Vínculos das almas escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 5
Instinto


Notas iniciais do capítulo

No oceano...

Uma lula testemunha...

A sereia decide...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808390/chapter/5

A jovem percebe que ele exibe surpresa em seu rosto enquanto os seus olhos azuis gelo olhavam atentamente para ela.

Então, após franzir a testa, o tritão responde:

— Você ia morrer se levasse o golpe. Eu ficaria somente ferido.

Mesmo ficando surpresa pela ação de proteção dele ter sido ocasionada por uma simples avaliação e não por nenhum dos motivos que ela imaginou, a princesa conseguiu manter o controle dos selos para ajudar na cura, mesmo que fosse de forma lenta enquanto confessava que nunca conheceu ninguém como ele, mesmo tendo visto centenas de pessoas.

Afinal, mesmo sendo um monstro, não fazia diferença ao ver dela porque a jovem acreditava que eles eram capazes de sentir os mesmos sentimentos dos humanos e para chegar a essa conclusão, tomou como base a corte e todos aqueles que presenciou no palácio e entorno.

Ele era teimoso, mas mantinha a sua sinceridade enquanto se apegava a sua gentileza.

De fato, o jiaoren tinha uma alma pura e a sensação que ela tinha de ser indigna de tocar a pele dele por julgar que era como tocar em um dos Deuses ou Buda era merecida.

Com essas conclusões, o lugar dele era no oceano. O tritão pertencia a aquele ambiente. O mundo que ela vinha não era digno dele. O único lugar digno era a imensidão do oceano.

— Obrigada.

— Disponha.

— A ferida ainda dói?

— Dói. Mas, está melhorando.

A franqueza dele era surpreendente a ela considerando a falsidade, traição e engodo que presenciava ou ouvia dentro das paredes do palácio e no entorno, fosse de nobres, funcionários, servos ou dignitário.

— Eu peço desculpas. A minha magia de cura não é muito boa e parece que esse ferimento é de difícil cicatrização.

— Está tudo bem.

Ela estava comovida pelo fato dele ter a perdoado seriamente conforme olhava para o rosto dele e tal ato a faz derramar mais lágrimas. Aquele demônio era único em tudo.

Mantendo a matriz de cura apenas com a mão esquerda, a princesa estende a mão direita de forma impulsiva, levando-a para a cabeça do jiaoren ao aproveitar o fato de que estava de pé em um rochedo atrás do tritão e que permitia se elevar um pouco sobre ele.

O príncipe observa curioso a mão dela cair em sua cabeça, para depois, começa a acariciar os fios, descendo do topo ao longo dos seus cabelos prateados, para depois, repetir o movimento algumas vezes, com ela ficando fascinada ao sentir que os fios prateados eram macios e sedosos ao toque.. Os jiaorens eram mesmo demônios incríveis e dignos de serem lendários, além de belíssimos.

Conforme acariciava os fios prateados, um sorriso gentil brota em seus lábios e mesmo entretida nessa tarefa, a princesa não se descuidava da cura.

— O que significa afagar a cabeça de alguém? – O tritão pergunta com visível curiosidade em seu semblante.

A jovem não pôde deixar de pensar o quanto ele parecia fofo em muitos momentos como naquele instante e que foi ocasionado por uma pergunta inesperada:

— Esse é um gesto mágico especial que pode fazer as pessoas que foram feridas se sentirem melhor. É como uma cura.

— Humanos podem curar com um toque? – O príncipe do oceano pergunta exibindo estupefação em seu semblante porque não havia lido ou ouvido falar dessa habilidade dos humanos.

Era surpreendente para ele, para dizer o mínimo, fazendo-o questionar o que mais foi mantido em segredo sobre os humanos, embora soubesse que o conhecimento deles era limitado e que os demônios em terra deviam conhecer melhor.

— Mas, ainda não estou bem.

— Você vai ficar bem, não se preocupe.

— De fato, é um feitiço realmente longo. Eu não sabia que a sua raça tinha essa habilidade. – Ele responde exibindo surpresa em seu semblante.

A princesa não consegue deixar de sorrir novamente. Além de lindo, era fofo. A inocência dele era adorável.

Após algum tempo, o ferimento é curado e prontamente, o tritão a pega pelos ombros e a traz para frente, fazendo-a sentar no rochedo novamente, levando em seguida a mão até o rosto dela, a afagando enquanto a jovem sentia tremores prazerosos com o toque do jiaoren em sua pele.

— Obrigado. As minhas costas já estão curadas. O toque funcionou também. Demorou, mas, funcionou.

Ela o achou mais fofo por ter acreditado em virtude da sua inocência até que se recorda do motivo dele ter se ferido em primeiro lugar.

— Me desculpe. Foi culpa minha.

O tritão fica chocado e pergunta enquanto arqueava o cenho:

— Como assim, sua culpa? Fui eu que a trouxe. Eu sabia o que podia acontecer se o meu pai descobrisse.

— Mas...

— Sem mas...

Então, ela seca as lágrimas com os braços e fala ao vê-lo olhar tristemente para trás:

— Você deve estar triste. É verdade que você usou a sua cauda para bater no seu pai?

Ele suspira tristemente e fala, virando para frente e olhando para um ponto qualquer:

— Sim. Dar caudada em alguém é um ato ofensivo. É pior do que golpear com o punho. O que eu fiz foi inadmissível. Mas, não sei o que deu em mim. Quando vi que ele ia matá-la, eu bloqueei o ataque e o golpeei movido pela fúria enquanto que a minha fuga foi por desespero por saber que não poderia bater de frente com o meu pai portando aquele cedro. Dar um golpe com a cauda somente é aceitável e reconhecido como consequência de uma provocação se for para proteger uma companheira.

O príncipe herdeiro responde de forma honesta enquanto tentava compreender porque agiu daquela forma.

Afinal, adorava o seu pai e nunca pensou, nem em seus sonhos mais loucos, que iria golpeá-lo usando a cauda porque somente costumavam usar a cauda em seus momentos de fúria e naquele momento, conforme se lembrava dos acontecimentos, se recordou de que ficou furioso.

Além disso, a visão dela morta o aterrorizou de uma forma que o desconcertou embora o motivo inicial do bloqueio dele foi motivado para impedir a morte da fêmea humana, com o príncipe não pensando mais profundamente sobre isso. Somente agora, ele estava refletindo os seus atos, tentando compreender as suas ações.

Chang Yi se surpreende quando é abraçado pela jovem e tem a cabeça dele apoiada sobre o ombro delicado da garota, sentindo o cheiro da fêmea humana enquanto a princesa o afagava gentilmente nas costas curadas.

Ele fica tenso inicialmente, para depois, relaxar com o toque gentil e o conforto que ela oferecia e lentamente, a abraça, apreciando a sensação do corpo dela com o dele, com ele começando a se inebriar com o cheiro único da Mestra de demônios.

Instintivamente, o tritão abaixa ainda mais a cabeça no ombro da jovem, fazendo-o apreciar o toque enquanto aspirava profundamente o cheiro da princesa, com eles ficando por algum tempo assim ao mesmo tempo em que o príncipe não percebia que os seus olhos haviam escurecido e que um leve instinto de possessividade começava a emanar dele.

Próximo do casal, uma lula que estava usando camuflagem, observava atentamente a cena, não perdendo o olhar do seu príncipe escurecendo, assim como tudo o que falaram e os atos entre ambos. A interação entre eles a surpreendeu. A sereia nunca imaginou que um membro do clã dos tubarões que governava o oceano iria se envolver com um humano e passaria a desenvolver sentimentos possessivos.

Então, ela o vê aproximar os lábios em direção a orelha da jovem, fazendo a lula arregalar os olhos, não acreditando no que o seu príncipe estava prestes a fazer porque era surreal demais.

No local, como se percebesse enfim que os seus instintos estavam desejando tomar conta dele ao mesmo tempo em que o seu tubarão branco interior se agitava, Chang Yi desperta e abaixa os lábios, ficando estupefato ao perceber o que havia desejado fazer.

Então, o príncipe se afasta, surpreendendo a jovem que olha para ele e ao notar que os olhos dele estavam na cor azul escuro como as profundezas do oceano, ela sente um leve tremor surgir nela, não sabendo se era de medo ou de prazer, fazendo-a se surpreender com os seus pensamentos.

— O que aconteceu com os seus olhos? Eles escureceram.

A princesa o observa arregalando os olhos, para depois, fechá-los ao mesmo tempo em que virava de costas para ela enquanto a jovem percebia que a cauda do tritão parecia se agitar, batendo levemente na água ao ponto de provocar pequenas ondulações no entorno.

— Você está bem, peixe de cauda grande?

Após alguns minutos, o jiaoren inspira profundamente e se vira, com a jovem percebendo que os olhos dele voltaram a cor usual.

Então, a mestra de demônios se recorda de como o chamou e cora enquanto fala:

— Desculpe eu chamar você de peixe de cauda grande. Mas, não sei o seu nome. Como você se chama?

Ela nota que ele a observa atentamente, como se estivesse refletindo sobre a sua pergunta, fazendo-a arquear o cenho, para depois, responder:

— Chang Yi. Qual o seu nome?

— Eu me chamo A-ji.

— O seu nome tem uma boa sonoridade e é interessante. – Ele responde de forma sincera, arrancando um sorriso da garota.

Então, a Mestra de demônios se recorda da demora dele em responder e pergunta:

— Por que você demorou para responder?

— Por que nós só falamos o nosso nome para familiares ou pessoas que consideramos próximas de nós. Por isso, eu demorei para responder.

A-Ji confessava que estava surpresa por eles terem essa visão sobre falar o nome a terceiros.

Próximo do local, a mesma lula de antes havia ficado aliviada ao ver que o príncipe recobrou o controle sobre os seus instintos, para depois, ficar surpresa ao ver que ele falou o nome dele para ela.

Suspirando, a sereia decide se afastar para encontrar o rei.

Afinal, pelo que soube de outras sereias antes de vir ao coral preferido dela, o monarca estava preocupado pelo seu filho e temia o que podia acontecer com ele.

Inicialmente, o boato dele ter dado uma caudada no seu pai parecia surreal para ela, mas, ao ouvir o príncipe confirmando isso ao contar o que ocorreu, a fez ficar embasbacada ao mesmo tempo que passou a compreender o que motivou as atitudes dele.

Ademais, a sereia confessava que ficou surpresa ao ver os gestos da humana e também o ato dela de ajudar na cura enquanto o afagava.

Como qualquer jiaoren, a lula sabia os quão mentirosos e manipuladores os humanos podiam ser e que os Mestres de demônios herdavam essa habilidade por serem humanos também, com a diferença deles terem poderes por causa do pulso oculto.

Mas, conforme olhava a interação entre eles, a demônia não conseguia ver a fêmea humana como manipuladora. Os seus atos e fala pareciam sinceros. Os seus olhos demonstravam isso.

Decidindo que não cabia a ela pensar sobre isso, ela decide se afastar para avisar o imperador e ao avistar outra sereia, um golfinho aparentemente jovem que passava pelo local, ela fica aliviada.

A lula estende os tentáculos e inicialmente, alarma a outra demônia ao detê-la, fazendo-a começar a lutar contra o aprisionamento, para depois, falar com a voz turva e baixa:

— Eu quero pedir um favor em nome do imperador.

A que foi detida para de lutar e se aproxima após ser solta, confessando que havia ficado aliviada ao descobrir que era da mesma espécie dela e que por isso, não havia o risco de virar comida:

— O que deseja?

— Avise ao imperador que o príncipe está no recife de coral de Anya.

— Ok. Eu vou avisar.

Nisso, ela parte velozmente dali, mantendo a sua forma verdadeira enquanto a lula suspirava, voltando a se arrastar silenciosamente até o local, usando a sua camuflagem para observar o casal.

No local, a humana pergunta:

— Você é um príncipe?

— Sim. Sou o príncipe herdeiro das tribos do oceano.

— Então, devo chamá-lo de alteza. Me desculpe por apelidar o senhor de peixe de cauda grande. É que eu não sabia o seu nome e a sua cauda é grande.

O príncipe suspira e se lembra de como era no palácio ou quando precisava lidar com algum súdito. Era sempre referido como alteza e havia um tratamento respeitoso. No palácio era pior.

Conforme se recordava do apelido da humana, decidiu que apreciava e por isso, fala:

— Prefiro que me chame de peixe de cauda grande. Eu gosto. Todos me chamam de alteza. É cansativo. Por isso, eu não fico no palácio.

— Eu entendo... quer dizer, eu imagino. Eu também odiaria ficar em um lugar sendo tratada com distanciamento. – Ela se corrige porque sabia como ele se sentia.

Afinal, a princesa também detestava e achava cansativo o distanciamento de todos.

— Então, vou chamar você pelo apelido. – A jovem sorri brilhantemente para ele, fazendo-o sorrir também.

— Você disse que não pertencia a nenhum local onde ficavam confinados os mestres de demônios apesar de ser uma mestra de demônios e que nesses locais há concentração de Mestres de demônios. Você também citou sobre um veneno.

Ao longe, a sereia engasgou pela revelação porque não imaginava que ele estava conversando com um Mestre de demônios.

Claro, o tritão poderia retirar a magia que a impedia de se afogar e sentir a pressão no entorno, fazendo com que a humana não fosse uma ameaça desde que ficassem no oceano.

Mesmo assim, era perigoso e ao se recordar de como o príncipe estava envolvido, chegando ao ponto de surgir instintos em relação a jovem, ela sente o seu sangue gelar.

Na sua visão, era muito perigoso esse relacionamento e a demônia passa a temer pelo príncipe enquanto orava ao Deus do Abismo para que a sereia do clã dos golfinhos conseguisse achar o rei.

A-Ji suspira, para depois, falar:

— Há cem anos atrás, surgiu um demônio poderoso apelidado de Fênix de Jade ou imortal Luan, cujo nome verdadeiro era Qing Yu. Segundo o que estudamos, ela estava perturbando a paz do mundo. Então, Wuchang Shengzhe, Ning Ruochu, um poderoso mestre de demônios, atraiu a fênix para o Vale demoníaco e com outros nove Mestres de demônios poderosos e de renome mundial, lutaram contra ela por dez dias e no final, com o sangue dos dez mestres de demônios eles realizaram uma Formação de dez quadrados e a selaram com as suas vidas. Isso foi chamado de Rebelião Qing Yu. Depois disso, decidiram que nenhum outro monstro poderia ser livre no mundo, fazendo assim com que passassem a tratar todos os monstros de forma igual, seja matando-os ou os escravizando ao domá-los. Quer dizer, usaram como desculpa um acontecimento para passarem a agirem com crueldade em prol de justificar todos os seus atos desprezíveis, tornando-os bastardos cruéis – ela fala enquanto torcia os punhos sendo visível a sua fúria sincera pela resolução dos Mestres de demônios no passado, com a lula não perdendo essa reação, fazendo-a ficar surpresa - Em seguida, os bastardos construíram o Vale demoníaco para comemorar o sacrifício dos dez mestres de demônios e aderiram às dez formações quadradas para evitar que a Fênix de Jade escapasse. Ademais, esse selo age como uma gaiola imensa, prendendo qualquer demônio que entre nesse local enquanto enfraquece os poderes demoníacos deles. Então, como se fosse uma reviravolta irônica ou o karma ocasionado pela arrogância e crueldade dos Mestres de demônios em seu julgamento injusto sobre todos os monstros e as suas práticas de escravizá-los, o Grande Mestre de demônios que mora no complexo do palácio e que era superior a todos eles, desenvolveu um veneno que chamou de Frost que age como uma maldição. Através dessa maldição, ele passou a controlar os mestres de demônios ao escravizá-los, os sujeitando a servirem a família real, fazendo com que o local que antes era motivo de orgulho para eles, fosse uma ferramenta de controle da corte imperial ao limitá-los. Posteriormente, a família real decidiu que deveria reduzir ainda mais o poder e a influência dos Mestres de demônios ao construir mais três lugares. O Terraço demoníaco no Norte, a Montanha demoníaca no Oeste e a ilha demoníaca no Leste, dividindo assim o poder deles. No passado, a Ilha demoníaca do Leste, como disse anteriormente, foi destruída. Nessa ilha havia um demônio dragão poderoso chamado por todos de Dragão de Safira, que estava selado ali nos mesmos moldes da Fênix de Jade e com a destruição da ilha, esse dragão conseguiu se libertar. Na Montanha demoníaca no Oeste se encontra selado uma nekomata e um corcel negro infernal que é o fogo infernal condensado da ilha Leihuo e cujas chamas pode queimar qualquer coisa nesse mundo. Na Plataforma demoníaca do Norte tem um tigre branco das neves selado, chamado por todos de Tigre de Diamante. Foi usado o mesmo selo da nekomata e do corcel porque não havia Mestres de demônios poderosos o suficiente para fazer o mesmo selo do imortal Luan e como consequências, eles precisam reforçar o selo a cada dois anos. O melhor selo para esse tigre seria a formação de dez quadrados porque ele está no mesmo nível de poder da Fênix e do Dragão.. Ademais, sempre que encontram crianças com a habilidade de controlar monstros e usar magia, eles são enviados para um desses três lugares remanescentes ao mesmo tempo em que os separam dos seus pais para que o tribunal cuide deles, conseguindo moldá-los da forma que desejarem. Claro que se encontram crianças com um poder considerável, elas são enviadas para a seita do Grão Mestre de demônios que fica na capital do Reino de Dacheng e que é adjacente a Mansão Daguoshi.

— Entendi. Então, foi assim que a família real conseguiu dominar os mestres de demônios.

— Sim. Mas é como eu disse. É karma. Ademais, se não existisse mais lugares para treinar Mestres de demônios e senão houvesse o ato de arrancar as crianças das suas famílias, o mundo seria um lugar bem melhor.

Ele fica surpreso e pergunta:

— Você sempre teve essa visão?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vínculos das almas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.