The girl from LA escrita por Ka Howiks


Capítulo 10
Capítulo 10: Nem tudo é o que parece


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Como estão!

Amei os comentários de vocês. Irei respondê-los assim que eu terminar de postar aqui ♥

Como o prometido, aqui vai mais uma atualização. Espero que gostem!

Beijos e boa leitura ♥



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 Pov Oliver Queen

 

As últimas 24 quatro horas haviam sido, de certa forma, uma das melhores e piores da minha vida. Primeiramente, estava ansioso para a festa, tão ansioso, que a maioria das minhas receitas ou queimavam ou ficavam sem gosto algum. Devido a isso, John sugeriu( de forma discreta, mas eu vi sua careta ao provar um de meus molhos) que eu cuidasse das garrafas de vinho. E eu estava lá, surtando e empacotando tudo quando ela apareceu. Fingi que não havia a visto e um sorriso involuntário escapou de meus lábios. Ela se aproximou com cautela, e quando pretendia finalizar seja lá o que fosse fazer, segurei seu braço nos ares e a imprensei contra mim. Felicity me encarou ofegante e eu apenas sorri, explicando meu treinamento militar. Fui treinado para apurar meus sentidos, não seria pego de surpresa assim. Notei que estávamos próximos demais e foi impossível não me imaginar tocando aqueles lábios. Vinha lutando contra essa vontade louca de querê-la, e tudo ficava mais difícil quando estávamos juntos.

 

Ou tão perto.

 

E estávamos perto.

 

Eu ouvia seu coração acelerado. Sentia sua respiração quente. Limpei a garganta e me afastei um pouco para que tivéssemos uma conversa civilizada. Fazia um tempinho que Felicity não vinha aqui. Tudo estava igual e ao mesmo tempo…Diferente. Nossa relação havia mudado de alguma forma, e eu sentia que logo mais algo aconteceria.

 

Ela parecia assim também.

 

Sempre me perguntava sobre seu ex marido.

 

Ela parecia amá-lo muito e sentir saudades. Eu não sabia o que ele havia feito, mas tenho certeza de que, se ele viesse até aqui e clamasse por seu perdão, talvez, só talvez, ela poderia perdoá-lo. E aquilo me matava. Eu não sabia onde ele estava. Talvez, devido a perda do filho algo tenha o mudado, mas a culpa não havia sido de Felicity. Se eu estivesse no lugar dele jamais a abandonaria. Era incrivelmente doloroso se apaixonar por alguém e saber que o coração daquela pessoa pertencia a outro.

 

Respirei fundo e limpei uma taça.

 

Como estava dizendo, eu estava animado para a festa. Demorei um pouco para aparecer, já que estava ajudando a descarregarem os alimentos, mas assim que a vi dançando com Quentin…Meu mundo parou. Ela estava bela naquele vestido vermelho, e eu, como um idiota, perdi o fôlego. Eu estava a observando desde que chegou, inclusive, sorri de sua apresentação com Sara e Thea. Quentin notou que eu os olhava e me chamou discretamente com o olhar. Arrumei a postura e segui, ignorando todos na pista de dança.

 

Eu só via ela.

 

Somente ela.

 

Em um giro, troquei de lugar com Quentin antes que ela percebesse, e quando finalmente me viu…Seu sorriso me deixou bobo, e observando-a pela primeira vez tão de perto tive certeza do que eu sentia. Eu estava apaixonado.

 

Inferno.

 

Conversamos, mas a cada passo, a cada brincadeira eu me sentia mais perdido. Cheguei ao meu ápice e fechei os olhos, tentando me controlar. Eu não podia, não podia…Sua mãos subiram até meu pescoço, o que me despertou. A encarei, a procura de uma solução. 

 

O que vamos fazer?

 

O que eu posso fazer?

 

Se sua resposta fosse negativa eu entenderia. Faria o que ela quisesse.

 

  Felicity me chamou pro jardim, e quando ela me disse que estava quebrada e não tinha nada para oferecer, tentei fazê-la entender o que eu sentia. Felicity não me devia nada, ela não precisava me dar nada. Eu sabia um pouco de sua história, sabia de sua dificuldade, e caso ela decidisse me dar uma chance isso já seria de bom tamanho. Eu só queria ter a oportunidade de pertencer a ela.

 

Nada mais.

 

E quando nos beijamos foi simplesmente…Incrível. Jamais um beijo de uma mulher havia me deixado transtornado daquela forma. Sua presença imperou em meu corpo em uma carga eletrizante e tudo o que pensava era na maravilhosa sensação de nós dois juntos. Nossos gostos, nossos lábios, nossas mãos.

 

Nossa respiração.

 

Os movimentos.

 

Tudo.

 

Eu estava extasiado. A queria de todas as formas, e ao ouvi-la me chamar de tenente…Me controlei, e quando voltamos a nos sentar no banco e Felicity permaneceu com sua cabeça deitada em meu peito fora um momento que não parecia real. Eu havia a querido tanto e agora estávamos ali, trocando caricias, tendo uma chance. Todo meu nervosismo havia se dissipado e eu estava feliz, muito feliz.

 

Até que aconteceu.

 

Eu não sabia que ela estava na cidade, muito menos que estava ali. Em um momento observava o salão e em outro Laurel se jogou em mim, me dando um selinho. Suas intenções eram óbvias, mas eu não as correspondi. Estava em estado de choque para ter qualquer reação. Nos separamos e quando vi que Felicity estava indo embora a deixei, sem explicações, apenas com um aviso.

 

“ Precisamos conversar depois, Laurel.”

 

Nosso relacionamento fora, de certa forma, o mais carnal possível. Ela odiava Virgin River, e no tempo em que morou aqui só sabia falar quando retornaria à capital. A conheci através de Quentin, seu pai, e após uma primeira impressão, Laurel me chamou para sairmos em uma festa na cidade vizinha, o que obviamente terminou em uma cama. Após isso, mantivemos um relacionamento casual. Eu sabia suas intenções, sabia quando ela me chamava, mas quando ela se mudou isso foi encerrado definitivamente. Não tinhamos mais nada.

 

Mas Felicity não sabia disso.

 

Para ela eu era um grande filho da puta.

 

Tentei explicar o que havia ocorrido, mas Felicity estava irredutível. Sua feição estava petrificado, e em uma seriedade que eu jamais havia visto. Os olhos lacrimejados me davam sinais do quão magoada ela estava. Mas a postura e a voz claramente me alertavam sobre sua decisão. Foi ainda pior quando ela disse que tinha sentimentos por mim.

 

Eu precisava explicar.

 

Imediatamente.

 

Desesperadamente.

 

Mas não tivemos tempo. Ao encontrar o bebê abandonado, fui correndo avisar Quentin e Tommy sobre o ocorrido. Os três seguiram para a clínica e eu fiquei no bar, o mantendo de portas abertas caso precisassem de algo.

 

Ninguém apareceu.

 

E aqui estava eu, quebrando a porra de um copo.

 

Diggle, que preparava o prato do dia, me encarou, erguendo uma das sobrancelhas. Ignorei, indo pegar uma vassoura. Ele continuava me encarando, aguardando uma explicação.

— É o terceiro copo que você quebra hoje.- comentou.

— Eu sei.

— Também anotou dois pedidos errados e queimou a calda do pudim.

Eu sei.

 

Meu tom soou mais irritado do que eu pretendia. Fui juntar os cacos e acabei os derrubando novamente. Bufei, e levei as mãos ao rosto, o apertando. Diggle juntou o lixo, e após colocá-lo lá fora, abriu nosso freezer, pegando duas cervejas. Agradeci e abri a latinha, tomando um longo gole.

— Valeu, cara.

— Você está fora dos eixos hoje…Foi por conta de ontem?

 

Não respondi. Dei mais um gole na cerveja.

— Laurel.- continuou a perguntar. Fechei os olhos.- e Felicity, claro.

— Ela entendeu tudo errado, John.- gemi em desgosto, me apoiando na mesa.- Completamente errado.

 

Diggle assentiu.

— Já havíamos terminado. Mas vou deixar as coisas claras pra Laurel.

— E pra Felicity.

— Se ela me ouvir.- suspirei. Apertei a latinha vazia.- E ela não quer me ouvir.

— Ela tem motivos, né?

 

Olhei para a porta, e Thea caminhava a passos pesados pela cozinha. Por sua postura, ela ia me bater, e devido a isso, fiquei ao lado oposto ao que estava, tendo como proteção a mesa. Ela andou. Eu andei.

Oliver Jonas Queen!- berrou enquanto me seguia.- Você é a pessoa mais burra da Terra!

— Eu posso me explicar?- Andei novamente. Estávamos contornando a mesa como crianças.

— Não.

— Ah, que maravilha.- ri sarcástico.- Speedy!

 

Ela havia me alcançado e dado um peteleco na minha cabeça. A olhei chocado, massageando o ponto que doía.

— Agora que já me agrediu- a vi mostrar a língua.- Posso?

 

Ela assentiu.

— Eu não tenho nada com Laurel, ok?- seu bico se tornou maior.- É sério! Terminamos tudo antes dela ir embora na última vez. Acho que ela achou que…

— Você sempre estaria à disposição para trepar com ela.- respondeu de mau humor. Suspirei fundo.

— E eu não estou mais.- tentei deixar claro.- Mas Felicity entendeu tudo errado e agora me odeia.

 

Puxei uma das cadeiras e me sentei, apoiando o cotovelo em minha perna enquanto segurava a cabeça com as mãos. Ela jamais iria me perdoar. Quando finalmente havia conquistado sua confiança, a quebrei.

 

Era um idiota.

 

As mãos de Thea acariciaram minhas costas. Ergui a cabeça, encontrando seu olhar empático.

— Tente se explicar.- comentou suave.- Ela quer ir embora..

 

A encarei, alarmado.

— Estava com ela e conversamos. Ela não tem casa, se sente traída e quer ir embora.

 

Meu coração se acelerou e um bolo se formou em minha garganta.

 

Ela não podia ir.

 

Não podia.

— O chalé…

— Só falta os alguns móveis. O armário da cozinha já começou a ser montado. Mas há um colchão velho lá que eu vou me livrar depois.- deu de ombros. Seus olhos, de repente, pareciam aflitos.- Ela precisa de você, Oliver.

 

Ergui a sobrancelha em confusão.

— Estão tentando achar a mãe do bebê mas Felicity está…Diferente. Parece perturbada.- fiquei em alerta.- Toda vez que pega a criança no colo seu semblante é tenso. Estava com ela agora e vi o jeito que ela olhava para o bebê...Parecia sentir uma dor inexplicável.

 

Aí caramba. O bebê, claro. Ela já havia perdido um filho e agora estava cuidando de um abandonado. Me ergui e encarei John que assentiu, já sabendo o que eu ia perguntar. Thea me seguiu.

— Ela te contou alguma coisa, né? Não estaria tão preocupado assim se não soubesse.

 

Suspirei e me virei.

— É pessoal, Thea. Mas vou tentar ajuda-la.- a dei um beijo na testa.- Ela está na clínica?

— Está. Boa sorte.

 

***

Respirei fundo antes de bater na porta.

 

Ouvi passos do outro lado da porta e rapidamente endireitei a postura. A mesma fora aberta, revelando uma Felicity de jaleco branco e olhos cansados, que se tornaram frios ao me ver. Tentei sorrir.

— Oi.

— O que quer?- foi ríspida.

— Vim ver como estava. Por conta do bebê.

 

Seus olhos azuis se acalmaram e a vi engolir em seco. Fechou a porta atrás de si, me guiando até a varanda.

— Preciso de um favor.

— Quantos quiser.

 

Ela poderia estar brava comigo ou magoada, mas eu jamais deixaria essas outras situações me impedirem de ajudá-la. O que ela precisasse, eu faria.

 

Sem hesitar.

— Que investigue quem pode ter deixado o bebê aqui.- assenti.- Eu queria ligar para o serviço social, mas Quentin disse que demoraria, então saiu com Tommy atrás de paradeiros.- cochichou.- Mas acho que sei quem é a mãe.

 

Seu olhar fora até as montanhas e eu rapidamente entendi.

— A garota do acampamento.- disse em tom baixo.- Acha?

— Tenho minhas suspeitas.- estávamos próximos e seu nariz quase tocou no meu.- Posso estar louca.

— Dúvido muito.

— Então, como vamos achá-la?

 

Encarei os arredores, tendo certeza de que estaríamos sozinhos e coloquei minha mão em seu ombro, a trazendo mais para perto. 

 

Felicity prendeu a respiração.

— Vou tentar entrar em contato com alguns velhos amigos- sussurrei em seu ouvido, a vendo se arrepiar. Tentei me controlar.- Mas duvido que ela esteja junto com a gangue de Slade. Talvez eu vá lá…

— Não.

 

O tom de Felicity fora brusco e seco. Sua mão apertou meu braço em agonia.

— Slade disse o que aconteceria se voltasse.

— Felicity.

— Oliver.- me encarou, desesperada.- Não. Por favor. Me prometa.

 

Abaixei a cabeça e suspirei contrariado.

— Prometo.- disse com intensidade, embora não quisesse.- Vou ver o que consigo fazer.- seu semblante relaxou.- Mas não vai ser fácil.

 

Nossos olhares se cruzaram, e uma conversa tensa e cheia de perigos se tornou a mais deliciosa das sensações. Sentia meu corpo respondendo ao dela devido a proximidade, como se fossemos o imã um do outro, não podendo ficar separados. Me recompus, andando até a ponta da varanda e segurando a madeira, olhando a rua. Felicity demorou um pouco, mas logo se pós ao meu lado.

— Trago respostas o mais rápido possível. - limpei a garganta.- E quanto ao bebê, como você está?

 

Felicity tremeu.

— Estou tentando permanecer calma mas… é difícil.- fechou os olhos.-É um menininho risonho. Estou tentando não me apegar e agir naturalmente, mas todas as vezes que olho para ele…

 

Instintivamente a abracei, e Felicity deitou a cabeça em meu peito. Acariciei seus cabelos, a dando um beijo na testa. 

— Imagino que esteja sendo difícil.

 

Ela não havia contado para ninguém, e a bagagem de carregar aquilo sozinha deveria ser pesada demais. Não poderia imaginar a violenta cargas de pensamentos que Felicity carregava.

— Muito.- sua voz soou fraca, abafada devido a minha jaqueta.- Mas isso vai passar quando eu for embora.

 

Meu peito se apertou e ergui seu rosto pela ponta do queixo, a fazendo me encarar nos olhos.

— Vai embora mesmo?

— Não tenho moradia. E devido aos acontecimentos recentes…- apertei sua cintura, a fazendo estremecer.- Não posso ficar.

 

Aquilo havia sido, dolorosamente, mais difícil do que eu havia imaginado.

— Eu e Laurel não temos nada e vou provar pra você isso.- disse convicto. Me afastei, limpando o rosto.

Felicity permanecia estática, mas tínhamos coisas maiores para resolver. Me aproximei novamente, a dando um beijo na testa.

— Trago notícias.

A encarei demoradamente quando saí voltando a respirar. Ela não podia ir embora. Não podia.

 

Ainda mais por minha causa.

 

Iria mostrar o chalé para ela, encontrar o bebê e esclarecer as coisas com Laurel.

Essa última eu resolveria agora.

 

***

 

Pov Felicity Smoak

Fechei a porta, respirando fundo.

Nossa.

Ficar na presença de Oliver foi mais difícil do que eu havia imaginado. Manter minha ideia de ir embora também. Após o ocorrido de ontem a noite tudo o que eu pensava era ir embora, mas ele havia dito com tanta convicção que eles não tinham nada…Não tinha certeza se eu queria ir embora, mas precisava. Eu estava desenvolvendo sentimentos por ele e não sabia se isso era bom ou ruim. No momento em que me permiti confiar, fui apunhalado.

 

E ainda havia Laurel.

Ela passou a manhã inteira me olhando de cima para baixo. Tentei ser simpática, mas sua arrogância fora tamanha que decidi cuidar de Lu…Do bebê. Ela parecia não gostar de mim, e eu me perguntava sinceramente o porquê. Ignorei isso, voltando a pensar em Oliver pelo restante do dia. Será que ele falava a verdade? Será que…Um choro manhoso me despertou, e corri até a sala. Ali estava também mais um problema qual eu enfrentava. Sorri por seus olhinhos manhosos fazerem careta e o peguei no colo, alinhando enquanto pegava a mamadeira.

— Você é um comilão, sabia?sorri.- É sim. Eu queria um menininho igual a você. Lucas. Gosta do nome?

 

O bebê riu e eu involuntariamente ri também.

— Vou te chamar de Lucas provisoriamente então.- o balancei.- Vamos achar sua mamãe, eu prometo.

 

Ainda mais com Oliver a procurando agora.

 

Não contei a verdade a Quentin e Tommy pois sabia que falariam com slade, o que pioraria as coisas. Então os deixei bater de porta em porta atrás de alguma informação. Talvez não fosse em vão. Lucas dormiu mais uma vez e o coloquei deitado entre as cobertas com uma roupinha branca e cantei baixinho. Quando sua respiração se tornou estável o encarei, sentindo meus olhos marejarem

 

Por que era tão difícil?

 

Eu travava em coisas simples. Fosse na primeira vez que Laurel o entregou para mim no colo, na primeira troca de fraldas. Eu tentava permanecer bem, mas era difícil ignorar essa onda de emoções que me inundava de uma hora para a outra. Dor. Repulsa. Dor.

 

Por que eu tinha que perder o meu filho?

 

Tampei a boca com a mão e chorei baixinho.  O barulho da porta sendo aberta me fez limpar os olhos e me recompor. Tommy apareceu carregando uma cesta de coisas para o bebê, e quando notei que estava sozinho, relaxei. Tommy notou meus olhos vermelhos, mas apenas sorriu e colocou a cesta na mesinha de centro no meio da sala, se sentando no sofá.

— Como estão as buscas?- perguntei, me sentando ao seu lado.

— Quentin está procurando. Passamos em várias casas e as pessoas começaram a nos dar coisas para cuidar do bebê…- apontou para a cesta.

— E Sara?

 

Um sorriso pervertido tomou conta de seus lábios.

— Vocês...Ah meu Deus!- o acertei com uma almofada.- Tommy Merlyn!

— Foi quase. por conta do bebê surpresa.- disse desgostoso.- Mas estávamos quase lá. Já estava a ajudando a tirar aquela maldita meia calça quando Quentin ligou.

 

O dei um empurrãozinho.

— Foi mal por atrapalhar sua noite.

— Não foi sua culpa.- sorriu. Seu semblante se tornou cuidadoso.- Você e Oliver…

 

Fechei a cara.

— Tommy, se ele te pediu para o defender…

— Oliver jamais me pediria uma coisa dessas, você sabe.- assenti a contragosto.- O relacionamento deles era casual.

 

Mordi os lábios.

— O quão casual?

— Casual nível eu e Helena.

 

Sem querer, respirei aliviada.

— Mas ela sabe disso? Laurel?

 

Tommy hesitou e eu sorri sem humor.

— Vocês homens, francamente.

— Laurel é uma pessoa difícil. Ela sabe, mas finge não saber.- tentou explicar. Fiquei nervosa.

— Difícil quanto?

— Não nos damos muito bem. Ela é esnobe.- comentou, cruzando os braços.- Vai ter que ser forte.

 

Respirei fundo e instintivamente olhei para o bebê, que se moveu. Tommy seguiu meu olhar.

— Acha que vamos encontrar a mãe dele?

— Espero que sim.

 

***

 

Três dias se passaram e não havíamos conseguido nenhuma notícia. Os contatos de Oliver estavam procurando e como o prometido, o mesmo não colocou os pés nas terras de Slade. Só de pensar no que poderiam fazer com ele…

 

Respirei fundo.

Nossa relação estava estranha. Eu ainda estava chateada, mesmo percebendo que o mesmo falava a verdade. Ele me sondava se eu iria embora, e a agonia de seu olhar…Queria acabar com tudo aquilo, mas estava chateada demais para fazer algo. Sempre que falava sobre a pousada ser minha única casa aqui, um sorriso misterioso brotava em seus lábios.

Veremos”- era tudo o que dizia.

Sua frase me deixava extremamente confusa.

Havia também Lucas. Passava mais horas do meu dia ao seu lado do que fazendo qualquer outra coisa. Havia momentos em que eu travava, mas logo me recompunha. Um desses momentos fora com Quentin, que logo notou meu desconforto em balança-lo. Tommy já estava ciente também. Nenhum dos dois perguntou. E seguíamos assim, na busca da mãe desaparecida enquanto eu lutava contra o meu trauma. Quase esqueci.

Laurel.

Oh céus.

Seus olhares e comentários ácidos já estavam me irritando. Ela me olhava como se eu fosse a inimiga, especialmente por seu pai agora, me ouvir tanto. O mesmo teve longas horas de conversa comigo e Tommy em seu escritório, longe da opinião de terceiros e aquilo estava a deixando enfurecida.

 Preparava mais uma mamadeira para Lucas diante de seu olhar fatal. Me preparava para pegá-lo no colo, mas novamente o pânico se apossou de minhas veias. Respirei fundo e mordi os lábios.

Se recomponha, tem gente olhando.

Se recomponha, tem gente olhando.

Ignorei o desconforto e o peguei no colo, o dando a mamadeira qual sugou rapidamente. Evitei olhá-lo enquanto a crise passava. Laurel riu e abri os olhos, a observando da cozinha.

— Você é mesmo obstetra?

Assenti.

— Nunca vi uma ter tanta dificuldade em amamentar um bebê.

 

É porque nenhuma delas pegou seu filho morto nas mãos.- praguejar baixinho.

 

Ignorei a provocação. Encarei Lucas, que mesmo com a mamadeira sorriu para mim. O desconforto se evaporou, e eu relaxei, o ninando.

— Onde será que sua mamãe foi parar, hein?- perguntei, o observando.

— Deve ser uma idiota por deixá-lo.

— Ela deve ter seus motivos. Ninguém abandona uma criança sem não estar desesperado.- defendi. Laurel arqueou as sobrancelhas.

— Você é daquele tipo, né? Empático.- disse com certo repulso.- Tenta achar razões para as pessoas não serem cruéis.

— Ninguém sabe o estado mental de ninguém. Não podemos julgar.

— Na lei não funciona assim.

— Talvez seja por isso que nosso sistema é tão precário e ruim.

 

Torci o rosto.

 

Eu não devia ter falado isso. Não devia.

 

Ainda mais para uma advogada.

 

O rosto de Laurel estava franzido, claramente irritado. A vinda de Quentin foi um alívio, dissipando a guerra que iria começar.

— Como está o nosso novo hóspede?- perguntou sorrindo, parando ao meu lado.- Olá neném. Você tem visitas.

 

Oliver estava com Thea e Sara na porta da cozinha. Meu olhar encontrou o seu, e eu sorri, mesmo diante de todo o caos. Sara me abraçou e encarou o bebê em minhas mãos.

— Ele é lindo.

— Estou o chamando de Lucas. Provisoriamente.- tentei explicar devido ao olhar de Quentin. Não podíamos nos apegar aos pacientes.

 

Regra número um de todo médico.

— É um nome muito bonito.- comentou Oliver. Sorri, sabendo que aquela frase significava outra coisa. O entreguei a Thea, que estava louca para pegá-lo e segui Oliver. O vi cumprimentar Laurel que o ignorou.

 

Talvez já tivessem conversado.

 

Não que fosse da minha conta.

 

Limpei a garganta quando paramos na sala.

— Alguma notícia?

 

Oliver assentiu.

— Evelyn sumiu.- cochichou.- Não está nas terras de Slade.

— Aí meu Deus…

— Talvez ela esteja por perto, o observando. Tenha fé, ela vai aparecer.

Suspirei e olhei para trás.

 

Eu não queria que ele fosse embora.

— Como está tudo isso?- balancei a cabeça.

— Eu amo estar com ele, mas tem vezes que me dá um pânico e eu mal consigo olhá-lo.- desabafei.- Não sei se deveria cuidar dele.

 

O toque de Oliver em meu ombro me fez encara-lo.

— Você é a pessoa mais adequada para cuidar dele.

— Como se às vezes nem consigo olhá-lo?

— Uma pessoa boa que passou por um trauma grande.- disse carinhoso.- Deveria pegar mais leve consigo mesma.

— Diz o tenente que se julga mais que o normal.

 

Oliver sorriu.

— Não somos perfeitos.

 

Olhei para sua mão em meu ombro e logo após para seu rosto.

— Obrigada.

— Pelo o quê?

— Por estar me ajudando nessa missão. Mesmo que não estejamos…

— Jamais negaria ajuda a você, Felicity. Não importa o quão triste eu esteja.

 

Eu sabia disso.

 

Oliver era um homem empático, sempre colocando a vontade das pessoas acima das suas. Me perguntei o quão machucado ele ficava com isso.

 

Me perguntei o esforço que ele estava fazendo agora, ficando comigo.

 

Me perguntei o porquê de eu estava brava com ele.

 

Claro, meu problema de confiança desde que perdi Lucas e Ray.

 

Me perguntei por mais quanto tempo esses fantasmas me atrapalhariam de viver.

— Parece ter muita coisa para pensar aí dentro.- me despertou.

— Oliver. Nós…

— Não é o momento. Temos um mistério pra resolver. Mas depois- seu toque em meu ombro subiu para o meu pescoço, acariciando meus cabelos.- Vamos conversar.

 

Agradeci. Voltamos para a cozinha, sentindo o olhar de Laurel em mim. Oliver pegou Lucas e eu sorri, vendo a cena. Ele era realmente muito bom com crianças. Talvez quisesse um filho. Involuntariamente, apertei minha barriga.

 

Droga, agora não.

 

Esfreguei as mãos, tentando acompanhar a conversa.

— Se não acharmos logo…Então ligamos para o serviço social.- disse Quentin.- O que acha, Felicity?

 

Todos me encararam, principalmente Laurel, que me analisava.

 

Assenti.

— É…O melhor a ser feito.- disfarcei minha crise.

 

Quentin semicerrou os olhos, porém deu como finalizado o assunto.

 

Voltei a ficar com Lucas quando Oliver o entregou para mim, em um olhar significativo. Eu sabia que ele iria atrás de mais respostas, então disse um silencioso cuidado. O mesmo piscou e saiu, juntamente com as meninas, que me abraçaram. 

 Decidi levar Lucas para a varanda, mostrando os passarinhos que cantavam nos galhos secos da árvore em frente a casa.. Ele ainda não podia sair devido a ser novo demais e não ter tomado as vacinas, e eu jamais o colocaria em risco igual fiz com meu filho. Eu já nos imaginei assim, em uma casa de campo, brincando enquanto Ray terminava suas teses científicas e viria se juntar a nós, sorridente.

 

Tudo não passou de fantasia, claro.

O apertei mais contra mim e apontei para um pássaro do peito branco que continha um contorno preto em suas asas.

— Está vendo?- mostrei.- Eu não tenho ideia de qual espécie é, mas é muito bonita.

 

O bebê gargalhou e eu o acompanhei.

— Eu seria uma péssima mãe, né?- brinquei. Estiquei o dedo, acariciando sua bochecha quando o aperto firme de sua mãozinha o segurou.- Nossa, você é forte, hein rapazinho?

 

Meu braço arrepiou, e tive a estranha sensação de alguém nos observar. Olhei para trás e a rua estava deserta. Apenas o vento balançava as folhas dos arbustos e da árvore, com os passarinhos cantando.

 

Talvez eu estivesse louca.

 

Só poderia ser.

 

Decidi que seria mais seguro entrarmos.

 

***

Uma semana e nada novo havia acontecido.

 

Voltamos a atender normalmente na clínica, nos revisando para ficar com Lucas. O nome aparentemente havia pegado, e todos os cidadãos vinham ver o bebê.

 

“- Quem seria tão cruel para abandonar uma criaturinha dessas?”

 

“-Pobre bebê…

 E assim seguimos.

Eu estava dormindo na clínica agora devido ao nosso novo hóspede. Já havia me adaptado em dá-lo banho, comida, e até ajudar a aliviar suas cólicas. Às vezes durante a noite ficava vendo-o dormir, quieto, em um sono profundo.

Sabia que aquilo era errado.

Eu estava me apegando.

E quando ele fosse embora…

Geralmente ignorava essa parte, e continuava meu conto de fadas. Ele havia recebido muitas doações, então cada dia vestia algo diferente. Hoje, por exemplo, o coloquei em um macacão marrom e uma touquinha branca. Estava lindo.

— Quem é o neném mais bonito do mundo?- perguntei, fazendo cócegas. Lucas riu

— Ele parece gostar de você.

 

Meu sorriso sumiu pela chegada de Laurel a sala, que se sentou ao meu lado, o observando.

— Ele é uma gracinha mesmo.- sorriu.- Está comendo?

— Esse é o problema. Às vezes ele quer, outras não. Acredito que queira o peito da mãe.- suspirei cansada.

— Não há um adaptador que simula isso? Você poderia colocar em seu seio e fazê-lo comer.

 

Minhas costas ficaram tensas e eu permaneci petrificada. Amamentar, simular uma amamentação…Aquilo fora demais para mim.

 

Eu não conseguia.

 

Eu não iria superar.

 

Eu…

 

De repente, olhá-lo se tornou doloroso e eu o entreguei para Laurel, que me olhou confusa.

— Aonde você vai?

— Preciso de ar.

 

Falei pegando meu casaco do cabide, e sem olhá-la sai, indo para a rua. Eu precisava me acalmar, precisava.

 

Só de imaginá-lo apertando meu peito um choro sufocante me preenchia.

***

Voltei três horas depois.

Decidi ir até a pousada e tomar um banho relaxante. Quentin poderia brigar comigo e eu pouco me importava, mas naquele momento eu precisava de um tempo.

Ou iria explodir.

Ninguém entende a dor de perder um filho e um aborto, e olhar para a quantidade de coisas que comprou, imaginando como iria usa-las nele. Era difícil. Era enlouquecedor.

Ainda mais quando se lidava com o luto sozinha.

Eu me foquei no trabalho, tentando achar uma resposta desesperada para aquilo, mas não achei. Ray tentava me ajudar, mas eu não permitia, e em um tempo, quando tentamos fazer inseminação, houveram falhas. Minha vida se tornou um furacão desde aquele dia, e eu me apegava a coisas para não sentir minha dor. Mas às vezes… Às vezes não tem como. Ela vem em coisas cotidianas, simples. Digamos que você esteja sentado em uma mesa de café e pede um café expresso, no entanto, a situação por ser tão familiar a leva de volta a lembranças de pessoas queridas e você se vê ali.

Quebrado.

Com saudades.

Com raiva.

E fica terrivelmente difícil respirar.

Eu não sabia até quando teria essas crises de pânico, e me causava pânico saber que eu as tinha, mas eu estava aprendendo a conviver com elas. A dor não ia embora, mas podia ser amenizada.

Eu esperava por isso.

Estacionei meu carro e desci, caminhando até a porta, quando ouvi uma discussão. Mas quem…

Oliver?

Coloquei o ouvido sobre a brecha da porta.

“- Ela tem que ser demitida, pai.!- esbravejou Laurel.- Que tipo de profissional some por três horas?”

“- Você não sabe o que diz.- rebateu Oliver.”

Laurel riu.

“- Ela olha com repulsa pro bebê e simplesmente pirou quando eu sugeri que usássemos um daqueles adaptadores em seu peito para simular uma amamentação.”

“- Você o quê?- eu sentia o terror nas palavras de Oliver.”

“- Ela é uma incompetente. “

“- Felicity está sendo uma guerreira. Você não sabe o que ela passou. Ela está colocando a dor dela de lado para tentar apaziguar uma situação que ao meu ver, você só piora.”

“- Ela é uma péssima cuidadora de bebês. É por isso que não tem um.”

Abri a porta vendo as seis figuras que brigavam na sala. Oliver estava parado perto do cabide dos casacos, enquanto Laurel estava mais para perto do sofá. Do outro lado, Thea balançava Lucas e Sara e Tommy me olharam preocupados. Quentin estava no meio de Laurel e Oliver.

   Suspirei e pendurei meu casaco, parando ao lado de Oliver. Seu olhar era de puro choque.

— Lis…

— Obrigada por me defender, mas acredito que seja a minha hora de falar.- apertei seu ombro. Seu olhar se tornou hesitante.

— Tem certeza?

— Tenho.

Sorri de forma triste e me virei aos demais, que aguardavam uma resposta. Endireitei a postura, e olhei firmemente para Laurel.

— Peço desculpas por minha saída repentina.

— Se explique.- falou ácida.- Você simplesmente pirou. Por quê?

 

Minha garganta se fechou, e apertei as mãos.

 

Já estava na hora de contar.

Já estava na hora de contar.

A mão de Oliver tocando o meio de minhas costas me deu forças para continuar.

— Eu surtei com a ideia de amamentar porque…- meus olhos marejaram.- porque…

— Por que…?

— Porque eu já perdi um filho.

 

Silêncio.

 

Limpei as lágrimas que cairam e permaneci firme, encarando cada rosto. Laurel, de repente, gaguejou, enquanto Tommy, Thea e Sara me olhavam chocados. Quentin me observava com certa empatia e um misto de compreensão.

— Peça desculpas.- sua voz fora dura. Laurel franziu as sobrancelhas.- Eu não estou pedindo, filha.

 

Mesmo contrariada a mesma suspirou.

— Me desculpe. Eu não sabia.

— Ninguém sabia.- Olhei de esguelha para Oliver, que sorriu de canto.

— Fiquem com o bebê. Preciso conversar com Felicity.

 

Caminhei com certo receio até seu escritório. Quando fechei a porta e encarei seu rosto sério tive certeza de que seria demitida. Eu admiti que tinha dificuldade com crianças devido ao meu filho.

 

Não era capacitada para o cargo.

Ele iria me demitir, com certeza.

— Não vou demiti-la, Felicity. Agora pode se sentar?

— Sua delicadeza me encanta.- fingi graça devido a sua voz bruta.- E então?

 

Respirei fundo.

 

Quentin ajustou sua postura, se inclinando para frente. Seu olhar sério se tornou preocupado.

— Sinto muito por sua perda.

 

Ah, claro. Era isso. Ele queria se solidarizar.

— Não que isso mude alguma coisa. Sei melhor que ninguém o poder do luto.- continuou.- Palavras não mudam nada.

— Não. Não mudam.

— Como aconteceu?

— Sofri um aborto no penúltimo mês.- mordi os lábios, e balancei a cabeça, fechando os olhos.- Meu marido era médico. Eu sou médica.— falei desesperada.- Nada adiantou.

 

Observei sua sala, notando a fotografia atrás de si, onde estava abraçado com uma mulher. Laurel continha similaridades com ela. Devia ser Dinah.

— Como superou?- questionei.- A falta dela.

 

Quentin sorriu melancólico.

— Dinah foi a pessoa que eu mais amei na vida. Demorou um tempo até que eu aceitasse.- respirei fundo.- Não quero que cometa o mesmo erro que eu.

 

Arquei as sobrancelhas.

— No começo achei que não precisava de ajuda, que podia lidar com as coisas sozinho. Mas aprendi, com o tempo, que ter pessoas que nos amam ao nosso lado ajuda a cicatrizar alguns machucados. Não é um sinal de fraqueza pedir ajuda em seus momentos mais difíceis.

 

Quentin apertou minhas mãos, e eu chorei. Chorei em saber que essa cidadezinha estava me dando tantas pessoas boas.

— Obrigada.- agradeci.

— Aqui nos tratamos como família.- piscou, soltando nossas mãos.

— Acho que posso me acostumar com essa sua versão boazinha.- o provoquei. Quentin revirou os olhos.

— Saia daqui.- ordenou.- E se tiver problemas com o bebê é só falar.

 

O agradeci mais uma vez, saindo do escritório. Talvez Quentin tivesse razão, talvez falar fosse a melhor opção.

 

Ao menos uma coisa eu consegui desabafar.

 

Faltava a outra.

 

***

 

De certa forma, era libertador não carregar mais aquele peso sozinha. Quentin e Tommy estavam mais no meu pé do que o normal devido a Lucas. Perguntavam se podiam o alimentar, trocavam as roupas, e até mesmo tentavam não me deixar muito tempo sozinha. Achei fofo, mas expliquei que gostava de ficar com o bebê, e assim seguíamos os dias. Sem respostas.

Sem nada.

Apenas um bebê que ia ficando mais esperto em sua segunda semana de vida.

Quase não estava vendo Oliver. Quando fui ao bar, John me notificou que ele continuava em nossa missão, e claro que Diggle sabia. Me perguntou se eu ia realmente embora quando suspirei, e fiz que sim com a cabeça. Na realidade, eu ainda não sabia. Quando tomei a decisão estava com raiva, ódio, acreditando que ele havia mentido. Mas agora…A forma que ele havia me protegido dos comentários de Laurel…

 

Eu não sabia.

 

Não sabia de nada.

 

Decidi levar Lucas para passear na praça hoje. Quentin e Tommy falaram que não havia problema, então fomos. Estacionei meu carro perto do trailer de tia, e desci carregando a cadeirinha com Lucas dentro. As doações foram tantas que eu suspeitava já ter um enxoval completo. A Queen mais nova estava ali, entregando um café a uma senhora quando me viu, acenando freneticamente. A mesma desceu as pequenas escadas e foi em nossa direção.

— Oi.- retribui seu abraço.- Tem rosquinhas e um Latte?

— Para você sempre.- sorriu, observando o bebê.- Ele está comendo?

— Está. Mas não o quanto deveria.- suspirei cansada.

— Vão achar a mãe dele, tenho certeza.

 

Thea me puxou para dentro do Trailer, que apesar de pequeno, era bem organizado. Quando nossos cafés ficaram prontos, descemos e fomos para uma pequena mesinha de madeira escura, posta para as pessoas apreciarem suas delícias enquanto conversavam calmamente.

— Ele é muito fofo.

—É sim.- o observei na cadeirinha, olhando para o céu.- E calmo. A mãe dele é sortuda.

 

Um sorriso triste se formou em meus lábios. Thea percebeu e segurou minha mão.

— Sinto muito, Lis.- falou solidária.- Muito mesmo.

— Tudo bem. Eu não contei porque…

— Nos conhecemos há pouco tempo. Você se mudou de cidade e sua vida está um turbilhão. Eu entendo. Mas saiba que tem amigos que se importam muito com você.- meus olhos marejaram e disse um silencioso “obrigada.”

 

Ela era, certamente, uma das pessoas mais maravilhosas que eu conheci em Virgin River.

— Todos nós temos segredos.- seu olhar sempre vivo se tornou apático. Cinza.- Mas eles te consomem às vezes. É exaustivo.

 

Notei que ela não falava mais de mim.

 

O que será que Thea havia passado para deixá-la daquela forma?

— Eu tive uns problemas anos atrás, com drogas. Ah, eu tenho tanta vergonha de falar isso.- cobriu o rosto com as mãos.

 

Me levantei, indo abraçá-la. Caramba, eu jamais diria que Thea havia passado por isso.

Seu choro era baixo, mas eu sentia toda sua agonia.

 

— Oliver me ajudou muito nesse período difícil da minha vida. Ele voltou quebrado da guerra, mas juntou seus caquinhos e usou o tempo que deveria se curar para cuidar de mim.- mordeu os lábios.

— Seu irmão tem essa característica mesmo. Coloca a dor dos outros acima das dele.- e Oliver fazia isso com tanto empenho, às vezes de forma involuntária.- E ele a ama muito. Não se sinta culpada por ele ter cuidado de você. Oliver daria o mundo para te ver feliz.

 

Thea assentiu e se levantou, limpando o rosto e cruzando os braços.

— Ele ficou desesperado quando eu disse que você não estava bem por conta do bebê.- arquei as sobrancelhas.- Eu notei que você estava estranha e contei para ele. Não demorou um minuto e ele foi te ver. E, se pararmos para pensar em sua ausência na cidade ultimamente…Ele está te ajudando em algo.

 

Sorri e assenti.

— Típico do Oliver.- rimos juntas.- Eu sei que vocês não estão bem, e eu não conheço a sua história toda.- engoli em seco.- mas ele gosta muito de você, Felicity. E não mentiria por algo frívolo. 

 

Eu já sabia.

 

Só estava demorando para aceitar porque, o que eu começava a sentir por ele se tornaria perigoso no futuro. Era forte. Era intenso.

— Tenho que ir.- falei simplesmente, pegando Lucas.- Até mais, Thea.

— Até mais, Lis.

 

Ajeitei a cadeirinha, e voltamos para a clínica, onde passei a metade do dia pensativa.

 

Thea foi dependente de drogas.

 

Ela havia me contado algo muito pessoal e em nenhum momento parecia arrependida disso. Fiquei feliz em ver que ela estava bem, e que aquelas memórias faziam parte de um passado sombrio e distante.

 

Me perguntei onde Oliver estava.

 

***

Não havia tido notícias suas o dia inteiro, e sabia que não estava na cidade porque sua picape não estava em frente ao Queens. A noite logo caiu, e eu fiquei com Lucas na clínica. O silêncio das ruas, sendo interrompido pelo vento era calmante, e o neném parecia gostar daquilo tanto quanto eu. Me preparava para amamentá-lo quando ouvi a porta da frente sendo aberta.

 

Que estranho.

Quentin não…

Aí meu Deus.

Peguei uma faca e coloquei Lucas em seu bercinho atrás de mim. Não era Quentin, muito menos Tommy, e por julgar seus olhos arregalados e a arma, não estava aqui para brincadeira. Engoli em seco, erguendo a faca, o ameaçando.

— Para trás, Rory!- gritei, afoita.- Não quero machucar você.

 

Como se você pudesse.- uma voz maldosa cochichou.

 

Ele me ignorou, e deu um passo à frente. Encarei o revólver, sentindo meu peito acelerar. Dá ultima vez que havia visto um…

Abaixa a porra da arma. Agora!- minha voz era mais fria, e em uma confiança que eu me perguntava de onde havia vindo.- Se machucar o bebê, eu juro que acabo em uma delegacia, mas levo você pro hospital também!

Minha ameaça, comicamente, parece ter surtido efeito. Rory piscou os olhos, quando engoliu em seco e colocou a arma no chão, erguendo os braços.

— Eu não quero machucá-lo. Só…Só quero vê-lo.- sua voz estava embargada, e seu olhar ia para um ponto atrás de mim.- Por favor.- suplicou.

 

Foi quando eu entendi.

 

O dei passagem, ainda com a faca na mão. Rory tirou Lucas de seu bercinho em uma forma desengonçada, mas conseguiu alinhá-lo em seu colo. Eu via o brilho em seu olhar, o sorriso abobalhado ao acariciar sua cabeça.

 

Reconhecia um brilho paterno de longe.

 

Ainda mais em minha área.

 

Sorri, e cruzei os braços, observando os dois juntos. Seus cabelos eram parecidos, castanhos claros, mas o formato do rosto deveria ser de Evelyn.

— Por que mentiram quando perguntei quem era o pai?- seu olhar encontrou o meu.

— Slade.- foi tudo o que respondeu, voltando a encarar o bebê.- Se ele soubesse…- fechou os olhos, em extrema agonia.- Não era uma opção.

 

Assenti, compreensiva.

— Então o plano de vocês dois era esse? Abandoná-lo aqui?

 

Rory negou.

— Evelyn sumiu. Eu me matei de procurá-la, até que ouvi os boatos. “ Um bebê abandonado na porta da igreja.” Foi então que soube que era ele, e passei a rondar aqui, tentando ver se ela aparecia também para conhecer o meu filho.- sorriu novamente, o dando um beijo na testa.

— Ele é um homenzinho muito forte.- Rory sorriu.- Estou o chamando de Lucas, provisóriamente.

— É um bom nome.

Deixe que aproveitasse a companhia de seu filho, e liguei para Oliver. Não demorou muito e o ranger de uma picape ressou a frente. Rory arregalou os olhos, mas eu o tranquilizei. Oliver entrou a passos apressados, em sua postura de tenente. Sério, calculista, e frio. Seu olhar se suavizou ao me ver bem, e Rory com o bebê.

— Oliver estava procurando por Evelyn.- expliquei.- Sabiamos que era dela. Então resolvemos investigar.

— Tenho notícias. Parece que ela vai tentar pegar um ônibus na rodoviária de Eureka hoje à meia noite. Um delegado, amigo meu, me contou.

 

Rory deu um beijo demorado em Lucas, e o entregou para mim.

— Tenho que buscá-la.- tentou pegar o revólver do chão, mas Oliver pisou em cima.- Queen…

— Vou com você.- trocaram um olhar fatal, quando assentiram.- Felicity…

— Eu vou também.- me apressei em dizer.

— Lis…

— Ela está com depressão pós parto e tentando fugir. Podem apostar que eu entendo isso muito bem.- ri, sem humor.- Posso ajudá-la.

 

Oliver ponderou, quando assentiu.

— Vou ligar para Thea e avisar Quentin.

 

***

 

Estávamos na estrada havia um tempinho. Eu odiava as estradas de Virgin River por serem sinuosas e estreitas, especialmente em dias de chuva. Aquele era um trauma que eu ainda não havia superado. Mas voltando ao que eu estava dizendo, estávamos próximos de Eureka, com o relógio apertado. Tinhamos que achar Evelyn e impedi-la de ir embora.

  Rory fora na frente com Oliver, e eu fiquei atrás, observando os formatos escuros das árvores centenárias da região. A situação era tensa. Ninguém conversava, até que eu vi luzes, indicando nossa proximidade com a cidade portuária. A vegetação se misturou às casas, até que deixou de existir e deixar apenas aquela cidade pedra escorrer por nossos olhos. Eu via os barcos ao longe, e os iates amarrados no porto. Paramos devido ao farol, e encarei Rory, que batucava os dedos no painel, tenso.

— Vamos encontrá-la. Vai ficar tudo bem.- apertei seu ombro. Ele podia ter toda aquela postura marrenta e já ter se envolvido em muitas coisas, mas ainda era um garoto de 21 anos. Imaturo e, muitas vezes, frágil demais.

— Obrigada, Felicity.- agradeceu, virando o rosto para me observar.- Por tudo.

 

Oliver se dirigiu até a rodoviária, e quando estacionamos, vimos uma fila de pessoas em diversos pontos. Los Angeles, San Diego, Portland…

 

Onde está você, Evelyn?

 

Corremos de fila em fila, e quando estávamos nos dando por vencidos, notei uma garota que trajava um   casacão preto, apertando uma bolsa surrada. Seus cabelos estavam soltos, e quando me viu, correu, assustada.

— Everyn!

 

 Meu grito chamou a atenção de Oliver e Rory, que correram na mesma direção que eu. Pessoas nos observavam, curiosas e aflitas. Evelyn saiu da rodoviária, correndo entre os carros, os fazendo frear de forma brusca. Alguns motoristas xingaram quando passamos, mas os ignoramos. Ela era rápida e ágil, encontrando obstáculos para atrasar Oliver, que por ter treinamento militar, corria extremamente rápido. Chegamos perto da costa,um ponto mais fundo, pois o mar se encontrava mais agitado e não havia barcos ali. Ela cruzou a corrente da calçada, que delimitava o limite entre terra e mar e se segurou, encarando o mar, tão próximo de seus pés. Se ela se esticasse, cairia.

— Evelyn, você não sabe nadar. Por favor, saí daí!- pediu Rory, desesperado.- Meu amor. Por favor.

 

A mesma molhou os lábios e se virou, encarando as águas escuras.

— Pode ter outra forma.- Oliver tentou negociar, de forma suave.- Se você se jogar, podemos não encontrar você.

 

A ouvi rir.

— Acha que isso me assusta?- perguntou virada de costas.- É a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Morrer.

Rory ficou agitado ao meu lado.

— Eu te amo, Rory.- o olhou, com os olhos cheios d’agua.- Mas é obvio que eu não mereço viver. Abandonei nosso filho. Eu… Eu não mereço tê-lo. Não mereço ter você.- sua voz falhou.- Eu…Eu…

 

Dei um passo a frente, com cautela, ganhando sua atenção.

— Eu sei o que você está sentindo.

— Não. Não sabe. Ninguém sabe.

— É difícil respirar, né? E sua mente te mostra tantas sensações que fica difícil decidir qual sentir.- me aproximei um pouco mais.- Não é?

 

Evelyn assentiu.

— Como você…

— Eu perdi o meu filho, Evelyn. Sofri um aborto com oito meses. Já era um período considerado seguro para ele nascer, mas devido a complicações, ele nasceu morto.- seus olhos se arregalaram.- Eu passei dias em uma cama, sem comer, sem sentir…Nada.- minha mente voltou a aquele tempo tempestuoso, que eu tanto fugi.- Tudo o que eu queria era morrer.

 

O mar chicoteou atrás de si, a fazendo gritar. Dei mais um passo.

— Eu só queria que aquilo parasse. Aqui dentro.- levei o dedo indicador à cabeça.-  Que aqueles pensamentos fudidos parassem.- ignorei a ardição em meus olhos e a vontade de vomitar.- Eu não sabia quanto tempo eu ia aguentar.

 

Estava chegando perto, já quase alcançava a corrente.

— E então, teve um dia que eu decidi que não valia mais tentar. Eu queria esquecer a dor, queria esquecer meu casamento danificado, queria esquecer a sensação de pegá-lo morto em meus braços…Era como ter sofrido um blackout em mim mesma. Eu não reconhecia aquela figura destruída em frente ao espelho. Foi aí que…- minha voz falhou, e eu respirei com dificuldade.- Foi então que eu decidi me suicidar.

 

Contar aquilo em voz alta era de certa forma libertador e assustador.

 

Sentia os batimentos do meu coração acelerar, acelerar tanto que parecia que iria sair do meu peito.

— Eu estava pronta para me jogar da escada. Já havia tomado alguns comprimidos e quando estiquei meu pé…Caitlin e meu ex marido chegaram, me impedindo de cometer algo que eu me arrependo amargamente hoje.- toquei  a corrente, Evelyn permanecia estática, me encarando chorosa.- Sei que parece que não somos importantes para ninguém, e que estamos sozinhos, mas há pessoas que nos amam muito. Eles me ajudaram a me reerguer e acredito que Rory e o seu filho farão o mesmo.

Seu olhar encontrou o de Rory, e vi o pânico em seu rosto por mais um chicotear das ondas atrás de si. A ajudei a atravessar, e depois ser entregue a Rory, que a abraçou tanto que caíram no chão. Sorri, vendo os dois, quando o braço de Oliver me contornou, fazendo com que toda a angústia que eu sentia fosse embora. Respirei fundo, enterrando o rosto em seu peito. Apertando suas costas. Seu cheiro era muito bom.

— Você é muito forte, Lis.- beijou meu cabelo. Sua mão fora até minha nuca, a erguendo para que eu o olhasse.

 

Eu amava quando ele fazia aquilo.

— Estou feliz por ter contado.- sussurrei.- É bom.

— É sim.- sorriu, me dando um beijo na testa.- Vamos para casa.

 

***

 

Tentamos manter a notícia em segredo até que fosse seguro contar. Quando retornamos, Quentin fez todos os exames possíveis em Evelyn, que chorou ao amamentar o bebê pela primeira vez. Fora uma madrugada corrida, e Rory em nenhum momento os abandonou. Aceitou a ajuda de Oliver, para que Evelyn e Lucas fossem para um lugar seguro, onde ex agentes estavam. Ah, quase esqueci. Evelyn decidiu chamá-lo de Lucas mesmo, em homenagem ao meu filho. A ajudava a empacotar suas coisas, já que Diggle a tiraria da cidade. Encarei Lucas mais uma vez, o dando tchau.

— Obrigada, Felicity. Jamais vou esquecer o que você fez por nós.- me abraçou.

— Pode me agradecer contanto sobre o nosso menininho.- sorri, o dando um beijinho na testa.- Tchau pequeno.

 

Saíram pela porta dos fundos, nos últimos raios solares do dia. Arrumei a clínica com Tommy, e quando anoiteceu, me sentei na escadaria à frente. O mesmo se sentou ao meu lado, inspirando o cheiro do sereno que caia em nós.

— Regra número um dos médicos, nunca se apegue ao paciente.

— É.- sorri triste, abraçando os joelhos.- Já aconteceu com você?

 

Tommy assentiu.

— Eu era novato e me deram como paciente um senhorzinho abusado.- ri de seu comentário.- Ele era muito esperto e ranzinza, mas por alguma razão decidiu confiar em mim.- seu sorriso sumiu, e Tommy olhou para as montanhas, suspirando.- Em um exame de rotina, me distrai, e não toquei o ponto certo do abdome. Três dias depois ele morreu devido a um aneurisma na região.

 

Eu não sabia o que dizer.

 

Tommy suspirou novamente, e ajeitou seu jaleco, como se aquilo fosse fazer as memórias ruins irem embora. Se ergueu, firme, pensativo e sério.

— Se eu não estivesse tão concentrado em como eu queria que aquele senhor ficasse bem e que fossemos amigos, eu não teria me distraído, e não teria tido dificuldade para informar a família de seu falecimento.- engoliu em seco.- Com isso podemos aprender…

— Que nunca devemos nos apegar ao paciente.- sorrimos.

 

Tommy me ajudou a me levantar, e o barulho conhecido de uma picape apareceu. Oliver desceu trajando uma jaqueta marrom, e parou ao lado da porta. Tommy sorriu e nos deu boa noite, indo embora

— Posso te mostrar uma coisa?- perguntou ao cruzar os braços. apenas assenti.

 

Deixei meu carro na clínica e fomos. Oliver estava quieto, pensativo, o que me deixou ainda mais nervosa.

 

O que será que era?

 

Fizemos um caminho que eu me lembrava de já ter feito, não muito longe, até que...Não podia ser. Aquilo era mesmo…? Estacionamos. E eu desci do carro rapidamente, parando em frente ao chalé. Estava…

— Como..?- o encarei, sem reação. Oliver sorriu.

— Você ainda não viu nada.

 

A aparência por fora estava maravilhosa. As madeiras cuidados e brilhantes devido ao verniz, a pequena escada que dava a porta da frente concertada, e algumas cadeiras trançadas, com almofadas floridas em cima estavam postas pela varanda. Oliver abriu a porta, e meu queixo caiu mais uma vez.

 

Estava impecável.

 

Havia uma lareira feita de pedras brancas que ficava no meio, dividindo a casa em dois espaços. Do lado esquerdo, deveria ser a sala e o quarto, devido ao colchão. Já do outro lado, a terrível cozinha que uma vez me assombrou era brilhante, assim como cada pedacinho deste lugar. Fui um pouco mais ao fundo, notando uma porta depois da cozinha, que deu para um banheiro com uma jacuzzi já montada.

— Ainda não está mobilhada. Mas não se preocupe, compramos tudo. Só falta montar. -Oliver levou suas mãos ao bolso.

— Como?- questionei ao voltar para a sala.

— Não era justo você ficar na pousada para sempre, então convenci a prefeita a reformar aqui, já que estava no contrato.- deu de ombros.- Mobilizei algumas pessoas, e construímos aqui nos últimos meses.

 

Eu estava sem reação, e a sua postura humilde só me fazia querer beijá-lo mais. Ele havia feito tudo aquilo por mim, mesmo quando não tinhamos nada, mesmo estando brigados. 

— O que você quer com tudo isso, Oliver?- meu tom fora urgente, mas eu precisava saber. Precisava.

— Como?

— Você construiu uma casa só para que eu tivesse onde ficar.- gesticulei com os braços.- Qual a razão por detrás disso? O que você quer?— enfatizei.- E não diga nada. Todos querem alguma coisa.

 

Oliver retirou a mão dos bolsos e coçou a cabeça. Seu olhar era firme. 

— Sim. Eu quero.- sorri sarcástica. Eu sabia…- Quero sua confiança.

 

Me arrepiei pela seriedade e intensidade que seus olhos azuis, tão observadores, me passavam. Meu coração acelerou e eu permaneci parada.

— Quero sua confiança. Quero sua amizade, e se tiver sorte- sorriu desesperado.- quero ter a chance de ser seu.

 

Entreabri os lábios, sem conseguir formular frase alguma. Oliver assentiu, e se dirigiu até a porta, como se precisasse de ar.

— Te espero lá fora.

— Não.

 

Antes que eu pensasse, já havia dito, e segurava seu braço, para que não saísse. Ele estava apostando alto sem ter uma garantia, me querendo, mesmo sabendo o quão ferrada emocionalmente eu estava. Ele me acolheu. Construiu uma casa para mim.

 

E eu o queria tanto…

 

Pelo menos uma vez, eu faria algo que realmente queria. E inferno, eu estava desesperadamente querendo Oliver.  Todos esses dias eu o quis, só não tive coragem de assumir isso para mim mesma.

— Passe a noite comigo. Aqui.- minha voz fora aflita, baixa, em um súplico.- Fique comigo esta noite.

E ele ficou.


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Notas finais do capítulo

Não me matem, haha!

E aí? O que acharam? Comentem muitooo.

Beijos e até a próxima atualização.



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