Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 4
Capítulo 4




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Junho de 2048

Esme se dirigia a sala de música para mais uma rodada de perguntas para o seu livro. Dessa vez William não conduziria a entrevista. Zara e Rosalie estariam no comando. Tinha que confessar que estava cheia de expectativas para como as duas iriam instigá-la.

Quando abriu a porta já escutou de cara as risadinhas doces de Bebela. Ela e Renesme assistiam juntas pelo celular uma entrevista de William. A menina parecia extremamente feliz em ouvir e ver o pai, mesmo que pela tela de um celular. Era perceptível a ligação forte que existia entre os dois. William tinha se dedicado de corpo e alma a sua tarefa de pai e passava o maior tempo possível ao lado da filha. Não sabia como Renesme se sentia com relação a esse apego maior da pequena Isabella com o pai e menos a ela. A rainha entendia bem como a vida dentro da monarquia poderia tirar horas preciosas ao lado da família.

— Papá! – Bebela apontava para a tela do celular.

— Você está com saudade do seu pai? Eu também estou.

Esme sentou-se no sofá e ficou apenas a observá-las. Renesme e a filha estavam passando uns dias no palácio enquanto William estava fora. Não foi bem por vontade da princesa. Ela insistiu bastante para permanecer em Brocken Hall. A rainha tinha percebido que a neta tinha criado uma grande aversão a aquele lugar. Talvez por todas as vivências dolorosas que teve no recinto nos últimos anos, as lembranças que tinha de Bella e o casamento tumultuado com Alec. Mas Edward fez uma verdadeira campanha para trazê-las a Belgravia. Mandou ajeitar um quarto todo especial para Isabella, a entupiu de brinquedos e tentou deixar tudo muito confortável para Renesme. Esme sabia que o filho tinha uma adoração pela neta e queria ter a sua família de voltar para mimar bastante. A princesa foi resistente até quando pôde, isso até William convencê-la que seria melhor. Pois ela não estaria sozinha e isolada se algo ruim acontecesse.

— Ele também está. Veja quem está ligando, filha!

Renesme atendeu a vídeo chamada e pareceu aliviada ao ver o rosto do marido. Esme sentou-se próximo as duas e ficou apenas observando tudo.

— Olá, meu amor! – William saudou. – Como você está?

— Estou bem. Fui à consulta para ver o bebê ontem. Está tudo certo com ele.

— Ah que maravilha! Estou triste por perder essa ultra. Quem foi com você?

— Tia Rosalie. Inclusive, ela estará aqui com Zara para entrevistar a vovó. Estou ansiosa para saber quais serão os papos de hoje.

— Eu também. Vou adorar ouvir tudo depois.

— Mande um abraço para ele, querida. – pediu Esme.

— Vovó mandou um abraço. Estamos todos com saudades!

— Eu também estou. Majestade, eu estou cheio de idéias para as nossas próximas conversas.

Renesme virou o celular para a câmara focar na avó.

— Eu imagino, William. Você é muito criativo e sabe bem o que faz. Obrigada pela dedicação.

— É um prazer, senhora.

— Como está a divulgação do seu livro?

— Está uma maravilha! A crítica vem recebendo bem e o público vem acompanhando as palestras em um número considerável. Estou muito feliz!

— Eu também, querido. Você merece!

— Obrigado majestade!

Renesme virou a câmara de volta para captar bem ela e a filha que estava em seu colo. A menina logo se animou em seus braços.

— Papá!

— Oi meu anjinho! Papai está morrendo de saudades.

— Ela estava ansiosa para vê-lo. Acabamos de ver a entrevista que você deu ontem. Só assim ela se acalmou.

— Meu bebê, logo papai volta para estar com você novamente.

— William, você parece cansado.

— Estou tento uma rotina agitada, apenas isso. Todo dia estou em um lugar diferente e isso pode estar me afetando um pouco.

— Se cuide, ok? Por que eu sou capaz de ir até ai cuidar de você.

— Eu adoraria que estivesse aqui. Sinto sua falta a todo instante.

Renesme ficou vermelha e Esme até pensou em se levantar e voltar depois, mas sua nora e Zara já adentravam o recinto.

— Eu também. Eu te amo!

— Eu também te amo! Mais tarde ligo de novo para ler para Bebela antes dela dormir.

— Ok. Te aguardo.

— Ai o amor é lindo! – Brincou Rosalie enquanto se aproximava de Renesme e dava um beijo em Isabella que agora queria ir para os seus brinquedos no chão.

— Sim, o amor é lindíssimo! – Renesme suspirou enquanto colocava a filha no tapete para que ela pudesse brincar a vontade. – Vocês são todas umas invejosas!

— Confesso que sou mesmo. – Rosalie comentou enquanto sentava ao lado da sogra. – Depois de anos de anos de casados as coisas não são a mesma coisa...

Esme olhou para a nora com um sorriso sarcástico. Rosalie e Emmett eram simplesmente um grude! Num nível que chegava a ser vergonhoso quando ambos estavam namorando e mesmo depois de casados. Chegava até ser uma grande ironia ouvir isso.

— Vou ter que conversar com o meu filho a respeito. Pensei que depois da aposentadoria dele iríamos ter uma outra lua de mel de vocês dois.

— Estou esperando por isso. – Rosalie bateu de olho.

— Vocês podem até não acreditar, mas eu e Carlisle formos muito próximos até o fim.

— Eu acredito. – falou Renesme. – O vovô era o último romântico.

— Eu ouvindo você conversar assim com William e me lembrei tanto de quando Carlisle tinha que fazer alguma viagem sem mim. Ficávamos exatamente assim... Ele era o melhor marido e o melhor pai.

— Isso me deixa curiosa. – Zara falou pela primeira vez. – Vocês se conheceram em 78 ou em 79?

— 78. No fim do ano para ser mais exata.

— Então, pelos meus cálculos... Você tinha acabado de passar por aquele episódio deplorável com aquele sujeito inominável.

— Sim, foi 5 meses depois.

— Como isso afetou a senhora? Quer dizer? No momento em que começou a se relacionar com Carlisle.

Esme tentou lembrar daquele momento. Não era algum bom para trazer à tona. Só aceitou que isso viesse a estar no livro por que por anos Charles tentou trazer esse assunto novamente para a imprensa marrom e ainda por cima a recriminando. Carlisle e ela própria tentaram ao máximo abafar essas notícias mentirosas e lançaram até alguns processos, mas nunca ela chegou a falar realmente a respeito. Tinha vergonha e nem sabia o porquê, já que tinha sido ela a vítima.

— Foi difícil. Perdi completamente a fé em mim e nos outros. Foi como se eu tivesse perdido toda a minha luz.

— Fiquei realmente impressionada com essa história, Esme. – comentou Rosalie. – Por que nunca chegou a falar sobre isso antes?

— Por que eu simplesmente queria esquecer. Só vim a falar sobre isso agora por que acredito que preciso que saibam a verdadeira história e também por que sei que muitas mulheres passam o mesmo e não tem o direito de resposta ou acham que são culpadas, como eu achei que era.

— E como foi conhecer Carlisle depois de tudo que aconteceu? – questionou Rosalie com curiosidade.

— Foi a melhor coisa que me aconteceu.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 4: A luz dos meus olhos

O inverno de 1978 foi um dos mais “quentes” em Belgonia. As ruas estavam mais cheias, as pessoas agora dominavam todos os espaços de Belgravia. As noites eram embaladas pela “disco music”, pelos “Bee Gees” e o “ABBA” fazia a trilha sonora não só da vida dos jovens, mas de todos no momento.

Mesmo todos sentindo a energia de um fim de uma era para outra, eu sentia o inverno com muita intensidade. Fazia dois meses que eu tinha decidido retomar as minhas aulas na universidade. Tinha sim pensado em desistir com medo de me encontrar com Charles novamente e vê-lo significava reviver aquela noite terrível novamente. Além dos comentários que iriam com certeza me incomodar onde eu fosse. Já imaginava ouvir os fuxicos baixinhos de como eu tinha sido uma “puta” ou que tinha deixado o deus grego sem o que ele queria por ser uma “idiota”. Queria me preservar disso.

Porém, o meu sonho de ser uma arquiteta me levou a sair de casa novamente depois de meses. Eu não tinha que me esconder por causa de um “imbecil”. Então tentei voltar à ativa. Mas nem tanto. Eu passava longe de festas em geral. Estava traumatizada. Na minha cabeça eu tinha que evitar qualquer coisa que me lembrasse tudo que aconteceu ou qualquer tipo de relacionamento amoroso.

Lembro que naquele início de dezembro todos falavam da abertura de uma discoteca próximo ao campus, ou seja, o paraíso para qualquer jovem na época. O redor da universidade era quase totalmente dedicado aos estudantes, era como uma pequena cidade universitária. Tinha quase tudo, menos diversão. Naquele momento, quando não havia celulares ou internet, as noitadas eram em bares e em danceterias. Mas eram longes demais dos dormitórios. Agora tudo estava fadado a mudar com a abertura da “Saturday Dance”.

Foi justamente num sábado que a discoteca abriu para o seu público ansioso. Dois de dezembro, um dia inesquecível. Eu não estava nem um pouco a fim de comparecer a esse evento por motivos óbvios. Porém, as minhas amigas praticamente me seqüestraram alegando que eu precisava me divertir. Sai do campus escondida delas para que não insistissem mais, mesmo assim elas foram até a minha casa. Minha mãe as apoiou. Foram atrás do meu melhor vestido no guarda – roupa e me maquiaram toda. Até eu fiquei impressionada com o resultado e um pouco mais feliz.

Quando chegamos por lá fiquei me sentindo extremamente claustrofóbica. Aquele lugar tinha gente até não caber mais. O som estava altíssimo, as luzes quase cegavam e as pessoas se apertavam na pista de dança. Passei longe do bar e procurei um lugar para sentar. Tentava me distrair numa conversa praticamente impossível de se ter devido ao som alto e ficava olhando para o relógio a todo instante. Tinha prometido em casa que voltaria cedo. Mera ilusão!

Num determinado momento, resolvi ir ao banheiro. Eu sabia que tinha uma saída de emergência próxima de lá e seria a minha vez de escapar. Então segui tentando driblar o montão de gente que se balançava ao som da música e de repente deu ruim. Acabei esbarrando em um cara que estava no bar e a bebida que ele tinha na mão foi derramada em parte em sua roupa. Deus não poderia ter sido pior!

— Me desculpa, por favor!

Foi à única coisa que eu conseguir dizer na hora. Esperei uma resposta e ela não veio. Ele olhou para mim e a primeira coisa que eu captei foi aqueles lindos olhos azuis, os mesmos dos filhos que eu teria um dia com ele. Fiquei paralisada por alguns segundos. É claro que eu sabia de quem se tratava. Se eu dissesse que eu não sabia que estava diante do príncipe de Belgonia estaria contando uma mentira da grossa. Quando o reconheci fiquei ainda mais envergonhada.

— Não foi nada. Está tudo bem! – Carlisle falou depois de um tempo em silêncio.

Não sei quanto tempo ficamos olhando um para a cara do outro. Acho que apenas uns segundos. Mas pareceu uma eternidade. Senti um frio na espinha estranho, um tremor no estômago. Ele era tão lindo! Tão palpável e estava ali na minha frente e eu só pensei que tinha sido a mulher mais desastrada do mundo. A primeira atitude que tive foi me desculpar mais uma vez e sair correndo. Esqueci até mesmo que pretendia fugir da discoteca e voltei para a mesa das minhas amigas.

— O que está acontecendo Esme? Você está branca? – perguntou uma delas.

Apenas balancei a cabeça e tomei um gole da bebida de uma de minhas amigas. O álcool desceu rasgando pela minha garganta, mas eu só queria que algo me fizesse esquecer a minha grande vergonha ou aquele homem maravilhoso que eu tinha acabado de esbarrar.

— Tem um homem no bar só olhando para cá.

Olhei de “esguelha” e confirmei o que elas disseram, o príncipe estava olhando para mim. Na minha cabeça pensei que ele estava tentando imaginar o quanto eu tinha sido mal educada em sair daquela forma.

— Deve ser para as mulheres que estão na pista.

— Pare de ser tão pessimista! Estamos com a esperança de sair daqui depois de beijar alguém.

Revirei os olhos e tentei desconversar. Passamos apenas alguns minutos mais. Convenci elas que eu não estava bem e precisava voltar para casa. Era tudo que me faltava naquela noite, estar deprimida, ser forçada a estar num lugar que não queria estar e derrubar a bebida na roupa do futuro rei. A minha noite tinha que terminar ali.

Tentamos chegar à porta principal driblando o mar de gente que cada vez mais enchia a discoteca. Estávamos quase lá quando senti uma mão segurar o meu ombro. Me virei e vi que era Carlisle. Paralisei e pensei: “Pronto! Agora o príncipe vai me cobrar à camisa.”. Nem acreditei que ele tinha se dado esse trabalho.

— Posso te pagar uma bebida? – ele perguntou.

Não respondi de imediato. Minhas amigas olhavam surpresas para mim e para ele. Também não acreditavam que um homem lindo como aquele, na posição dele iria chegar até nós, reles mortais. Ele ficou esperando a minha resposta e eu senti as minhas amigas me empurrando para ele discretamente. O que saiu da minha boca foi:

— No caso, depois do estrago que lhe fiz, eu que lhe devo uma bebida.

— Acho que podemos fazer isso. – E corou. Eu o achei o homem mais fofo do mundo.

Olhei bem para ele para ter certeza se era realmente à intenção dele conversar comigo, depois olhei para a porta ainda pensando em ir embora, mas acabei aceitando. Despedi-me das minhas amigas e o segui até a mesa mais distante de todos que conseguimos. Se me perguntarem, não sei como tomei aquela decisão estando quebrada mentalmente como eu estava. Era para termos esse encontro.

Quando digo isso, é por que tivemos várias oportunidades de nos encontrarmos. Carlisle esteve em Orland com os pais dele e visitaram a minha escola para receberem a saudação da cidade. Eu iria participar dessa homenagem entregando um desenho meu para o rei e a rainha. Fiquei doente e não pude participar. Lily me representou e entregou o desenho.

Mais tarde estudaríamos na mesma universidade. Mesmo ele fazendo um curso diferente do meu, administração pública, no campus podíamos ter nos esbarrado em vários momentos. Não ocorreu nenhuma vez. Era para ser naquele dia, naquela discoteca e da maneira mais vergonhosa possível.

Não vou lembrar exatamente o que conversamos naquela noite, afinal isso foi há 70 anos atrás. Mas lembro de que gostei de tudo que ouvi dele. Passada a surpresa por estar diante de um príncipe e da leve desconfiança de que talvez eu fosse uma presa fácil dele, em nenhum momento Carlisle se exibiu por ser alguém que um dia seria o rei daquele país. Eu estava diante do homem.

É até difícil para quem não está dentro da crosta da realeza, que pode existir pessoas diferentes daquela que é exposta ao público. Mas é real. A pessoa pública pode ser uma coisa e a privada outra completamente diferente. Aquele cara que estava na minha frente me parecia um homem muito inteligente. Não tinha nenhum assunto que eu falasse, até mesmo sobre arquitetura, que ela não soubesse um pouco. Eu olhava para o rosto dele e pensava: “que homem maduro para a idade dele”. Lembro da sua expressão, do seu sorriso, Carlisle parecia sério, mas sempre tinha uma piada dentro do bolso.

Tivemos um bom papo e longo. No início, estávamos desconfortáveis. Como qualquer casal no seu primeiro encontro, mas na minha cabeça aquilo não era um encontro. Enquanto, ele procurava puxar assunto, eu pensava por que eu era a escolhida para ser usada como um capricho desses homens. Não conseguia imaginá-lo sozinho. Alguém como ele devia ter todas as mulheres em suas mãos. Então, por que eu?

Porém, a forma como ele falava, com simplicidade e sem exibição me fez confiar um pouco mais nele. A conversa fluiu tanto que nem vimos que a discoteca já ia fechar. Saímos dela gargalhando por isso. Formos praticamente expulsos, verdadeiros inimigos do fim. Comecei a me virar para pegar o primeiro transporte para casa, mas ele segurou a minha mão. Gelei e pela primeira vez naquela noite senti uma tensão que não estava ligada a desconfiança. Aquele toque tinha acendido tudo em mim.

— Posso ficar com o seu telefone? – Ele me pediu. – Vou te dar o meu também. Acho que essa noite não foi o suficiente para a gente.

Aquele comentário me deixou paralisada. Deus! Ele queria conversar mais comigo! Eu não conseguia acreditar. Vendo que eu não me mexeria. Carlisle pegou um pedaço de guardanapo que estava no bolso e anotou o número dele. Ele realmente estava fazendo aquilo? Que espécie de coisa estava acontecendo ali? Quando ele me deu o telefone dele não tive como não fazer outra coisa. Nem passou pela minha cabeça em dar um número errado. Anotei e me despedi dele imaginando que tudo não passara de um sonho bom.

Segui a minha vida. Não me preocupei se eu deveria ou não ligar para Carlisle ou que receberia uma ligação dele. Estava conformada com o fato de que um homem como ele jamais iria descer até ficar com alguém como eu, uma plebéia fora dos padrões. Ele apenas tinha tido uma noite difícil. Lembro que tinha comentado sobre isso em algum momento, foi uma das poucas vezes que ele falou sobre a sua família. Carlisle tinha problemas com o pai dele e naquele dia os dois pareciam ter brigado. Eu fui talvez à pessoa que ele achou para distraí-lo. Mesmo não havendo sentido algum.

Num sábado, uma semana depois do nosso primeiro encontro, o telefone lá de casa tocou. Meu pai estava fumando na janela e o atendeu. Eu estava vendo TV ali próximo e ouvi tudo.

— Alô! Casa dos Platt, quem fala?

Alguém respondeu do outro lado da linha, voltei minha atenção para o programa na televisão.

— Carlisle? O mesmo nome do príncipe. Pois é! Uma grande coincidência mesmo.

Virei o rosto no mesmo instante e fiquei completamente chocada! Meu pai não tinha se tocado que estava conversando com um príncipe, mas eu tinha total noção que ele tinha ligado para mim.

— Você quer falar com Essie? Ela está aqui. Filha, um amigo seu quer falar com você.

Levantei na maior tranqüilidade, ao menos eu tentei manter a compostura, e coloquei o gancho no meu ouvido. A voz dele fez tremer a minha espinha.

— Essie é um bom apelido para você.

— Bom, eu gosto.

— Como você está? – Ele estava querendo saber como eu estava?

— Estou bem e você? Não me pareceu assim tão satisfeito naquele dia.

— São coisas da vida. Não vale a pena. Então... Você está livre amanhã?

Livre amanhã? Ele quer se encontrar comigo de novo? Comigo?

— Bom...

— Acho que podemos continuar a nossa conversa num café aqui perto. O que acha?

— Acho que podemos sim.

Aquele seria um encontro real oficial? Foi o que fiquei pensando o tempo inteiro. Eu não estava preparada para um relacionamento com ninguém e tentei me segurar nisso. A sorte que Carlisle foi bem paciente. Não me cobrava, apenas gostava da minha companhia. Lembro que ficamos 2 meses apenas na amizade. Nos encontrávamos em locais discretos e conversávamos bastante. Na época não haviam tantos paparazzis como hoje. Carlisle colocava apenas um boné e uns óculos escuros e podíamos ficar horas num lugar nos conhecendo com toda a privacidade.

Nos primeiros encontros, eu lembro de ficar bastante na defensiva. Ouvia mais do que falava. Tinha medo de espantá-lo com o que eu poderia dizer. Carlisle era um doce. Ficava me instigando a falar mais sem cobrar nada, ia ganhando minha confiança com carinho e com um elogio ou outro me mostrava que eu não era o patinho feio que achava que era.

Aos pouquinhos, os encontros semanais se tornavam diários no campus ou num barzinho. De repente, me via pensando nele. Alguma coisa boa acontecia, eu ligava para contar a novidade. Adorava quando ele pegava na minha mão, me olhava com aqueles olhos carinhosos e me dizia: “Eu sabia que conseguira Essie!”. Eu adorava quando ele me chamava pelo meu apelido de infância! Na boca dele tinha um sabor melhor.

Quando nos encontrávamos não havia o príncipe e nem a plebéia. Embora que em alguns momentos os assuntos relacionados às funções dele dentro da realeza começassem a vir à tona em alguns papos. Ficávamos pensando no que estava acontecendo no país, comecei a levá-lo disfarçado para as passeatas. Ele amava! Carlisle tinha um forte senso de justiça. Inclusive, já tinha saído antes várias matérias a respeito. Esse era um dos motivos do conflito dele com o pai. O rei não aceitava que o filho queria “humanizar” a monarquia, aproximá-la das minorias.

Acho que no fundo, comigo ele se sentia em casa e eu me sentia em paz com a calmaria dele, com a confiança que depositava em mim, com as suas palavras amáveis. Carlisle me mostrava que nem tudo era preto no branco como eu imaginava. Me mostrou que eu podia e merecia mais. Simplesmente íamos nos descobrindo juntos e curando as nossas feridas. Ainda hoje me sinto muito abençoada pelo presente de tê-lo em minha vida pelos anos que Deus permitiu.

** *

Renesme olhava atentamente para Esme depois de ouvir os seus relatos. Ela sabia o que a neta estava pensando. Ambas tiveram uma história em comum e também de maneira igual não tiveram coragem de falar sobre os seus abusos sofridos. Até hoje, somente William, Antony e talvez ela soubessem de tudo que ela sofreu durante o casamento dela com Alec. A rainha sentia como se um espinho cortasse seu coração toda vez que pensava que contribuiu para aquela alcatéia de lobos fizessem Renesme sofrer. Era mais uma coisa que jamais a faria se perdoar.

— O que tiramos de lição disso? – Concluiu Zara. – Quantas mulheres passam por vários tipos de abuso e não conseguem colocar isso pra fora, não é?

Esme balançou a cabeça em concordância só conseguindo observar Renesme ainda de cabeça baixa, bastante envergonhada. Queria poder estar só com ela para poderem conversar a respeito.

— Gostaria de dizer Esme que é muito importante, minha sogra, que venha falar sobre isso em seu livro. Eu mesma que estou na família por anos não sabia desse fato, mas isso será definitivo para lançar uma discussão a respeito.

— É o que eu quero. Esse livro é para que as pessoas reflitam e ajude de alguma forma e não para me enaltecer. Nunca fui e nem sou perfeita.

— O mais decepcionante de tudo que isso foi há 70 anos e nada mudou. – comentou Renesme. – Não foi só Charles que prejudicou a mente da vovó. Claro que o que ele fez foi terrível, mas ela já se sentia diminuída antes por todo o machismo presente ao redor dela. Fico feliz que o vovô tenha aparecido em sua vida, mas se isso não tivesse acontecido? Eu lido todos os dias com casos do tipo que evoluíram para doenças mentais como ansiedade, depressão, transtornos alimentares. Até quando a gente vai ter que ver isso?

— É verdade. Eu mesma tive bulimia por anos para tentar me encaixar num estilo imposto para o nosso corpo para alimentar essa ilusão da perfeição. – argumentou Rosalie.

— É impressionante o quanto as mulheres têm que se provar o dobro, não é? Serem belas, perfeitas, mães exemplares, esposas fiéis, trabalhadoras eficientes. Nunca isso é cobrado nem a metade para os homens. Acho muito importante Majestade, a senhora permitir que a sua história seja a condução para essas discussões.

— É o que desejo, já disse isso para William. Quero falar sobre coisas que jamais pude falar antes. Mesmo que isso venha abalar alguns muros velados do palácio e as pessoas lá fora. Acreditem isso é só o começo de uma longa história.

  Esme fechou os olhos e refletiu, seu coração encheu-se de alívio por estar externalizando tudo isso. Quantos anos guardou esses sentimentos e momentos só para ela? Era bom poder desabafar de alguma forma e deixar tudo que sofreu para trás.  

A discussão imponderada ainda continuava entre as três. A rainha deu um sorriso leve, se sentindo como a única pessoa que sabia o fim da linha. O que virá a seguir será mais surpreendente. COMENTEM BASTANTE!


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