The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 8
Capítulo 8: Eu não estou fugindo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente! Como estão?

Aqui vai mais um capítulo para vocês.

Primeiramente, gostaria de agradecer os comentários. Muitas vezes me encontro sem inspiração, mas sempre que venho aqui e vejo o carinho e a animação de vocês eu sinto algo que me inspira a continuar. Muito obrigada!

Boa leitura.



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Pov Felicity Smoak

 

Isso não podia ser real.

 

Não que eu não estivesse feliz por vê-la. Eu amava Caitlin com todas as minhas forças, mas eu sabia que, seja lá quais foram suas intenções, ela não estava aqui para ver a cidade.

 

Estava aqui para me convencer a ir embora.

 

E eu não queria ir embora.

 

Ainda sem entender tudo muito bem, nos afastamos. Notei que um grupo de pessoas nos observavam no bar, e que uma dessas pessoas eram Oliver, Tommy, Thea e Sara, que nos aguardavam ansiosos.

— É...Bom.- limpei a garganta.- Essa é…

— Caitlin Snow. Sua adorável e linda irmã.- Tommy completou, em um sorriso galante, o que me fez revirar os olhos.- Tive o prazer de conhecê-la.- Caitlin sorriu e...Piscou?

 

Isso não podia ser bom.

 

Suspirei fundo.

 

— O doutor Merlyn…

— Por favor, só Tommy.- a corrigiu. Abafei um gemido de desgosto, mas aparentemente não muito bem, pois Oliver me lançou um sorriso solidário, sussurrando um “calma” sem que ninguém notasse.

— Ok, só Tommy.- o sorriso do moreno se ampliou.- Tommy me encontrou na clínica Lance. E como você não estava lá- me olhou aborrecida.- ele me trouxe até aqui.

— Sempre disposto a ajudar, não é Tommy?- Thea o provocou, sorrindo.- Mas agora ela já está em boas mãos.

— Eu não estava em boas mãos?- Caitlin perguntou, confusa.

— Estava, mas agora está em melhores.- brincou, estendendo a mão.- Thea Queen.

— A famosa Thea Queen.- De repente o sorriso de Caitlin se tornou malicioso, assim como o brilho em seu olhar.- Felicity sempre fala muito dos Queens.

— Fala, é?- perguntou Oliver. O repreendi pelo olhar.- Coisas boas?

— Muito boas.- continuou, animada.- Especialmente…

— Sara? Essa é Caitlin.- Coloquei minha mão sob seu ombro, a impedindo que terminasse a frase.- Caitlin? Essa é Sara Lance. Filha do doutor Lance e é uma das pessoas maravilhosas de Virgin River.

— Por essa apresentação tão boa, posso deduzir que são amigas.- Caitlin sorriu, pegando na mão de Sara.- É um prazer.

— O prazer é todo meu.- por detrás de Caitlin falei com os lábios mudos “ela não”, mas Sara, assim como Tommy, eram incapazes de não tentar seduzir qualquer pessoa que fosse.- Felicity sempre falou bem de você, só esqueceu de mencionar o quão linda é.

— Obrigada.- Caitlin sorriu. Olhei para Oliver, pedindo ajuda.

— Como visitante e amiga da Lis, seu primeiro pedido será totalmente gratuito.- Oliver aumentou a voz, para que Caitlin o ouvisse. Isso pareceu animá-la.- Vou pedir para Diggle preparar nossa especialidade.

— Você é realmente um fofo.- sorriu.- Mas gentileza não paga as contas.

— Felicity disse algo parecido quando fiz a oferta a ela na primeira vez que nos conhecemos.- nossos olhares se encontraram, e um pequeno sorriso brotou em seus lábios.- Suponho que a influência seja sua.

— Na realidade é de Los Angeles, mas aceito os créditos.- deu de ombros. Seu olhar se voltou para mim,  me avaliando.- Ah Céus, por um minuto esqueci.- segurou meu rosto.- Eles machucaram você?

— Eu…- meu rosto foi virado, a procura de um hematoma.- Eu estou bem, Caitlin

— Bárbaros.- esbravejou.- Nem em um lugar como esse temos paz. Imagine o risco que correria se estivesse sozinha?

— Foi algo fora de rotina.

— Mas aconteceu. Sua cidade perfeita não parece ser tão perfeita assim.

Sua frase, embora humorada, não poderia ter soado mais provocativa, e respondia por completo minhas dúvidas. Sim, ela veio me visitar, mas sua missão não era turistar pelos os rios e cachoeiras de Virgin River.

 

Era me convencer a voltar para casa.

 

Era me fazer voltar para casa.

 

Encontrei seu olhar, e em silêncio, conversamos. Caitlin estava disposta a me fazer mudar de ideia, e não seria parada tão facilmente como das outras vezes. Acabamos nos sentando em uma das mesas grandes, já que Tommy, Thea e Sara fizeram questão de saber mais sobre nossa vida em Los Angeles. Oliver se juntou a nós pouco tempo depois, quando o movimento havia diminuído.

— Então vocês eram como uma dupla dinâmica no hospital das estrelas?- perguntou Thea, entre risos.- Suas histórias estão me parecendo muito como um episódio de Grey 's Anatomy.

— Podem ter sido embasadas, mas na realidade eu e a Lis preferimos “The Good Doctor'' .- sorri, pela primeira vez me sentindo confortável e relaxada.- É nossa série favorita.

— Gosto dela também .A anatomia é bem explicativa, além do papel de inclusão que a série nos proporciona.- comentou Tommy, dando um gole em sua cerveja.- Mas voltando a pergunta de Thea, vocês eram mesmo essa dupla e tanto?

— Caitlin exagera.- revirei os olhos, segurando um sorriso.- Não éramos tudo isso.

— Ah, éramos sim. Embora Ray fosse excelente também. Ele e a Lis eram o casal per…

 

Eu não estava sorrindo mais.

 

Senti meu coração acelerar, e a respiração, sempre tão estável, se descontrolou. Em meio a confusão encontrei Oliver. Sua cadeira estava próxima a minha. Ambos na ponta da mesa. Sua mão segurou a minha de forma discreta, e só ali notei o quão gelada eu estava. Não precisei falar ou espernear, eu apenas…Apenas o olhei. E eu soube naquele momento que ele sabia exatamente o que eu estava sentindo. Nós tinhamos essa coisa.

 

A conexão inexplicável.

 

Que me salvava mais uma vez.

 

Suspirei fundo e fingi  serenidade. Caitlin, assim que a observei, estava pálida e com os olhos arregalados. Thea pareceu ter notado meu desconforto e Tommy, que para os de fora soava como o mais aéreo, não poderia ter me ajudado mais ao desviar do assunto de uma forma simples e descontraída com uma única pergunta.

— Se está tentando roubar minha parceira acho melhor ir embora.- a desafiou.- Afinal de contas, quem faria Quentin surtar mais de uma vez no dia? Se ela fosse embora seria o fim da minha diversão ao vê-los brigar.

 

Uma risada aliviada escapou de meus lábios. Tommy se encostou na cadeira, relaxado, e ao levantar sua cerveja piscou discretamente.

Aquele serzinho irritante.

Oliver acompanhou meu olhar e agradeceu o amigo. Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas e eu o acariciei com o polegar levemente. Acredito que, se não fosse por seu apoio ali, eu teria desmoronado e não tinha certeza se conseguiria, mais uma vez, recolher meus pedaços.

— Você deve estar cansada.- Comentei com Caitlin após um tempo, onde nos enrolamos em conversas banais.- Devemos ir.

— Foi uma viagem e tanto.- concordou ao se levantar.- Foi um prazer conhecer todos vocês.

— Nos vemos por aí.

 

Assim que nos despedimos, demorando por conta de Tommy, a guiei até onde meu carro fora estacionado por Quentin. O seu estava logo ao lago, e após dar partida, fomos para a pousada. Caitlin fora receptiva com Dinah, e explicou, em um sorriso que eu julguei ser forçado, que dormiria comigo. Notei a todo momento seus olhares julgadores, o quê de recriminação, acentuando suas sobrancelhas…Ela já continha sua opinião formada, e não deixaria de lado facilmente. Abri a porta e respirei aliviada. Nunca imaginei que fosse me sentir tão acolhida em um lugar, e o período em que fiquei fora, vivendo na adrenalina só intensificou o carinho que eu tinha por aquele quarto. 

— Então é aqui que você está se escondendo…- murmurou, analisando desde a cama, a janela de vidro e a penteadeira.- É bonito ao menos.

 

Um elogio. Interessante.

 

Seu olhar rabugento se dissipou, dando lugar a preocupação.

— Não machucaram você mesmo?- voltou a me abraçar. Suspirei e retribui o aperto, enterrando meu rosto em seu pescoço. O cheiro conhecido de família me acalmaram.

— Ninguém tocou em mim.- murmurei. Não nos afastamos.- Oliver não permitiu.

 

Caitlin deu um passo para trás e arqueou as sobrancelhas.

— Ele parece um bom homem.

— E é.- confirmei. Oliver era, sem sombra de dúvidas, uma das pessoas mais bondosas que eu havia conhecido na minha vida.

— Não posso falar o mesmo da cidade.

— Terá amanhã para conhecê-la.- rebati.- O que a trouxe aqui, Cait? Você geralmente avisa quando vai para algum lugar…

 

O semblante de Caitlin se tornou tenso. Os lábios, franzidos, demonstravam irritação, e o olhar…Não consegui decifrar. Sua postura tornou-se defensiva.

— Para ver a minha irmã, é claro. Você some por um dia, descubro que é sequestrada na cidadezinha que eu lhe avisei- revirei os olhos, impaciente- que não era para você.

— Como eu disse- cortei seu discurso, exausta.-  terá amanhã para conhecê-la. Agora podemos não brigar e dormir?

 

Os traços em seu rosto suavizaram.

— Claro, tudo bem, desculpe.

 

Nos trocamos, e no momento em que nos deitamos na cama de casal, a senti me abraçar.

— Estava com saudades de você.- sorri.

— Eu também estava.- entrelacei nossas mãos.- boa noite.

— Boa noite.

 

***

 

Assim que os primeiros raios de sol invadiram a cortina, me arrumei e fui ao trabalho. Caitlin acordou sonolenta, mas voltou a dormir quando lhe respondi que estava indo trabalhar. Estacionei minha BMW ao lado do carro de Quentin, agradecendo por as luzes já estarem acesas e a placa “aberto” estar posta na porta. Suspirei aliviada quando entrei e coloquei meu casaco nos cabides. Quietude.

 

Tudo o que eu precisava.

 

Conseguia até sentir o cheiro do café…

— Mas que diabos você está fazendo aqui?

Tampei a boca para abafar o grito de susto que me escapou pela repentina aparição de Quentin.  O doutor( já trajando seu jaleco) continha uma caneca de café nas mãos e não me olhava com a melhor das feições.

— Você me assustou!- o repreendi, levemente irritada.

— Aqui é a minha clínica, oras!- reclamou, impaciente.- Esperava encontrar quem? O Papa?

 

 

O olhei com deboche, arqueando as sobrancelhas. 

— Perdão se ainda estou assustada.

 

Seu olhar, de repente, se tornou compreensível.

— Não era seu dia de folga?

 

Suspirei.

— Não há porque ter mentiras entre nós, já que nossa relação não precisa de mais motivos para piorar- Quentin me repreendeu com o olhar- então é o seguinte: minha adorável amiga/irmã veio ontem à noite a Virgin River e está disposta a me levar pra casa. Discutimos toda vez que o assunto vem à mesa e para evitar mais aborrecimentos eu menti e disse que passaria o dia longe por conta do trabalho.

 

Terminei a fala ofegante. Achei que encontraria um olhar julgador, ou que o doutor fosse responder que era “frescura”, no entanto,  o mesmo apenas sorriu, e me entregou a caneca. O encarei na mais absoluta confusão.

— Seus dias não estão sendo fáceis, não é? Vamos, pegue a maldita caneca como uma oferta de paz.- falou impaciente. Sorri por seu lado rabugento não demorar a aparecer e peguei o café.- Ótimo, agora me siga. Temos tempo até abrir de verdade.

 

O segui, com cautela, até a porta da frente, onde o mesmo nos guiou até a varanda. O vi indicar um espaço no sofá ao seu lado e me sentei. Quentin tomou um longo suspiro.

— Ah…O ar.- sorriu de olhos fechados.- A essa hora específica fica mais puro que o costume.

 

Imitei seu movimento, deixando aquela brisa fresca, ainda um pouco úmida pela manhã adentrar meus pulmões. 

— É realmente muito bom.- sorri. Quentin voltou a me observar.

— Família, senhorita Smoak, jamais deixa de ser complicada.- me surpreendi com o rumo da conversa.-  Muitas vezes eles nos limitam, e abdicamos do que de fato queremos fazer por eles. Esse sentimento sufoca, e chega uma hora que não queremos mais ser um cão em uma coleira, à espera de um próximo passeio.

 

Encarei os canteiros de grama à nossa frente, as gotas de chuva no pára-brisa dos carros.

— Eu…Eu a entendo.- engoli em seco.- Sua preocupação é válida. Tomei uma decisão radical. Abandonei tudo o que conhecia, tudo o que construí para vir morar nessa cidadezinha por conta…- meus olhos marejaram. Encarei Quentin, que genuinamente, e de uma forma muito engraçada, tentou me reconfortar dando tapinhas em meu ombro.- Diz que não somos cachorros, mas tenta não me fazer chorar com palmadinhas?

— Por céus, tem como uma vez aceitar a ajuda das outras pessoas, independente da maneira que seja?- questionou, em sua impaciência corriqueira. O mesmo mascarava um sorriso, que sem esforço tomou conta de seus lábios.- Sua irmã…?

— Por conta do que aconteceu.- evitei explicações.- ela se acha no direito de dizer o que eu tenho que fazer da minha vida. Por ela eu ainda estaria morando em Los Angeles com ela.

— Você quer voltar?

 

Sua pergunta, direta, me deixou reflexiva.

 

A pouco mais de um mês tudo o que eu mais queria era deixar aquele lugar. Não continha moradia, meu chefe parecia me odiar( e ainda odiava) e eu estava completamente despedaçada. Mas ao decorrer dos dias, mesmo que com o trauma passado…Eu me sentia viva outra vez, como a muito tempo não me sentia.

— Então lute, senhorita Smoak.- despertei, encontrando seu olhar sábio.- não tenha medo de se impor e diga o que quer. Provável que a mesma fique chateada no começo, mas isso não é sua responsabilidade. 

 

E sem mais delongas, o assisti se levantar, e arrumar o jaleco.

— Doutor!- o chamei, ainda estagnada no mesmo lugar.- O-obrigada.

 

Nossos olhares se cruzaram, e uma espécie de laço se formou. Eu jamais diria que aquele homem ranzinza e mal educado poderia se tornar um grande conselheiro, e que salvaria a minha vida como no dia anterior, ou que tiraria um tempo para me consolar.

— Não é tão durão como demonstra ser, não é?- o provoquei. Quentin sorriu.

— Só não espalhe para todo mundo.- ri, incrédula.

— Vou poder ser mais efetiva mas consultas hoje?

 

O mesmo pareceu ponderar.

— Fique com as fichas. Uma coisa de cada vez.

 

***

 Recebemos ao todo cinco pacientes até às duas horas da tarde. Três com horário marcado e dois de surpresa, o que ocasionou uma mudança nos planos. Ambos, embora de famílias diferentes, constavam com os mesmos sintomas. Tosse alérgica, chiado no peito…

— Sentiu mais alguma coisa além disso?- perguntei ao homem de meia idade, barbudo e um pouco acima do peso, conhecido como Nick.- Algum sintoma gripal?

— Uma pressão no peito…Argh.- reclamou ao sentir Tommy passar o estetoscópio em suas costas.- É gelado!

— Precisamos checar esse pulmão, Nick. Que pelo barulho não está muito bom.- respondeu concentrado.

 

Tommy retirou o equipamento e se pôs ao meu lado, cruzando os braços e o encarando seriamente. Antes de falar, checou se estávamos sozinhos quando perguntou em voz baixa:

— Anda fumando?

 

Nick pareceu nervoso.

— Sua esposa não vai escutar, mas preciso que seja honesto comigo.- persuadiu.- Sim ou não?

 

O vi assentir, frustrado.

— Foi só uma vez, Tommy!

— Caramba, Nick!- o repreendeu, como se fossem colegas. Ainda era surreal para mim como todos se conheciam e se tratavam como uma grande família aqui.- O que conversamos da última vez?

— Eu sei…

— Eu e Quentin concordamos em não falar nada porque você prometeu que pararia.- disse sério.- Vou deixar que conte para ela, pois se a mesma vier nos procurar amanhã eu não o acobertarei outra vez!

 

Nick soltou um suspiro frustrado e assentiu, cabisbaixo.

— Desculpe, Tommy.

 

O moreno sorriu e o deu dois tapinhas no ombro.

— Tudo bem, fazemos isso porque nos preocupamos com você.

— Eu sei.

— Bom. A doutora Smoak vai lhe passar os medicamentos e sua rotina.- o homem me lançou um sorriso tímido.

—  Você parece estar no meio de uma crise asmática leve, e por isso, vai tomar uma medicação para dilatar os brônquios e tomará, aqui, três tragos da bombinha com corticoides a cada  20 minutos.- informei.- Vamos lá?

 

Levei Nick à sala de medicações e preparei seu soro, enquanto Tommy pegava o corticoide. O deixamos em observação por um tempo, e ao sair da sala, vimos um Quentin sério, encarando a prancheta.

— Qual foi, Doc?- perguntou Tommy.

— Parece que estamos sofrendo algum tipo de epidemia…- coçou a cabeça.- Primeiro Nicole, agora Nick e a senhorita Whitlock. Fora os outros no mês passado.- comentou.- Os mesmos sintomas.

 

Cruzei os braços e suspirei.

— Tem alguma coisa acontecendo que não estamos vendo.- falei em tom baixo.- Talvez devêssemos…

 

Dois toques na porta me interromperam, e uma Caitlin, trajando um sobretudo caramelo e um salto da mesma cor apareceu, sorridente. 

— Cait?- perguntei, confusa.- Achei que…

 

— Vim ver a clínica à qual você tanto fala.- seu olhar encontrou o de Quentin.- E claro, do incrível doutor Lance.

 

O vi arquear as sobrancelhas na forma mais sarcástica possível, e rir, prepotente.

— Ah, eu sei bem as coisas que a doutora Smoak fala de mim. tão adoráveis…- o repreendi pelo olhar.- É um prazer conhecê-la, senhorita…

— Snow, Caitlin Snow.

— Senhorita Snow.- apertou sua mão.- Espero que em nosso próximo encontro, a senhorita me fale coisas mais verdadeiras além do seu nome.

 

Acabei rindo baixinho, assim como Tommy, enquanto Caitlin se enrubesceu dos pés à cabeça. 

— É…

— Não precisa se desculpar.- o vi olhar para mim.- Suponho que veio pedir para sua irmã um tour pela cidade. Eu a dispenso e a entrego a sua disposição.

 

Encarei Quentin, alarmada.

— Tenho muita coisa para fazer.

— Bobagem. Eu e Tommy damos conta por hoje.

 

O maldito sorriu e piscou em minha direção. Balancei a cabeça e mexi os lábios formulando a frase “ Você me paga”. O doutor achou graça.

— Divirtam-se.- falou Tommy. Seu olhar encontrou com o de Caitlin.- Se tiver um dia disponível, posso te mostrar alguns lugares legais.

— Eu adoraria.

 

Ah, ótimo.

— Combinado então.- o moreno a lançou seu típico sorriso.- Será um imenso prazer.

 

E após sua frase, o mesmo saiu, piscando para mim. Balancei a cabeça, o repreendendo. Caitlin o acompanhou com o olhar, o vendo desaparecer ao virar para a cozinha. Arquei as sobrancelhas, e a mesma sorriu.

— Ele é uma gracinha.- comentou em tom baixo.

— Tenho que concordar. Mas Tommy é um ser complicado.

— Não é homem de uma mulher só, conheço o tipo. Talvez eu precise de um assim por um tempo.

 

A encarei, confusa.

— Como é que é? Achei que ainda…

— Não posso ficar presa em algo que não é meu. Ele está namorando com Iris.- seu tom se tornou seco, e eu soube ali, que algo havia acontecido.- Tenho que seguir em frente.

 

E antes que eu pudesse dizer algo, Caitlin abriu a porta.

— Te espero lá fora. 

 

Retirei meu jaleco, refletindo sobre sua frase. Nunca havia a visto tão fechada no quesito Barry e Iris. Resumindo a história, Barry e Caitlin são colegas da mesma área no hospital. Se conheceram durante a residência, e minha amiga, a partir dali, se apaixonou perdidamente por ele. Me recordo bem quando as coisas começaram a mudar. A relação deles era algo complicado, no entanto, a química era nítida. Houve um tempo em que eu e Ray realmente achamos que o casal iria acontecer, principalmente por terem se beijado. Claro que nosso pensamento foi descartado sem cautela alguma ao descobrirmos que Barry apareceu namorando uma semana depois do incidente com Catlin.

    A levei em alguns pontos que Oliver havia me levado. A represa fora o primeiro lugar de nossa trajetória, no entanto, não descemos tanto, já que o salto de Caitlin era uma arma mortal pelo caminho das pedras. Demos a volta em algumas estradas vazias, onde descemos e tiramos algumas fotos. A natureza de Virgin River era um fascínio com suas florestas úmidas e árvores centenárias. Era um mundo dentro de um mundo. Lindo. Belo. Perigoso. A vi sorrir algumas vezes, e até brincamos quando a mesma escorregou na relva rala onde caminhávamos. Caitlin viu que seu casaco se tornou lamacento e cheio de folhagem, mas não se importou. Fofocamos, e após horas apreciando as belezas naturais fomos embora.

  Assim que estacionei em frente ao trailer de Thea, a Queen mais nova sorriu saltitante.

— Tem café expresso nesse fim de mundo?- sussurrou baixinho enquanto caminhavamos.

— Também me surpreendi.- confessei,no mesmo tom.- Olá, Thea.

— Oie, Lis! Caitlin.- sorriu simpática.- Dando umas voltas pela cidade?

— Fui levar Caitlin para turistar.

— E o que achou?- Questionou enquanto eu fazia nosso pedido.

— É realmente lindo, mas não vejo Felicity morando aqui.

 

E lá vamos nós.

 

Fechei os olhos, respirando fundo antes de olhar para trás. Estávamos indo tão bem…

— Talvez ela se veja.- Thea respondeu por mim, com um pequeno sorriso.- Mas isso é algo que ela vai decidir, não é?

 

Caitlin deu de ombros, olhando a praça em volta. Agradeci Thea disfarçadamente.

— Vá ao bar hoje.- sugeriu ao entregar nossos cafés.- A familía Anderson irá comemorar o aniversário lá, então teremos joguinhos e muita bebida.- piscou.

— Estaremos lá.

 

***

Caitlin não falou muito no trajeto de volta à pousada, nem mesmo quando começamos a nos arrumar. A vi ignorar algumas ligações, e trincar o maxilar ao ver o celular por mais vezes que eu poderia contar. Olhei pela janela, me atentando às árvores ao fundo. Dois dias atrás, eu e Oliver fomos feitos de reféns em um dos milhares acampamentos ilegais mantidos pela floresta. Todo o medo, a insegurança, o desespero em vê-lo machucado me atingiram com força, e eu precisei de um minuto para respirar. Peguei o colar com minha aliança e a de Ray, e sorri ao colocá-la na minha mão.

 

Ainda servia bem.

 

Mas algo me incomodava, como um sussurro, dizendo que não era correto usá-la tendo os pensamentos que vinham poluindo minha mente referente a Oliver. Era uma traição. Ray deveria estar se sentindo tão mal…

— Ele não ligaria se você não usasse.

 

Olhei para trás, notando uma Caitlin já trajada em um vestido azul escuro e um sobretudo preto saindo do banheiro. Meus olhos marejaram e eu pisquei, engolindo em seco ao deixá-la na cômoda.

— Como está se sentindo?- perguntou, cautelosa, tocando carinhosamente meu braço.

 

Sorri sarcástica.

— Culpada.- a encarei, com os olhos marejados. Eu não estava triste, mas sim com…Raiva?

 

Eu estava furiosa.

 

Com tudo.

— Faz dois anos.

— Eu sei.

— Você precisa…

— Podemos mudar o assunto?- me desvencilhei de seu aperto, indo me arrumar.

 

Caitlin suspirou pesadamente, mas deixou para lá. Uma hora depois nos encontrávamos estacionando o carro, ouvindo as risadas altas que ecoavam do bar. A atmosfera quente nos recebeu com ânimo assim que entramos. Decidi que usaria uma calça cintura alta com cinto das cores laranjas e uma blusa preta de manga comprida

  Encontrei os risos de Thea ao lado da bancada do bar com Roy, Sara e claro, Tommy. Todos pareciam se divertir muito e acenaram animados ao nos verem.

— Finalmente apareceram.- comemorou a Queen mais nova.- Achei que não viessem. Caitlin não poderia ir embora sem uma típica festa daqui. Falando nisso…- seus olhos cintilaram.- Vamos fazer uma festa beneficente da cidade e o tema será “ Anos 20”.

— É um tema interessante.- brinquei.

— As roupas daquela época eram maravilhosas, e o jazz…- Caitlin fechou os olhos, balançando o corpo em uma dança.

— É esse o espiríto!- Thea sorriu.- Você gosta de Jazz?

— É um dos meus gostos musicais favoritos.- respondeu Caitlin.

— Então venha aqui que você vai me ajudar a escolher a playlist com cara de anos 20.

 

Roy murmurou um “sinto muito”  baixo ao ver Caitlin ser arrastada por Thea. A mesma apenas riu e deu de ombros, sendo direcionada a uma das mesas do fundo. Notei o olhar de Tommy, fixo, que acompanhava cada movimento seu. Me sentei ao seu lado, e ao sentir minha presença, arrumou sua postura, sorrindo.

— Tommy…

— Sei o que vai dizer. Não sou um homem pra ela, não é?- sorriu um tanto…Triste? E rodou, com a ponta dos dedos, seu copo de cerveja.- Eu tenho sentimentos, Felicity. Pode acreditar.

 

Seu sorriso melancólico apertou meu coração. Ele havia ficado triste, mas Tommy não estava entendendo o que eu queria dizer.

— Eu só iria dizer para tomar cuidado.- segurei sua mão, o surpreendendo.- Você é um cafajeste- soltou uma gargalhada- mas tomaria um jeito. A questão é que Caitlin é uma pessoa muito complicada e já se decepcionou muito no âmbito romântico.

 

Tommy agora, me encarava com atenção e extremamente sério.

— Tem medo que eu a machuque?- sua voz saiu um tanto ofendida. Balancei a cabeça em negativa.

— Tenho medo que ela acabe, de forma involuntária, machucando você.

Seus lábios se entreabriram, surpresos. Tommy apertou minha mão e sorriu. Semicerrei os olhos ao notar um brilho estranho em seu olhar.

— Você está…Chorando?

— O quê? Claro que não!- piscou freneticamente, me fazendo gargalhar.

— O cafajeste tem coração.

— Nunca tive alguém que se importasse comigo dessa forma. Como uma irmã.— foi minha vez de ficar emocionada.- Tem Thea, mas ela é como uma irmã mais nova. Layla seria a mãe e Sara…

— Seu relacionamento aberto.- cochichei ao olhá-la conversando com Roy.- Qual você adora trocar um fluído corporal de vez em quando.

— Aí caramba. Cadê o Oliver pra dar um jeito em você, hein?- esticou o corpo pelo balcão, o procurando.- Oliver! Sua namorada está aqui!

— Tommy!

 

Meu sorriso se ampliou ao vê-lo. Claro que deveria estar uma tremenda confusão hoje pela festa dos Andersons, mas mesmo com um pano em um dos ombros ele continuava lindo. Nossos olhares se encontraram, e o mesmo cochichou algo a John, que fora atender o casal qual Oliver conversava, o dando dois tapinhas nas costas. Engoli em seco ao vê-lo chegar.

— Oi.

— Oi.- sorri. 

 

Momento silêncio.

 

Não fiquei nervosa ao ser observada tão abertamente. Oliver estava tão bonito. Aquelas braços…

— Se forem se pegar sugiro o quarto acima.

 

A voz de Tommy nos tirou de nossa bolha. 

 

Oliver o repreendeu pelo olhar.

— Como você está?

— Ainda assustada, mas bem.

— Alguém foi falar com você? Malone?- sua postura mudou, se tornando tensa.

— Não…É que é um pouco difícil esquecer. Não se preocupe.- o vi relaxar.

— Com licença. Tenho algo para resolver.

 

Tommy virou sua cerveja e piscou, se sentando ao lado de Caitlin.

— Como estão as coisas com ela?- questionou. Fechei os olhos.

— Ah, eu nem sei. Uma hora estão bem, outra hora não…- resmunguei.- Ela parece convicta em seu plano para me tirar de Virgin River.

 

Oliver se apoiou no balcão, inclinando o corpo para ficar próximo ao meu. Minha respiração acelerou, mas sustentei seu olhar charmoso.

— Sinto decepcioná-la, mas ela não vai raptar o meu par da festa.

— Seu par, é?- arqueei as sobrancelhas, divertida.- Não me recordo de nenhum convite. Talvez eu convide alguém. Os homens rústicos de Virgin River são tão charmosos…

 

Seu olhar se semicerrou, e o vi morder os lábios, balançando o queixo.

— Felicity…Você está testando o meu alto controle.

— É?

 

Sustentei seu olhar, divertida. Oliver encarou meus lábios e soltou um resmungo ao se afastar, algo que me fez rir.

 

Eu havia atingido o soldado, ou melhor, tenente.

 

Estava pronta para chamá-lo quando um estrondo ecoou do meio do bar.

 

Uma mulher havia caído e convulsionado. Rapidamente, eu, Tommy e Caitlin a imobilizamos.

 

— Pulso fraco.- notificou Tommy.

 

— Hálito adocicado. Acredito que seja uma crise de hiperglicemia.- comentei, pegando minha bolsa onde sempre carregava uma malinha de primeiros socorros.

 

— Ela tem uma pastilha para isso na bolsa!

 

Uma mulher, trêmula, que deveria ser sua amiga, nos entregou o medicamento. Sua convulsão, contida por Caitlin, havia parado, mas ainda sim precisávamos de mais equipamentos.

 Tommy a colocou no carro, e o seguimos, onde em dois minutos, já estávamos no consultório que era extremamente perto do bar.

— O doutor nos recebeu já com tudo preparado.

 

O vi preparar uma injeção de insulina após realizarmos o teste que constava um aumento grave da diabete.

— 500.- respondi. Quentin assentiu, aplicando a injeção no braço da moça que se encontrava desmaiada.

— Temos que levá-la ao hospital imediatamente.- protestou Caitlin.- Se subir mais ela pode entrar em coma…

— O hospital mais próximo, senhorita Snow, é daqui uma hora e meia,- o doc respondeu calmamente.

— Chamem uma ambulância!

— A ambulância demoraria três horas para chegar aqui.

— Mas…

— Não estamos na cidade. Ela está estabilizada e medicada. Cuidarei dela com outros medicamentos que contenho aqui e, assim que ela estiver acordada, vou levá-la ao médico. Não estamos na cidade grande, as coisas são diferentes aqui.

— Eu percebi.

 

Seu tom fora brusco, mas Quentin ignorou. Logo a diabete da moça fora abaixando, tanto pelo gel como pela insulina. Sua amiga chegou e após recobrar a consciência, Quentin as levou ao hospital, dispensando eu e Tommy para que ficássemos caso outra emergência ocorresse.

  Voltamos ao bar que estava vazio a não ser por Oliver que nos esperava..

— Como ela está?- perguntou Oliver

— Bem.- respondeu Tommy.- Está a caminho do hospital.

 

Caitlin bufou.

— Onde já se viu.- resmungou.- É inadmissível trabalhar em um lugar assim! Uma hora e meia para chegar a um hospital, três horas uma ambulância…- balançou a cabeça, indignada.- Se fosse fugir para algum lugar, que ao menos tivesse estrutura para trabalhar!

 

Aquilo me levou ao limite.

 

Fechei as mãos em punho, sentindo meus ombros ficarem tensos.

Eu não fugi.- Minha voz saiu em um rosnado.

 

Tommy, que estava em nosso meio, deu um passo para trás, acuado.

— Não?- riu sarcástica.- Você vendeu a sua casa, veio para cá sem avisar…É claro que fugiu! Você agiu como uma criança,Felicity! Uma criança que não tem coragem de enfrentar o que aconteceu entre você e…

— Pelo amor de Deus, se ousar falar dele desse modo eu nunca mais retorno uma ligação sua!- trinquei os dentes.- Você apareceu aqui sem ser convidada, e desde que chegou tem questionado cada decisão minha. E Deus sabe o quão paciente eu tenho sido.- sorri amarga.- Eu não vou voltar para Los Angeles, não quero falar de Ray e não vou mais deixar você impor algo sobre a minha vida.- ergui o dedo em risque.- Ao menos eu tive coragem de fazer algo a respeito da minha vida. Você continua em um estado de inércia, e por não saber resolver os seus problemas quer tentar resolver os meus!

 

Disse tudo em um fôlego só.

 

Respirei, ofegante. As linhas de expressões do rosto de Caitlin eram duros, e o brilho em seus olhos mostrava o quão chateada estava.

 

Mas eu estava cansada de tudo aquilo.

 

Ela era minha melhor amiga, e muitas vezes tendemos a ignorar aspectos tóxicos das pessoas que amamos. Mas eu a amava muito, e sabia que se continuássemos daquela maneira, nossa relação se destruiria. Era a minha vida. Minhas escolhas. E de ninguém mais.

  Caitlin mordeu os lábios e assentiu com a cabeça.

— Como não fui convidada, acho melhor arrumar as minhas coisas e ir embora.

 

E eu a vi bater a porta pesadamente e desaparecer.

 

Suspirei, e me sentei em um dos banquinhos, notando pela primeira vez os dois homens completamente congelados ao meu redor.

— Nossa.- foi tudo o que Tommy respondeu.- Eu nunca te vi tão brava, Lis.

— Você está bem?- perguntou Oliver, preocupado. Assenti tristemente.

— Uma hora iríamos ter que ter essa conversa.- dei de ombros, sentindo meus olhos marejarem.- Só não quero que outra pessoa que eu amo me deixe.

 

Comi em silêncio, enquanto os dois amigos conversavam. Tommy me deu um tchau rápido, trocando um olhar significativo com Oliver ao sair. O loiro assentiu e contornou o balcão, puxando um banquinho ao meu lado. Involuntariamente o abracei, e permaneci ali, sentindo sua respiração quente soprar em meus cabelos. Meu rosto foi erguido delicadamente por sua mão, que o segurou enquanto me acariciava.

— Eu te levo pra casa.- assenti, suspirando.

— Certo.

 

O caminho todo fora o mais repleto silêncio. Minha mente estava confusa, e eu estava tão inserida nela e perdida em pensamentos que mal notei quando chegamos.

— Felicity?-  me chamou eu quando estava prestes a descer.

— Sim?- questionei, aérea.

 

O vi hesitar.

 

Até que tomou coragem e disse:

— Uma pessoa tem que ser louca para te deixar.- entendi o sentido de suas palavras e sorri.- Ela não vai fazer isso.- assenti, abrindo a porta.- E sobre ele…- travei.- Eu não sei o que houve, mas quando quiser conversar vou estar aqui.

 

Engoli em seco, e o olhei uma última vez.

— Ele não me deixou porque quis, é um tanto mais complicado que isso.- tive forças de explicar.- Um dia eu te conto.

 

Oliver sorriu.

— Vou estar esperando com uma torta de limão.

 

Rimos juntos, e eu finalmente entrei, acenando. Ao chegar no quarto, me deparei com uma Caitlin jogada na cama, com os olhos vermelhos.

— Oi.

— Oi.- sua voz era chorosa. A mesma se sentou na ponta da cama.- Me desculpe, Lis.

 

A abracei, e acabei por acompanhá-la em um choro silencioso. Eu estava tão exausta…

— Não deveria ter vindo aqui e esbravejando ordens pra você.- fungou, se afastando, segurando em minha mão.- Acho que estava tão certa de que aqui era um lugar ruim e de que você voltaria comigo que me senti frustrada ao notar como aqui é bom.

— Me desculpe também. Você não precisa de convite, é que…-suspirei.- Só estou tentando sobreviver. E cada vez que você falava dele…

 

Caitlin apertou meus dedos, e eu lutei para não chorar mais.

— Tem dias que até respirar dói. Me lembro dele, do bebê…

— Ah, Lis.- seus braços me envolveram.- Imagino como deve estar sendo difícil.

— Sei que já faz dois anos e que tenho que superar, mas eu simplesmente não consigo.

 

Minha voz quebrou, e o choro reprimido ardeu em meus pulmões. Eu estava tão confusa.

 

Pela mudança repentina.

 

Por meus sentimentos por Oliver.

 

Oliver

— E ainda tem Oliver.- sorri, amarga.- Ele não sabe nem de um terço da história. Ás vezes…- engoli em seco.- Ás vezes me sinto culpada por estar sentindo isso por ele.

 

Caitlin assentiu, compreensível.

— Você não está fazendo nada de errado.

— Eu sei.

— Ray iria querer vê-la feliz, Lis.- seu comentário me fez sorrir.- Sua felicidade sempre foi uma prioridade para ele, mesmo que não estejam mais juntos. E você se ilumina quando está com Oliver. Há uma coisa…- gesticulou.- entre vocês indecifrável. Parece que conseguem conversar sem dizer uma única palavra. Não é com todo mundo que temos isso.

 

A olhei, chocada.

 

Ela havia percebido.

 

E parecendo que havia lido meus pensamentos, Caitlin piscou. Um sorriso maroto tomou conta de seus lábios.

— E ele é bem bonito também.

 

Acabamos por rir.

 

Me senti melhor com nossa conversa, no entanto, o toque no celular de Caitlin no colchão me chamou atenção. Estiquei o braço para pegar o celular, estranhando o nome no visor.

 

Barry.

 

Espera aí…

 

Barry estava ligando para ela?

 

Arqueei as sobrancelhas, e a mesma pegou o celular de minha mão, o desligando. Sua postura defensiva, a maneira surpresa com que chegou…

 

Havia acontecido algo.

— Caitlin…

— Nós transamos.

 

Entreabri os lábios completamente chocada.

— Como é que é?

 

Caitlin suspirou, apertando as mãos e se levantou.

— Ele me procurou esses dias em um dos plantões. Saímos para tomar café. Vários dias.- sorriu tristemente.- Achei que havíamos voltado a ser como antes, antes…

— Antes dela.- completei. Caitlin assentiu com pesar e engoliu em seco.

— Desde o dia em que nos vimos em Santa Mônica algo estava…Não sei dizer.- gesticulou, confusa.- Mas de repente estavámos juntos, rindo de idiotices. Foi bom.- seu olhar se perdeu ao olhar a floresta escura através do vidro.- Em um dia, quando fomos liberados mais cedo, Barry me chamou para sair. Nada demais, apenas para relaxarmos um pouco. Ele estava tão fofo aquela noite- sorriu de forma genuina.- Decidimos que seria melhor fazermos uma confraternização assim em casa. E então…- sua voz morria a medida que chegava perto do que ocorrerá.- eu fui pra sua casa.

 

A vi tomar um longo suspiro até retornar, com a voz trêmula, abalada. E os olhos…Ah, transmitiam uma angústia e dor alucinantes. Limpou os olhos e continuou a olhar para a escuridão.

 - Bebemos vinho, e quando eu notei- um sorriso sarcástico escapou de seus lábios- voltamos a falar do passado, do nosso beijo. Barry foi chegando mais perto, nossas respirações se entrelaçando…

— E vocês se beijaram.- Caitlin pela primeira vez me olhou, e assentiu.

— Ele disse coisas tão adoráveis pra mim. Nos amamos uma noite inteira. Eu não pensei, apenas…Sentia. Sentia o calor, a excitação, aquela paixão que eu havia guardado…Mas aí dormimos, e quando acordei foi um pesadelo.

 

Prendi a respiração.

— Ele se arrependeu, não foi?- fiz a pergunta, fechando os olhos, como se aquilo fosse me proteger da dor que Caitlin sentiu.

 

Um riso sem emoção escapou de seus lábios.

— Ele disse que eu ia ser a ruína do seu relacionamento com Iris. Que ele ia pedi-la em casamento.- seu rosto se tornou impassível, sem emoção alguma.- Eu não esperei mais. Disse que ele não precisaria se preocupar comigo e sai. Fiquei semanas de plantão em plantão sem dormir até…

— Até que parou aqui.

 

Caitlin estremeceu, apertando os braços com extrema força, tanta força, que tive certeza que estava se machucando. Entreabri os lábios, mas estava chocada demais para dizer alguma coisa.

  O celular tocou novamente, e a vi morder os lábios, abafando um soluço.

— Eu realmente não sei o que fazer.- sorriu, desesperada.- Não sei o que ele quer e sinceramente? Não quero ter mais nada ligado a ele.

 

Assenti, tentando acompanhar sua linha de raciocínio.

 

Mais uma vez o maldito celular tocou.

 

Irritada, me levantei, o pegando de sua mão. Pedi permissão, e com um aceno, atendi.

 

“- Não, é a Felicity.- fui seca, respondendo sua pergunta.- Caitlin irá falar com você quando sentir vontade, enquanto isso, reflita sobre o merda de amigo que você é. Ah, e é melhor deixá-la em paz, Barry. Posso não estar mais em Los Angeles, mas se Caitlin não está bem, eu não estou bem, então é melhor ficar fora do caminho.- ameacei.- Tenha um bom casamento.”

 

Desliguei, eufórica, e Caitlin tampou a boca, chocada. Ainda olhava para o telefone.

— Acho que fiz merda.

— Você…Você foi incrível.- me abraçou, pulando.- Chamou ele de merda.

— Chamei.- repeti, sem acreditar.

— E o ameaçou.

— Acho que sim.

 

Caitlin riu mais uma vez.

— Já estava na hora dele ouvir umas verdades, ainda mais de você.- comentou, chateada.- Ele nunca a defendeu dos comentários de Iris, nem quando mais precisou. Um amigo de verdade não faz isso.

 

Assenti, cansada.

 

Caitlin sorriu.

— Me desculpe por vir bagunçar a sua vida nesses últimos dias. Você passou por um sequestro, e eu não tornei nada fácil.- falou culposa.

— Tudo bem.- sorri.- Que tal assistirmos um filme?

— Aqui pega internet?- questionou, chocada.

 

A olhei ofendida.

— Estamos no interior, não na época dos astecas. É claro que tem internet.

 

Caitlin riu mais uma vez.

— Desculpe ofender sua casa.- brincou.- Céus.- falou em um tom chocada, a encarei, arqueando as sobrancelhas.- Quem diria.

— O quê?

— O ser mais consumista de Los Angeles, que tinha um closet só de botas de grife e um lugar na sala de estar com fotos de viagens internacionais ia se adaptar a uma vida na roça.- balançou a cabeça.- Virgin River deve ser mágico mesmo.

— Você não tem ideia.

 

***

 

Caitlin continuou por aqui o restante da semana, no entanto, as coisas estavam mais calmas. Seu preconceito com a cidade havia diminuído, e após nossas conversas, ela não havia me forçado a mais nada. Até mesmo me acompanhou em algumas consultas na clínica, notando a eficiência com que Quentin trabalhava. Ele era muito sábio, e ela percebeu isso.

 Não atrapalhei suas conversas e saídas com Tommy, mas claro que eu estava preocupada. O assunto Barry ainda estava fresco, e eu tinha medo do que poderia acontecer caso ela mudasse de ideia e surtasse. Tenho que admitir, ela e Tommy formariam um lindo casal. Além disso, Thea a raptou, pedindo sua ajuda para todos os detalhes da festa. Fizeram uma lista enorme, e quando o assunto começava a as deixava-mos sozinhas, onde anotavam suas ideias. Oliver, na maioria das vezes, ficava comigo e conversávamos sobre o dia. Havia acalmado ele e Tommy sobre a briga, e tudo estava normal, bem, não tão normais assim. Após o nosso flerte descarado naquela noite, prosseguindo de quase dois beijos, havia algo diferente. Mais eletrizante. Mais magnético. Mais hipnotizante.

 

Eu estava surtando.

 

Mas tentava não pensar no que Ray acharia.

 

No domingo, Caitlin decidiu que era hora de voltar ao trabalho. A ajudei a arrumar as malas, e a levei até o bar, para de despedir dos outros e comer alguma coisa. A vi conversar com Oliver enquanto eu vinha da clínica, e o mesmo assentiu, como se jurasse uma promessa.

 

Fiquei curiosa em saber o que era.

 

Assim que me viram, mudaram suas posturas. caitlin abriu os braços, me recebendo em um abraço.

— Você tem razão, Diggle cozinha demais.- sorriu, fazendo sinal positivo para o antigo sargento.

— Lyla disse que ele a conquistou pelo estômago.

— Não duvido.

— Vou pegar algo para beberem.

 

Oliver entrou para a cozinha e eu o olhei de cima a baixo. Ele estava, incrivelmente, mais lindo hoje. Escutei um arranhar de garganta, e a encarei, suspirando.

— Pensa no que eu te falei, tá bem?- tocou no meu ombro.- Ele iria querer vê-la feliz. Não se prenda ao passado.

 

Sorri, amarga.

— Oliver parece ser um cara incrível.

 

Eu sabia disso.

 

Mas ainda assim…

— Uma vez na vida, não pense, apenas faça. Eu te julguei horrores por vir pra cá de forma precipitada, mas sei que foi o melhor pra você. Eu vejo isso.- entreabri os lábios.- Aqui você sorri, tenta viver. Não fica em um sofá esperando a morte.- engoli em seco.- Não pense muito sobre isso com Oliver, okay? Apenas…Apenas sinta.

 

O loiro retornou com uma jarra de suco, a qual eu apenas agradeci sorrindo, estando impactada demais para falar. Logo Thea, Sara e Tommy apareceram para se despedir de Caitlin.

— Foi um prazer conhecer vocês.- abraçou Thea, e logo em seguida Tommy.

— Espero te ver de novo, Nevasca.- piscou e ela sorriu de uma forma tão pura…

 

hmmmm…

 

Havia rolado algo.

— Até mais, Thomas.- bagunçou seu topete.- E Oliver- o encarou seriamente- é melhor cuidar de Felicity, hein. Todos vocês.

— Sim senhora.

 

A abracei mais uma vez, e a vi ir, com Tommy segurando sua mala. Me sentei na cadeira, sem acreditar na última semana.

 

Uau

 

Eu havia me imposto

— Sabe, gostei muito dela mas…- sorri para Oliver, me virando em direção ao balcão que nos separava.

— Ela ofendeu sua cidade.

— Não.- riu, com aquele sorriso maravilhoso.- Fico aliviado de vê-la ir embora e saber que você ficou.

 

Engoli em seco, sem saber bem o que dizer. 

 

Nossos olhares se encontraram e aquela energia…Eu a sentia por todo o meu corpo. Oliver tinha os lábios entreabertos e os molhou ao prosseguir.

— É…Bom saber que você ficou.- falou pausadamente, um tanto…Desnorteado?

 

Eu não sabia.

 

Não sabia de nada.

— Eu não vou embora. Não agora.- afirmei,e o vi assentir, desviando o olhar e tomando um longo suspiro.- Afinal, eu fui convidada para uma festa, não?

 

Oliver sorriu e balançou a cabeça.

— Espero que guarde uma dança para mim.

— Pode ter certeza que sim.

 

Sorrimos juntos, e senti meu coração acelerar. A volta de Tommy nos tirou de nossa bolha.

— Bom.- Esfregou as mãos.- Parece que temos uma festa em…Duas semanas?- Questionou a Thea.

— Sim, e garanto que será um festão.- disse animada.- Já sei exatamente onde compraremos nossas roupas.

 

Encarei Sara, que soltou um gemido de dor.

— Compras não.

— Compras sim, Lance. Já tenho tudo planejado.

 

Ri, escutando seu plano sobre os próximos dias. Uma hora o outra meu olhar com Oliver se encontrava e tudo se tornava…Inexplicável. Talvez eu estivesse procurando sentido em uma situação que não necessariamente continha uma resposta.

 

Talvez eu devesse apenas sentir.


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Notas finais do capítulo

E aiiii? O que acharam?

Spoilerzinho: vem muitas emoções por aí. Vocês irão amar e odiar o próximo capítulo na mesma intensidade kkkk.

Beijos e até a próxima!



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