Dear Hacker - Duskwood Continuation (Em Revisão) escrita por Akira Senju


Capítulo 36
Sempre há Sinais


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Vocês queriam respostas e aqui estão elas! Espero que gostem do capítulo ♥

Tenham todos uma ótima leitura!



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Duskwood city, 12:15 pm

(Alan) - Estamos de acordo, senhorita? 

Adie desviou seu olhar para baixo, pensativa. Sua exaustão estava sendo enxergada como esquiva, o que tornava tudo mais difícil de lidar, pois, mesmo que estivesse colaborando e respondendo tudo que o delegado lhe perguntava, cada palavra que saía de sua boca era rigorosamente questionada e desacreditada.

(Adie) - Sim, senhor. -- Ela voltou a olhá-lo - Pergunte o que quiser.

Alan sorriu sutilmente, com uma leve malícia.

(Alan) - Ótimo. – Ele pegou sua caneta sobre a mesa, pegou seu bloco de anotações e se recostou em sua cadeira. - Bem, vamos começar pelo mais importante… qual a sua naturalidade?

(Adie) - Nasci em Ohio, Estados Unidos.

(Alan) - Hum, interessante. Por quanto tempo a senhorita viveu em Ohio?

(Adie) - Bem, eu nasci, cresci, me formei na faculdade e exerci minha profissão lá. Então, praticamente a vida inteira.

(Alan) - Entendi. E qual é a sua formação acadêmica?

(Adie) - Administração.

Alan ficou  surpreso.

(Alan) - Nossa, isso esclarece muito a seu respeito, senhorita. Agora posso entender sua aptidão para análises contextuais e gerenciamento de pessoas. É possível compreender o porquê você e aquele Hacker fizeram um excelente trabalho na busca pela senhorita Donfort.Você administrava e ele executava. – Ele a encarou por alguns segundos, com um leve sorriso ladino. - Bem, continuando… A senhorita tem irmãos?

Adie ficou com o olhar distante, demorando alguns segundos para responder.

(Adie) - Não. – Ela voltou a focar seu olhar em Alan.

(Alan) - Hum… – Ele ficou levemente intrigado. - E como era a sua relação com os seus pais?

(Adie) - Ótima. Nos dávamos bem.

(Alan) - E a senhorita possuía amigos em Ohio?

(Adie) - Bom, não. Apenas colegas. Eu sempre fui muito reservada e focada nos estudos e trabalho. 

(Alan) - Então, suponho que você era o orgulho de seus pais, estou certo?

Naquele rosto sério e abatido, surgiu um leve sorriso que remetia a lembranças nostálgicas e a uma imensa saudade.

(Adie) - Sim… eu era.

(Alan) - E porque não é mais?

O leve sorriso de Adie logo se desfez e ela encarou o delgado, levemente surpresa, ao perceber a sutil armadilha que, de certa forma, a comprometeu. Ela suspirou e se ajeitou na cadeira.

(Adie) - Bom, talvez eu não seja mais o orgulho deles, afinal, eu saí de casa e decidi mudar de vida completamente. Acho que pais que tem apenas um filho, nunca estão preparados para quando o mesmo decide se mudar. E no meu caso, não foi apenas uma mudança de bairro ou de cidade, eu me mudei de país.

(Alan) - Para onde a senhorita se mudou?

(Adie) - Para Viena, na Áustria.

(Alan) - E o que motivou uma mudança tão drástica?

Ela ficou cabisbaixa por alguns instantes, até que voltou a olhá-lo.

(Adie) - Uma desilusão amorosa.

Alan se surpreendeu.

Enquanto isso, na casa, Hannah, Jessy e Thomas estavam colocando a mesa para o almoço.

(Dan) - Aí, a Adie não voltou ainda da delegacia? – Ele entrou na sala de jantar.

(Hannah) - Não, e eu também estou estranhando essa demora toda. – Ela organizava os talheres na mesa.

Dan franziu a testa e ficou pensativo, enquanto se sentava em um dos lugares à mesa. Depois de alguns segundos, Jake também entrou na sala de jantar e se sentou em um dos lugares.

(Hannah) - Jake, a Adie se comunicou com você? Estamos estranhando toda essa demora dela na delegacia.

(Jake) - Não, ela não se comunicou comigo e combinamos que ela não o faria, pois seria arriscado, já que ela está conversando com o delegado. Mas eu posso afirmar com toda certeza que ela ainda está na delegacia. Ela me permitiu rastreá-la.

(Hannah) - Ai, que bom. – Ela respirou aliviada e sorriu. 

Após terminar de organizar os talheres, Hannah se sentou ao lado de Jake. Depois de alguns segundos, Jessy e Thomas trouxeram as travessas com os preparos do dia. Após colocarem na mesa, Jessy voltou para a cozinha para pegar mais alguma coisa e Thomas se sentou perto de Hannah.

(Phil) - Nossa, a Adie ainda não voltou? – Ele perguntou ao entrar na sala de jantar e observar os que já estavam presentes.

(Hannah) - Ainda não.

Phil franziu a testa e logo se dirigiu a um dos lugares para se sentar. Depois de alguns segundos, Cleo e Lilly também chegaram na sala de jantar e se sentaram à mesa. Ao mesmo tempo, Jessy voltou da cozinha, segurando uma molheira de porcelana e colocou sobre a mesa. 

(Lilly) - Pensei que já tinha ido, Phil. 

(Jessy) - Eu também. – Ela se sentou à mesa.

(Phil) - Eu realmente planejei ir bem cedo, mas decidi esperar mais um tempo. Não quero ir sem ver a Adie e me despedir dela.

Jake logo o olhou de canto, até que desviou o olhar e suspirou, enciumado. Em seguida, todos começaram a se servir.

Na delegacia, Adie estava com o olhar distante, pensativa, até que Alan colocou uma garrafa de água mineral na mesa, a sua frente, e voltou para sua cadeira. Após o delegado sentar-se, Adie pegou de sua bolsa, que estava no chão, uma cartela de analgésicos e tirou um comprimido. Em seguida, ela guardou a cartela em sua bolsa novamente e a deixou no chão.

(Alan) - Eu não entendo o porquê de ainda não ter ido até um hospital. – Ele a observava.

Ela já estava com o comprimido na boca e bebia a água da garrafa.

(Adie) - Eu não preciso ir a um hospital se a ferida já está melhorando. – Ela disse após engolir o comprimido.

(Alan) - Hum… se a senhorita está dizendo, não sou eu quem vai ficar lhe dando sermão sobre automedicação.

(Adie) - Não se preocupe, senhor delegado. Esses analgésicos são os mesmos que tomei quando tive a torção no tornozelo e os efeitos colaterais são suportáveis.

Alan deu de ombros.

(Alan) - Certo. Então, podemos voltar às perguntas? 

Ela deixou a garrafa de água sobre a mesa.

(Adie) - Sim.

(Alan) - Pois bem… – Ele se inclinou para frente, escorando os braços na mesa e segurando sua caneta. - Me fale mais sobre essa desilusão amorosa que a senhorita sofreu.

Ela desviou o olhar por alguns instantes e sua perna ficou inquieta.

(Adie) - É realmente necessário falar sobre isso? 

(Alan) - É óbvio. Há uma grande porcentagem de casos da qual ex parceiros de relacionamentos, que não acabaram bem, praticam delitos contra a ex, ou o ex, parceiro(a). Para sabermos se está acontecendo o mesmo com a senhorita, precisamos de todos os detalhes possíveis.

Ela pensou por alguns segundos, enquanto continuava com a perna inquieta, até que se ajeitou novamente na cadeira.

(Adie) - Tudo bem. -- Ela suspirou. - Bom… Eu o conheci no meu primeiro emprego. Eu trabalhava na área de Administração e ele trabalhava como Analista de Sistemas. Embora eu já tivesse notado ele desde o primeiro dia, por conta do sorriso gentil e dos belos olhos azuis, só começamos a nos falar um ano depois de minha entrada na empresa. Conversamos por alguns meses como amigos, até que ele me convidou para sair e, é claro que eu aceitei. Depois de alguns encontros, começamos a namorar.  Depois de alguns meses de relacionamento, decidimos morar juntos. Então, alugamos uma casa não muito longe da dos meus pais e começamos uma vida nova. – Ela suspirou entristecida e ficou com o olhar distante. - Ele… ele foi a pessoa que pareceu me apresentar o amor, me trouxe novas perspectivas sobre tudo, me apresentou um mundo não tão solitário e uma vida, além do trabalho e dos estudos. Ele foi quem me trouxe um novo chão, um novo ar para respirar, novos sonhos para sonhar… – Seu olhar continuava distante, como se cada lembrança daquela pessoa lhe doesse a alma. - Mas depois… ele me tirou tudo isso, sem se importar se eu teria estruturas para suportar…  Ele me traiu da pior maneira. – Ela fechou o punho, apertando os dedos com raiva.

Alan ficou levemente surpreso e ela voltou a olhá-lo nos olhos.

(Adie) - Talvez o senhor esteja esperando que eu diga que, depois que passamos a viver juntos, ele mudou, deixou de dizer que me amava e passou a chegar tarde em casa, a me tratar mal ou com indiferença... Mas não, senhor... Nada disso aconteceu. Porém, devo ressaltar que houve sinais de quem ele realmente era… – Ela voltou a desviar o olhar. - Mas quando amamos muito uma pessoa, tais sinais perdem o real significado. Nós passamos a encará-los como possíveis características da personalidade, ou falhas momentâneas, talvez movidas pelo estresse ou recorrentes de algum problema emocional por conta de algo que aconteceu no passado. Mas só quando ocorre a traição, é que você olha para trás e percebe que você foi avisado, de certa forma, pela própria pessoa. 

Alan a encarava fixamente, pensativo.

(Adie) - Eu sei que o senhor compreende isso tão bem quanto eu.

Ele desviou o olhar por um breve momento, até que suspirou e voltou a olhá-la.

(Alan) - Então... Suponho que esse seja o motivo, além da sua profissão, que fez com que a senhorita se atentasse mais ao comportamento das pessoas ao seu redor, certo? 

(Adie) - Sim, mas não apenas isso. Esse é o motivo que me levou a ser como sou. Tudo me ensinou uma valiosa lição. Minhas emoções são apenas minhas, e eu as demonstro de forma genuína apenas para quem de fato consigo confiar. 

(Alan) - E é possível conquistar sua confiança mesmo depois de tudo? 

(Adie) - Confiança é uma palavra muito forte, senhor Blommgate. Para chegar ao nível de voltar a confiar em alguém depois de uma traição, você precisa, primeiramente, recuperar a confiança em si mesmo, afinal, também foi uma falha de sua percepção. 

Ela ficou cabisbaixa.

(Adie) - Na minha percepção, eu tinha o melhor homem ao meu lado. Quando eu ouvia outros relatos sobre traição, sequer passava pela minha cabeça que ele teria coragem de fazer tal coisa. Mas devo ressaltar que há vários tipos de traições, e dentre elas, algumas nos tiram a vida por completo, mesmo que ainda continuemos respirando.

Por ser um tema sensível para Alan, ele, novamente, ficou com o olhar distante por alguns segundos.

(Adie) - Resumindo… – Ela voltou a olhá-lo. - Eu ignorei os sinais, por mais sutis que tenham sido, e ele me traiu da pior maneira. Eu simplesmente não pude suportar e tive de recomeçar a minha vida sozinha, o mais longe possível de tudo que um dia fui.

(Alan) - E a senhorita voltou a se relacionar com outra pessoa depois dele? 

(Adie) - Não.

(Alan) - Entendo… Bem, agora posso compreender muitas coisas a respeito de seu comportamento. Pela primeira vez, eu pude ver emoções em seus olhos, em seus gestos e tenho que confessar que, compadeço de sua dor, senhorita.

Ela olhava-o fixamente e entristecida.

(Alan) - Seus amigos sabem dessa parte de sua história?

(Adie) - Não.

(Alan) - Está falando sério?

(Adie) - Sim, senhor.

Alan ficou levemente surpreso e sem fala por alguns segundos.

(Alan) - Porque essas pessoas confiam tão cegamente em você? Apesar de saber da sua incrível capacidade de persuadir, não acredito que eles sejam estúpidos a ponto de serem manipulados sem questionar.

(Adie) - E o senhor acredita que eu seria capaz de algo assim?

(Alan) - Senhorita, eu não a conheço. Essa é a primeira vez que a senhorita fala algo tão íntimo a seu respeito para mim. 

(Adie) - E o que o senhor acha que isso significa, agora que sabe que só falo das minhas dores para quem realmente confio? 

(Alan) - A senhorita não está falando porque realmente quer. Isso é um interrogatório, do qual eu exigi respostas.

(Adie) - E eu poderia simplesmente mentir sobre tudo, mas o senhor é inteligente o suficiente para compreender que estou falando a verdade. 

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, olhando-a com um leve sorriso ladino.

(Alan) - Então… está me dizendo que confia em mim?

(Adie) - Como eu já lhe disse, confiar em outra pessoa requer autoconfiança, e eu confio na minha capacidade de decifrá-lo, o que me fez chegar a conclusão de que o senhor é um bom delegado.

(Alan) - Hum… – Ele deu uma leve risada. - Mas não foi isso que a senhorita me disse naquele dia no hospital e, a propósito, qual o motivo de sua revolta contra os delegados? Pela sua fala naquele dia, a senhorita deu a entender que conviveu com outros, além de mim.

(Adie) - É… o senhor realmente não foi o único delegado que eu tive que, de certa forma, lidar em minha vida. – Ela desviou o olhar por um breve momento, suspirando com pesar. - Bem, eu vou te contar como foi meu primeiro contato com um delegado, mas antes, preciso lhe contar alguns detalhes sobre meus pais que ainda não mencionei. Meu pai trabalhava como engenheiro eletricista e ganhava um bom salário, o que era o suficiente para dar uma vida confortável para mim e minha mãe, dando a ela a escolha de ser dona de casa. Certo dia, quando eu tinha 8 anos de idade, o telefone de nossa casa tocou e eu atendi. Ao telefone, era um médico cardiologista e ele me deu a notícia de que meu pai tinha sofrido um mal súbito enquanto trabalhava e havia sido internado às pressas. Ele foi reanimado e estava na UTI. Durante a internação, fizeram vários exames, procurando a causa do ocorrido com ele e chegaram a um diagnóstico surpreendente… Meu pai é portador de uma doença extremamente rara no coração, chamada Síndrome de Yamaguchi. É uma variante da cardiomiopatia hipertrófica da qual sua prevalência é de 0,2% a 0,5% na população mundial, com maior incidência na população oriental. É uma doença que pode matar sem nenhum sinal prévio. 

Alan se surpreendeu. 

(Adie) - Depois do diagnóstico, ele passou por uma cirurgia para implante de um aparelho no coração chamado CDI (Cardioversor Desfibrilador Implantável) para prevenir que o pior aconteça, caso ele tenha alguma arritmia grave. E depois de mais alguns dias no hospital, o quadro dele foi estabilizado e finalmente lhe deram alta. Porém, nossos problemas estavam apenas começando. Após o diagnóstico da doença, ele perdeu o emprego como engenheiro. Mas ele sempre foi muito determinado e nós, eu e minha mãe, éramos o que ele tinha de mais importante. Ele nos jurou que iria dar um jeito e realmente deu. Com as economias que tinha guardado durante muito tempo, ele conseguiu comprar um carro e conseguiu um trabalho de entregador de mercadorias para uma fábrica de calçados. Ele não ganhava tanto quanto antes, mas era o suficiente para nos manter. A doença fazia com que ele sentisse dores e sufocamento durante todo o dia e dependesse de vários remédios para se manter estável, e, por conta desses gastos a mais com os medicamentos, minha mãe decidiu procurar emprego e conseguiu encontrar um como costureira. Se passaram alguns meses dessa nova realidade, até que em um dia de folga da minha mãe, meu pai, que estava trabalhando, ligou para ela no meio da tarde. Eu não soube exatamente o que ele disse ao telefone, mas me lembro de minha mãe me puxar pela mão e sair apressada de casa depois de desligar a ligação. Nós pegamos o primeiro táxi que passou na rua e depois de alguns minutos, chegamos em uma avenida. De longe eu vi meu pai parado perto do carro dele e três policiais, sendo um deles o delegado, próximos a ele. Quando saímos do carro, eu corri até ele e me lembro perfeitamente de sua expressão aflita, mas ele se esforçou para sorrir para mim e me envolveu em um abraço apertado, numa tentativa de esconder o que realmente estava acontecendo. – Ela suspirou entristecida. - O delegado foi até minha mãe e conversou com ela por alguns minutos. Embora eu não tenha ouvido nada do que ele disse, a cena que eu vi a seguir, me despedaçou. Eu vi minha mãe começar a chorar e, aparentemente, implorar por algo, mas o delegado se virou, indiferente a ela, e seguiu até meu pai. Ao se aproximar dele, ele disse algo para os policiais e um deles algemou meu pai. Ao vê-lo algemar meu pai, eu fui até o delegado e o questionei, perguntando o porquê estavam prendendo-o, mas ele me olhou com total desprezo e apenas disse aos policiais para guiarem meu pai até a viatura e depois o levaram. 

Adie tentou continuar a história, mas tudo aquilo parecia mexer extremamente com suas emoções. Ela fez uma pausa, suspirou de exaustão e balançou sua cabeça em negação. Em seguida, ela pegou sua garrafa de água e tomou alguns goles. Alan a olhava fixamente e, enquanto ela tomava água, ele olhou para baixo por alguns instantes.

(Adie) - Então… – Ela deixou a garrafa de água sobre a mesa e Alan voltou a olhá-la. - Os dias foram passando e minha mãe não quis me dizer o porque prenderam meu pai, assim como também ela não queria que eu fosse vê-lo na cadeia. Ela sempre ia visitá-lo e até levava os remédios que ele precisava tomar. Certo dia, eu insisti muito, com lágrimas nos olhos, para que ela me levasse para vê-lo e ela finalmente permitiu. – Ela ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto olhava para baixo - Confesso que… ver meu pai atrás das grades, foi extremamente doloroso, mas naquele dia eu finalmente soube o porquê dele estar ali. A fábrica da qual ele prestava os serviços como entregador, estava fazendo serviços ilícitos e eles o pegaram em flagrante, vendendo mercadoria roubada. Porém, ele nunca soube de nada disso e era completamente inocente. Enquanto conversava comigo e com minha mãe naquele dia, ele começou a sentir dores no peito e teve arritmias, por conta da doença. Eu me desesperei por vê-lo daquele jeito e minha mãe logo deu a ele os remédios. Tudo que eu queria naquele dia, era vê-lo melhor, mas o horário da visita havia acabado e, mesmo que meu pai ainda sentisse dor, o agente penitenciário o levantou de forma brusca e o levou para a cela novamente. – Ela respirou fundo - Quando eu e minha mãe estávamos saindo da delegacia, vimos o delegado na entrada. Movida por toda aquela tristeza e desespero, eu fui até ele e implorei para que soltasse meu pai, pois ele estava doente e poderia morrer… – Ela ficou pensativa por alguns segundos e sua expressão entristecida, mudou, se tornando uma expressão de raiva. - Ele se abaixou para ficar da minha altura e, olhando bem dentro dos meus olhos, me deu exatamente essa resposta: Mocinha, encontramos mercadorias roubadas no carro do seu pai. Pela lógica, ele é um bandido; e bandidos são melhores estando mortos.

Alan ficou levemente surpreso e Adie continuou com o olhar distante por alguns instantes, até que voltou a olhá-lo nos olhos. Os dois se encararam por alguns segundos, em silêncio, até que Alan suspirou e desviou o olhar.

(Alan) - E… o que aconteceu depois? – Ele voltou a olhá-la.

Ela suspirou.

(Adie) - Bem, não tínhamos condições de pagar um advogado. Minha mãe não ganhava muito e os gastos com os remédios do meu pai eram altos. Os dias passaram e passamos por algumas dificuldades. Me lembro que até eu tentei ajudar da maneira que podia. Dei todos os meus brinquedos para minha mãe e pedi que ela os vendessem, para conseguir comprar os remédios do meu pai naquele mês e para que, talvez, sobrasse algum dinheiro para comprarmos alguns doces. – Ela deu uma leve risada e ficou cabisbaixa. - Vivemos assim por um ano e meio, até que a inocência do meu pai foi provada por um dos funcionários da fábrica e ele foi solto. 

Alan a encarou, pensativo, como se tivesse sido tocado pela história.

(Alan) - Entendo… A senhorita teve contato com outros delegados, além desse, em sua vida?

(Adie) - Não. Apenas esse foi o responsável para que eu formasse uma opinião generalizada a respeito de todos os delegados. 

(Alan) - Não acha isso injusto?

(Adie) - Se eu me irritei com o senhor a ponto de dizer o que realmente penso sobre os delegados e sobre a lei, é porque vi alguém que amo sofrer a verdadeira injustiça e percebi no senhor algumas semelhanças com aquele mesmo delegado que encontrei aos 8 anos de idade.

(Alan) - Não se engane, senhorita. Eu apenas tento fazer o meu trabalho da melhor maneira possível e jamais seria cruel assim. 

Adie ficou em silêncio, olhando-o.

(Alan) - Preciso confessar que houve sim muita desconfiança da minha parte a seu respeito, mas… agora que eu soube um pouco mais sobre você, mudou muita coisa para mim. Agora eu sei que por trás dessa mulher misteriosa e aparentemente arrogante, há um ser com uma história de muitas dores e superações. 

Adie assentiu com a cabeça, embora seu rosto continuasse sério. Depois de alguns segundos, ela desviou o olhar.

(Adie) - Senhor Blommgate, eu… eu tenho que confessar que, mesmo sem querer, o senhor me fez enxergá-lo como uma exceção da regra. Percebi que estava enganada a seu respeito e pude ver a importância que tem dado ao meu caso.  

(Alan) - Sinceramente, fico feliz que a senhorita tenha compreendido o quanto estou empenhado em resolver o seu caso. -- Ele sorriu sutilmente e a encarou em silêncio por alguns segundos. - Bem… a senhorita aceita mais uma xícara de café?

(Adie) - Sim.

(Alan) - Certo. – Ele se levantou e foi até a máquina de café.

Enquanto enchia as xícaras de café, ele ficou de costas para Adie.

(Alan) - Sabe, senhorita... mesmo Duskwood sendo uma cidade monótona, sempre tenho alguns casos para resolver com urgência, mas priorizei o seu caso extremamente. Porém, estou lidando com alguns em segundo plano, como por exemplo, a misteriosa fuga de um detento. Talvez a senhorita já tenha ouvido falar por aí que ele está sendo procurado. Ele se chama Ted Madruga.

Adie logo se surpreendeu ao ouvir aquele nome.

(Adie) - Ted madruga fugiu da cadeia?!

Alan se virou, olhando-a intrigado.

(Alan) - A senhorita o conhece?

Ela ficou paralisada, com o rosto surpreso. Se ela dissesse como e o que soube sobre Ted Madruga, poderia entregar pistas cruciais da morte de Jennifer Hanson e, consequentemente, sobre quem a matou.


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Notas finais do capítulo

Olá a todos! Espero que tenham gostado do capítulo de hoje e, devo ressaltar que, esse capítulo foi extremamente especial para mim. As informações dadas sobre a Síndrome de Yamaguchi e o caso relatado foram baseados em fatos reais. Eu relatei parte da história de um dos raros portadores dessa doença no país, da qual eu tive o privilégio de conhecer e hoje acompanho de perto suas lutas diárias, NagibChain.

Obrigada por chegarem até aqui! ♥



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