Capítulo 6

—Bom dia. -Sara desejou beijando o marido com doçura. 

—Oi. -Ele retribuiu com carinho.

O brilho no olhar daquele casal denunciava a discreta, mas intensa, noite de amor que compartilharam no dia anterior. Grissom estava exultante pelas novas notícias sobre a paternidade e não resistiu aos encantos de Sara, mesmo preocupado com a casa cheia. 

—Vocês duas dormiram bem? -Perguntou com a voz rouca.

Ela assentiu e fechou os olhos ao senti-lo acariciando seu ventre.

—Querida, eu estava pensando… Para onde vamos depois das suas férias?

Ela encarou os olhos azuis como o mar e suspirou.

—Precisamos decidir sobre isso. -Admitiu. 

—Acha que o Ecklie me dará um emprego se eu pedir? 

O sorriso dela expôs os dentinhos separados.

—Tenho certeza. -Lhe plantou outro beijo nos lábios. -E se não der, perderá uma CSI na ativa e uma em formação.

—Tomara. -Respondeu pensativo. -Preparada para o último  dia de palestras?

Ela assentiu com a cabeça e se levantou com uma careta.

—Estou um pouco enjoada. -Admitiu. -Poderia fazer um chá para mim?

Ele concordou e foi para a cozinha, enquanto ela seguiu para se arrumar. A morena vestiu uma roupa fresca e confortável, prendeu seus cachos em um rabo de cavalo e foi encontrar os amigos na cozinha. Seu estômago ainda estava embrulhado, por isso ela se serviu de bolachas de água e sal e chá.

—Enjoos matinais? -Cath perguntou oferecendo frutas cortada. 

Sara assentiu enquanto tomava um gole da bebida quente.

—Vou preparar um lanche para vocês beliscar durante a palestra. -Morgan se prontificou. -Frutas frescas e algumas castanhas, que tal?

—Vou preparar um chá de gengibre. -Greg completou. -Uma vez eu li que ajuda com enjoos.

Sidle ficou comovida pelo cuidado da família postiça e agradeceu. Cercada de mimos, seguiu com eles para as últimas palestras do congresso.

—Meu pai chega com Brass hoje a noite. -Morgan disse enquanto se acomodavam. -Combinei de pegá-los no aeroporto.

—Posso te acompanhar. -Greg se ofereceu.

Catherine Sara trocaram um sorriso cúmplice.

—Ótimo. Podemos pegar umas pizzas na volta. -Morgan concordou.

Logo eles silenciaram para acompanhar a palestra de Julie Finlay.

Assim como fora prometido por Russel, Finlay ofereceu uma palestra animada e interessante. Envolveu os peritos atentos em diferentes técnicas para identificar padrões de gotas de sangue. Divertida, a perita promoveu vários momentos descontraídos que renderam boas gargalhadas. 

Logo que acabou, Russel foi conversar com a antiga colega de trabalho e acabaram seguindo juntos para um almoço. Os outros peritos de Las Vegas se dispersaram em diferentes mini cursos e aproveitaram bem o último dia. Entre uma aula e outra, Nick, Greg, Catherine e Grissom se encontraram com Sara para uma refeição ao final do dia.

—Estão caprichando na decoração. -Catherine observou ao ver algumas pessoas passando com flores. -Tem um salão aqui, Sara?

—Sim, no subsolo. Imenso e muito agradável. 

—Adoro esses bailes. -A loira suspirou. -Participei de alguns no Rampart… Sam sabia como dar boas festas.

—Eu fui em um com uma namorada. -Nick comentou maroto. -Realmente Sam Braun não poupava luxo para os convidados.

Uma movimentação chamou a atenção deles, era Morgan retornando radiante.

—Acabei de sair de uma palestra incrível sobre preservação da cena do crime. Vocês deveriam ter ido!

A empolgação dela fez os mais jovens rirem.

—Não zombem de mim! Foi muito bom mesmo! -Ela não tirava o sorriso. -Mas agora vou buscar meu pai e o Brass. Já pedi um taxi.

—Eu vou com você. -Greg se levantou mais que depressa.

Juntos, os dois saíram conversando.

—Quero só ver a cara do Ecklie quando esses dois começarem a namorar. -Grissom disse.

—Acho que eles são os únicos capazes de deixar o Ecklie mais nervoso do que vocês dois. -Catherine comentou apontando para o casal. -Quero dizer, foi realmente surpreendente ele não ter demitido os dois.

Grissom assentiu e olhou para a namorada. Agora, com a gravidez, lhe ocorria voltar ao laboratório, mas não queria mais problemas. 

—Sei bem o que está pensando. -Catherine murmurou para ele. -Mas agora é diferente e é possível dar um jeito. 

Ele se assustou e assentiu com a cabeça. 

—Vamos, pessoal… Temos que estar descansados para o baile de amanhã a noite! 

A animação de Catherine os arrastou para fora da universidade e rumo à casa dos Sidle. 

OoOo

No dia seguinte, Sara, Catherine e Morgan tomaram posse da suíte do casal para se arrumarem. Os homens dividiram os demais quartos, mas passaram a maior parte da tarde jogando conversa fora na sala. Jim estava muito animado em rever Grissom e pela expectativa com a novidade do bebê. Ecklie, por outro lado, se juntou às conversas amistosas e aproveitou para conversar bastante com o entomologista.

Faltava pouco para saírem de casa quando as mulheres saíram do quarto. Catherine usava um longo vestido vermelho com fenda e decote discreto, salto alto e cabelos soltos e enrolados; Morgan, por outro lado, vestia um longo preto com pedrarias, cabelos presos em um penteado discreto e elegante; Sara, por sua vez, usava um longo roxo e leve, que demarcava sua cintura e o ventre que começava a crescer, seus saltos eram médios e confortáveis e os cabelos estavam presos com algumas mechas soltas.

Os homens todos usavam smoking, traje exigido para o baile de gala, e as aguardavam na sala. Grissom era o mais surpreso e radiante, era a primeira vez que realmente conseguia visualizar sua esposa como uma grávida. A visão aqueceu-lhe o coração.

—Vocês estão lindas! -Ele murmurou quando ela se aproximou. 

Com um sorriso, lhe beijou os lábios e se abaixou para beijar-lhe o ventre. O gesto não passou despercebido pelos amigos, que sorriam faceiros com as demonstrações de carinho.

—Quem vai conosco na minivan? -Grissom perguntou.

Catherine, Nick e Brass seguiram com Grissom e Sara, enquanto Ecklie, Morgan, Greg e DB foram no carro alugado no aeroporto. Rapidamente chegaram à universidade.

Grissom desfilava com Sara enlaçada em seu braço e não perdia a oportunidade de acariciar seu ventre destacado pelo vestido.  Peritos, investigadores, detetives e outras centenas de pessoas da comunidade forense conversavam, dançavam e se encontravam no grande salão no subsolo da universidade.

—Esse lugar é incrível! -Morgan murmurou quando chegou.

—A universidade sabe como dar uma festa. -Sara concordou. -Nós vamos para a mesa vinte e dois, fica do lado direito do salão.

A equipe de Las Vegas seguiu Sara até a mesa designada e se acomodaram. Ali receberam os primeiros quitutes e bebidas. Logo uma pessoa familiar se aproximou.

—Jules! -Russell cumprimentou-a e puxou uma cadeira para ela. -Pessoal, essa é Julie Finn, trabalhamos juntos por muitos anos. Uma grande amiga!

—É um prazer conhecê-los! -Ela cumprimentou cada um. -DB sempre fala de vocês e do laboratório. Acho que nem sente falta de Seattle e dos velhos amigos.

Finlay se enturmou rapidamente e conversava aimada quando Brass chamou a atenção de alguém que passava.

—Sofia!

Os mais antigos no CSI se viraram para olhar a loira que estava próxima.

—Oi, pessoal! Que prazer encontrá-los aqui!

Eles se levantaram para abraçá-la e ela se demorou em Sara.

—Sara! Você está…?

—Grávida? -A morena completou sorrindo. -Sim, estou. Dez semanas… É uma menina!

—Uma menina! -Ela se virou para Grissom. -Meus parabéns, papai!

Grissom sorriu faceiro e pousou a mão sobre a barriga de Sara. 

—Não vimos você durante as palestras… - Gil observou.

—Cheguei ontem a noite. Agora sou sub xerife em Denver, quase impossível tirar uma folga ou participar da conferência inteira. -Ela esclareceu e recebeu congratulações. -Soube que fez uma palestra excelente, Grissom.

Ele sorriu de lado e agradeceu. 

—Vou voltar para minha mesa. Nos esbarramos por aí? -Ela sorriu para os amigos.

Com um aceno de cabeça ela se foi e Grissom a observou por um tempo. Quando seu olhar voltou para a mesa, encontrou sua esposa com o semblante aborrecido.

—O que foi, querida?

—Parabéns papai!— Ela murmurou com voz de falsete. -Ela não perde uma oportunidade.

Grissom arqueou uma sobrancelha para a esposa e se virou para Catherine, que observava a interação com um sorriso. Percebendo que Sara não a olhava, ela moveu os lábios para o amigo sem emitir som “são os hormônios!”. O entomologista entendeu o recado e achou melhor mudar o foco da discussão:

—Querida, a pista de dança foi aberta. Vamos dançar?

Sara abriu um largo sorriso e pegou a mão estendida dele. Greg e Morgan, Catherine e Nick, e Russell e Finlay aproveitaram a deixa para seguirem o casal.

Dezenas de casais ocupavam a pista de dança e se balançavam com as músicas de balada lenta. Sara e Grissom aproveitavam o momento com intimidade e carinho, indo de cá para lá no ritmo gostoso que envolvia seus corpos. 

—Você estava em uma conversa animada com o Ecklie hoje a tarde… -Sara observou.

—Sim, acho que vai gostar. -Ele respondeu sem parar de dançar. -Ele me quer de volta no laboratório como um consultor. 

—Interessante. O que você disse à ele?

Grissom se afastou um pouco para olhá-la nos olhos.

—Ele vai me enviar a proposta completa por e-mail quando retornar, mas me adiantou que o horário será bem mais flexível e o salário bem interessante. -Ele sorriu. -Me parece bom por conta da dinâmica com a bebê.

Sara sorriu ao ouvir “a bebê” sair de seus doces lábios. Os olhos azuis dele também emitiam um brilho mais intenso qu eo normal.

—Depois que ele me mandar nós podemos discutir as possibilidades. O que acha?

—Excelente! -Ela respondeu e voltou a pousar seu rosto no peito dele. -Eu gostei muito dessa semana, Gil. Ficar com você nas palestras, dormir e acordar com você ao meu lado, curtir nossos amigos… Nossa bebê tem sorte.

—Sim, ela vai nascer em uma família que já a ama muito. -Ele murmurou em seu ouvido. 

Sara fechou os olhos e seguiu dançando com seu marido até o fim da música. Quando a melodia terminou a banda anunciou uma pausa para as formalidades da noite, então todos os casais foram convidados à retornarem às suas mesas. No caminho, um homem forte, bonito e com olhos castanhos intensos chamou a atenção da morena.

—Sara? Sara Sidle? -Ele a chamou. 

Sara, que liderava os peritos de Vegas de volta à mesa, parou ao ouvir o chamado. Virou-se para o homem mas não o reconheceu de imediato.

—Ken! -Ele esclareceu. 

Ela franziu o cenho e esboçou um sorriso sem graça. O homem riu e detalhou:

—Ken Fuller, laboratório de química do departamento de balística. -Sara corava gradativamente a cada palavra que ele pronunciava. -Delta Airlines, Boston para Miami…

Ela engoliu em seco e cumprimentou com a voz esganiçada:

—Mas é claro! Ken! Quanto tempo! 

Ele se precipitou para abraçá-la e o gesto fez Grissom arquear sua sobrancelha. A memória do entomologista era boa demais para esquecer até mesmo um relato antigo.

—Pois é! Foi para Vegas, certo? Deve estar curtindo muito!

Catherine e Nick se entreolharam com um misto de confusão e divertimento. Grissom, por sua vez, já tinha o semblante sério.

—Trabalhando muito, você quer dizer… -Ela tentou amenizar a situação e puxou Grissom para o seu lado. -Esse é meu marido, Gilbert Grissom.

—Muito prazer! -Fuller apertou sua mão com simpatia. -Cara de sorte! Sara tem um espírito aventureiro incrível!

A morena o encarava com um sorriso amarelo e pensava em mil maneiras para sumir dali naquele instante.

—Pois é… Uma aventureira nata. -Grissom concordou.

—Foi muito bom te ver! -Ken a puxou para um abraço. -Nos vemos por aí!

E com um aceno para os demais, ele saiu. Grissom segurou a mão da esposa e não perdeu a oportunidade de murmurar ao pé de seu ouvido:

—Aventureira… Principalmente em banheiros de aviões!

Sara lhe lançou um olhar ferino que finalizou a conversa por aí. Logo que se sentaram novamente na mesa, o cerimonialista começou a falar no microfone.

—Boa noite à todos! Sou Howard Adams, reitor da Universidade. -Se apresentou. -É com grande prazer que recebemos hoje a comunidade forense em nossa casa.

Aplausos educados ecoaram por todo o salão.

—Hoje encerramos mais um Encontro Anual de Perícia dos Estados Unidos. Tivemos quatro dias com muitas palestras, dinâmicas, workshops e cursos. Para isso, contamos com quatro nomes excepcionais que conduziram as principais palestras do Encontro. 

As pessoas olhavam ao redor para encontrar os rostos citados e Grissom encarava o reitor com curiosidade e surpresa.

—A universidade preparou um mimo para essas pessoas que abrilhantaram nossa semana. Gostaria que viessem até aqui: Debra Morgan, Terri Miller, Julie Finlay e Gilbert Grissom!

Salvas de palmas animadas foram ouvidas por todos os lugares. Grissom se levantou surpreso e foi até o palco, dando passagem para que as três mulheres subissem na sua frente. Cada uma delas recebeu um vinho de safra especial, flores e um kit com produtos da Universidade; em seguida, disseram algumas palavras em agradecimento . Grissom ficou por último e foi ouvido com muita atenção:

—Boa noite! -Começou com um sorriso. -Agradeço pelo convite e pela participação ativa de tantos peritos na palestra. Mas, se me permitem fugir do discurso padrão…

Ele trocou um olhar com o reitor e este o incentivou a continuar.

—Quero fazer um agradecimento especial à equipe de Las Vegas, minha família. -Os presentes aplaudiram e observaram a mesa da cidade. -Minha primeira palestra nessa Universidade foi há quase quinze anos e foi quando eu conheci a pessoa mais importante da minha vida. Hoje, muitos anos depois, retorno à esta casa com minha linda, e agora esposa, Sara Sidle… -Ele trocou um olhar com a morena, que sorriu emocionada. -E com a minha filhinha que ela carrega em seu ventre. Obrigado, Doutor Adams, pelo convite que me permitiu reviver momentos incríveis ao lado da minha família e dos meus amigos.

Grissom foi muito aplaudido e retornou para sua mesa com um sorriso largo, de modo que nem percebeu sua colega Terri Miller com semblante chateado e surpreso se afastar dele e ir direto para o outro lado do salão.

—E não é que você sabe discursar? -Catherine brincou quando ele se aproximou.

Gil sorriu de lado e depositou os mimos sobre a mesa. Em seguida, acariciou o rosto de Sara e lhe plantou um beijo carinhoso nos lábios, enquanto a outra mão afagava seu ventre.  Por fim, disse com os olhos azuis pregados nos castanhos:

—Eu te amo, querida.

Pela primeira vez na vida, Gil Grissom sentia a felicidade irradiar com tanta força dentro de si, que não conseguia se conter.