Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 5
Capítulo 5




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Uma coisa que ninguém sabe sobre viver num palácio era que nunca, em nenhum momento, você está sozinha. Haviam vários funcionários em todos os lugares, exercendo suas funções diversas, e quase todos os dias haviam turistas visitando os aposentos inferiores. O que não faltava eram vozes de lá pra cá. Esme tentou se esconder um pouco em seu quarto para aproveitar alguns segundos de tranqüilidade antes que alguém a solicitasse.

Gostava de estar sozinha quando pensava em Carlisle. Olhava para as fotos dos tempos em que eles ainda não faziam parte dessa grande confusão que é viver dentro da realeza e suspirou. Melhores tempos! Passava os dedos pelo rosto dele e lembrava dos dias em que a única preocupação que tinham era absorver o máximo que podiam um do outro. Os dois eram tão jovens...

Hoje, relembrando tudo, ainda não podia explicar toda aquela ligação que eles tiveram logo do início. Como foi improvável aquele primeiro encontro! Por Deus! Como Carlisle pôde ter escolhido logo ela? Quanta ousadia sair assim atrás de uma desconhecida e ficar a noite toda conversando com ela. Ainda por cima confiar-lhe o seu número de telefone original. Impensável mesmo para aquela época. Quem garantiria que ela não seria uma aproveitadora?

Mas com os dois sempre foi assim, natural, espontâneo. Os dois criaram um vínculo que jamais poderia ser explicado. Só podia ser algo de outras vidas. Se nada disso tivesse acontecido, não poderia jamais dizer que não existiam almas gêmeas.

Isso a deixava menos triste quando acordava de manhã e não o encontrava ao seu lado na cama. Os dois passaram quase 70 anos juntos, 3 anos de namoro e 63 de casados. Ele era o seu porto seguro, alguém que a fazia feliz, motivava o seu dia a dia, uma companhia que jamais imaginou viver sem. Até na hora de partir, Carlisle escolheu deixá-la ao seu lado. Esme não gostava de lembrar daquele dia. Seu único consolo era saber que o encontraria em outro plano. A conexão deles era tão grande na Terra que o universo não iria deixar que eles ficassem longe um do outro no plano espiritual, tinha total convicção disso.

— Knock! Knock! – Melany disse baixinho enquanto entrava no quarto segurando um bebê conforto com o seu pequeno filho dentro. – Posso entrar vovó?

— Claro, meu bem e esse pequeno Carlisle?

Melany seguiu até a rainha com um sorriso meigo no rosto. Ela era a neta que Esme considerava um pouco mais parecida com o seu marido em nível sentimental. Não lembrava nada de Emmett ou Rosalie, seu jeito sempre contido, sensato e cheio de amor sobre todas as coisas, especialmente para a sua família era algo que Carlisle tinha muito e que poucos tiveram privilégio de conhecer.

— Ele está crescendo tão rápido! gorducho! Imagina? Formos para a consulta com o pediatra hoje e ele já está com quase 5 quilos?

— É impressionante como ele parece com a sua irmã? Engraçado!

— Todos falam isso. Mas não é o que dizem? Os sobrinhos se parecem mais com os seus tios do que com os pais.

— É o que parece, não é?

Esme tirou o seu terceiro bisneto e o pôs nos braços para embalá-lo. Ficou observando os traços do seu pequeno rosto e tentando identificar sua semelhança com a sua família. Era tão bizarro chegar uma certa idade e ver um pouco daquele que você amou e de você mesmo dividido em traços na personalidade ou no físico dos mais jovens. Era o próprio significado de continuidade. Estava feliz por ter conseguido chegar tão longe e por ter ajudado a perpetuar outras histórias.

— E você, vó? Lembrando do vovô?

— Sim... Você soube que William está me ajudando a escrever um livro sobre mim?

— Sim! Henry me contou! Achei um máximo! Ele está doido para chegar em Belgonia para participar das entrevistas também.

— Eu vou adorar reunir todos vocês. Como ele está, ein? Está namorando sério com aquela moça mesmo, não é?

— Estão quase casados vó. Ele está bem. Trabalhando muito, mas sabe como é? Henry viajando, e ainda mais agora com a namorada, não é somente sobre trabalho.

— Amei a parceria que os dois formaram. Quando eu vejo vocês, jovens e apaixonados com os seus namorados, esposos, enfim... Eu me pego pensando no seu avô. Agora estamos num ponto que a minha História se mistura com a dele.

— E vem aqui relembrar dele com as fotos do passado.

— Basicamente.

Melany pegou algumas fotos e ficou vendo com um sorriso meigo que ela tinha desde menina. Ela era a filha caçula de Emmett e Rosalie. Diziam que o mais novo sempre era o mais mimado, não conseguia ver isso nela. Dos três era a mais doce e sensível, tanto que resolveu cuidar de animais, ser veterinária.

Carlisle e ela se orgulhavam muito de terem acompanhado o crescimento de seus seis netos, principalmente os dois filhos de Edward e os três de Emmett que moraram no palácio por muitos anos. Ela e o esposo os adoravam e colocavam atributos em cada um deles. Renesme talvez tenha sido a neta mais presente por conta do seu grande esforço em servir ao máximo ao trabalho. Carlisle confiava muito nela. Henry era o neto maroto, Pietro, o sério, Marlowe, a estrela, Antony era o que mais os deixava preocupado com suas aventuras malucas e Melany era o coração.

— Vocês eram tão lindos juntos! Combinavam tanto! Quer saber? Jamais consegui imaginar um sem o outro.

— Acho que foi algo que criamos ao longo dos anos. Essa sintonia, uma parceria quase inabalável.

— Muito bonito isso! Poucos conseguem algo tão forte assim.

— Seu vovô iria ter amado saber que você colocou o nome do seu bebê de Carlisle.

— Não poderia ter sido diferente, não é? Ele foi tão importante para todos nós. Merecia essa homenagem.

— Sim, verdade. Ainda bem que ele conseguiu ver o seu casamento com George.

— Sou muito grata por isso. Foi à única neta que conseguiu ter essa honraria.

Esme acariciou o rostinho de seu bisneto e lembrou que Carlisle e ela já tinham três e um quarto a caminho e nenhum deles conseguiu conhecê-lo. Em sua cabeça pensou que queria passar o máximo de tempo com todos eles e quando chegasse ao lado dele no outro lado iria contar tudo sobre eles. Sorriu com esse pensamento.

O celular de Melany gemeu e ela o atendeu baixinho para não acordar o bebê quase recém – nascido nos braços de Esme.

— Oi, amor. – saudou Melany. – Nossa que pena! Ok! Sem problemas! Aguardamos você.

— O que houve?

— George vinha aqui nos pegar, mas o carro quebrou no caminho.

— Que ótimo! Só assim consigo ficar mais perto de você. Ainda não consigo admitir o fato de vocês escolherem morar em Milton.

— Se você diz isso, imagina o que eu escuto da mamãe e do papai?

— Eu imagino e dou razão a eles.

— William não vem hoje para entrevistá-la?

— Não, ele está viajando para divulgar o livro dele e Zara, que está o substituindo, está ocupada hoje.

— Então, hoje eu vou entrevistá-la.

— Maravilha! Estou curiosa para as suas perguntas. Vai ser a entrevista mais especial de todas!

Melany brincou fazendo bico e arrumando os cabelos como estivesse se exibindo. Esme sorriu e devolveu o bisneto para o bebê conforto, depois se ajeitou na cadeira.

— Me conte dona Esme, quando foi que você e o vovô decidiram que era hora de namorarem?

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 5: A Descoberta do amor

Carlisle e eu éramos acima de tudo melhores amigos. Vejo esses jovens de hoje que se vêem em um dia e no outro já se casam ou moram juntos sem ter um mínimo de conexão e sem entender que tudo é um processo. É claro que tem a questão da química. Aquele sentimento forte de atração que faz unir duas pessoas. Tínhamos isso, nos queríamos muito, mas antes, existia um sentimento maior de apoio, de cumplicidade, companheirismo que construímos juntos e que nos ajudou para que ficássemos casados por tantos anos.

Logo de cara, eu já sabia que ele mexia de alguma forma comigo. Despertava arrepio quando sem querer encostava em mim. O sorriso dele quando me olhava mexia com o meu estômago e toda vez que nos encontrávamos, em cada papo, eu sabia mais e mais que tínhamos muita coisa em comum.

Para dizer a verdade, eu não sabia direito como me sentia em relação a isso. Eu não sei se foi a minha defensiva ou por que ele queria me conhecer primeiro antes de dar o primeiro passo, a questão era que eu não entendia os nossos momentos juntos como algo romântico. Depois dos nossos primeiros encontros, comecei a colocar na minha cabeça que ele me queria como uma amiga e apenas isso. Mas por que ele me escolheu naquela noite? Eu e ele estávamos muito confusos.

Era certo que gostávamos demais da companhia um do outro. Geralmente não nos encontrávamos muito nas primeiras semanas, mas aos poucos isso foi evoluindo para todo os dias o meu telefone tocar duas ou três vezes, almoçar ou lanchar no campus, e ao menos um dia do fim de semana sairmos para algum lugar para conversar e se divertir sem sermos importunados, isso quando não era no sábado e no domingo seguido.

Eu o achava um homem culto, astuto, educado demais, aquilo ia quebrando os meus muros. Em um pouco mais de um mês, Carlisle sabia coisas sobre mim que poucos sabiam e eu também sobre ele. Passamos a confiar muito um no outro. Ele me fazia crer que eu era uma mulher diferente do que eu achava que era, me dava muita força e coragem, que eu já tinha, mas tinha sido quebrada. Carlisle me ajudou a me reconstruir.

No segundo mês, eu já tinha entendido que éramos apenas amigos, “brother and sister” que combinavam demais. Eu sabia que eu era alguém que ele gostava de estar. Eu ia conhecendo aos poucos os amigos dele e o compreendendo mais. Tinha coisas sobre a sua vida pessoal que ele não contava para eles. Eu ficava feliz com isso. Carlisle pegava na minha mão e olhava bem para mim, “não sei o que você tem, mas eu me sinto tão seguro ao seu lado.”. Eu não entendia que vínculo era aquele que estávamos criando assim tão rápido.

De repente, eu me pegava sonhando com ele. Ouvia na rádio uma música e ia correndo gravar na fita cassete para mandar pra ele ouvir. Cada coisa eu me lembrava dele ou de alguma conversa que tivemos antes. Nossa relação também estava mudando. Antigamente, éramos muito tímidos. Mal nos tocávamos. Agora sempre havia um abraço demorado, um beijo na bochecha, um cochicho no “pé da orelha”, uma mão alisando a outra ou alguma outra parte do corpo. Isso começou a me confundir demais. Eu estava me apaixonando por Carlisle? Será que eu estava misturando as coisas? Ele nunca tinha me dado uma pista clara que me queria como algo mais. Até por que um príncipe jamais ficaria com uma plebéia pobretona feito eu.

Os nossos amigos começaram a nos dizer: “vocês, ein? Por que não se beijam logo?”. Olhávamos um para o outro e apenas sorriamos. Estamos perdendo alguma coisa nessa história? Eu pensava: será que ele queria um beijo meu? Por que em meus pensamentos, eu já imaginava sem querer como seria beijá-lo. Estava começando a entender que estava me atraindo por sua delicadeza, perspicácia e beleza extraordinária. Mas éramos só amigos, não era? Até por que eu não me vira como um possível alvo de amor romântico até aquele momento.

Isso até o aniversário dele. Coincidentemente, o dia primeiro de fevereiro não era marcado apenas por causa de Carlisle, era um dia de comemoração em toda Belgonia. Um feriado conhecido como “Dia de Graças”, uma celebração pagã, onde as pessoas saíam nas ruas para comemorar tudo de bom em suas vidas. Os antigos diziam que era para festejar o fim do inverno rigoroso e o início das colheitas. Nesse dia tudo virava um grande Carnaval e não era incomum ver pessoas mascaradas nas ruas. Então, Carlisle e eu decidimos que iríamos participar das comemorações para celebrá-lo.

Era o primeiro aniversário dele que passávamos juntos e eu estava ansiosa para agradá-lo. Comprei um presente, vesti a minha melhor roupa combinando com a máscara que tínhamos comprado juntos. Saímos apenas nós dois pelas ruas animadas de Belgravia durante a tarde. Nunca tinha me divertido tanto. Dançamos com desconhecidos que nem sonhavam que estavam ao lado do príncipe. Jogamos papéis cortados uns nos outros, rimos e bebemos. Não poderia ter sido um dia melhor.

Até que meu salto se enganchou no calçamento e fiquei presa. Carlisle tentou me ajudar e acidentalmente nossos lábios se chocaram. Não passamos muito tempo no nosso “beijo”, foi tudo muito rápido, mas que causou muito nos nossos sentimentos. Fiquei vermelha e ele também. Meu coração batia tão forte que parecia querer sair do peito. Ficamos em silêncio depois disso. Consegui me soltar, mas minha sandália ficou perdida e ele teve que servir de “bengala” para mim o restante da noite.

Tentamos seguir o baile, porém, estava claro que nada seria como antes. Bateu a fome e seguimos para a praia, onde tinha um quiosque que vendia os sanduíches com os sabores mais diversos possíveis e com um gosto indiscutível. Carlisle comprou os nossos lanches e sentamos na areia, aproveitando que não havia ninguém por perto. Ficamos olhando para o vai e vem das ondas em silêncio até eu ouvir ele falar baixinho:

— Foi acidental.

— Foi. Mas mexeu comigo.

Ele olhou para mim chocado e eu senti um frio estranho na barriga. Aquele pra mim era o sinal claro que Carlisle me via apenas como uma boa amiga. O que ele poderia ter querido comigo de diferente antes havia passado naqueles dois meses.

— Mexeu comigo também. – me confidenciou baixinho.

Agora tinha sido eu a me espantar.

— Fiquei com medo de você não querer ficar mais ali comigo. – confidenciou.

— Eu jamais faria isso.

Abaixei a cabeça e fiquei olhando para a areia. Estava receosa demais para olhar nos olhos dele.

— E se a gente tentasse aprofundar aquele beijo só para ver como é. Você quer?

Fiquei vermelha e sorri para ele. Parecíamos dois pré- adolescentes. Me aproximei dele um pouco mais e então, Carlisle colocou as duas mãos no meu rosto e se aproximou mais de mim. Eu sentia que meu coração iria parar. Primeiro, ele encostou os nossos narizes e depois colou os nossos lábios. O beijo começou doce, sensível e delicado como ele era, mas depois eu não agüentava mais ficar apenas na leveza e aprofundei mais o nosso contato. Nossas línguas agora se conheciam e eu tive certeza naquele instante que nunca mais elas iriam se separar.

  Ficamos horas apenas assim naquela noite, nos beijando, abraçados um ao outro e sem falar muito, até por que a gente já tinha feito muito isso. Agora era contato de pele, o nosso corpo conversava e era isso que importava.

Saímos dali namorando. Porém, combinamos que não falaríamos para ninguém, na verdade, eu preferi assim. Eu ainda estava me acostumando com a idéia que agora éramos um casal oficial. Queria experimentar essa nova fase sem interferência de ninguém. Posso confirmar que aquela foi à melhor decisão para o momento. Nunca é fácil iniciar um novo relacionamento, é necessário tempo para se amar e se conhecer, juntando isso ao fato de ter mil paparazzis te perseguindo, cobranças de família e um país inteiro te observando. Não queríamos isso.

Conseguimos o tempo recorde de ficarmos cinco meses namorando sem absolutamente ninguém descobrir. Gostávamos de manter aquele segredo. Nunca demonstrávamos carinhos em público diante de nossos amigos, era divertido vê-los tentando adivinhar se éramos ou não um casal. Deixávamos sempre a dúvida e riamos da confusão deles quando estávamos sozinhos.  Foi um dos tempos mais fantásticos de nossas vidas. Por que nós tivemos a oportunidade de vivenciar o romance que estava nascendo ali com toda naturalidade. Naquele momento, era apenas nós dois nos descobrindo e nada mais.

E não foi um namoro sórdido com luxúria e paixão como ocorre nos dias de hoje. Íamos com calma. Andávamos de mãos dadas quando podíamos, trocávamos beijos e promessas. Íamos para as discotecas dançar e ficávamos colecionando músicas preferidas. Parecíamos dois adolescentes quando namoram pela primeira vez, não tínhamos pressa nenhuma. Queríamos apenas curtir aquela sensação de amor que estava desabrochando.

Eu amava essa paciência de Carlisle, o seu jeito carinhoso, suas cartas longuíssimas com palavras sempre doces, o seu cuidado comigo, principalmente depois de descobrir o quanto eu tinha sofrido antes. Acho que ele sabia que não podia forçar muito as coisas comigo. Eu estava ainda muito desconfiada. Ficava olhando para ele e pensava que uma hora aquela magia iria se acabar e ele iria encontrar outro alguém, mais bonita, à altura do status dele e me deixaria.

Apesar de estar a cada dia me apaixonando mais por ele, mais confidente de seu íntimo e ele do meu, nunca deixei me iludir com um olhar cor de rosa. Eu acreditava que Carlisle gostava de mim verdadeiramente, eu sentia isso em seu olhar, no tom de voz dele, que sempre caia alguns tons quando se referia a mim, quando involuntariamente tocava em mim buscando a minha presença, em seus beijos, que me diziam tudo, porém eu sabia quem ele era.

Nunca esqueci do fato de que estava namorando um príncipe, herdeiro próximo da coroa ainda por cima, eu sabia que uma hora o nosso romance infantil iria acabar. Na verdade, iria haver um impasse. Tudo estava lindo quando mantínhamos aquilo apenas dentro da nossa bolha, mas e quando a imprensa descobrisse? Ele iria me assumir? A família dele iria querer alguém como eu ao lado dele? Havia sim um abismo social entre nós e eu sabia disso. Romances sempre são lindos nos contos de fadas, mas a realidade é totalmente diferente.

Mas naqueles cinco meses iniciais, preferimos não falar sobre coisas sérias. Carlisle nunca era príncipe na minha presença. Eu conversava e beijava o homem e não o título. Não falávamos sobre o futuro, apenas decidimos curtir o momento, quando tudo estava bom demais. Até que um dia nos descuidamos e nos beijamos num restaurante em uma noite de sábado em um dos nossos encontros.

No dia seguinte, Carlisle me ligou dizendo que um paparazzi tinha nos flagrado. As fotos iriam sair em breve. Ele me disse que tentou conversar com o jornal para não publicar as fotos, mas não tinha conseguido. Se não fosse eles a publicarem seria outro. Sentei em câmera lenta no sofá já imaginando que sim, lá tinha ido o nosso romance. Tinha sido muito bom quanto tinha durado.

Depois disso, eu nem sei como me senti, fiquei absorvendo aquilo enquanto ouvia a voz dele no meu ouvido. Não fazia idéia do que pensar, só sabia que seria terrível. Imagina ser exposta desse jeito? Mas eu sabia que aquele dia chegaria cedo ou tarde.

— Vamos fazer um programa diferente amanhã? Acredite não vai ser bom estar em Belgravia quando tudo acontecer...

— É tão sério que precisaremos fugir?

— Nunca podemos subestimar o valor de uma fofoca.

Concordei em fazermos um bate volta para Montsaurai, precisávamos conversar e então eu saberia se seria o fim ou não. Estranho ter esse pensamento, não? Estávamos namorando há cinco meses e eu era para ter certeza que Carlisle me queria. Porém, eu sempre fui muito “pés no chão” e insegura demais. Na minha cabeça, o que vivemos foi um sonho muito bom. A gente apenas externalizava um sentimento que era crescente dentro da gente e não falava de coisas sérias, apenas vivíamos o nosso romance. Agora a responsabilidade veio bater a porta.

Resolvi que precisava contar a minha família. Seria injusto eles verem as fotos sem saberem de tudo que vivi nesses últimos tempos. Não foi algo fácil de se fazer. Carlisle era pra mim como um segredo bom. Eu gostava de tê-lo só para mim sem ter que dividir com ninguém. O nosso namoro era como estar dentro de uma bolha que só nós dois tínhamos permissão de estar. Por isso, eu achava que em algum momento tudo isso acabaria.

— Você está namorando o príncipe? – Minha mãe perguntou assombrada. Meu pai e Lily me olhavam como se eu tivesse delirando.

— É verdade. Nos conhecemos naquele dia da boate, lembra?

— Ele era o amigo que você tanto anda? – ela perguntou ainda sem entender.

— Sim.

Lily sorriu e eu permaneci séria. Meus pais se entreolhavam e eu tinha certeza que eles estavam prestes a me levar num psiquiatra.

— Desculpa não falar sobre ele para vocês antes. Eu devia ter feito isso, mas é que namoramos há pouco tempo e é algo tão nosso que eu quis guardar comigo mais um pouco.

— E você tinha medo que tudo terminasse. – Lily me complementou.

— Basicamente isso. – falei envergonhada. – Está saindo umas fotos nossas juntos e eu queria que vocês soubessem antes.

— Você tem noção que vocês dois vivem em mundos diferentes, não é meu bem? – meu pai me indagou.

— Tenho sim, a verdade, eu tenho ciência disso o tempo inteiro. Mas o que estamos vivendo agora não envolve diferenças sociais, posições políticas e nada disso. Apenas a gente está compartilhando juntos um sentimento muito bom... Tenho plena certeza que se tudo terminar, eu não vou sair como iludida. Tivemos bons momentos.

— Isso é surreal! – declarou a minha irmã.

— É pra mim também. Ele está vindo conhecer vocês. Vamos fazer um passeio juntos e conversaremos. Se for para continuarmos namorando e encarar o desafio que vem pela frente, o momento de decidir vai ser agora. Mas acreditem. Ele é totalmente diferente de qualquer estereótipo que se pode haver de um príncipe.

Minha mãe pôs as mãos na cabeça com preocupação. Lily e papai estavam tentando absorver tudo e eu tinha certeza que estava com um sorriso bobo na cara. Eu sabia que aquela conversa não seria o suficiente, eu tinha que esclarecer mais coisas, até comigo mesma. Eu tinha certeza que eu gostava dele e muito, porém controlava tudo que eu sentia por medo de me machucar mais uma vez. Eu estava cansada de tombos em relacionamentos.

Nunca pude dizer que tive muita sorte de vivenciar longos romances. O último tinha sido pavoroso e quando Charles me magoou, eu tinha absoluta certeza que para mim não existiria finais felizes. Com Carlisle pelo menos eu tinha uma experiência realmente alegra e amorosa.

A campainha tocou e eu fui correndo abrir. Do outro lado estava ele inteiramente disfarçado, porém nada que fizesse iria esconder a sua beleza. Senti o olhar dele em mim, não havia sinais de quem queria terminar com alguém. Aquilo me deu esperança. Senti minhas veias ferverem e me deu uma vontade enorme de abraçá-lo. Mas não podia. Tinha que provar para a minha família que eu não era nenhuma maluca.

— Você está pronta?

— Se importa de eu apresentar você aos meus pais antes? Tive que contar a eles e agora corro sério risco de parar em um manicômio.

Carlisle sorriu e eu peguei a sua mão para puxá-lo para dentro sem ao menos ouvir a resposta dele. Não importava, se ele me quisesse de verdade aquilo seria um bom teste.

— Bom dia pessoal! – ele falou baixinho, mas dessa vez com as duas bochechas coradas de vergonha. Eu amava aquele lado tímido dele.

Meus pais olhavam para Carlisle com espanto e Lily apenas prestava atenção nas minhas mãos grudadas a ele. Essa cena foi tão inesquecível que nunca saiu da minha mente.

— Estão vendo. Ele é real!

— Deus Karen! Tem um príncipe em nossa casa!

— É um prazer em conhecê-los. – Carlisle falou estendendo a mão. Mas meus pais estavam surpresos demais para expressar qualquer reação, então agradeci aos céus quando Lily apertou a mão dele. Foi à deixa para todos. – Eu queria muito ter vindo aqui antes falar com os senhores e pedir a mão de Essie em namoro, mas preferimos nos conhecermos primeiro antes de oficializar tudo.

— Acho que foi melhor assim. – Mamãe falou. – Vocês precisam de um tempo para verem o que realmente querem. Mas de antemão digo que apoiarei qualquer decisão que tomarem.

— Muito obrigado, dona Karen.

— Eu concordo com Karen. Levem o tempo que precisarem para tomarem qualquer decisão de cabeça fria.

— Então, pai e mãe, Carl está me levando para Montsaurai para passearmos um pouco antes que tudo exploda em nossa cabeça. Tudo bem, não é?

— Claro! – mamãe falou. – Se comportem!

E nos preparamos para pormos o pé na estrada. Montsaurai era o paraíso para quem queria um passeio para um lugar próximo e cheio de atrativos. O ar serrano, as longas florestas convidavam para um encontro aconchegante para casais como nós e muitas aventuras para aqueles que saboreavam o lado mais radical da vida.

Mas nada disso chamava a minha atenção de verdade. Me impressionou o fato de Carlisle ter um carro só pra ele. É claro que teria um, mas de uma hora ou outra eu me deixava cair no mundo cor de rosa e o imaginava apenas como um universitário sem grana como eu. Balancei a cabeça com esse pensamento bobo e ele sorriu pra mim como se soubesse o que eu estava pensando, ele sempre sabia.

— Não é meu. – referindo-se ao carro. – É do palácio. Uso raras vezes. Pedi permissão para sair nele sozinho. Quer dizer... Não se importa se formos acompanhados pelo meu segurança, não é?

Balancei a cabeça negativamente ainda em silêncio. Olhei pra trás e havia outro carro em uma distancia aceitável para não ser inconveniente. Acenei para o segurança levemente e ele apenas assentiu com a cabeça.

Durante o caminho, eu apenas ficava olhando para Carlisle. Ele parecia tão tranqüilo... Como eu poderia estar explodindo? Tentei lembrar de todos os momentos que passamos juntos naqueles últimos meses. De quando ficarmos horas sentados no chão do dormitório dele, abraçados e ouvindo discos, falando lorotas e coisas bobas de amor. Da maneira que ele me envolvia em seus braços que me fazia esquecer qualquer coisa, até o fato de estar diante de um príncipe.

Eu não queria que fosse um fim. Estava certa que eu o conhecia o suficiente para acreditar que ele queria algo comigo de verdade, que havia sentimentos da parte dele tanto quanto havia da minha parte. Carlisle não era o tipo de homem que queria mulheres apenas para exibi-las como um troféu, assim como Charles fazia. Não era o tipo hétero de homem que apenas pensava com “a cabeça de baixo”. Era sensível, romântico, tímido de uma maneira fofa, e com um coração do tamanho do mundo.

Mas por um outro lado, eu tinha medo de estar me enganando novamente. Eu confiei em Charles o suficiente para acreditar que ele realmente estava comigo por que gostava de mim. Em todos os meus outros namoricos, eu acreditei que poderia haver algo melhor do que beijar e depois de um tempo descartar. Eu estava cansada de homens vazios e com atitudes piores ainda.

Tinha receio que na primeira oportunidade podia aparecer uma mulher que chame mais atenção do que eu e ele chegar para mim e dizer que o nosso tempo havia acabado. Meu coração não agüentaria isso. Por isso queria ter total certeza do que estava acontecendo entre nós dois. Por que com relação a amizade, eu sabia que estava seguro, mas eu o queria como homem, como alguém que eu poderia confiar a minha vida sem reservas.

O carro parou em frente a uma pousada bem discreta, uma que certamente não estaria nos panfletos de turismo regional. Era um lugar confortável, ótimo para se esconder da loucura que certamente estaria Belgravia agora. Eu sonhava que ninguém ali tivesse os jornais do dia disponível.

Carlisle fez uma reserva e até o momento tudo certo, sem assédio. Como se nada tivesse acontecendo, ele pegou a minha mão e seguimos para o jardim. Eu sabia que tremia, suava e só sabia olhar para o rosto dele. Recebi apenas um sorriso divertido e um beijo na minha mão. Então, pensei, sim talvez eu estivesse exagerando. Sentamos no gramado e não consegui mais ficar calada.

— Essa não é uma maneira bonita para terminarmos, não é?

— Você quer terminar? – Ele perguntou com a testa franzida. – Olha... O que virá a partir de hoje vai ser muito difícil. Eu não quero te prender a mim para enfrentar esse inferno.

Minha ficha começou a cair. Não, ele não queria terminar comigo. Comecei a sorrir feito boba. Eu tinha tantas inseguranças que nem se quer passou na minha cabeça que talvez ele também tivesse as dele. Eu estava vivendo de uma realidade paralela, sendo que havia um problema bem maior na nossa cara.

— Se estivermos juntos, Carl, enfrentarei qualquer coisa.

— Não vai ser fácil, Essie. A imprensa muitas vezes não é bondosa. Eles pintam a história que eles querem. Vai ter paparazzis na sua porta e as pessoas vão saber quem você é.

Isso me deu muito medo por que eu realmente não sabia o que esperar. Não fazia idéia de como era viver no mundo dele. Senti a minha espinha gelar. Mil coisas surgiu na minha cabeça. As pessoas gostariam de mim? Como elas veriam o meu relacionamento com o príncipe deles? Deus, eu estava nesse momento nas capas do jornal! Surreal! É claro que eu sabia da condição dele de príncipe, mas nunca essa realidade esteve tão perto de mim como agora.

— Você acredita que eu vim esse tempo todo me preparando para o momento em que você diria pra mim que precisávamos terminar.

— Que bobagem é essa? – sorriu. – Eu estava mais preocupado com o fato de você não querer seguir comigo devido a tudo. Eu sei o peso que eu carrego.

— Acho que a gente passou esses meses todos vivendo num multiverso.

— Sim. Mas eu quero que saiba que eu gostei de você no minuto que te vi no bar naquela noite. Naquele instante senti que estava perdido.

— Eu também te achei gatinho naquela noite. – Bati de olho pra ele e recebi a gargalhada mais linda dele.

— Passei a noite toda olhando pra você e quando vi que ia embora, eu criei coragem para não deixar você ir.

— Eu estava com medo de você me fazer apenas uma paquera de uma noite. Não imaginava que eu poderia ter que pudesse te atrair romanticamente.

— Por que não? Queria tanto que você se visse como eu a vejo, meu bem.

Aquilo foi como um abraço caloroso. Mexeu com as minhas estruturas. Senti meu corpo esquentar e o meu rosto corar. Eu tinha tantos sentimentos por aquele homem e era tão bom saber na real que ele tinha por mim também, acima de qualquer coisa. Corri para os braços dele com tanta voracidade que caímos juntos na grama. Carlisle pegou o meu rosto e ficamos alguns minutos trocando olhares. Fui me aproximando até poder tocar os seus lábios. A mão dele acarinhou o meu rosto e aprofundamos o nosso beijo. Não importava como iria ser daqui para frente, nos amávamos e era isso que importava.

— Eu achei que você não queria nada comigo por causa da minha posição. Naquela manhã que saímos da boate, você foi embora e me deixou a entender que eu não tinha chance alguma. Mas eu tinha que tentar.

— E eu pensei que você só queria amizade.

— Como podemos passar dois meses pensando uma besteira dessas?

— Meu bem passamos cinco meses namorando sem se quer conversarmos sobre o que pensarmos diante da situação toda.

— Dois idiotas, formos. Mas eu quero deixar claro que eu estou apaixonado e esse tempo todo só me mostrou que eu não posso mais ficar longe de você.

— Nem eu. Você é muito mais do que eu pude sonhar. Sinto em te dizer que conseguiu me deixar perdida de amor.

Ele me abraçou mais e eu cheirei o pescoço dele. Senti o seu perfume gostoso que me fazia ficar calma e bem.

— Como vamos lidar com essa situação toda? – perguntei no ouvido dele.

— Eu conversei com os meus pais.

Me virei e fiquei numa posição que me permitia olhar bem para ele.

— Eles não ficaram muito felizes com a situação, porém, quero que saiba que eu estou disposto a continuar com você e lutar ao seu lado contra o que vier.

— Seus pais não gostaram de mim.

— Eles não sabem a dimensão dos meus sentimentos. Mas não devemos nos preocupar com isso agora e sim com os paparazzis.

— O que eu devo fazer?

— Não interaja com eles e nem dê motivos para criarem histórias.

— Por enquanto vamos ter que ser cuidadosos. Vamos procurar não ficarmos muito juntos em público. Eles vão esquecer a gente.

— Espero que sim, mas o caminho é bem tortuosos antes disso. Eu vou te assumir e assim eles não vão ter que ficar procurando motivos pra ficar caçando pistas.

A frase: “eu vou te assumir” me tocou de um jeito especial demais.

— Mas prepare-se, você não sabe nem um terço do que está por enfrentar.

Não sabia mesmo. Estava prestes a passar por duas batalhas muito difíceis. Mas uma coisa eu sabia naquele momento era que Carlisle me amava e eu estava perdidamente apaixonada por ele. Independente de qualquer coisa, nós enfrentaríamos aquele desafio juntos. Saber disso me fazia bem demais.

** *

Melany agora amamentava o seu Carlisle e me olhava com um olhar doce. George tinha o mesmo olhar, porém com uma pitada de surpresa. Esme o compreendia. Ela e o rei passaram tanto tempo casados que era quase inimaginável que um dia foram apenas dois jovens apaixonados.

— Como vocês dois podiam não saber que iriam ficar juntos, vovó? Eu sempre achei vocês dois tão impressionantes! Parecia que eram um só e ouvindo essa história nem parece que um dia vocês não conseguiam nem se quer saber o que sentiam. Foi engraçado.

— Mas é normal, não é? – George interrogou. – Também passamos por essa fase, amor.

— É mais nós dois somos primos e vivemos muito tempo juntos apenas como parentes. A parte do romance veio depois.

— Pra quem está dentro é sempre mais difícil de ver. Mas uma hora acontece. – Esme sorriu.

— Mas esse lance da imprensa é mesmo chato. – comentou George. – Veja o que Renesme e William passaram e ainda passam. Os dois já estão há quase dois anos casados e ainda martelam eles nos tablóides por motivo nenhum.

— É sempre assim. Quando eles não se apegam com alguém e não recebem o “aperitivo” que eles querem fica pior.

— Ainda bem que não tivemos que passar por nada disso. – disse Melany.

— Fico muito feliz por isso. – falei. – O que tive que enfrentar não foi fácil. Fui massacrada de todas as formas. Atingiram os meus sentimentos, me caluniaram, mexeram com a minha auto- estima já quase inexistente no momento...

— Em algum momento você pensou em desistir do seu relacionamento com o tio Carlisle por isso?

— Sim, por medo de machucá-lo. Porém, lutamos juntos nessa batalha e eu tinha certeza absoluta que ele merecia essa batalha. A mídia é algo como um carma para quem está na nossa posição. Lamento muito que isso não tenha ficado no passado, mas fico extremamente feliz que tudo saiu bem no final das contas. Olha a família linda que construirmos juntos? – falou enquanto acariciava a cabeça do seu bisneto.

— No final é isso que importa, não é vovó? O amor.

— Sim. O que eu e Carlisle tínhamos era algo muito genuíno, era algo muito mais de alma, que ia além de qualquer coisa. O que me acolhe é saber que ele está me esperando lá em cima e que mesmo depois dessa vida, ainda continuaremos juntos.

— Vão sim. – Melany falou acarinhando meu braço. – O que vocês viveram aqui não foi o suficiente, embora tenham ficado juntos por muitos anos. O amor de vocês era grande demais e de certa forma sempre vai viver em todos nós, a família de vocês.

— Sim, é o que mais me orgulha.

A rainha olhou para uma foto antiga de Carlisle e colocou junto ao peito. Sim, por que o que é verdadeiro nunca chega ao fim definitivo. ME DEIXEM SABER O QUE ESTÃO PENSANDO. COMENTEM!


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