The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 9
Capítulo 9: Noite do Jazz


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, meus leitores! Como estão?

Já faz tanto tempo...E eu sei, isso é completamente culpa minha. No primeiro momento, eu iria postar essa história somente quando finalizasse todos os capítulos, porém algo maior acabou me fazendo postar antes do determinado para ver a reação de vocês.

E como eu previ, tive dificuldades em alguns capítulos.

Ainda não finalizei a história. No entanto, tenho pronto até o capítulo 15. Sendo assim, achei mais do que justo liberar para vocês esses que já estão prontos enquanto eu finalizo o restante.

Postarei um por semana, então por favooor, comentem muito suas opiniões.

Beijos e boa leitura!



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Pov Felicity

 

A cidade estava uma verdadeira confusão.

 

Primeiramente, Thea e Sara conseguiram, com a ajuda da prefeita, uma das enormes fazendas de Virgin River. Fiquei chocada ao saber que tudo era gratuito. O fazendeiro não cobrou nenhum custo pelo terreno, e ainda disse que se pudesse ajudar com alguma quantia nas arrecadações faria de bom grado.

 

Fiquei em choque.

 

Se fosse em Los Angeles já estaríamos devendo até as cuecas.

 

Ou calcinhas.

 

Que seja, nunca fui boa com ditados populares.

 

Não havia entendido muito bem o planejamento de Thea, mas sabia que seria algo grandioso.

 

E eu estava me assustando com seus planos para mim.

 

Ajudava Quentin a colocar um soro. Andávamos conversando bastante e eu sentia que, aos poucos, o velho ia gostando de mim.

— Mas e a clínica?- voltei a perguntar.- Fica sozinha? Posso ficar…

— Vamos estar na festa, senhorita Smoak. Se algo acontecer, seguiremos o mesmo procedimento do caso no Queens.- comentou desinteressado. Assenti, e o vi me encarar.

— O quê?

— Onde está sua próxima desculpa para não ir? Estou desapontado com sua genialidade. Não me convenceu nem por um segundo.- franzi as sobrancelhas.

 

Aquele homem…

— Eu…Eu não estou inventando desculpas!

— Não? Pois eu jurava que você procurava uma saída para evitar um certo cavalheiro amanhã.- senti minhas bochechas queimarem.

 

O paciente nos aguardava na outra sala, e eu fechei a porta, nos dando privacidade. Coloquei as mãos na cintura.

— O paciente poderia ter escutado.

— Ele é velho que nem eu, não escutou.- respondeu calmamente.

— Para um velho surdo você escuta muita coisa.- cochichei.

— Eu ouvi isso.

 

Balancei a cabeça, segurando o riso.

 

Quentin piscou.

De repente, fiquei pensativa.

— Parece que estou fugindo? Seja sincero.

— E quando eu não sou?- revirei os olhos com seu humor ácido.- Bom, na minha perspectiva…

— Parece, né? Ai meu Deus.- apertei o peito e comecei a andar de um lado para o outro.- E se Oliver percebeu? e se…

— Chega de “ e se”.- segurou meu ombro, e com a outra mão, segurava a bolsa de soro.- É normal ficar nervosa. Eu quando conheci a mãe das meninas falei que nem um imbecíl.- sorri.

Pra você não saber o que falar, Dinah deveria ser um arraso mesmo.-brinquei, o vi sorrir.

— Vai dar tudo certo, apenas deixe as coisas acontecerem e…Se divirta.- deu dois tapinhas em meus ombros.- Chega de conselhos. Tenho um paciente pra atender.

— Tão atencioso.

 

Balancei a cabeça, incrédula. A porta fora aberta e Tommy entrou, com o cenho franzido.

— O que foi?- perguntei curiosa.

— O doc estava sorrindo?- apontou, chocado.

— Talvez eu esteja mudando ele.

— Preferia quando eram arqui inimigos.- ri e o abracei.

— Não seja ciumento. Agora se me der licença…

— Vou te cobrir. Thea requisita sua presença para comprar as roupas.

— Mas…

— Nada demais. Tira esse jaleco e escolhe um vestido bem sexy.

— Você não vale nada.

— Eu sei.- riu com humor.- Agora vai. Some.

 

***

Como o previsto, assim que deixei a clínica duas mulheres loucas me aguardavam. Sara buzinava animadamente, enquanto Thea, no banco de passageiros, se pendurava na janela aberta, indicando que eu andasse mais rápido. Foi impossível não rir no momento em que começamos a pegar as estradinhas sinuosas e desertas de Virgin River com destino a Eureka, grande cidade portuária que certamente, teria o que procurávamos .

— Vai ser tão legal!- exclamou Thea, animada.- Já está quase tudo montado. A pista, os lustres…

— Não podemos deixar de cobrar os fios dourados e as lanternas. Passei lá hoje e estavam montando o ambiente das fotos no lugar errado!- comentou Sara irritada. -Mas o restante estava bom. O salão da fazenda é enorme, e após algumas adaptações para parecer os anos vinte está perfeito.

— O jardim…

— Já está cheio de luzes douradas e rosas. Ótimo lugar para dar um beijinhos.- Sara me olhou pelo retrovisor.- Por que não leva o Queen para lá amanhã, Lis?

— Sara Lance!- a repreendi, vermelha.

— Ah, qual é. É óbvio que vocês estão no clima. Oliver mesmo pergunta de você sem parar, já que desde a última semana você mal ficou lá.

 

Thea virou o rosto, a fim de me encarar. Seus olhos brilhavam e havia aquele sorriso…

 

Merda.

 

O sorriso Queen não.

 

Estudei suas feições, já me preparando. Ela tentaria fazer um joguinho comigo para obter a resposta desejada. Endireitei as costas, a encarando fixamente.

— Ele está bem animado para a festa.

— Hmm.- foi tudo o que respondi.

— Está ajudando John com a comida, que vai ser sensacional. Consegui alguns garçons, para ele e Diggle relaxarem um pouco.- assenti, cautelosa.- Nunca o vi assim. Ele parece, irritantemente, nervoso.

— Nervoso? Nervoso como?

 

Meu tom histérico me entregou, e fechei os olhos, jogando a cabeça para trás ao ver o seu sorriso aumentar.

 

Eu havia caído. 

 

Ótimo.

— Você sabe que é impossível me vencer nisso.- piscou, voltando a olhar para a frente.

— Deveria ser detetive.

— Ela é às vezes. Adora descobrir sobre a vida das pessoas.

 

Sara ganhou um tapinha no ombro e eu gargalhei.

 

Voltamos a conversas banais, e eu me entreti na vegetação mais uma vez. O inverno iria chegar, mas por hora, Virgin River se encontrava quente e menos chuvosa.

 

Graças a Deus.

 

Só em me imaginar em um carro na chuva…

 

Minhas mãos suaram e eu tentei, de forma discreta, acalmar minha angústia. As centenárias árvores iam aumentando, e as estradas faziam curvas. Umas fechadas, outras abertas…Logo após uma hora e meia, o mar apareceu no horizonte e a cidade portuária tomou forma. Eureka.

 

Que bela cidade.

 

Era majestosa.

 

Diferente de Virgin River, Eureka era muito maior. Havia restaurantes, barcos de luxo no porto. Uma cidade encantadora e com uma enorme circulação de pessoas. Não chegava a ser Los Angeles, mas era a maior cidade que eu visitava em meses.

  Estacionamos em frente a uma loja espelhada, já deixando à mostra seus vestidos de época. Os principais eram os dos anos 50 e da era medieval.

 

Talvez da próxima vez…

 

Sara fora na frente, e ao empurrar a porta, sinos soaram. O interior era um pouco escuro, com varais e mais varais de roupas, chapéus, laços, sapatos…

— Thea, querida. Estava ao seu aguardo.

Uma senhora que deveria ter uns cinquenta anos apareceu. A mesma vestia um terninho vinho muito elegante, e joias que, pelo o que pude notar, eram caras. Ambas se abraçaram, e a vi acenar para nós.

— Anos 20, não é? Tenho looks perfeitos.- comentou animada.- Vai ser um festão, né?

— Vai. E a senhora e a sua esposa estão mais que convidadas.- vi a mulher sorrir.

— Darla vai adorar.- seu olhar me encontrou.- E você jovenzinha? O que procura?

 

Dei de ombros.

— Não tenho ideia do que vestir.

 

Seus olhos brilharam, e a vi esfregar as mãos.

— Meu nome é Mary, e hoje o meu tempo será todo de vocês.

***

Perdi as contas de quantas horas passamos ali.

 

Thea provou, sem exagero, mais de dez vestidos, até que decidiu ficar com um dourado. Todos os nossos vestidos eram do mesmo modelo: alças, tecido fino, justo e com acabamento de franja e lantejoulas. Era super divertido rodar e olhar para aquelas tiras de tecido brilhantes se movimentarem. Já Sara escolheu um vestido com coloração preta. As luvas, da mesma cor, só que transparentes, a deixaram com um ar misterioso e sexy de matar qualquer um. E enquanto a mim…Bom.

 

Eu fiz uma escolha boa.

 

No começo também olhei os dourados, mas Mary, em seu jeito sofisticado, balançou a cabeça em negativa. A vi entrar no estoque e voltar com uma caixa, me entregando como se fosse um tesouro, e caramba.

 

Era absurdamente lindo.

 

Coloquei o vestido e suspirei, passando a mão nas tiras. O vermelho me valorizou e muito, além dos pequenos detalhes brancos na barra. Sua altura ia até acima dos joelhos mostrava minhas pernas, e eu tinha que admitir, eram lindas. Mas ainda assim…

  Com o coração batendo rapidamente, coloquei as luvas brancas e a presilha de pequenas penas vermelhas e brancas no alto ao lado esquerda de minha cabeça e puxei as cortinas. As três mulheres conversavam no sofá e quando me viram…Fiquei nervosa.

 

Será que estava exagerando?

 

A cor…

 

Thea soltou um grito animado e Sara assobiou.

— Céus, você está maravilhosa!- exclamou a Queen mais nova.- Meu irmão vai babar em você.

— Thea…

— Não acredito.- Mary me encarou, surpresa.- Seu irmão…

— Pois é.

— Oliver não poderia ter feito escolha melhor.- sorri sem graça. Encarei Sara pedindo socorro.

— Vamos tirar uma foto com esses vestidos curtos em frente ao espelho e vamos embora.- a loira declarou, se erguendo.- As joias…

— Já separei a de cada uma.- informou Mary.

 

Sara pegou seu celular, e ao meu lado e o de Thea, batemos uma foto linda. 

 

Mary empacotou nossos pedidos, e na saída, deu um abraço em cada uma. O dia havia sido, para a minha surpresa, mais divertido do que eu imaginava. Olhei para Thea e Sara, me dando conta do quão sortuda eu era por ter achado pessoas tão extraordinárias.

 

E incrivelmente irritantes.

 

***

Fui deixada na clínica( onde meu carro estava) e rapidamente chequei se precisavam de ajuda. Já era por volta das seis horas da noite. Os raios solares iluminavam a copa das árvores ao longe, que brilhavam com seus pontos brancos devido à neve naqueles lugares. Tommy fazia um café e assim que me viu, sorriu. Conversamos um pouco e, aparentemente, não teríamos mais visitas por hoje. A grande festa é amanhã e ninguém queria deixar nada para a última hora.

— Qual das suas namoradas vai aparecer, Tommy?- o provoquei. Nós dois estávamos na pequena cozinha enquanto Quentin permanecia trancado em sua sala.- Helena?

— Já resolvemos isso aí. E ela não é a minha namorada.- me corrigiu, se encostando na pia.- Achei que a Snow me faria companhia, mas infelizmente…

— Eu o avisei.- dei de ombros.

— Quem sabe no futuro, quando ela estiver bem.

— Você…Quer mesmo?- deixei minha xícara na mesa para encará-lo com atenção.

— Eu…Eu gostei dela. Nos beijamos- sorriu bobo.- mas você sente quando a pessoa só está com você por um momento, sou especialista nisso- sorriu triste.- O beijo foi impulsivo mas…Se ela quisesse, eu adoraria tentar.- o olhei chocada.- Mas Caitlin já deixou claro suas intenções, então o que me resta fazer é beber e…

— Trepar.

— Eu ia dizer “afogar as mágoas”  mas essa opção é muito boa também.- empurrei seu ombro e o escutei rir.

 

A porta da sala fora aberta, e logo andamos para checar quem era. Sara, que a pouco havia me deixado, sorriu animadamente e me abraçou.

— Não cansa de me ver, né?- brinquei.

— Tenho que marcar presença se eu quiser conquistar você.- ri. Sara passou um dos braços pelo meu pescoço e encarou Tommy.- Oi Merlyn.

— Lance.- Tommy lançou seu típico sorriso cafajeste.

 

Ah, ótimo.

 

Vou ficar de vela entre os dois.

— Vai a festa amanhã?

— Com certeza.- o moreno respondeu.- Vai levar alguém? Uma das irmãs Al Ghul?

— Eu e Nyssa demos um tempo.

Seu sorriso, comicamente, se ampliou.

— Não acredito.

Era hora de eu ir embora.

— Bom…- me desvencilhei de Sara. - Vou dar tchau pro seu pai. Amanhã será um dia longo.

 

Fui até a cozinha e peguei uma xícara de café. Assim que bati na porta, Quentin me autorizou a entrar. Ele estava em sua pose típica atrás da mesa, com o cenho franzido enquanto lia uma ficha.

— Já tem sua roupa de amanhã?- o entreguei o café enquanto me sentava.

— Sara comprou para mim. Uma perca de tempo.- ri, incrédula.

— Deveria agradecer.

— Já fiz isso.- piscou, se encostando na cadeira. Seus olhos me observavam.- E você? Soube que a raptaram.

— Foi terrível.

— Posso imaginar.- rimos juntos.- Sabe, não sou de dar muitos conselhos, mas acho que você deveria dar uma passadinha no bar.

 

Suspirei fundo.

—É normal ficar nervosa.- voltei a encará-lo.- Vocês dois são jovens. Tem muito a aprender.

— Acha mesmo que devo ir lá hoje?- questionei, mordendo os lábios.

— Acho.

 

Assenti, e me levantei.

— Obrigada pelo conselho.- o vi sorrir.- E em forma de agradecimento tenho que te avisar uma coisa: Tommy e Sara estão sozinhos na sala.

 

Seu semblante se fechou e eu abri a porta, saindo rapidamente enquanto prendia um riso.

— Quentin vem vindo aí. Tchau.

 

Passei entre os dois, que ainda conversavam. Tommy logo se afastou, e meu último vislumbre foi Sara o puxando de volta.

   Em cinco minutos, estacionei em frente aos Queens.Tentei controlar a minha respiração e agir normalmente, mas estava difícil. O ar quente e animado do bar me recebeu, mas hoje, como o restante da cidade, estava vazio devido aos preparativos. Logo encontrei Oliver. O loiro estava de costas para mim, e colocava centenas de garrafas de vinho dentro de caixas. Andei com cautela, e no momento em que esticava meu corpo para cobrir seus olhos fui surpreendida. Oliver segurou meu braço para o alto e, com a outra mão, prendeu minha cintura. O encarei ofegante.

— Como…

— Treinamento militar, esqueceu?- perguntou, brincalhão.- Eu já sabia que era você havia um tempinho.

— Maldito tenente.- reclamei. Oliver riu e me soltou. Estávamos perto.

 

Bastante perto.

 

Oliver limpou a garganta.

— Não veio muito aqui esses dias.

— Eu…Eu estava um pouco ocupada. Mas como tive o dia livre hoje pensei que seria uma boa ideia vir aqui e te dar um oi.

— Foi uma excelente ideia.

 

Sorrimos juntos.

— Só está você aqui?

— Diggle está na cozinha. Ficamos responsáveis pela comida.- assenti.- Quer ver?

 

Era a primeira vez que eu entrava na cozinha e, para a minha surpresa, era enorme. Não rural como eu imaginava, mas completamente equipada e com aparelhos e inox. John usava um avental e finalizava um molho que, por sinal, estava muito cheiroso.

— Olá Felicity.- sorriu gentilmente.

— Chefe Diggle.- olhei para o lado e notei dezenas de canapes.- Meu Deus.

— Gosta?- perguntou Oliver.

— Eu amo!- pulei animada, vi os dois rirem.

— Acha que devemos dar um pra ela?- Oliver perguntou, pensativo.- Deve ser melhor esperar até amanhã.

— Não seja mal comigo.- fiz biquinho.

 

Oliver balançou a cabeça e passou a mão pelo rosto.

— É quase impossível dizer não quando você faz essa cara.

 

Mordi os lábios.

— Por favor, Tenente.

Um brilho obscuro tomou conta de seus olhos, o que me deixou completamente desnorteada. Oliver se virou para pegar um dos canapés e eu me encostei no armário, levando uma mão ao peito.

 

Nossa.

 

Se ele fazia isso só com o olhar imagina com…

 

O riso de Diggle, que estava ao meu lado, me tirou de meus devaneios. Merda.

 

Eu havia falado alto.

 

Será que Oliver escutou…

— Não. Só escutei porque estou do seu lado.- John respondeu, me assustando. O vi gargalhar.

— Que foi?- Oliver perguntou, confuso. Encarei Diggle.

 

Por favor. Por favor.

— Nada. Felicity estava apenas comentando o quanto ela irá comer amanhã.- piscou.

 

Obrigada, Deus.

 

Oliver parecia desconfiado, mas deixou para lá. Os aplaudi, agradecendo pelo canapé que estava divino. Fiquei um bom tempo com eles, e até ajudei a empacotar algumas garrafas de vinho. Quando eram quase dez horas, decidi que estava na hora de ir para casa. Oliver me acompanhou até o carro.

— Já se acostumou com a pousada?

— Já. Mas sinceramente? Preferia ter um lugar só para mim, que nem o chalé.- comentei. Ficava triste que o anúncio de lá não era verdadeiro.- Pelo menos não estou pagando.

 

Oliver assentiu e se afastou um pouco quando eu entrei.

— Logo logo você vai ter um cantinho seu.

— Naquele chalé?- quase ri.- Acho que nem em cem anos aquele lugar ficaria habitável.

 

Oliver sorriu, e deu de ombros,

— Milagres podem acontecer.

— Tudo tem um limite.

 

Um sorriso teimava em aparecer em seu rosto. Semicerrei os olhos.

— Por que está sorrindo?

— Nada.- Oliver disfarçou, o que me deixou ainda mais desconfiada.- Te vejo amanhã, né?

— Com certeza.- sorri.- Até amanhã,  Oliver.

— Até amanhã, Lis.

O olhei pelo retrovisor, e quando estava longe o suficiente, me permiti soltar um largo sorriso. Eu estava animada, a como muito tempo não ficava.

 

Espero que Ray não fique triste por isso.

 

***

 

Consegui dormir até tarde, o que me deu uma disposição incrível.

 

Devido a festa, o Queens estava fechado, então acabei almoçando na pousada mesmo. Todos que estavam ali só sabiam falar do grande evento, e até recebemos turistas que queriam participar. Conversei com Dinah, que pulava de alegria devido ao movimento da casa. Voltei para o quarto e decidi começar a me arrumar aos poucos, separando a roupa, creme, maquiagem…Tomei um banho demorado realizando toda a minha higiene e depois,, fiz ondas em meu cabelo, típicas da época. Quando me maquiei preferi usar um estilo de maquiagem Clean Girl. Não era pesado, e deixava um rosto um arraso, principalmente porque o destaque estaria todo em meus lábios cobertos de um vermelho matte, difícil de sair ou borrar.

 

Não que eu estivesse prestando tanta atenção nesse quesito.

 

Okay, talvez eu estivesse um pouco.

 

Coloquei meu vestidinho escolhido, completando o look com um salto grosso preto e a presilha de penas, finalizando com as luvas. Me encarei na penteadeira.

 

Nossa.

 

Eu estava linda mesmo.

 

Liguei para Caitlin, que atendeu em menos de um segundo. Seus lábios se entreabriram.

 

“ - Caramba, Lis. Você está linda!- sorri sem graça.- Céus! Alguém vai pirar, hein?”

— Pare com isso. Hoje será uma noite entre amigos.

“ - Sei.- seu tom de descrença me fez rir.- E não se esqueça do que conversamos, tá? Não se sinta culpada. Não pense em Ray, em nada. Apenas sinta.”

— Tá.- ignorei o bolo que se formou em minha garganta.- Beijos.

“ - Aproveita!”

 

Peguei um sobretudo preto e uma bolsa da mesma cor e desci, indo em direção ao meu carro. Ri ao pensar que eu deveria estar parecendo a Barbie em seu carro rosa, só que no meu caso eram as roupas e o carro vermelhos.

  A chegada a fazenda foi rápida, já que Thea e Sara conseguiram uma próxima a área da prefeitura. Havia uma fila de carros enorme estacionados pelas ruas, e alguns entravam em um enorme portão de ferro que continha a placa “ Anos 20” piscante. Acabei por demorar para estacionar, achando um lugar em frente a única igreja da região. Caminhei sem pressa alguma, cumprimentando dois seguranças que estavam dispostos nos portões. A fazenda continha alguns degraus largos, que levavam a uma casa luxuosa, mas eu sabia que a festa não seria ali dentro. O caminho trilhado por piscas piscas pelo jardim me guiaram até uma área que me fez parar de tão impactada que eu fiquei.

 

Caramba.

 

Thea não brinca em serviço.

 

Era simplesmente…Perfeito.

 

A enorme tenda branca era testemunha de uma festa luxuosa. Uma pista de dança fora montada e lustres brilhantes colocados, assim como diversas tiras douradas brilhantes, que flutuavam por cima de nós. Havia uma enorme torre de taças no meio da festa, que seriam enchidas algum tempo depois. Um dj tocava uma playlist de jazz antigo, qual eu logo reconheci.  “ Duke Ellington Orchestra”...Só poderia ser a escolha de Caitlin. Todos estavam caracterizados, e dançavam com seus parceiros, enquanto outros jogavam nas bancas de jogos e alguns sentavam nas mesas cobertas por toalhas brancas.

— Está sozinha, senhorita?

Virei para trás, e um Tommy de paletó preto fez uma reverência, pegando minha mão e a dando um pequeno beijo.

— Encantado.

— Digo o mesmo, nobre cavalheiro. Sabe aonde poderia deixar meu casaco?

— Claro. deixe-me ajudá-la.- ri de sua encenação.- Caramba, Lis. Você está uma delícia.

— E lá se vão os bons modos.- ri, cruzando os braços.- Onde estão os outros?

— Ali na mesa. Vamos lá.

Tommy me ajudou a tirar o sobretudo, e ainda por cima, tive que dar uma voltinha. Caminhamos calmamente até que vi Sara sentada ao lado da roleta de jogos, ditando os números do bingo. A loira estava charmosa em seu vestido preto, e as pernas cruzadas em evidência chamavam a atenção de qualquer um. Ela usava aqueles casacos felpudos e ao avistar Tommy sorriu, e piscou. O encarei imediatamente.

 

Tommy sorriu.

 

Arqueei as sobrancelhas.

 

Tommy sorriu mais.

— Vocês…

— Naquele dia acabei a encontrando depois e…- sorriu convencido.- Não transamos. Mas estou confiante de que hoje conseguiremos.- ri.

— Sara deve ter ficado irritada quando você foi embora.

— Ela que foi. Me provocou até onde podia. E quando nos beijamos no carro ela pediu para que continuasse hoje.- falou frustrado.- Isso não se faz.

 

Balancei a cabeça, divertida.

— Talvez hoje seja seu dia de sorte.

— Espero que seja o seu também.

Iria perguntar ao que ele se referia, mas o abraço de Thea me distraiu. Ela estava maravilhosa. Seu cabelo curto liso com uma boina dourada, assim como seu vestido franjado a faziam flutuar como uma estrela.

— Você está tão linda!- sorriu animada.- Pena que a companhia é péssima.

 

Tommy mostrou o dedo do meio e nos deixou sozinhas ao colocar meu casaco na cadeira.

— Pronta para se divertir?

— Pronta.

***

Eram oito da noite e eu já havia rido horrores.

Primeiro, fui voluntária juntamente com Thea na arrecadação dos jogos. Ficamos na mesa do bingo, e eu ria toda hora quando um senhor tentava nos xavecar para falarmos o número de sua cartela. Depois, eu, Thea e Sara fizemos uma clássica demonstração das danças no estilo Charleston ao som de Howard Lanin Black Bottom. Riamos enquanto chutávamos as pernas no ar. Primeiro todas pra direita, depois para a esquerda. Escondi meu rosto envergonhada no pescoço de Sara quando nos aplaudiram. Voltei a ficar na mesa um pouco, procurando a única pessoa que fazia meu coração saltar.

 

Eu ainda não tinha visto.

 

Mas sabia que estava aqui.

 

Provavelmente ajudando alguém.

 

Dei um suspiro pesado e encarei meu copo de ponche. Decidi não ingerir álcool caso houvesse alguma emergência, então estava bem sóbria. Um Quentin engravatado apareceu, me estendendo a mão para dançar. Sorri e deixei a taça de lado, sendo conduzida para o meio do salão. Balançavamos os corpos calmamente, e eu sorri.

— O que foi senhorita Smoak?

— Não sabia que dançava tão bem. Aonde aprendeu?

— Fiz algumas aulas. E claro, por conta das mulheres. As mais bonitas estavam na pista de dança.

 

Gargalhei.

— Foi aonde conheceu Dinah?

 

O vi dar um sorriso nostálgico.

— Eu a amava muito.

Um bolo se formou em minha garganta. Eu sabia que fazia bastante tempo de sua morte, mas ainda sim ele estava ali, sofrendo.

— Parece que as memórias sempre voltam para nos atormentar, não é?

— O quê?- me encarou, confuso.

— O luto.- expliquei.

Quentin tomou um longo suspiro, me fez girar, e sem me olhar respondeu.

— O luto possui um jeito de mudar a crença das pessoas.- meus olhos lacrimejaram.- Tem vezes que você se revolta com a vida, até mesmo com Deus.- sorriu, frio.

— Demora? Para parar de sentir tudo isso?- repeti. Senti seu olhar devido ao meu tom desesperado.

 

Quentin assentiu.

— Não passa. Você se acostuma.

Mordi os lábios, e tentei me recompor.

— É muito bom pensarmos no presente.- aconselhou.- E não ficar imaginando o que poderia ter acontecido. Quer um conselho?- o encarei.- Se divirta. Tente não pensar muito e apenas…Sinta. Por você.- sorri.- Pode até arranjar alguém.

— Está me dispensando da dança, doc?- brinquei.

— Estou. Há um cavalheiro que sentirá muito mais prazer em usufruir da sua companhia do que eu.

 

Balancei a cabeça devido ao seu xingamento quando meu corpo foi girado. Eu senti a troca de mãos no ar, e quando notei quem me segurava, prendi a respiração. Era ele.

 

Era Oliver.

 

E ele estava…Nossa.

 

Seu terno era diferente dos outros. Branco. Que o caiu muito bem. A barba aparada, o perfume que…Nossa, me inebriou. Seu sorriso gentil e a mão que segurava minha cintura era tudo o que eu conseguia pensar. Encostei a cabeça em seu ombro, e Oliver suspirou alto, me apertando.

— Não apareci antes porque estava ajudando a trazerem as comidas.-  seus lábios tocaram meu ouvido, me arrepiando.- Mas estava te olhando desde que chegou e você está…- Oliver soltou um gemido baixo.- Deslumbrante.

 

Ergui o rosto, e um pequeno sorriso tomou meus lábios. Oliver o refletiu e inclinou o rosto para o lado, a fim de me enxergar melhor. Seu olhar me esquentou por inteiro, e por autopreservação quebrei o contato visual. Não iria responder por meus atos quase que continuássemos nesse jogo.

  Limpei a garganta e perguntei:

— Então, tenente.- o brilho típico nos olhos de Oliver toda vez que eu o chamava assim apareceu.- As festas aqui são sempre assim?

— Mais ou menos. Há umas que são mais simples.

— Como os jogos do lenhador?

— Como os jogos do lenhador.- sorriu.- Para quem iria ficar um mês você está sabendo demais, garota de Los Angeles.

 

Semicerrei os olhos por sua brincadeira.

— Vocês quase se mataram naquele dia na sua casa. É óbvio que eu fiquei curiosa. Jamais imaginaria que você, o menino bonzinho- Oliver riu- trapacearia em um jogo local.

— Os jogos do lenhador corrompem qualquer um, Felicity. Eu sou uma mera vítima do sistema.- balancei a cabeça divertida.- Verá quando participar.

— Os jogos são daqui a três meses.

— Você vai estar aqui, tenho certeza.

Aé?- arquei as sobrancelhas, divertida.

 

Oliver me girou e engatamos em uma dança calma.

— Como tem tanta certeza?

— Acho que descobri seu segredo.

 

Eu não sorria mais.

 

Oliver se aproximou novamente para cochichar, então não viu minha feição completamente petrificada. Ele descobriu meu segredo.

 

Que segredo?

 

Será que Caitlin comentou de Ray?

 

Aí senhor…

— Acho que você está se apaixonando pela cidade.

 

Fechei os olhos e respirei fundo. Caramba.

 

Ele não sabia.

Tentei me recompor e ergui o rosto, o encarando mais leve.

— Me apaixonando por aqui?

— As paisagens devem ter te deixado desnorteada. E claro- um sorriso de menino o contagiou.- há um guia que deixou tudo mais interessante.

 

Gargalhei de sua confiança.

— Mas você é muito convencido, hein?- prendi o riso.- Pois eu acho- me aproximei, encostando os lábios em seu pescoço a tempo de vê-lo estremecer.- que um certo tenente não quer que eu vá embora, e que caso eu sumisse, ele apareceria em Los Angeles.

 

Sua respiração era pesada, e quando encontrei seu olhar…Fiquei sem fôlego. Era carregado. Uma mistura de desejo, tentação e ao mesmo tempo autocontrole. Sua mão, que segurava minha cintura, a apertou, e subiu um pouco até o meio de minhas costas. Nossos narizes se tocaram, e permanecemos daquela maneira pelo o que me pareceu uma eletrizante eternidade. A música acabou, bateram palmas, e Oliver não me soltou.

 

Continuei a encará-lo, engolindo em seco.

 

Oliver parecia lutar uma batalha interna.

 

O vi cerrar os dentes e fechar os olhos, balançando a cabeça em negativa. Soltei sua mão, o que o fez despertar e acompanhar fixamente quando levantei minhas duas mãos por seu peito, até chegarem em seu pescoço.

— O que foi, Oliver?- minha voz mal saiu.

— Estou…Em um dilema.- falou rouco.

— E qual seria esse dilema?- brinquei com sua gola, sentindo seu olhar em mim.

 

Oliver sorriu de forma sarcástica. 

— Uma coisa que eu prometi que não iria fazer.

— E o que…- gemi baixinho devido ao seu puxão, que colou ainda mais nossos corpos.- O que prometeu?

 

Seus olhos escureceram, beirando do desespero a tentação.

— Eu prometi a mim mesmo que não forçaria as coisas mas…- tomou um longo suspiro.- Caramba, Felicity. Eu estou me controlando muito pra não beijar você agora.

 

Meu coração acelerou.

 

Oliver me encarou, como se pedisse socorro. Ele estava um pouco ofegante, até mesmo um pouco nervoso, e pedia a mim, uma luz para aquela ocasião. Mas o que eu deveria fazer? Eu era uma bagunça.

 

Minha vida.

 

Tudo em mim.

 

Mas eu o queria, o queria tanto…

 

Fiquei frustrada comigo mesma. Eu estava cansada de me reprimir, e Oliver me fazia sentir tantas coisas que eu julguei que nunca mais sentiria… Lembrei do conselho de Caitlin e de Quentin, e ergui o rosto, o encarando mais decidida.

 

Isso iria mudar tudo.

 

E mesmo com frio na barriga, eu disse:

— Por que não vamos dar uma volta no jardim?

 

***

Thea não mentiu ao comentar sobre o jardim, estava absurdamente deslumbrante. Os arbustos, rodeados de piscas piscas e as árvores com luzes maiores deixaram a residência charmosa e um tanto misteriosa. Uma brisa gelada soprava dentre as folhas, as remexendo, e a Lua, enorme e brilhante, iluminava toda Virgin River.

 Eu e Oliver caminhávamos lado a lado pelo caminho trilhado, ouvindo apenas o barulho de nossas respirações. Um banquinho branco apareceu e Oliver gesticulou para que sentássemos. Ótimo.

 

Eu estava nervosa.

Eu parecia que iria ter um ataque cardíaco.

 

Oliver se sentou, e eu tentei, pateticamente, começar uma conversa.

— Hum…Então.- comecei com a voz um pouco trêmula.- O jardim ficou lindo, né?

 

Oliver assentiu e apertou as mãos.

— A luz está bem…Iluminada.

 

Nos entreolhamos e, de repente, explodimos em uma gargalhada. Meus olhos lacrimejaram de tanto rir, e aos poucos, fui retomando a respiração melhor.

— Aí meu Deus.- limpei os olhos, Oliver riu.

— O que estamos fazendo, hein? - perguntou com graça.- O jardim, Felicity?

— Pelo menos eu não disse que a luz está iluminada.

 

Oliver riu mais uma vez e eu o acompanhei.

— Tá, pisei na bola.- concordou com graça. Aquele sorriso charmoso tomou conta de seus lábios e Oliver me observou.- Eu assumo que estou nervoso.

 

Inclinei o rosto para entendê-lo melhor.

— Pode ser loucura, eu sei.- coçou a cabeça.- Nunca sei como reagir quando estou perto de você.

 

Aquilo sim era uma piada.

 

Eu que geralmente pagava mico perto dele com os meus pensamentos altos. Quando eu o achava gentil, amigável.

 

Charmoso…

 

Por seu riso baixo eu havia feito novamente. Respirei fundo.

— Você também me deixa nervosa.- confessei.- Desde que cheguei tem algo…- ergui os braços, perdida.- que me atrai a você.- Oliver entreabriu os lábios.- Aí meu Deus.

 

Me levantei de supetão, olhando para o lado oposto. O senti se erguer atrás de mim.

— Eu não sou uma pessoa fácil, Oliver.- disse sem olhá-lo.- Eu não contei nem metade do que aconteceu comigo. Você sabe que eu perdi um filho, viu a aliança e ainda assim não fez perguntas- me virei, para encará-lo fixamente, indignada.-. Por quê?

— Porque eu sei melhor do que ninguém como é fugir de seus demônios.- respondeu. Balancei a cabeça e dei um passo para trás, mas sua mão me segurou.

— Eu estou quebrada e não tenho nada de útil para oferecer a você.- disse sentindo minha garganta arder.

 

Oliver se aproximou mais e ergueu uma de suas mãos até o meu rosto,o acariciando carinhosamente. Seu olhar sincero encontrou o meu e ele sussurrou:

— Você não tem que me dar nada, Lis.- sorriu, compreensível.- Eu não quero que você me dê uma garantia, porque sei que ainda não é o momento.

 

Suspirei com seu toque, e com a voz trêmula perguntei.

— Então o que você quer?

— Você.- respondeu simplesmente.- Só você e nada mais.

Nossas respirações se tornaram pesadas, e seu carinho suave em minha bochecha desceu para meus lábios, onde Oliver os contornou com o polegar. A atmosfera se tornou eletrizante, e nossos olhares, como dois imãs, não se desviavam, atraindo um ao outro. Dei um passo à frente. Oliver mordeu os lábios e apertou minha cintura, me dando um puxão que estremeceu as minhas pernas. Assenti, inebriada e de repente…Nossos narizes se tocaram, e a sensação depois foi uma das melhores que eu poderia sentir. Caramba.

 

Que beijo era aquele.

 

Eu já havia ficado embascada com um beijo antes, mas aquele continha algo diferente. Fosse pela maneira gentil que Oliver coordenava o beijo, com uma pontinha de sensualidade…Ou por suas mãos, que apertava a minha cintura enquanto a outra subia até a minha nuca, brincando com o meu cabelo…Ele estava me deixando aérea, e quando usou sua língua…Ah, perdi completamente o controle e respondi com avidez, apertando seus ombros, espalmando minha mão por seu peitoral. De romântico, nosso beijo tomou um rumo sexual indescritível, aquecendo minhas pernas, me fazendo gemer…Oliver prendeu meus cabelos, e os puxou um pouco para trás, o dando mais acesso. 

 

Se continuássemos daquele jeito eu não responderia por mim e acabaria sem vestido. Mas eu tinha que admitir, Oliver tinha uma pegada tão boa que fazia eu questionar meus próprios pensamentos, e mesmo em pura tentação, o ajudei a diminuir o ritmo do beijo. Nos demos vários selinhos, e grudamos nossas testas, onde respiramos ofegantes. Abri os olhos, notando seu sorriso nada discreto. Sorri também e ergui seu queixo.

— Nossa.- comentei, ainda buscando ar.- Isso foi…

— É- riu, sorridente.- Você…- cerrou os dentes, me apertando.- Quase me fez perder o controle.

 

Sorri mais ainda, e cruzei meus braços ao redor de seu pescoço.

— Te fiz perder o controle, tenente?— provoquei. Oliver me lançou aquele olhar de se continuar assim não vou parar tão cedo, o que me arrepiou só de pensar. Mas iriamos com calma.

 

Soltei um risinho baixo e nos sentamos no banquinho, onde ficamos abraçados. Uma hora ou outra voltamos a nos beijar, e Oliver me olhava de uma maneira tão carinhosa…De repente aquela sensação angustiante me atingiu como uma flecha. Entreabri os lábios, mas Oliver colocou o indicador entre eles.

— Ollie…

— Eu disse que você não tem que me dar nada.- me encarou, firme.- Nada.

 

Sorri de forma triste. Eu não conseguiria dar nada que ele quisesse.

— Eu já me machuquei muito, Oliver.- fui honesta. Oliver se remexeu para me olhar melhor, como se aguardasse há muito tempo aquele momento.- Então, se quiser— frizei.- Terá que ter muita paciência comigo.

 

Oliver assentiu,sério.

— Eu quero que você confie em mim, Lis.- seu tom fora de tamanha veracidade que eu apenas assenti.

 

Oliver sorriu.

— Então vamos ficar bem.

Oliver me puxou pela cintura, e eu me sentei de lado em seu colo. Seus lábios beijaram minha orelha, meu pescoço me arrepiando inteira. Vi fogos de artifícios, e soube que estávamos lá fora há muito tempo.

— Precisamos ir.- o dei um beijo rápido e levantei.- Será que sentiram nossa falta?

 

Oliver também se ergueu, arrumando seu terno enquanto eu fazia o mesmo com o meu vestido.

— Talvez.- respondeu calmamente. Arregalei os olhos.- Isso é um problema?

 

Cocei a cabeça.

— Eu…Não me entenda mal.- tentei me explicar.- Mas eu gostaria muito que, agora que estamos no início, ficasse só entre a gente, pode ser?

 

O encarei, esperando julgamento, e tudo o que encontrei foi um homem segurando o riso.

— O que foi?

— Isso deve ser algum tipo de karma pois eu já fiz isso algumas vezes com umas mulheres.- sorri.

— Então quer dizer que eu fui a única que pedi algo casual para o tão cobiçado tenente Queen?- o provoquei, colocando novamente meus braços ao redor do seu pescoço.

— Algo do tipo.- sorri.- Mas eu tenho paciência.

 

O vi piscar ao usar aquela palavra específica e balancei a cabeça, divertida. Fiz os últimos retoques para notar se estava tudo certo com o meu rosto e retornamos de mãos dadas. O silêncio agora não incomodava, e eu me sentia tão leve.

 

Tão feliz.

 

O salão continuava cheio e fomos direto à mesa. A única que estava lá era Thea, que rapidamente nos olhou sorridente. Conversamos um pouco com Quentin, mas era inevitável não sorrir para Oliver. Thea pegou o microfone e foi para o meio do salão, chamando a atenção de todos. Nos levantamos.

— Gostaria de agradecer a cada doação que recebemos hoje.- uma salva de palmas foi feita.- e claro, agora teremos uma palavrinha da nossa amada prefeita Pollard.

 

Encarei Quentin, o vendo fechar a cara ao ver a mulher. Ri, o dando um empurrãozinho.

— Disfarce, doc.

— Como você e Oliver?- travei por seu comentário baixo. O vi sorrir e balançar a cabeça.- Vocês jovens. Nunca vão aprender que os mais velhos sabem de tudo?

 

Sorri, mas logo meu humor virou de cabeça para baixo. Uma mulher de corpo esbelto, cabelos longos e castanhos claros, beirando a mechas com loiro pulou em cima de Oliver. Incrivelmente, a situação ficou pior.

— Laurel?- Oliver perguntou, surpreso.

— Estou de volta amor.

 

E ela o beijou na frente de todo mundo.

***

 

Não demorei muito na festa, especialmente por conta do casalzinho. Quentin me olhou preocupado, mas eu apenas o pedi licença e saí, pegando meu casaco e bolsa. Como eu fui idiota.

 

Patética.

 

Oliver estava perfeito demais.

 

Era óbvio que um homem daqueles não estaria solteiro. Por sua gentileza, as palavras.

 

O beijo.

 

O toque…

 

Engoli em seco a ardência em minha garganta e marchei firme em direção ao carro.

 

Idiota, babaca, filho da…

— Felicity!

Seu grito me impediu de xingá-lo. Olhei para trás e Oliver corria de forma desesperada até me alcançar. Bufei, e o ignorando continuei a andar.

— Felicity!- gritou mais uma vez.- Precisamos conversar.

— Não temos nada para conversar, Oliver.- gritei sem olhá-lo.

 

Avistei meu carro, mas Oliver me ultrapassou, parando em minha frente. Ele estava ofegante.

— Lis, por favor.- pediu. Seu tom parecia desesperado.

 

Não me importei e permaneci imutável.

— O que você quer?- perguntei com desdém.

— Aquilo…- apontou para trás, puxando o ar.- Não é o que parece.

 

Ri.

 

Ah, ótimo. O mesmo papinho.

— Vocês homens…- ri sarcástica.- Não tem um mínimo de criatividade.

— Eu e ela não temos nada.

— E ela sabe disso?- Oliver entreabriu os lábios, bufei.- Céus, como eu fui ingênua. Eu jamais deveria ter confiado em você!- ergui o dedo em riste, sentindo meus olhos lacrimejarem.- Sabia que era um erro, eu sabia! Depois de tudo eu me permiti…- minha voz falhou, e os olhos de Oliver transmitiam um tormento e uma dor…

 

Não maior do que a que eu sentia.

 

Especialmente depois de quase assumir em voz alta o que eu tanto evitei.

 

Limpei o rosto e o ultrapassei. Oliver permaneceu estático e engoliu em seco. 

— Se permitiu o quê?

 

Me virei para ele outra vez, e antes de desmoronar respondi.

— Me permiti ter sentimentos por você.

Sua expressão foi puro choque, e eu não me permiti ver as outras emoções. Limpei o rosto e segui para o carro, e quando abri a porta…Um choro. Encarei os arredores.

 

A rua estava vazia.

 

Mas eu ouvia um choro agudo.

 

Parecia um bebê.

 

Olhei então para a igreja, e no alto da escadaria, havia um cesto.

 

Aí meu Deus, aí meu Deus.

 

Imediatamente subi aos tropeços. A cesta estava coberta por um paninho e uma carta fora largada ao seu lado.

 

Cuide bem do meu filho”

 

Engoli em seco ao ver o rostinho choroso daquele serzinho, que apertava as mãos com força.

— O que foi?- perguntou Oliver.

 

Sorri para o neném e o tirei do berço, o aninhando em meu colo.

— Precisa avisar Tommy e Quentin. Alguém acabou de abandonar um bebê aqui.






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Notas finais do capítulo

Muitas emoções para um único capítulo haha.

Até semana que vem!



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