O entremeio escrita por Lyn Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
introdução - espaços são magia




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introdução

espaços são magia

 

Não se engane, eles vão te falar muitas coisas sobre o fim da guerra, eu estive lá em quase todas elas. Haverá honrarias e bailes em celebração. Memoriais por aqueles que partiram, com longas cerimônias de luto transformadas em aplausos pela luta, nesse caso, do Trio de Ouro e da Ordem da Fênix. Eu agradeço pelos esforços. Apenas Morgana sabe o que seria de vocês se o Lorde das Trevas não houvesse caído. Eu senti os recursos e quantidade de pessoal esmorecendo ao longo da guerra, a fragilidade aumentando cada vez mais. Quase ninguém conseguia mais me acessar e, sem quem me habite, a minha própria existência é esquecida. Eventualmente, as coisas melhoram, mas é difícil me comunicar com novos pacientes. Em certa medida, eles precisam acreditar na possibilidade da cura, do espaço de lidar com o sofrimento, tanto quanto eu. A última tentativa de Riddle pelo poder é uma das muitas guerras que são parte da minha história, mas é a que torna mais evidente para mim como, a cada novo embate, as pessoas retornam do campo de batalha mais determinadas a agir como se nunca houvessem estado lá. Não importa o quão absurdo isso seja. Parece tarde demais. 

Alguns companheiros antigos concordam contigo. Garrick Olivander, por exemplo, comenta com a sua psicobruxa que parece haver algum feitiço secreto sendo sussurrado entre cada enterro, festa e memorial para que as cinzas queimem mais rápido e as sombras da vida deixem o horizonte e isso te faz perder o pouco sono que te resta. No fim do dia, a mensagem nos jornais não poderia ser mais evidente: a guerra acabou, haja de acordo, volte ao normal. Os jornais, sem exceção, adoram falar sobre o fim da batalha, mas parece que todos os olhos encontram assuntos mais interessantes quando alguém quer falar da guerra em si, sem heroísmos ou vinganças envolvidas. A realidade é que o mundo bruxo britânico acomodou-se relativamente rápido ao domínio do Lorde das Trevas e todos parecem correr para que ninguém se atente a esse fato. Nada mais certeiro do que se adaptar tão rápido quanto antes aos novos rumos das marés.

Para a maioria, falar da guerra não é falar da busca pelas Horcruxes de Voldemort ou de mágicas profecias. Não que os heróis aparentem gostar de narrar aquilo como uma aventura, mas nem mesmo a forma crítica e enfática com que Hermione Granger parece pedir para que lidem com o mundo será suficiente para contornar as narrativas. Eventualmente, ela também colocará um sorriso forçado no rosto e tentará “seguir com a vida”, escalando cada vez mais alto os cargos do Ministério. Eu sinto que, a cada dia que passa, a vista da bruxa mais brilhante da década torna-se mais nítida em relação aos meus portões, mas ainda é cedo. Eu me perguntarei muito sobre essas três figuras míticas no pós-guerra, ouvindo os sussurros nos corredores. Crianças tratadas como soldados convertidas em heróis, políticos e famosos. A minha sorte é que eu não trato de heróis, não só porque eles não existem, mas porque quando um deles bate na minha porta, há muito quase ninguém mais acredita que eles ainda são os leões dourados de outrora. Mas, um momento, por favor, pois essa história não é sobre eles, nem necessariamente sobre mim.

De todas as ironias nessa vida, na congelante Véspera de Natal após a Segunda Guerra Bruxa, uma nevasca mágica arruinou, basicamente, todo o transporte bruxo. Um sábio disse uma vez que a magia é uma mistura de intenção e acidente. Poderíamos falar que a mágica que circula no mundo é feita de destinadas coincidências. Eu sinto a magia no ar, ou melhor, eu sou a magia no ar, afinal, eu sou espaço, eu sou possibilidades de cura, eu sou a fonte de cura do Hospital St. Mungus. Quem me conhece, usa o nome Ala de Psicobruxaria do Hospital St. Mungus mas, apesar de não comemorar o Natal, eu não sou alheia à fantasia da estação. 

Dentro das paredes desse Hospital, então, eu sinto que é a hora deles. A minha hora, também, de certa forma. Depois de cruzarem as minhas portas, contudo, meus escolhidos só poderão sair quando seus núcleos mágicos estiverem mais fortalecidos e, para isso, precisarão passar por alguns desafios. Erev Abracadabra, feiticeire que deixou sua magia na terra que nutre o St. Mungus ao morrer, teve um caminho mágico pouco ortodoxo e aqui as regras do espaço-tempo são mais relativas, mas não se preocupem com a ladainha técnica. Antes da medibruxaria reinar, seres mágicos - inclusive feiticeiros -, sabiam se comunicar com os espaços para que a cura fosse construída em conjunto. Hoje em dia, feiticeiros andam por aí murmurando encantamentos, dependendo de varinhas para conduzir a magia. Podem ter a varinha do salgueiro mais potente, por exemplo, mas são completamente obtusos em uma conversa com a árvore em questão. Se, com a ascensão de Tom Riddle, os recursos para o meu departamento mais querido no St. Mungus praticamente acabaram, ter menos bruxos emitindo feitiços à toa ao meu redor fez com que eu voltasse a despertar, e me desesperar com como simplesmente o Mundo Bruxo parece determinado a seguir com a guerra fingindo que ela nunca aconteceu.

Existe uma bruxa que me lembra de Erev, que caminha pelos meus corredores com o punho tremendo em sua varinha constantemente. Ela está em busca de um irmão perdido. Ela precisa saber o que aconteceu com ele. Não saber consome lentamente a sua magia e é torturante assisti-la definhar. De quando em quando, ela se tranca em uma das muitas salas desocupadas desse Hospital e berra. Chora. Grita. Alguns feitiços depois, e uma bruxa relativamente tranquila está saindo pelas minhas portas. 

George Weasley, Pansy Parkinson e Astra Selwyn viveram três guerras que parecem absolutamente distintas, mas os seus três núcleos mágicos estão igualmente por um fio, e disso eu entendo bem. E, de fato, talvez eu esteja ultrapassando os limites éticos, mas eu sou um espaço mágico ciente, não esperem que as regras se apliquem a mim da mesma forma. Se alguém reclamar, eu apenas lamento: todos os seres mágicos deveriam ser educados sobre não cruzar paredes cheias de runas ativas sem lê-las antes, mas esses jovens de hoje em dia… a sua desatenção nunca foi tão bem-vinda.


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