Uma Estrelinha em Nossos Corações escrita por BabyGirl


Capítulo 2
Luto


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Três dias depois…

 

Luke destrancou a porta e deu espaço para Cassie entrar. E em seguida entrou também e fechou a porta, trancando-a em seguida. Peaches foi ao encontro deles. Porém Cassie a ignorou totalmente, seguindo direto para seu quarto. Luke escutou Cassie trancando a porta após fechá-la. 

— Hey bebê…   - Luke abaixou e acariciou Peaches. — Desculpa a Cassie, tá? … Ela está muito triste. Não é culpa sua… vai ficar tudo bem. - Era isso que Luke desejava, mas não sabia quando ou como isso aconteceria. — Viu? Vai ficar tudo bem. - Ele abraçou Peaches em seguida.



(…)



— Olá Luke. - Disse Marisol dando um abraço bem apertado nele.  — Como está? 

— Bem… dentro do possível. - Ele respondeu retribuindo o abraço da mesma forma. 

— E a Cassie?

— Ela está trancada no quarto…

— Ela vai ficar bem, Luke. Minha filha é forte, … vocês vão superar.

Seu primeiro dia em casa após essa perda tão grande não estava sendo nada fácil. Cassie continuava trancada no quarto. Não queria nem vê- lo. Não queria comer. Tomou apenas um suco e uma vitamina de frutas que Marisol fez para ela. 

Marisol decidiu não dormir lá aquela noite para dar mais privacidade ao casal. Preparou uma janta para Luke e foi embora.

Ele também não tinha fome. Comeu apenas algumas colheradas por muita insistência de Marisol.

Já havia anoitecido e ele sabia que Cassie passaria a noite sozinha, ele queria muito estar com ela e que ela estivesse com ele, porém ele decidiu dar espaço para ela.

Luke se dirigiu até o quarto do bebê. Teve que respirar fundo e tomar coragem para girar a maçaneta da porta.

Quando o fez, parecia que ele estava afundando na água. Não sentia mais o chão sob seus pés. 

Tudo estava lá como eles haviam arrumado, mas agora aquele alguém tão amado por ele e por Cassie não ocuparia mais aquele lugar, não faria mais parte de suas vidas.

Até respirar aquele ar era difícil, pesado. Todo o ar tinha cheirinho de bebê. 

Luke passou sua mão pelo berço,  percorrendo sua extensão. 

O bercinho todo arrumado em branco e com alguns detalhes em cores neutras, pois não sabiam o sexo do filho deles.

O plano era que depois eles arrumariam com cores mais definidas do sexo do bebê. Apesar de saber que Cassie não era uma mulher muito de rosa, caso fosse uma menina.

Uma dor tão forte cortara seu coração.  Parecia que ele nem batia mais. Era uma dor sufocante.

Abriu uma das gavetas da cômoda e pegou algumas peças de roupas.  Tinha ali um body que Luke tinha comprado, muito especial para ele, a primeira peça de roupa para seu filho junto com um sapatinho de crochê branco.

Ele pegou aquela peça tão pequena, tão delicada e levou ao seu nariz, inalou aquele cheirinho suave e tão significativo e não pode mais se conter. Levou a peça quase escondida entre suas mãos sobre seu peito e ali ele chorou. Chorou copiosamente. Perdeu a noção de quanto tempo ficou ali assim…

Um tempo depois sentou-se na poltrona que seria para Cassie  amamentar. Ali passou a noite. Com coração partido em mil pedacinhos, com os olhos que derramavam tudo o que seu coração sentia sem medida em forma de lágrimas. 

Luke nunca fora muito religioso, contudo fez preces para Deus ou um ser Divino ou Superior no universo, que pudesse proteger e cuidar do seu filhinho ou sua filhinha, algo que ele não poderia mais fazer.

Tudo aquilo parecia ser um pesadelo. 

Toda aquela alegria e expectativa de antes agora só era dor e escuridão e solidão. 



No dia seguinte:

 

O casal tinha visitas, tanto a família de Luke como todos da banda The Loyal e também Marisol estavam presentes.

Com abraços, palavras de conforto e força para seguir adiante e também flores e comida, algumas refeições já prontas.

— Pessoal eu nem tenho como agradecer por todo esse apoio que vocês estão dando. Mas tenho que pedir desculpas pela Cassie, ela está muito mal e não quer  falar com ninguém. 

— Está tudo bem Luke - Nora disse e o abraçou em seguida — Nós entendemos. Não deve estar sendo fácil nem pra ela e nem para você. 

— Não, não está.  Dói demais… vou guardar todos os cartões e mensagens e vou entregar pra ela depois, quando estiver pronta. Saber que todos estão aqui para ela é muito importante. Vocês são incríveis. Obrigado. 

Eles ficaram lá mais um tempo dando apoio e consolo a Luke e no finzinho da tarde foram embora. Apenas Marisol e Jacob ficaram mais um pouco.

Seu pai era um homem de poucas palavras e era visível como estava sofrendo. Jacob estava apoiando Luke de um jeito tão amoroso, como ele nunca foi. Pelo menos Luke não tinha essa lembrança. 

Sentaram-se na varanda um ao lado do outro e ficaram assim por um bom tempo. Sem dizer nada. Não precisava.

E Marisol foi ficar com Cassie. A única que conseguia, não porque Cassie deixava, mas porque Marisol era persistente e não a deixava só por muito tempo. 

À noite seu pai foi embora, porém Marisol resolveu ficar. Dormiu no quarto de hóspedes. 

Luke passou mais uma noite acordado entre o sofá e o quarto de bebê. Peaches revezava, passava um tempo no quarto com Cassie e um tempo com ele. Ela sentia a tristeza deles e parecia estar triste também. 

Sua esposa já não trancava mais a porta do quarto, que já era um avanço, mas ainda não queria vê-lo, nem trocava uma palavra com ele. Como isso era doloroso para Luke. Contudo, por mais difícil que fosse, ele decidiu deixar as coisas no tempo dela.



 

Uns dias depois. 

 

— Já decidiram o que vão fazer?  - Questionou Marisol ao abrir a porta do quarto do bebê. 

— Eu não sei

— Eu não quero nada. - Cassie disse firme interrompendo Luke, enquanto se dirigia à cozinha.

— Tem certeza? - Perguntou Luke num tom suave.

— O meu bebê vai precisar dessas coisas para o quê? Hã? Pode doar tudo. Eu não quero nada. Nada. - Foi bastante enfática. — Com certeza tem alguma criança precisando.

— Tudo bem. - Luke  concordou.

Depois de beber água Cassie voltou ao seu quarto.

— Quando você estiver pronto Luke, vou te ajudar a arrumar tudo. - Ele apenas assentiu afirmativamente,  com um olhar triste.— Eu vou falar com a Cassie…

Uns minutos depois Marisol entrou no quarto com uma pequena refeição numa bandeja.

— Hey hija. Precisa comer alguma coisa.

— Não estou com fome, mãe. 

— Amor, precisa comer, seu diabetes...

— Hum. - Cassie a interrompeu. — Controlei tanto o diabetes e que me resultou isso? Não salvou a vida do meu bebê. 

— Oh Cassie… filha… não é fácil, mas não é culpa de ninguém. 

— Não? Eu tenho certeza que não nasci para ser feliz.

— Não diz isso, filha - Marisol disse abraçando-a e Cassie não conteve as lágrimas. 

Marisol se aconchegou com Cassie na cama abraçando-a para confortá- la. Ao lado delas, sobre a cama, estava Peaches observando-as com um olhar triste.

— Precisa comer filha. - Diz Marisol depois de um tempo. 

— Não desce nada mãe… parece que tem um bolo na minha garganta… 

— Faz um esforcinho filha. Só um pouco da sopa, hein?

Cassie assentiu e conseguiu tomar algumas colheres da sopa.

 

(…)

 

— Bom dia Luke. Como ela está? 

— Na mesma. Os dias se passam e nada muda. Eu não sei mais o que fazer. Ela tem tanta raiva de mim. — Ele disse contristado.

— Oh querido. - Marisol o abraçou bem apertado. - Não leve para o lado pessoal, Cassie não está com raiva de você. Ela está com raiva de tudo. Do mundo. Dela mesma. Mas é raiva por causa da perda. Enfim, não existe um certo e um errado para o luto. Não existe um manual do que possamos dizer ou fazer nessas horas. Porque cada um reage de uma forma. E o mais importante é que você está aqui para ela. Agora só depende dela e do tempo dela.

Ele assentiu cabisbaixo.

— E quanto a você? Precisa chorar, Luke. Sei que está sendo forte para ela, mas você também perdeu seu filho. Está sofrendo. Também está de luto.

— O pior de tudo é estar sozinho… - ele desabafou. — Cassie não me olha nem nos olhos…

Ele disse, caindo num choro profundo. Soluçando. 

Marisol o aconchegou em seus braços, deixando-o bem à vontade para externar tudo o que sentia.

— Sinto muito Luke. Eu sinto tanto… queria que as coisas fossem diferentes.

— Eu também. - Ele disse num choro incontido. — Se eu pudesse tudo seria diferente … seria tão diferente.

 

(…)

 

—Tem certeza que está pronto?

— Acho que sim, Marisol… quanto mais o tempo passar mais difícil vai ser.

Sua sogra começou a ajudar Luke a empacotar todo o enxoval e mobília do quarto do bebê, para doação. 

— Marisol, posso te pedir um favor? 

— Claro.

— Pode guardar essa caixa em sua casa? Cassie jogou tudo fora. Eu não sei exatamente do que se trata, mas acredito que sejam composições que ela fez pro nosso filho. Peguei de volta escondido dela porque acho que daqui a um tempo pode ser que ela se arrependa e se ela estiver pronta quero devolver a ela. - Marisol assentiu. — Mas não quero que ela encontre por agora aqui em casa, ainda é muito cedo para isso.

— Não se preocupe, querido. Vou fazer isso. Vou guardar lá em casa.

 

 (…)

 

Luke escutou a porta do quarto se abrir e se aproximou, queria ver Cassie.

— Oi amor. - Falou num tom suave e com um olhar terno.

— Me deixe em paz Luke!

— Cassie? Por favor, não aguento mais você me evitar e não falar comigo.

— Ah Luke, eu não quero ter essa conversa agora.

— E quando você quer? Você nem me olha mais.

— Me deixe em paz Luke. É só o que eu quero, me deixa sozinha.

— Ele era meu filho também. - Cassie revirou os olhos — Eu também estou sofrendo…

— Para com isso Luke. Para. - Ela começou a chorar. — Por que não vai embora? Eu não quero te ver.

— Por que isso agora? Cassie não é minha culpa e nem sua

— Para… para… eu não quero ouvir, eu não quero falar. Vai embora Luke, por favor. Faz o que estou te pedindo. Vai. Só some daqui. - Ela gritou e entrou no quarto em seguida. 

— Cassie? - Luke suspirou.  — Cassie, por favor… fala comigo.

Luke acariciou Peaches, pegou as chaves do carro e saiu.

 

(...)

 

Um tempo depois, Cassie saiu do quarto e não avistou Luke. Ela foi até a cozinha para beber água e Peaches a seguiu.

 — Está com fome amorzinho?

Peaches deu alguns latidinhos.

Cassie a acariciou e colocou ração para Peaches. Depois elas foram para o quarto de Cassie.

 

Cassie despertou assustada, olhou para o relógio em seu celular, algumas horas tinham se passado. Ela suspirou fundo. As palavras de Luke continuavam martelando em sua cabeça 'ele também era meu filho'.

Ela sabia disso. Sabia o que tinha feito com Luke. Afastando-o e tornando tudo mais difícil ao invés de consolá-lo, ou pelo menos tentar.  Estar lá para ele. Mas a dor era tanta. Tão insuportável e sufocante que ela só queria sumir, deixar de existir. 

Ela levantou, tomou uma ducha e trocou de roupas. Foi até a sala para se desculpar com Luke.

Mas ele não estava lá 

Seu coração apertou. 

— Peaches, você viu o Luke?

Peaches apenas ganiu. 

— Será que ele foi embora mesmo? Meu Deus, o que eu fiz? Não amor… não. 

 

Ela foi até o quarto, e as coisas dele estavam lá. Foi até o quarto de hóspedes, pois Luke estava dormindo lá desde que voltaram do hospital. Mas tudo estava lá também. Foi até o quarto do bebê, mas não podia entrar ali, apenas abriu alguns centímetros a porta, bateu e chamou por seu marido, porém em vão. Nenhuma resposta do outro lado. Nenhum ruído. Nada.

— Ah Luke, onde se meteu? Me perdoe por ter gritado e te expulsado.

 

Ela decidiu ligar para Jake. Saber se Luke estava por lá. 

 

 Ligação on

— Oi Jake.

— Oi Cassie… queria tanto poder te abraçar. 

— Eu sei, eu sei… me desculpe, eu não queria ver ninguém… - Suspirou. 

— Não se desculpe. Nem imagino o que está passando, sinta-se abraçada e qualquer coisa eu estou aqui e minha família também.

— Obrigada Jake, de coração. Eu queria saber se o Luke está aí?

 — Não. Ele não está. Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, sim. A gente brigou… quer dizer, eu briguei com ele. E ele saiu e até agora não voltou. Estou ficando preocupada já. 

— Hum... Aqui ele não está. Vou ver se ele está no meu pai. Qualquer coisa te falo ou você me atualiza.

— Obrigada, Jake.

Eles se despedem.

Ligação off

 

 Anoiteceu e nada de Luke aparecer ou dar notícias. O celular só caia na caixa postal. Ninguém conseguia falar com ele.

Marisol foi até a casa de Cassie.

— Mãe, o que eu fiz?

— Calma filha. Deve ser apenas um mal entendido. Logo ele aparece.

— Eu não tenho facilitado pra ele. - Suspirou ruidosamente. — Já estamos num momento difícil e eu ainda o expulsei de casa.

— Realmente filha tem sido difícil para vocês, mas Luke não é assim. Ele estava o tempo todo aqui por você. 

— Sim, ele estava. E eu? Estava para ele? Eu fui muito egoísta. Se ele foi embora a culpa é minha, mas eu queria só saber que ele está bem.

— Ele não levou nada?

 — Que eu percebesse não. Só as chaves do meu carro porque o dele está na oficina do Jacob.

— Vem cá filha, não fica assim. Ele vai aparecer logo.

Marisol disse tentando tranquilizar Cassie, entretanto ela também estava preocupada. Luke não era assim. Mesmo que ele tivesse ficado com raiva de Cassie ou ter saído para dar um tempo pra ele ou ir esfriar a cabeça depois da briga, ele teria dado notícias. 

Ele não voltou para casa durante toda a noite. Cassie não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte. Ligou para o Jacob que confirmou que ele não passou por lá. Seu sogro disse que iria até o apartamento dela.

 

(…)



— Temos que ir à polícia.  Ele não faria isso.

— Cassie eu não vou julgar, mas o que realmente aconteceu com vocês? - Disse Jacob sincero, mas curioso.

— Eu sei que a culpa é minha, eu estava com tanta raiva depois que perdi o meu bebê que eu queria afastar tudo e todos, principalmente o Luke. Porque ele me lembrava muito o nosso filho. Eu fui uma idiota e briguei com ele. Pedi pra ele sair de casa, na verdade eu mandei, expulsei ele daqui. - Sua voz soou trêmula e seus olhos marejados.

— Nada mais? 

— Não. Foi exatamente isso. Eu fui pro quarto e quando sai ele não estava e até agora não voltou. Não consigo falar com ele, o celular só dá caixa.

— Hum… - Jacob analisava a situação. 

— Eu vou na polícia. - Disse Cassie já pegando sua bolsa.

— Eu vou com você. Tenho alguns conhecidos lá.

— Ótimo. - Disse Marisol. Que também ia acompanhá-los.

 

— Oh luke, meu amor, - Cassie suspirou pegando um porta-retrato com uma foto deles sobre a mesinha de cabeceira — onde você está? Volta para casa, volta para mim, por favor…

 

 

 

 


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