Incidentes escrita por Bê s2


Capítulo 6
Capítulo 6




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No dia seguinte à noite, Grissom recebeu uma ligação.

—Catherine está vindo jantar conosco. –Ele disse para a esposa. 

—Algum motivo especial?

—Ela quer conversar. –Ele franziu o cenho.

Meia hora depois, a loira tocava a campainha.

—Boa noite. –Ela cumprimentou. –Trouxe vinho para nós.

Ela entregou uma garrafa de vinho tinto para Gil e foi até Sara no sofá.

—E um suco de uva para você. –E entregou-lhe um suco de caixinha.

—Obrigada, Catherine. –Sara riu.

Grissom, que desaparecera na cozinha assim que amiga chegara, voltou segurando uma fôrma com algo muito quente nas mãos; colocou na mesa e anunciou:

—O jantar está pronto. Sente-se, Cath. –Foi até a esposa. –Segure em mim.

Apoiada no entomologista, Sara migrou do sofá para a mesa.  A loira, já sentada, observava os dois com um sorriso.

—Tire essa cara de boba, Cath. –Grissom a repreendeu escondendo outro sorriso.

—Pare de ser insensível, Gil. –Ela retrucou. –O que você aprontou na cozinha? Parece bom.

—Torta de palmito. –Ele olhava orgulhoso para seu feito. –Experimente.

Ela pegou uma boa garfada de seu pedaço e experimentou.

—Muito bom! –A CSI aprovou. 

Gil sorriu mais satisfeito ainda e se sentou ao lado da esposa.

—Como estão se virando no laboratório? –Sara perguntou.

—DB e eu estamos no seu caso. Nick, Morgan e Greg em casos solo. Até Hodges e Henry foram a campo, deixando a Mandy sobrecarregada. –Catherine contava. –Ecklie está perdendo os fios de cabelo que sobram. Passou tarde fazendo entrevistas, precisamos contratar urgentemente. E ainda estamos com você em falta.

Grissom só observava a conversa.

—Ele marcou uma reunião comigo e o Russell. Até você voltar, vamos deixar o Hodges em campo, fazer hora extra... Se prepare para pegar mais pesado no batente quando voltar.

—Ela não pode ir à campo, Catherine. –Gil comentou.

—Eu sei, mas ela vai ficar lá dentro, e...

—Hey, hey! –Sara se manifestou. –Eu quero ir à campo. Estou grávida, não doente.

—Primeiro: nunca pensei que te ouviria dizer isso. –A loira riu. –Segundo: você não conhece o Gil? Quando fiquei grávida da Lindsay, ele quase me trancou dentro do laboratório, me proibiu de passar na frente do necrotério, dobrar o turno, ver certas fotos...

—Você não fez isso! –A morena o olhou abismada. –E não vai fazer isso comigo também!

—Você pode ter certeza que eu não vou deixar vocês se arriscarem em campo, Sara. –Ele foi firme. –Nem que eu tenha que...

—Me amarrar? É a segunda vez que você me ameaça disso essa semana; você está realmente afim, não é?

Catherine reprimiu a risada e acabou engasgando com o vinho. Grissom deixou seu queixo cair levemente para a esposa, que era sempre tão discreta.

—Acho que vamos passar bons momentos com a Sara grávida, Gil. Esses hormônios vão dar o que falar! –Ela cochichou para o amigo.

Depois do jantar, o trio se acomodou na sala. Gil ainda observava a esposa ligeiramente temeroso, mas ela nem se lembrava mais do que tinha falado. Estava em uma poltrona, com o pé apoiado em um puf.

—Hm.—Catherine hesitou.—Tem mais um motivo de eu ter vindo aqui, além de querer saber como estão as coisas...

Gil fez um sinal para que ela prosseguisse.

—Durante a reunião que eu tive com Ecklie e Russell, eu percebi que ambos estão com muita vontade de trazer você de volta para o lab, Gil. Ecklie me disse todos os benefícios que você teria, e não são nada maus. E eu pude perceber que ele queria que essas informações chegassem a você, mas ele não me pediu nada explicitamente.

—Ele me ofereceu um emprego.—Gil contou.—Mas eu não aceitei.

—Nem vai pensar no assunto?

—Não sei, Cath. Agora, com toda essa situação...

—Estão fazendo um bolão no laboratório. Da ultima vez que houve um incidente, Sara foi embora. Eles acham que vai novamente.

Sara negou com a cabeça.

—Eu não pretendo ir, Catherine.

—Isso significa que o Gil ficará?

—Vamos ver como a Sara vai se recuperar, depois decidiremos isso.

A loira concordou escondendo um sorriso. Sempre previa as atitudes do amigo, e normalmente de maneira correta.

—Tenho um outro problema. Estamos recapitulando as provas do seu caso, Sara. E tem uma mancha de sangue no manco onde você estava sentada. Nós sabemos a causa, mas como explicar isso pro DB?

Sara pensou um pouco e respondeu:

—Ganhe tempo. Logo vamos contar, mas precisamos ter certeza do que vamos fazer antes.

OoOo

—Honey, não dá mais para adiar. Eu preciso de roupas.

Grissom vestia uma calça de moletom e a camisa de turista, depois de três dias seguidos vestindo a mesma roupa.

—Tem um shopping aqui perto. Você poderia ir comprar algumas peças.

—Acho que vou fazer isso depois que minhas roupas secarem. Mas e você? Não quero te deixar sozinha, e vai ser ruim para você andar de um lado para o outro.

—Na verdade eu não vou andar, Gilbert. –Retrucou com azedume. –Você está me impossibilitando de fazer isso me prendendo aqui.

Ele riu para o humor ácido dela.

—Eu ficarei bem.—Ela assegurou.

—E se você enjoar de novo¿

Enjôos. Esse estava sendo o grande problema do casal Grissom. Sem mobilidade rápida, Sara passava mal com frequência e passara a andar com um saco de papel no bolso, a fim de evitar a sujeira.

—Eu me viro, Gil. Sério.

Ele não acreditou.

—Se você não se importar, eu posso chamar o Greg, então. Ele me ligou ontem à noite.

Sara discou para o amigo quando recebeu uma resposta afirmativa do marido, e Greg se animou em vê-la. Estava preocupado com ela, e sempre se falavam por telefone. Durante a ausência de Grissom, era Greg quem a animava; sem malícia ou romance, apenas amizade. Ela via nele um irmão, e a recíproca era verdadeira.

—Sarinha, vamos passear?

Greg chegou animado na casa dos Grissom. Cumprimentou o antigo chefe rapidamente e se voltou para a amiga.

—Você me disse que Grissom vai comprar roupas, não é? E eu aposto que você está entediada de ficar aqui...

Os olhos de Sara brilharam para o amigo, prevendo uma proposta de sair do apartamento.

—Então, eu estive pensando... E se aproveitarmos para tomar um sorvete?

A morena virou-se para o marido com olhos pedintes, e ele não resistiu.

—Vai, honey. Será bom tomar um ar.

Depois de se trocar, Sara se acomodou na cadeira de rodas e esticou o pé, que doía um pouco. Enquanto Grissom saiu de carro, Greg empurrava a amiga pela rua e conversavam.

—Não gosto de falar assim com você, de costas.—Sara reclamou.—Me deixa levar isso, vai ao meu lado...

—Não. Disse ao Grissom que não te deixaria fazer esforço. Fique quietinha.

Ela ainda resmungou um pouco, mas cedeu.

—Estou sentindo a sua falta no laboratório. Ninguém me respeita lá dentro.—Ele se fez de coitado.

—Se Catherine te ouvir falar assim, vai te dar uns cascudos, Greg.

—Se fosse a Morgan, eu não ligaria. –Ele confidenciou.

Eles chegaram em uma sorveteria perto do apartamento dos Grissom. Greg a acomodou e eles fizeram os pedidos, que não tardaram a chegar.

—Sabe, está rolando a aposta de que você vai embora do laboratório de novo. –Ele contou, comendo uma colherada.

Ela apenas mexeu com a cabeça, e ele perguntou:

—E então, você vai?

—Não sei, Greg, eu e Gil estamos conversando sobre isso. –eles se encararam. –Mas eu acho que não.

—Mas da outra vez você foi...

—Era diferente. Agora tem outras coisas em jogo.

—É, agora você tem um marido que mora no exterior. Mais um motivo para ir com ele para a França, não?

—Não é bem assim, Greggo. Gil e eu não pensamos exatamente dessa forma...

—Eu sei. –Ele sorriu para ela. –Vocês formam o casal mais excêntrico que eu já vi.

—Eu não sou esquisita.

Sanders não respondeu, apenas se defendeu de uma colherada que vinha em sua direção.

—Podíamos sair no final de semana para comemorar o aniversário do Grissom. –Greg sugeriu.

—Não vai dar. Vamos visitar minha sogra.

Ela tinha um sorriso meio amarelo.

—Ui, vai ser um longo fim de semana pra você, Sarinha.

OoOo

Na véspera da viagem, Sara e Grissom foram ao laboratório levar os papéis que Ecklie pedira. Ela estava com a cara amarrada por ele não deixá-la andar por conta própria, com o auxílio de uma espécie de bengala, igual a que o Doc usava.

A presença de Gil arrancava muitos murmurinhos e olhares indiscretos quando passavam, mas cumprimentos dos antigos colegas também eram recebidos. Ele seguiu empurrando a esposa até o Locker, onde o pessoal do noturno estava se preparando para ir embora.

—Ora, que honra o Sr &  Sra Grissom por aqui! –Catherine brincou, saudando-os.

Sara fez uma careta discreta e corou, Grissom sorriu satisfeito para a equipe.

—Está melhor? –Morgan perguntou gentil.

—Estou bem o suficiente para andar só com um apoio. –Respondeu mal-humorada. –Mas ele insiste que eu me sente aqui.

Ela fungou.

—Querida, você sabe que ainda não está cem por cento.

—Não me chame de querida, Gilbert. Ainda estou irritada.

A equipe riu da estranha interação entre o casal. Grissom arqueou uma sobrancelha para o mau-humor repentino da morena, e pediu licença para ir atrás de Ecklie, enquanto ela ficava com os colegas.

Ele andou no laboratório praticamente sem olhar o caminho, sabia de cor. Porém, parou antes do destino final, em sua antiga sala. Postou-se na soleira, e ficou observando.

A mudança era palpável. Não havia mais quadros de insetos, porções de livros, miniaturas sinistras e experiências inusitadas. Tinha fotos da família na mesa, alguns livros na prateleira e um mundo de relatórios e arquivos em uma mesa a parte.

—Sente falta?

Grissom e virou para o dono da voz, era Russell.

—Mentiria se dissesse que não. Me desculpe a invasão, mas eu passei e observei algumas... Mudanças.

—Não por isso. Sente-se um pouco, por favor. –DB o convidou.

Grissom olhou meio incerto, mas entrou na sala. E, como um bom cientista, andou pelo lugar observando cada detalhe. Russell fechou a porta e continuou parado, olhando o homem. De repente, perguntou:

—Veio trazer os documentos da Sara

O entomologista se virou para ele e assentiu com a cabeça. DB indicou para que se sentasse, então deu a volta e se acomodou defronte a ele.

—Se quiser eu posso cuidar disso, Ecklie não está.

—Obrigado. –Ele entregou os papéis.

DB lia, enquanto Gil o observava.

—Soube que sua supervisão tem rendido bons frutos aqui. –ele comentou.

—Isso te deixa feliz? –O CSI perguntou.

—Muito! –Respondeu num tom óbvio. –Tive esse laboratório como um filho por muitos anos.

—Eu soube. Você ainda está bem vivo por aqui. E nem digo pela Sara! Hodges fala mais.

—Sara gosta de ser profissional, de separar as coisas. –Gil comentou. 

—Eu já acho que família e trabalho devem se completar. Muita separação desmorona um dos lados. Um tem que equilibrar e descontrair o outro. –Gil arqueou uma sobrancelha, pensativo. –Mas, é claro, eu entendo que isso para você é quase impossível, uma vez que trabalhavam na mesma coisa e no mesmo lugar. Por isso vocês mantêm essa distância, não é¿ Assim conseguem ser marido e mulher quando estão juntos.

Grissom se mexeu desconfortável na cadeira. Sempre se sentia assim quando sua vida pessoal era abordada por outros. Ainda mais quando o outro tocava em um ponto sensível... E certo.

—Me desculpe, passei do limite. –DB apressou-se.  

Mas, para a surpresa de DB, Grissom respondeu:

—Antes minha namorada era minha subordinada. Hoje ela é simplesmente minha esposa. –Ele suspirou. –Agora eu me sinto casado.

Russell sorriu com a abertura dele, e resolveu aproveitar-se disso, mas com cautela:

—Por que ela não adotou o sobrenome?

—-Ela quer ser reconhecida pelos próprios feitos e sobrenome. Acha que dessa forma, seu único reconhecimento seria que está vinculada a mim.

—Mas ela está errada e você sabe disso. –DB completou. –Ela é teimosa, e é uma das melhores características nela como CSI.

—Eu disse isso para ela, mas não é decisão minha. Eu tenho orgulho dela. –Gil disse abrindo um sorriso satisfeito.

O silêncio se fez presente por alguns instantes.

—Por que não tenta aqui de novo? Você também tem alunos aqui.

—Conrad me fez essa proposta, você sabe. Para ficar aqui.

—Você está considerando?

Gil abriu e fechou a boca, sem saber ao certo o que responder.

—Bem, você não negou de cara. Isso já é alguma coisa. –Russell observou.

—Digamos apenas que agora temos mais preocupações. Não vamos mais manter esse casamento alternativo. –Ele confessou.

—Então ou você vem para o laboratório, ou perdemos os dois. –DB concluiu.

—Vamos ter um filho. –Grissom contou. –Vegas não e o melhor lugar para uma criança, mas é aqui que nos sentimos em casa. É contraditório e complementar, entende?

—Que notícia excelente! –DB o congratulou. –Como está se sentindo?

O olhar apavorado do entomologista respondeu por ele.

—Grissom, posso te chamar assim? --O outro assentiu. –Grissom, eu tenho quatro filhos. Adolescentes e crianças. E todos os dias eu luto para prender aqueles que arriscam a felicidade e liberdade deles, para que quando estiverem com a minha idade, não precisem guardar digitais e sangue no freezer.

Gil o encarou com os pensamentos a mil, e foi interrompido por uma batida na porta. Greg entrava no lugar empurrando Sara, que sorria.

—Vamos, querido? Você ainda tem que fazer as malas, já que eu não posso nem andar sozinha.

Definitivamente, as oscilações de humor da esposa o confundiam. 

Greg se despediu e saiu da sala.

—Russell, estaremos fora no final de semana. Qualquer... Novidade nos envie um email.

Ele já guiava Sara para fora da sala quando sussurrou para DB:

—Os demais ainda não sabem, pode manter segredo?

E com uma confirmação com a cabeça, Grissom seguiu com Sara para casa.


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