Capítulo 5

Na quarta-feira os peritos do laboratório de criminalística de Las Vegas foram os primeiros a chegarem ao anfiteatro da universidade, pois Grissom seria o palestrante principal e precisaria organizar sua apresentação antes que os alunos chegassem.

Sentados na primeira fila, eles conversavam baixinho enquanto os demais se acomodavam no local. 

—É verdade que Gil é maçante como palestrante? -Cath perguntou a Sara enquanto observava o amigo organizar alguns papéis. 

—Me disseram isso quando o conheci… Mas não devemos confiar na primeira impressão. -Sara respondeu.

O olhar de Sara procurou o do marido e eles trocaram um sorriso cúmplice. Ele vestia uma roupa social azul marinho escolhida especialmente por ela; enquanto isso, ela estava com um vestido longo e um jovial rabo de cavalo prendendo os cachos.

Grissom passou o olhar pelo anfiteatro e ficou surpreso com a lotação. Reconheceu alguns rostos de colegas conhecidos e as duas palestrantes do dia anterior, mas assim como acontecera quase quinze anos antes, sua atenção estava toda voltada para uma morena de rabo de cavalo que o observava atenta e sorridente.

—Bom dia! -Ele saudou quando as portas se fecharam. -É com um prazer imenso que faço a abertura do terceiro dia do maior encontro de perícia dos Estados Unidos. Meu nome é Gilbert Grissom, sou biólogo e entomologista forense. Trabalhei por muitos anos no laboratório de Criminalística de Las Vegas e hoje tenho a honra de tê-los aqui, compartilhando comigo mais um momento importante para a ciência forense.

Os presentes aplaudiram acolhendo o palestrante. Mais confiante, Grissom continuou:

—Hoje nós discutiremos sobre a importância das primeiras testemunhas das cenas de crime: os insetos! -Ele iniciou a apresentação dos slides com fotos de insetos em situações inusitadas, arrancando gargalhadas de vários presentes. -Esses pequenos seres que causam estranheza e até asco em várias pessoas, são importantíssimos para os peritos criminais.

Grissom falou por horas sobre como coletar, processar, analisar e compreender os insetos que comumente aparecem em cenas de crimes. Sara anotava tudo com orgulho imenso e as impressões sobre o entomologista ser maçante foram por água abaixo. Vários peritos e estudantes fizeram questionamentos pertinentes sobre o assunto. 

—...Então nem sempre é o que parece.... -Grissom falava animadamente. -Trabalhei em um caso no ano de dois mil e um em que variáveis influenciaram na chegada dos insetos no corpo. 

Ele mostrou fotos do caso Shelton, em que acabou comprovando que o marido era o assassino após recriar a cena com um porquinho. Sara sorriu ao se lembrar daquele dia e não resistiu em erguer sua própria mão para interagir com o palestrante. 

Um assistente da universidade se adiantou para levar um microfone até ela quando Grissom indicou que perguntasse. 

—Sou Sara Sidle, CSI. -Ela se apresentou da mesma forma como os outros questionadores fizeram anteriormente. -O que o fez mudar de estratégia e perceber que as variáveis poderiam ter sido alteradas?

Ela já sabia a resposta, mas seus ouvidos se deleitaram ao ouvi-la diretamente da boca dele e com um grande público como testemunha:

—Não podemos confiar que nossos olhos vêem como a primeira impressão. -Ele fez uma pausa. -Nesse caso uma jovem CSI abriu meus olhos sobre algumas variáveis, então a abordagem foi alterada. Não importa há quanto tempo fazemos esse trabalho, sempre podemos aprender com nossos colegas. E se a evidência muda, nossa abordagem também deve mudar. Não podemos confiar na nossa primeira impressão.

Ela acenou para ele com a cabeça e piscou de lado. Ele continuou a palestrar por mais algum tempo e respondeu várias perguntas. Foi uma aula interativa e bem produtiva, surpreendendo a maioria das pessoas presentes.

—Espero que o encontro de hoje os ajude a ver os insetos com outros olhos. Esses bichinhos interessantes são fundamentais para nossa profissão. -Ele deu um suspiro antes de continuar. -Obrigado pela presença e atenção de cada um de vocês.

Aplausos altos foram ouvidos. Grissom olhou para seus colegas com um sorriso desconcertado. Vários peritos se aproximaram para conversar mais um pouco com o palestrante, o que atrasou mais um pouco a saída deles do auditório.

—Sua palestra foi ótima, Grissom! -Russel disse quando conseguiram se aproximar dele.

—Eu não imaginava que insetos poderiam ser interessantes. -Morgan admitiu.

—Fico contente que gostaram. -Ele parecia aliviado.

—Combinei com eles de matarmos os mini cursos da tarde, Gil. -Sara anunciou. -Eu e as meninas vamos comprar vestidos  para o baile de sexta a noite. Nick e Greg vão nos acompanhar para conhecerem a cidade.

—Ok! -Ele concordou. -Vou às compras para preparar nosso jantar. 

—Eu faço companhia, Grissom. -Russel se prontificou.  -Se barbara souber que topei fazer compras sem ela, serei um homem divorciado.

Sara, Morgan e Catherine foram para o maior centro de compras da cidade, onde a morena sabia que haviam várias lojas de roupas. Enquanto isso, Nick e Greg seguiram em outra direção para desbravar lojas mais interessantes para eles. As horas passaram rapidamente e estava quase anoitecendo quando chegaram carregados de sacolas em casa.

—Vocês deixaram alguma coisa para outros clientes? -Grissom questionou quando viu.

—Barbara ficaria orgulhosa. -DB admirou-se.

—Os vestidos são volumosos, Gil. -Sara explicou, mas não conseguiu convencê-lo. -Ok, nos empolgamos um pouquinho…

Ele revirou os olhos para ela.

—O jantar ficará pronto logo, acho melhor se aprontarem.

Os mais jovens seguiram para seus quartos, deixando Russel e Grissom conversando.

—Como eu estava dizendo… -Russel retomou enquanto separava alguns vegetais. -Finlay faz um trabalho muito interessante na análise de gotas de sangue.

—Acho que a vi na saída da palestra de hoje. -Grissom disse. -Loira, alta…?

Russel concordou bem a tempo de Nick e Greg retornarem à cozinha. 

—Como podemos ajudar? -Nick se ofereceu.

—Coloquem àqueles pratos na mesa e separem as coisas dos drinks… -Grissom direcionou.

Enquanto os dois mais jovens organizavam a mesa, as mulheres chegaram com algumas sacolas. Começaram a tirar vários itens de decoração com temas diferentes, mas todos com algo em comum: insetos. Grissom se rendeu a uma gargalhada quando viu Sara com um chapéu de papel com abelhas desenhadas.

—Tem um para você também, querido! -Ela anunciou. -Se concentre nas suas panelas, nós cuidamos da decoração.

Ele obedeceu e guardou a curiosidade. Catherine organizou uma pilha com vários presentes, enquanto Morgan enfeitava as paredes com alguns balões e faixas coloridas. Logo estava tudo pronto e eles se reuniram ao redor da mesa farta.

—Estou muito feliz em comemorar meu aniversário com vocês. Apesar da Sara estar carregando meu maior presente, o segundo é ter vocês conosco. 

Sara olhou surpresa para seu marido e seus olhos ficaram marejados com a declaração dele. 

—Espero que gostem do jantar, tanto quanto eu gostei de prepará-lo!

—Parece que está tudo delicioso, querido. -Sara se levantou e abraçou o marido pela cintura. -Feliz aniversário!

Eles trocaram um abraço carinhoso e receberam um brinde dos amigos. 

O jantar se estendeu por quase uma hora com as deliciosas massas artesanais que Grissom fez e com a sobremesa. Estavam saciados e sorridentes quando Catherine agitou para que todos fossem para a sala. A loira fez o amigo se acomodar na poltrona ao lado da pilha de presentes.

O primeiro presente era um embrulho pequeno sobre a pilha, que ele abriu e revelou uma bela gravata azul com listras brancas, presente de Russel - o único que viera à Frisco preparado e ciente do aniversário. Em seguida, uma caixa contendo uma trilogia de livros de mistério dados por Greg. O terceiro, de Morgan, continha uma camisa social que Sara ajudou a escolher. Catherine, por sua vez, presenteou o amigo com uma coleção de palavras cruzadas complexas. Por fim, Nick lhe deu um quadro com diferentes besouros com informações científicas.

—Já me sinto mais elegante e inteligente. -Grissom disse, arrancando risos dos amigos. -Obrigado, pessoal!

—Faltou o meu, espera aí! -Disse Sara.

A morena correu para o quarto e pegou uma caixa em papel pardo com um laçarote bem feito. Grissom abriu com cuidado e encontrou um envelope.

—Abra. -Sara disse.

Grissom obedeceu e passou os olhos pelo papel, que continha o resultado de um exame de sexagem fetal. Com um sorriso bobo no rosto ele continuou mexendo no conteúdo da caixa, que revelou um body branco de bebê com os dizeres Cuidado! Sou a menininha do papai!. 

—É uma menina? -Ele perguntou radiante. -Vou ser pai de uma menina?

A morena assentiu com os olhos marejados e foi puxada para um beijo apaixonado. Os amigos fizeram uma algazarra com a notícia. Assim que desgrudou os lábios da esposa, ele se aproximou da barriga ainda sutil de Sara e plantou um beijo nela. Seu coração transbordava amor e alegria. Definitivamente, esse era o melhor aniversário que já tivera em toda sua vida!