Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 30
Capítulo 30 - Os guardiões: parte 2




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Sob o sol escaldante do deserto de Decalia, Egito, há aproximadamente 5 mil anos, Aaron vagava sozinho, abandonado por uma versão mais velha de si mesmo. Com apenas uma pistola em mãos e um horizonte interminável de areia à sua frente, cada momento parecia uma batalha contra o calor sufocante que o envolvia. Largando aquela pistola por ali mesmo caminhou mais alguns metros e finalmente, exausto, ele cedeu e tombou no monte de areia ardente.

Momentos depois, silhuetas montadas em dromedários emergiram no horizonte. Trajando vestes típicas do deserto e com pele escura, esses homens emanavam uma curiosidade intrigada ao depararem-se com o jovem de pele clara e cabelos loiros, desacordado à sua frente. Com um pouco de água, eles o despertaram, murmurando palavras incompreensíveis para Aaron, que lutava para se situar naquela realidade confusa.

— Não consigo entender vocês — murmurou Aaron, ainda atordoado pela situação.

Os homens trocaram olhares e, empunhando espadas, apontaram-nas em direção a Aaron, fazendo-o estremecer de medo.

— Esperem, por favor, não me matem — suplicou ele, tentando negociar. Mas os homens, falando em um idioma desconhecido para Aaron até aquele momento, pareciam não entender suas palavras, deixando-o em um impasse tenso no deserto implacável.

No presente, Aaron e Hugo retornavam da caverna onde se encontraram com os outros guardiões, prontos para iniciar os preparativos dos candidatos para o que ele chamava de "a batalha final". O momento evocava um sentimento de déjà vu, como se Aaron estivesse revivendo um passado distante. No entanto, desta vez, ele estava mais determinado do que nunca. Ao chegarem à praia, encontraram todos reunidos. Yan e Bianca carregavam o corpo de Bernard da floresta e traziam consigo Ji Yeon, machucada e demostrando um pouco de arrependimento por ter abandonado o grupo, marcando um momento de dor e luto, mas também de preparação.

Clementine correu até Aaron, ansiosa: — Onde vocês estavam?

— Fomos consultar os antigos guardiões — respondeu ele.

— Você não disse que era o primeiro? — ela questionou.

— Sim, fui o primeiro, mas outros vieram depois de mim, até Hugo assumir o papel. Todos nós que viemos para cá somos, de certa forma, guardiões dessas terras. Em breve, os outros chegarão. Os candidatos, tanto os escolhidos quanto os rejeitados, lutarão juntos — explicou Aaron.

— Os demais? — Hugo perguntou, perplexo.

— Não se preocupe com isso, Hugo. Primeiro, faremos um funeral digno para Bernard. Em seguida, realizaremos o ritual, onde todos receberão orientações sobre o que precisam fazer — declarou Aaron, finalmente revelando seu plano e trazendo um fio de esperança para o grupo reunido.

Em 2971 a.C., Aaron foi capturado pelos homens que o encontraram perdido no meio do deserto. Assustado e confuso, ele era levado como prisioneiro, incapaz de entender a língua dos seus captores. No entanto, ele encontrava algum conforto nas palavras reconfortantes de sua versão mais velha, que afirmou que tudo ficaria bem de alguma forma. Haviam também mais dois homens sendo levados cativos junto dele.

Adentrando uma cidade que exalava prosperidade, Aaron observava maravilhado cada detalhe daquela civilização ancestral. No centro da cidade erguia-se um majestoso templo, o mesmo que ele reconheceria mais tarde na ilha. Era como se ele realmente tivesse sido transportado de volta no tempo, como sua versão mais velha havia previsto.

Conduzido diante de um homem que parecia ser o rei, chamado Rael pelos presentes, vestindo túnicas imponentes e impondo uma presença física intimidadora, Aaron foi julgado e sentenciado a ser levado à prisão junto aos outros dois homens que o acompanhavam até o tribunal.

Horas se arrastaram na cela escura e malcheirosa, onde Aaron encontrou-se ao lado dos outros dois cativos. Sendo o único de pele clara ali, ele despertava a curiosidade dos outros que imaginavam que ele era um imigrante do ocidente mais distante. Um dos homens se aproximou e tentou se comunicar, mas Aaron não entendia uma palavra do que ele dizia.

— Não te entendo — murmurou Aaron.

O homem percebeu a barreira da linguagem e recorreu a gestos. Colocando a mão sobre o peito, ele disse: — Tevan.

— Está me dizendo que seu nome é Tevan? — perguntou Aaron.

Tevan repetiu o gesto e a palavra, enquanto Aaron, mais tranquilo agora, imitava o gesto e disse: — Aaron.

A pronúncia parecia desafiadora para os decalos e Tevan tentava repeti-la diversas vezes, então, tentando novamente, desta vez com mais facilidade: — Hanbal?

Ouvir seu nome na língua estranha foi como um sinal de validação para Aaron. "Hanbal" não era o nome que ele escolhera, mas era como os decalos o chamavam. Então, aceitou aquele como seu nome acenando com a cabeça.

Enquanto isso, o terceiro homem na cela, que estava sentado em silêncio, observava atentamente. Tevan o convidou para se juntar à conversa, gesticulando para si mesmo e dizendo: — Tevan

Em seguida, apontou para Aaron e disse: — Hanbal.

O homem, cabisbaixo e triste, mas ainda assim curioso, respondeu: — Minuts.

Então ali selava o momento em que Aaron, Tevan e Minuts se conheceram. Um momento tenso, mas que marcaria a história de Decalia e da Ilha para sempre.

No presente, em Alexandria, Alvar, Charles e outros dois homens, sendo um, o piloto, caminhavam em direção ao jato que os levariam à Londres. Conversavam:

— Você sabe que talvez a Penny não vá cumprir há tempo o combinado e talvez nem como o senhor ordenou, Alvar. — Disse Chales, aparentemente preocupado com sua filha.

— Não se preocupe Charles, eu não tenho pressa em resolver os meus planos, já vivi por uma eternidade por esse mundo e pressa é algo que não me cabe. Mas vou cumprir o acordo de que fiz contigo de não tocar em sua família. — Disse Charles.

— Fico feliz em ouvir isso. — Disse Charles.

— Sabe por que escolhi Alexandria para ser a sede da Dharma? — Perguntou Alvar, já sabendo da resposta que Charles daria.

— É uma bela cidade. — Disse Charles.

— Aqui, há muitos anos, habitavam os rikotis, meus fiéis seguidores. Fazer a base aqui era como um retorno triunfal dos meus fies seguidores. — Disse Alvar, fazendo Charles dar um sorriso de canto.

Eles caminhavam apressadamente para o local onde iriam embarcar no jato. Charles, apesar de possuído pelos desejos de Alvar, suava frio, com medo do que aquele homem, ou deus, que estava ao seu lado, era capaz de fazer. Ele sentiu a morte, viveu a morte e depois estava vivo novamente. Era algo incompreensível, mas que estava realmente acontecendo.

Enquanto isso ocorria, Ben encontrava-se dentro de sua cela na estação a Linha, solitário, com dois guardas do lado de fora impedindo sua fuga. Sua mente borbulhava diversos tipos de sentimentos e pensamentos sobre seu passado e seu futuro. Fechou seus olhos por alguns segundos e ali, desejou a morte, pois, o arrependimento por todos seus atos finalmente o havia alcançado, mas ele decidiu apenas deixar tudo seguir seu curso natural, por isso, estava apenas aguardando que alguém aparecesse para o levar cativo ou algum resgate de última hora.

Voltando à 2971 a.C, naquela época, Decalia estava mergulhada em uma guerra constante contra seus vizinhos, os Rikotis. Decalia adorava a divindade Taweret, enquanto os Rikotis seguiam Taurus. O objetivo de Taurus era conquistar Decalia e os poderes de Taweret que residiam naquela região e assim dominar sobre todas as nações.

Uma figura imponente, uma espécie de guia espiritual de Taweret, chegou até a cela dos prisioneiros e fixou seu olhar em Aaron, deixando-o completamente perplexo. A mulher estava vestida com roupas deslumbrantes e reluzentes.

— Hanbal?! — chamou ela.

— Você consegue me entender? — perguntou Aaron, querendo ser compreendido.

— Claro. Estamos todos falando a mesma língua — respondeu ela, assustando o rapaz que viu que compreendia o idioma daquela mulher.

Minuts e Tevan se levantaram e se ajoelharam diante dela. — Sacerdotisa — disseram eles em uníssono.

Aaron estava atordoado ao perceber que agora compreendia as palavras que saíam da boca dos prisioneiros.

— Como pode? — ele indagou.

— Estávamos esperando por você. Taweret o enviou e o preparou, nosso guardião. E agora você fala nossa língua. Serei sua guia espiritual, e esses homens serão seus companheiros de batalha — explicou ela.

Tudo estava acontecendo rápido demais para Aaron, e ele começou a sentir medo.

— Eu não pedi por nada disso — protestou.

— Não somos donos de nossos destinos, Hanbal. Você nasceu aqui, não é? Então você é um legítimo decalo, mesmo que tenha nascido no futuro — afirmou ela.

— Como sabe que vim do futuro? — perguntou Aaron, surpreso. Tevan e Minuts o olharam também confusos.

— O tempo não é uma linha reta, é algo neurológico para nós meros humanos. Para os deuses, passado, presente e futuro acontecem simultaneamente — disse a sacerdotisa, deixando Aaron ainda mais confuso. — Venham, precisamos resolver algumas pendências. E temos uma batalha iminente.

— Eu não sei empunhar uma espada — admitiu Aaron.

— Irá aprender. Teremos tempo — tranquilizou-o ela.

— Eu te ensino, irmão — ofereceu Minuts.

— E pode contar comigo também — acrescentou Tevan.

Aaron sorriu. Naquele momento, ele sabia que estava diante de uma jornada única em sua vida. A sacerdotisa acenou para que o carcereiro abrisse a cela. Ela exercia um certo poder naquela região.

No presente, na ilha, Aaron, celebrava o funeral de Bernard. Emma estava abraçada com Rose que estava inconsolável. O momento era de tristeza diante do grupo, mas apesar disso, não havia tempo a perder.

— Pessoal, não podemos deixar que a morte de nossos companheiros seja em vão. Nesse momento, iremos fazer um ritual, uma mera formalidade, e todos vocês irão compreender a função de vocês aqui na ilha. — Disse Aaron, enquanto todos os olharam assustados.

— Onde quer chegar, Aaron? — Indagou Jessy, confusa e já cansada de tudo aquilo.

— Todos, sem exceção, tiveram uma experiência com a ilha antes mesmos de vir aqui. — Disse Aaron e todos ficaram pensativos. Aaron continuou: — Entendem agora? Nenhum de vocês estão aqui em vão. A ilha os chamou para cumprir seus destinos e finalmente esse momento chegou.

Sem mais questionamentos por parte do grupo, Aaron acenou para que eles o acompanhassem, e, assim, fizeram. Rose e Emma pelo contrário, permaneceu diante do túmulo de Bernard e Cindy por um tempo, e Aaron respeitou aquele momento de dor das duas.

Enquanto isso se desenrolava na ilha, em Londres, o impasse era de desespero. Claire, Kate, James, Alexander, Tyler e Charlie se preparavam para embarcar no jato o mais rápido possível. Do lado de fora, Penelope observava aquele momento tenso com medo em seu coração, afinal, dia seguinte receberia uma visita não muito agradável.

Desmond, sorrateiramente, chegou ao aeroporto donde eles estavam. Abraçou sua esposa por trás e a beijou.

— Desculpa, Penny. Eu entendo agora a gravidade da situação. Mas eu não quero perder minha família, mas se Charlie está mais seguro na ilha, que assim seja. — Disse ele, sorrindo para sua esposa, que deu um leve sorriso, mas seu coração estava dilacerado e com medo de que Alvar Hanso era capaz de fazer ao descobrir que os candidatos de Jacob não se encontravam na sede da Widmore como ele havia solicitado.

As horas se arrastavam dentro do jato que levava o pessoal para ilha, James, Charlie e Tyler estavam sentados de um lado de frente para Kate, Alexander e Claire, que estava de braços cruzados e com raiva da presença de Kate no ambiente. James, como sempre, tentou quebrar o gelo.

— Quem diria que depois de tantos anos voltaríamos para lá. — Disse James, olhando para Kate. Alexander o olhou com raiva, mas decidiu não comentar sobre.

— Sawyer, pare. — Disse Kate.

— Eu não fiz nada. — Comentou James.

— Pare de tentar, pelo menos por um instante, pare de tentar ser você. Pelo menos por hoje. — Disse ela.

James deu um sorriso de canto, e se calou. Não havia nada que ele pudesse fazer para mudar o que já estava feito: Kate já não era mais sua mulher.

Em Londres, em uma cela de uma delegacia local, Richard permanecia preso e pensativo sobre suas ações. Resistir as trevas, não era fácil. Sua mente estava uma bagunça, apesar de sentir um desejo imenso de matar seus companheiros, um outro lado da sua mente, dizia que não era o certo a se fazer. Mas Taurus era muito forte, em um ataque de loucura, começou a gritar desesperadamente, chamando a atenção do guarda que estava ali.

— Faça silêncio, por favor. — Gritou o homem, seguido do silêncio de Richard, que caiu no choro logo em seguida.

Em 2791 a.C, na atmosfera carregada de tensão do palácio real, Aaron, Minuts e Tevan seguiram a sacerdotisa até o mesmo local onde receberam a sentença que os levaram a prisão. O rei, Rael, ergueu-se abruptamente de seu trono, olhos ferozes fulminando-os, e rugiu:

— O que é isto?

A sacerdotisa enfrentou o rei com firmeza, sua voz soando como um trovão suave:

— Esses homens são inocentes, meu rei.

Os dedos do rei apontaram acusadoramente para Tevan e Minuts, pronunciando sentenças como lâminas afiadas:

— Esses dois são rikotis, intrusos em Decalia. E este — ele apontou para Aaron com desprezo — não é um verdadeiro egípcio. Olhem para a cor de sua pele, é de um cretense ou celta. Não têm lugar em nossas terras.

Aaron, porém, ergueu-se com uma determinação surpreendente:

— Permita-me falar, senhor.

Todos os olhares convergiram para ele e estranharam o fato de Aaron falar tão claramente o idioma deles.

— Fale, estrangeiro — concedeu o rei, desafiador e interessado ao ouvir seu idioma suar tão facilmente da boca de um dito estrangeiro distante.

— Não sou celta nem de Creta como o senhor disse. Nasci aqui, neste lugar, mas em uma época futura — declarou Aaron.

O rei, inicialmente atônito, explodiu em gargalhadas, seguido pelos súditos, exceto por Aaron, a sacerdotisa, Minuts e Tevan. A sacerdotisa, imóvel diante da zombaria, enfrentou o rei com olhos de aço.

— O que este homem diz é verdade? — perguntou o rei, após recuperar a compostura.

— Sim, meu rei. Ele é um legítimo decalo, enviado do futuro para ser nosso protetor — afirmou a sacerdotisa, com autoridade.

O rei refletiu em silêncio por um momento, então sorriu de leve e sussurrou algo ao ouvido de um soldado ao seu lado. O soldado se aproximou de Aaron e colocou uma espada em suas mãos trêmulas. Aaron mal sabia como segurá-la, provocando outra onda de risos do rei.

— Um homem que mal sabe empunhar uma espada pretende ser o guardião de nossa deusa Taweret? — debochou o rei, incrédulo. Deixando Aaron constrangido.

— Ele aprenderá. E será ele quem nos ajudará a derrotar o imponente exército dos Rikotis liderado por Taurus — proclamou a sacerdotisa, firme.

— Muito bem. Faça o que for necessário para preparar este rapaz para a batalha. Quanto aos outros dois, de volta à prisão — ordenou o rei.

Minuts e Tevan ficaram chocados com a sentença.

— Perdão, senhor! — exclamou Tevan.

— Eu não permiti que falasse, rikoti — cortou o rei.

— Não somos rikotis, somos decalos. Éramos espias naquelas regiões e fomos capturados pelos seus soldados — interveio Tevan, enquanto Minuts assentia em acordo.

— Permita que eles lutem ao lado de Hanbal, nosso guardião — pediu a sacerdotisa.

— Muito bem. Confiarei em suas palavras. Mas espero que estejam certas. Não temos mais força para enfrentar Taurus sem o guardião — concordou o rei.

Nesse momento, a filha do rei, Titis, se aproximou, irradiando uma beleza transcendental, escondida atrás de túnicas que podiam ver apenas seus olhos. O rei a apresentou orgulhosamente:

— Esta é minha filha, Titis. Ela lutará ao lado de vocês. Aquele que empunhar sua espada será o homem mais abençoado deste mundo. — Disse ele, sorrindo. — Agora vão. Preparem-se para o ritual e o treinamento. Não temos tempo a perder — concluiu o rei, com um gesto imperioso.

No presente, o grupo se aventurava através da exuberante selva, seguindo os passos determinados de Aaron e Hugo em direção à fonte no coração misterioso da ilha. As horas de caminhada exaustiva eram pesadas, mas a promessa de finalmente desvendar um caminho real mantinha a esperança viva na equipe. Ji Yeon, com os braços cruzados e o semblante abatido, caminhava atrás, marcada pelos ferimentos recentes e pela tristeza. Jessy se aproximou dela, seu olhar carregado de preocupação, e ofereceu ajuda:

— Você quer que eu dê uma olhada nesses ferimentos?

Ji Yeon respondeu, sua voz carregada de desdenho:

— Não se comigo. Vamos apenas seguir o Aaron até onde ele quer nos levar e finalmente pôr um fim nesse jogo de palavras.

Jessy não desistiu tão facilmente, permanecendo ao lado dela enquanto Clementine seguia à frente, evitando se envolver na tensão entre as duas.

— Ji, você não precisa sempre ser tão fechada. Estamos todos juntos nessa ilha, e nossa única esperança é acreditar nas palavras do Aaron. Se você quiser seguir conosco e descobrir também, nos acompanhe. Caso contrário, fique aqui. — Jessy falou, antes de apressar o passo, deixando Ji Yeon para trás, imersa em seus pensamentos.

Clementine se aproximou de Jessy, transmitindo conforto com suas palavras:

— Não se preocupe com ela.

Jessy sorriu, reconhecendo a força da garota ao seu lado:

— Aaron disse que todos estamos aqui por algum propósito. Mesmo que Ji Yeon não entenda agora, um dia ela entenderá.

À frente do grupo, Aaron sorriu, satisfeito com aquelas palavras, quando de repente, um estrondo ecoou pelo ar e um tiro certeiro dilacerou o peito de Hugo, fazendo-o cair pesadamente no chão. Um grito de desespero escapou dos lábios de todos.

— Corram! — Yan gritou, o pânico ecoando em sua voz.

Todos correram em desespero. Aaron tentou arrastar Hugo consigo, mas seu corpo inerte era pesado demais para ser movido com facilidade. Enquanto isso, Wilbert se aproximava lentamente com seus soldados, e Walt era escoltado por mais dois homens.

— Parece que este não é mais um guardião. Eu percebi quando tentei matar Roger e não funcionou. — Wilbert falou, sua voz cortante cortando o ar.

Aaron olhou para Hugo, assustado e chocado ao ver seu amigo agonizando no chão.

— Hugo?! O que você fez?! — Ele exclamou, sua voz embargada pela angústia.

Hugo, lutando para respirar, respondeu com dificuldade:

— Isso... eu... Eu... eu abdiquei... do cargo... Não sou mais o guardião.

Aaron olhou para ele, a dor transbordando em seus olhos:

— Por que, Hugo? Por que você fez isso? Você não pode morrer assim.

Wilbert, observando com satisfação a cena diante dele, deu uma risada irônica.

— Agradeço a Jack por me passar o cargo, mas... chega. Eu... eu não quero mais isso. Deixe-me partir, Aaron, por favor. — Hugo implorou, as lágrimas misturando-se com o suor em seu rosto.

Walt, emocionado, observou a cena com tristeza. Hugo acenou para ele, pedindo para se aproximar. Por um momento, os soldados de Wilbert permitiram que Walt se aproximasse.

Aaron, com o coração partido, levantou-se, permitindo que Walt e Hugo tivessem uma última conversa.

— Eu... eu ainda te devo... aqueles 83 mil dólares, não é mesmo, cara? — Hugo disse, um sorriso fraco surgindo em seu rosto e lembrando do dia que perdeu um jogo para Walt ainda criança.

As lágrimas rolaram livremente pelo rosto de Walt.

— Sim, é verdade. Eu te venci. — Disse Walt, tentando sorrir. — Você nunca pagou.

Hugo suspirou, seu corpo enfraquecido lutando para manter-se vivo:

— Desculpe, cara... não conseguirei... cumprir o acordo... contigo.

Walt chorou, a dor da despedida pesando em seu peito:

— Você não me deve nada, Hugo. Obrigado... por tudo.

Wilbert, impaciente, interrompeu o momento como uma sombra sinistra, ordenando que os soldados levassem Walt embora.

— Não há mais tempo para sentimentalismos. Vamos. — Ele disse, os soldados obedecendo prontamente.

O coração de Aaron apertou-se diante da tristeza e da despedida iminente. Com a voz embargada pelo choro, ele virou-se de costas, incapaz de testemunhar a morte de seu amigo.

Mas Hugo chamou por ele, sua voz fraca, porém firme:

— Vire-se. Preciso que você me escute. Eu... eu tenho algo para te dizer.

Aaron, com os olhos cheios de lágrimas, voltou-se para Hugo, pronto para ouvir suas últimas palavras.

— Pode falar. — Disse, sua voz carregada de emoção.

Hugo suspirou, seu corpo enfraquecido lutando contra o inevitável:

— Eu não seria útil na batalha de vocês. Olhe para mim... Mal consigo correr. Talvez seja melhor assim.

— Mas eu não queria isso. — Disse Aaron, aos prantos.

— Quero um pouco de água. Será que pode trazer para mim?

Aaron acenou para Yan, que se aproximava lentamente, sinalizando para que trouxesse água para Hugo.

— Sim, claro. — Respondeu Aaron, enquanto Yan se apressava em atender ao pedido.

Hugo olhou para Aaron, sua expressão séria, mas serena:

— Eu tenho um desejo especial para Taweret. Quero reencontrar meus amigos que conheci na ilha antes de partir. Quero que ela nos dê uma chance de nos despedirmos de alguma forma. Esse é o último pedido que faço.

Aaron assentiu, sua voz falhando com a emoção:

— Sim, meu amigo. Irei levar seu pedido a ela.

Hugo sorriu fraco, sua respiração cada vez mais fraca:

— Vença a batalha, Aaron. Não deixe Taurus vencer.

Com seu último suspiro, Hugo partiu. Aaron percebeu que seu amigo se fora, e com lágrimas nos olhos e o coração dilacerado, levantou-se. Yan chegou com a água em um recipiente improvisado, mas Aaron acenou para ele, já sabendo que era tarde demais. Hugo estava morto

No ano de 2966 a.C., cinco anos após a chegada de Aaron ao passado, em meio à atmosfera carregada de determinação e mistério, Aaron, Minuts e Tevan se dedicavam incansavelmente ao treinamento. Enquanto o sol dourado banhava o campo de treinamento, o rei Rael se aproximou acompanhado por dois soldados imponentes e um homem de presença intimidadora. Este homem, de pele escura e olhos penetrantes, vestia trajes de guerreiro que exalavam uma aura única de autoridade e mistério.

— Hanbal, permita-me apresentar-lhe Hegnus, o bravo general do exército de Decalia — anunciou o rei Rael, com uma reverência.

— É uma honra conhecê-lo, senhor — respondeu Aaron, interrompendo momentaneamente o treinamento.

Entretanto, Hegnus, com um olhar perspicaz, observou Aaron atentamente antes de dirigir-se ao rei com uma questão intrigante:

— Este homem não é um egípcio, meu rei. Sua origem parece divergir. Seria ele celta ou hitita?

O rei, exibindo um sorriso sutil de ironia, respondeu com calma:

— Segundo suas próprias palavras e as visões de nossa sacerdotisa, ele nasceu aqui, mas veio do futuro. Uma situação peculiar, sem dúvida.

— E pretende que ele seja nosso guia na iminente batalha contra os rikotis? — questionou Hegnus, com um olhar desafiador voltado para Aaron.

O rei Rael, resignado, respondeu:

— Não nos resta alternativa senão confiar nas palavras da sacerdotisa. Se ela estiver correta, este homem é nosso guardião e devemos confiar nele para liderar-nos.

Enquanto o rei se afastava, Hegnus aproximou-se de Aaron, avaliando-o com um misto de desconfiança e interesse.

— Já participou de alguma batalha, rapaz? — inquiriu Hegnus, com um tom austero.

— Não, senhor — respondeu Aaron com firmeza.

— Suspeitei disso, dado o seu porte físico — comentou Hegnus, preparando-se para um movimento rápido. Contudo, Aaron demonstrou agilidade ao esquivar-se habilmente.

— Possui alguma habilidade em artes marciais? — continuou Hegnus, observando-o atentamente.

— Sim, senhor — respondeu Aaron, mantendo a compostura.

— Um bom começo, então — concedeu Hegnus, enquanto a sacerdotisa se aproximava lentamente, seu sorriso denotando uma aura enigmática.

— Chegou a hora, Hanbal. É tempo de realizar o ritual que concederá a você sua habilidade — anunciou ela, enquanto Titis unia-se ao grupo.

Mais tarde, diante do rio sagrado, onde a energia ancestral fluía como um rio de poder, Aaron preparava-se para o ritual que moldaria seu destino para sempre. Os demais apenas observavam.

— Ao beber desta água, será transformado. Tornar-se-á o guardião da luz que protege Decalia e a presença de Taweret em nossa cidade — proclamou a sacerdotisa, convocando Aaron para o primeiro passo.

Com uma elegância cerimonial, ela ofereceu o recipiente a Aaron, que bebeu da água sagrada.

— A partir deste momento, somos iguais. Somos possuidores dos poderes de Taweret, eu sua sacerdotisa e você seu guardião — declarou ela, num tom solene.

E assim, o ritual terminou. Como tom de respeito, os demais se curvaram diante de Aaron, reconhecendo-o como o guardião.

No presente, enquanto a luz do entardecer iluminava a cena sombria, Aaron liderava um grupo abatido até o riacho, o coração pulsante da ilha misteriosa. Jessy, Ji Yeon e Clementine já estavam ali, seus semblantes carregados de pesar pela perda de Hugo. O grupo estava encantado com o brilho que era emitido da gruta de onde a água emanava.

Aaron, determinado a honrar o legado deixado, deu início ao ritual, oferecendo a cada um deles a água que simbolizava uma nova responsabilidade e um novo destino.

— Ao beberem desta água, serão os guardiões da ilha e da luz que representa a presença de Taweret — proclamou Aaron, enquanto oferecia o recipiente a Yan, Clementine, Ji Yeon e Jessy, um a um.

Com um gesto solene, o ritual se completou, e um novo capítulo se iniciava para aqueles destinados a proteger a ilha e seus segredos ancestrais.

Aaron fixou seu olhar nos companheiros, seu tom impregnado de determinação ecoando no ar carregado de mistério: — A partir de hoje, somos os guardiões desta ilha, incumbidos de protegê-la a todo custo. Vou ensinar-lhes não apenas a lutar, mas também a empregar suas habilidades no momento certo. Não duvidem de nossa capacidade de derrotar Taurus e seu exército.

— E quanto ao corpo de Hugo? — Jessy questionou, sua voz ecoando um tom de preocupação.

— Vamos enterrá-lo aqui, neste lugar onde ele aceitou a responsabilidade de ser guardião. E levarei à Taweret seu último desejo. — Aaron respondeu, seus olhos refletindo a tristeza compartilhada por todos ali presentes.

Enquanto isso, em Londres, Penelope perambulava nervosamente pela recepção das Corporações Widmore. De repente, Alvar Hanso e Charles Widmore adentraram o local.

— Pai? — Ela murmurou, suas emoções transparecendo enquanto seus olhos encontravam Charles, seu pai, inesperadamente vivo. — Então era verdade?

— Olá, filha — ele cumprimentou, e Penelope correu para seus braços.

— Desculpe-me — ela soluçou.

— Desculpe-se pelo quê? — Charles perguntou, confuso.

— Eu enviei os candidatos de Jacob de volta à ilha, junto com seu neto. Sinto muito, pai — ela confessou, lágrimas escorrendo por seu rosto.

Charles ficou visivelmente intrigado, mas Alvar sorriu sutilmente e afirmou: — Eu sabia que você faria isso, sua tola. Não se preocupe.

— Como assim?! — Penelope indagou, confusa.

Enquanto isso, o jato transportando os candidatos de Jacob, Charlie e Tyler, aterrissava numa ilha no Pacífico, completamente diferente do que esperavam. Todos desembarcaram, percebendo instantaneamente que algo estava errado.

— Este lugar não se parece em nada com nossa ilha — James observou, seus olhos varrendo o cenário desconhecido.

— Que tolos nós fomos. Fomos enganados — Charlie murmurou, sua voz carregada de desânimo.

Em Londres, Alvar observava Penelope com uma intensidade gélida, enquanto Desmond chegava apressadamente, seu coração martelando no peito.

— Alô, Desmond — Alvar cumprimentou, sua voz cortante ecoando pelo recinto, enquanto os olhos de Desmond se arregalavam de surpresa, confrontados com a presença inesperada de Charles.

— Charles? — Desmond murmurou, perplexo, enquanto o peso das palavras de Alvar o sufocava.

— Deixe-o de lado. O assunto é entre você e eu — Alvar declarou, virando-se para Desmond, sua postura imponente deixando claro que não havia espaço para desvios.

— O que vai fazer com minha família, seu desgraçado? — Desmond exigiu, sua voz trêmula de raiva e desespero, ecoando pelo local.

— Eu? Nada. Não se preocupe. Fui até você e disse para você esquecer essa ilha e manter seu império, claro, sob meu controle. Você se recusou e disse que não iria parar, lembra? — Indagou Alvar, sua voz fria cortando o ar, enquanto Desmond lutava para compreender o alcance das palavras de seu adversário.

— Seu maldito — Desmond rosnou, as palavras escapando de seus lábios como brasas ardentes.

— Desmond, Desmond, Desmond... Você deveria ter permanecido naquela ilha. A propósito, eu enviei seus amigos para Guam. Achou mesmo que eu não alteraria as coordenadas na estação Poste de Luz? Eu sou um deus, seus insolentes. — Alvar provocou, seu sorriso malicioso ecoando como uma sentença de morte.

— O que você fará com eles? Meu filho também está lá. — Penelope perguntou, sua voz tremendo de apreensão, seus olhos fixos em Alvar em busca de uma esperança que desaparecia rapidamente.

— Bem, eu gostaria de lhe dar uma resposta otimista, mas, afinal, você enviou seu filho com eles porque quis. O que os espera lá não é nada agradável, mas... — Alvar respondeu, seu tom impiedoso ecoando como uma sentença de morte iminente.

Enquanto isso, em Guam, Kate olhou para o piloto e decidiu, sua voz firme apesar do medo que a consumia:

— Devemos retornar.

— Não temos combustível para isso e estamos no meio do nada. Este era um voo só de ida — o piloto respondeu, sua voz carregada de resignação diante do destino sombrio que se desenrolava diante deles.

De repente, soldados armados os cercaram por todos os lados, suas armas brilhando como julgamentos iminentes, deixando-os sem opções.

— Não se movam! — os soldados ordenaram, suas vozes ecoando como sentenças de morte.

James murmurou, sua voz carregada de resignação:

— Parece que a Widmore nos enfiou numa enrascada novamente.

— Silêncio! Não permitirei conversas — um dos soldados advertiu, sua voz cortante como lâmina pronta para ceifar vidas, antes de ligar para Alvar.

— Alô? — Alvar atendeu o telefone, sua voz gélida ecoando como uma promessa de desgraça iminente.

— Estamos com eles sob custódia. Deveríamos eliminá-los? — o soldado perguntou, sua voz carregada de uma brutalidade iminente.

— Ainda não. A festa está apenas começando. Prendam-nos, e depois decidiremos o que fazer com eles — Alvar ordenou, sua voz impiedosa ecoando como um decreto de morte.

— Sim, senhor — o soldado respondeu, sua voz submissa como um prenúncio do caos que se aproximava.

Alvar olhou para Penelope e comentou em voz alta, seu tom arrogante ecoando como um prelúdio de desespero:

— Viu só? Não sou tão ruim assim. Apenas quero recuperar o que sempre me pertenceu: este mundo.

Penelope soltou um suspiro aliviado, seu coração apertado pelo peso da incerteza enquanto Alvar pegava seu telefone e ligava para Omer Jarrah.

— Pronto — Omer atendeu, sua voz carregada de apreensão.

— Vocês podem partir. Vocês tem apenas uma hora. — Alvar ordenou, sua voz fria ecoando como uma sentença final, antes de encerrar a ligação.

Omer saiu da estação a Linha e deparou-se com uma gigantesca frota de navios, todos marcados com o símbolo da estação da Dharma a Linha. Alguns transportavam animais, outros equipamentos tecnológicos. Era o renascimento da Dharma. Dois soldados conduziram Ben, sob escolta, em direção a um dos navios, seu destino tão incerto quanto as águas tumultuosas que se estendiam à frente.

Em Londres, Alvar falou alto o suficiente para todos ouvirem, seu tom triunfante ecoando como uma profecia de destruição:

— A partir de hoje, sou o dono das Corporações Widmore, da Dharma e das Empresas Hanso. Tornei-me o maior acionista deste mundo. E isso é apenas o começo.

Desmond, Penelope e os demais presentes olhavam perplexos para aquele momento, mas nada perturbava mais que o sorriso no rosto de Charles Widmore. Aquele não era definitivamente o mesmo.


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Notas finais do capítulo

RETORNAREMOS EM 17 DE MARÇO COM A 4ª PARTE DE LOST: O CANDIDATO
SE LEU ATÉ AQUI, MUITO OBRIGADO. E EM MARÇO RETORNO COM A CONTINUAÇÃO.



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