendo o momento, resolveu se retirar para que os dois conversassem.

Jack olhou para Aaron com um sorriso emocionado, seus olhos refletindo a jornada que havia percorrido. Ele se aproximou do sobrinho e disse com um tom de gratidão: — Você cresceu, Aaron. Parece que foi ontem que eu... Bem, parece que eu nunca tive a chance de te ver assim.

Aaron assentiu com respeito, sentindo uma conexão inexplicável com o homem que agora estava diante dele. — Eu ouvi muitas histórias sobre você, Jack.

Jack riu. Então, olhando para os cantos da caverna ao redor, disse: — Eu costumava ser alguém que acreditava apenas no que podia ver, no que podia tocar. Mas a ilha... Ela mudou tudo. Mudou a mim e a todos nós.

Aaron sentiu o peso das palavras de Jack, compreendendo a profundidade do que ele estava dizendo.

— Hugo me falou sobre John Locke e quem ele foi para você.

Jack sorriu com nostalgia. — John... Ele era alguém que acreditava no impossível. Ele acreditava na ilha e em seu propósito de uma forma que eu nunca consegui entender completamente. E, você sabe, ele estava certo. Nos últimos momentos da minha vida, quando eu estava deitado naquele bambuzal, vendo o avião da Agira partir, eu senti... eu senti que fiz a coisa certa. Que eu fiz o que John sempre acreditou que eu deveria fazer.

As palavras de Jack ecoaram no ar, carregadas de emoção e significado. Aaron sentiu a presença de John Locke de alguma forma, como se seu espírito estivesse ali, entre eles. — Eu acredito que você fez a coisa certa também, tio. Você trouxe esperança para muitas pessoas, e a ilha nunca esquecerá o que você fez.

Jack olhou para Aaron com gratidão e respeito. — Proteja a ilha, Aaron. Você é o guardião e sempre foi.

Aaron assentiu com determinação. — Eu prometo, tio. Farei o meu melhor.

Os dois compartilharam um momento silencioso, a brisa da ilha envolvendo-os como um abraço invisível.

Então, com um último sorriso, Jack se afastou, desaparecendo na escuridão da caverna enquanto a chama das tochas se apagava. Aaron ficou ali, sozinho, sentindo o peso das palavras e das histórias que haviam sido transmitidas a ele. Ele estava pronto para enfrentar o que estava por vir, guiado pela sabedoria daqueles que o sucederam. A jornada continuava, e Aaron estava determinado a cumprir seu destino junto aos seus companheiros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lost: O candidato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.