— Uau! Fez um buraco enorme — Yoongi ouvia a voz de Taehyung bem longe, sentia suas pálpebras pesadas, mal conseguia abrir os olhos — Ei, Yoongi, você está acordado? — A voz de Taehyung soava um pouco irreal em sua cabeça, parecia que ouvia um chiado, mas não conseguia responder, estava zonzo e sonolento, tentou falar e abrir os olhos mas acabou por desmaiar novamente.

Passado um dia inteiro, Yoongi acordou sentindo alguém mexer em seus cabelos, sentia uma respiração quente em seu rosto e ao abrir um pouco os olhos viu a boca de Taehyung bem próxima a sua, o que o fez despertar assustado.

— O que você está fazendo? — Perguntou Yoongi se afastando e tentando recuperar os sentidos.

— Calma, só estou trocando seus curativos.

De certa forma a voz aveludada de Taehyung lhe passava uma certa segurança e pelo pouco que tinha observado na floresta o garoto não parecia transmitir risco algum, ele parecia ser uma pessoa de bom coração. Porém, suas deduções mudaram um pouco quando ao tentar se levantar percebeu que estava preso a uma árvore, com seus pés e mãos amarrados. Bufou chateado, se dando conta de que era um perdedor e tinha perdido para alguém que havia subestimado. 

— Como foi que você conseguiu me vencer?

— Você não se lembra?

— Não, só me lembro que ia te golpear e depois disso, tudo se apagou, sinceramente eu estava te subestimando, nunca imaginei que você pudesse me vencer.

— Tenho meus truques — Taehyung deu de ombros e seu sorrisinho orgulhoso fez Yoongi torcer o nariz. 

— Está bem, eu admito, você venceu e eu perdi, agora me solte.

— Éééééé ... Não!

— Você vai se arrepender disso.

— Vici vii si irripindir dissi — Disse Taehyung com uma voz fininha o imitando e fazendo uma careta engraçada — Mas antes que eu me arrependa, vamos cuidar desse machucado para que isso não fique infeccionado — Puxou a cabeça de Yoongi e continuou com o curativo, limpando e enfaixando, enquanto Yoongi se contorcia e praguejava tentando se libertar das amarras.

Seus rostos estavam bem próximos, o que deixou Yoongi um pouco desconfortável. Apesar disso, não conseguia resistir ao agradável cheiro de Taehyung, cheirava seus cabelos de forma discreta para que ele não percebesse. 

— Por que você está fazendo isso? Sou seu inimigo — Perguntou Yoongi, Taehyung o olhou fixamente e Yoongi desviou o olhar. 

— Acho que tenho uma divida com você, por assim dizer. Você cuidou do Príncipe Jimin, da sua maneira mas cuidou. Ele só conseguiu sobreviver porque você o ajudou. Então agora eu vou cuidar de você, simples assim.

— Se está tão agradecido assim, então me solte — Yoongi mostrou os pulsos amarrados. 

— Não abuse da minha boa vontade, seu insolente — Taehyung falou em um tom de voz grave e sério, mas logo em seguida caiu na gargalhada. Yoongi o olhou com desdém.

— Não acredito que eu fui derrotado por você.

— Nossa! Você não ri não?

— Somente os fracos riem.

Taehyun tentou segurar a risada, mas acabou soltando uma gargalhada quase cuspindo na cara de Yoongi, enquanto ele mantinha uma expressão séria.

— Tenho uma técnica infalível que o fará rir. Eu sempre fazia isso com meus irmãos e eles morriam de rir.

— Então façamos uma aposta, se eu não rir, você me solta.

Taehyung assentiu, Yoongi puxou o ar esperando que ele fosse dizer algumas de suas bobagens. Mas ele se aproximou ainda mais e colocou as mãos por baixo de sua blusa e o encarou.

— Ei! Aonde você pensa que está colocando a mão? — Disse Yoongi, quase se esquecendo de respirar ao sentir as mãos quentes e macias de Taehyung em seu corpo. Apesar de parecer relutante, até que gostava daquela sensação. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Taehyung começou a lhe fazer cócegas. Yoongi tentava se controlar para não rir; praguejava; reclamava, mas não adiantava, Taehyung lhe fazia ainda mais cócegas, até que Yoongi se deu por vencido e caiu na gargalhada, chorando de tanto rir.

— Você fica ainda mais bonito quando sorri — Taehyung deu um sorriso, enquanto Yoongi tentava se recompor.

— Ótimo, perdi para você novamente, para onde vai minha honra desse jeito?

— É que eu sou O Poderoso Kim Taehyung. Não fique triste, talvez um dia eu deixe você me vencer — Taehyung ria, mas estranhamente Yoongi não sentia raiva de sua provocação, pelo contrário, achava ele engraçado, mas tentava não rir de suas caretas, não queria dar o braço a torcer. Mantinha sua expressão firme e séria — Agora vamos comer algo — Taehyung se levantou e foi em direção a uma pequena fogueira onde os outros estavam sentados em volta, se aquecendo. Ao voltar, trouxe consigo um prato fundo com algum tipo de sopa.

— Me solte, pois eu preciso usar as mãos para poder comer, não acha?

— Não, não precisa não, eu dou na sua boca.

— Claro que não! Prefiro não comer, nem estou com fome — Nesse momento o estômago de Yoongi fez um ronco alto, o que tirou algumas risadas de Taehyung.

— Já que você não quer, vou levar essa sopa de volta...

— Espera! Está bem, está bem, eu aceito que me dê a sopa — Yoongi estava emburrado e desconfortável, mas sua fome era maior que seu orgulho naquele momento.

Depois de alimentá-lo, Taehyung sentou-se ao seu lado, brincando com algumas pedrinhas que estavam no chão. Yoongi o olhava interessado e curioso, porém quando Taehyung o olhava, ele virava o rosto, tentando parecer entediado.

— Sabe, não se sinta mal por ter perdido para mim, uma vez eu lutei contra um dragão, ele tinha uns cinco metros, não não, na verdade ele tinha uns trinta metros. Enquanto Namjoon e todos os guardas choravam de medo, eu fui lá e matei o dragão sozinho, montei nele e PÁHH enfiei uma faca.

— Você matou um dragão de trinta metros com uma faca? — Yoongi revirou os olhos. 

— Era uma faca de dez metros.

— Claro que era — Yoongi segurou a risada, tentava não dar atenção para ver se ele parava de falar, mas Taehyung lhe dava certa curiosidade.

— Aprendi a usar facas com meu pai, ele colhia frutas e me levava, eram frutas gigantes, do tamanho do meu dragão, acredite. Minha família mora bem longe daqui, as vezes eu sinto falta deles. Você precisa provar as maçãs de lá, são bem docinhas. Mas e a sua família? Onde eles moram? — A expressão de Yoongi mudou drasticamente, antes ele parecia mais relaxado ouvindo as bobagens de Taehyung, agora voltava ao seu eu triste e sem vida — Me, me desculpa, eu não quis… — Percebeu que falou algo que não deveria, mas já era tarde demais. Um silêncio aterrorizante pairou entre os dois.

— Eu sou órfão, nunca conheci meus pais, minha única irmã morreu há alguns anos — Apesar de ainda ficar triste com o passado, Yoongi se sentia estranhamente confortável para falar sobre isso com Taehyung. Mas ele pelo contrário ficou em silêncio, sem jeito e sem saber ao certo o que dizer.

— Eu lamento — disse tristemente.

— Não precisa se lamentar, isso foi há muitos anos… Mas... mesmo assim algumas cicatrizes têm o poder de nos fazer lembrar que o passado foi real — Yoongi olhou para o chão e Taehyung pode sentir toda sua tristeza. Então ele ficou frente a frente com Yoongi, olhou dentro de seus olhos e depois olhou para sua cicatriz.

— Não posso dizer que te entendo perfeitamente porque não passei pelo que você passou. Mas eu sei que o passado pode doer muito e por mais que as feridas já estejam cicatrizadas ou por mais que não sangrem ... às vezes a dor continua, mas se cuidarmos bem, as feridas saram e a dor fica tolerável — Ao dizer isso, Taehyung deu um leve beijo na cicatriz de Yoongi, o qual instantaneamente ficou paralisado, mas ao invés de reclamar como de costume, apenas ficou em silêncio, de olhos arregalados e olhando fixo para Taehyung — Viu? Sarou, admite que meu beijo tem um pouco de poder curativo — Taehyung deu um lindo sorriso, o que deixou Yoongi confuso, embora seu sorriso fosse algo reconfortante, também se sentia desconfortável, cada vez  que ele sorria, sentia um inexplicável frio na barriga.

— Não sei do que você está falando — Yoongi o afastou, mas isso só fez Taehyung rir de sua timidez, o achando adorável, Yoongi não era esse monstro que pintavam. 

— Parece que vai chover essa noite, vou te levar para dentro do celeiro, não é nenhum castelo, mas é quentinho e confortável.

— Tanto faz, durmo em qualquer lugar, dormiria melhor se estivesse livre. 

Taehyung ignorou sua fala e o desamarrou da árvore. Ainda com as mãos atadas, o fez andar até o celeiro. Chegando lá, amarrou os punhos de Yoongi junto aos seus e pediu para que ele se deitasse no monte de feno que havia ali. Se ajeitou atrás dele e abraçou sua cintura, Yoongi se sentiu um pouco tenso, porém, não era algo ruim.

— Assim você não foge de mim, agora é meu prisioneiro — Apertou-o ainda mais contra si.

“Se eu quisesse fugir” — Pensou Yoongi — “Eu sairia facilmente, só vou ficar aqui pra espionar eles, só por isso… só por isso... mas, o Tae... ele, ele é tão... carinhoso”.