Vínculos das almas escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 4
Fundo do mar


Notas iniciais do capítulo

Chang Yi decide...

A princesa fica...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808390/chapter/4

O imperador das tribos do oceano fica horrorizado ao ver o seu filho se jogar de costas na frente da humana, a protegendo do ataque ao usar o seu corpo como escudo, fazendo com que ficasse gravemente ferido.

Aproveitando o estupor do pai e movido pelo desejo de se afastar em segurança com a humana, ele faz o impensável e o golpeia com a sua cauda.

Por estar atordoado por ferir o seu filho e pelo ato inesperado, o imperador acaba sendo arremessado para trás pela força do golpe enquanto o mais jovem fazia as barbatanas em forma de lótus florescerem e a ponta da sua cauda também ao mesmo tempo em que as escamas reluziam intensamente.

Ele foge como um raio para fora da água onde a tormenta havia cessado e ao romper a superfície, ele passa a voar no céu.

A princesa consegue ar para os seus pulmões e após tomar algumas golfadas de ar, ela fica estupefata ao ver que estavam voando. A jovem confessava que nunca imaginou que demônios com cauda possuíam um jeito próprio de se locomover fora do seu ambiente, sem saber que ele podia usar pernas quando desejasse.

A mestra de demônios reparou que o brilho nas escamas ficou ainda mais atraente e sobre a incidência do sol, as escamas ganharam um aspecto ainda mais reluzente enquanto a brisa soprava por eles ao mesmo tempo em que a cauda continuava flutuando com leveza e majestade no ar rarefeito como se estivesse na água.

A jovem se encontrava fascinada ao ponto de não se importar de estar nos braços frios dele em contraste com a pele quente dela. A seu ver, o tritão era chocantemente lindo e questionava se era algo próprio da espécie dele segundo o que falavam os pergaminhos sobre a beleza transcedental dos jiaoren.

Tomada pela beleza a sua frente, a humana se permite levar a ponta dos dedos a bochecha dele, a tocando levemente.

Conforme fazia isso, a princesa tinha a estranha sensação que estava sendo desrespeitosa porque surgiu a impressão nela de estar tocando o rosto de alguma divindade ou até mesmo de Buda e frente a este pensamento inusitado, ela retira rapidamente a mão.

Por algum motivo, ela podia sentir que a alma desse jiaoren era muito pura e conforme refletia sobre isso, percebeu que era verdade porque essa sensação não a abandonou em nenhum momento.

A princesa se recorda de que somente leu sobre monstros semelhantes a fadas em livros e pergaminhos ilustrados cujo conteúdo era considerado meramente uma fantasia porque pelo consenso comum, não havia como um demônio ser uma fada no campo da pureza de alma conforme o que era propagada pelo conhecimento comum por mais notório que fosse a existência de monstros piedosos para com os humanos enquanto que para os mestres de demônios, todos os demônios eram malignos e não havia monstros bons, justificando assim o extermino e a escravização deles sem qualquer exceção ou análise.

Mas, ao olhar para ele e conforme interagia com o tritão, a princesa passou a acreditar piamente que não era fantasia e sim, a verdade. Pelo menos, em relação ao jiaoren a sua frente.

Afinal, após conviver na corte e presenciar absurdos e injustiças, além de interagir com várias pessoas embora raramente interagisse com monstros, a jovem podia falar com convicção que a alma desse demônio era pura como se fosse de uma fada.

A princesa sai dos seus pensamentos erguendo os olhos e ao fazer isso, a jovem vê que o rosto dele estava erguido, olhando com determinação para frente e conforme percebia que ele havia usado magia para ela ficar protegida da rajada de vento pelo voo dele, a princesa resolve fazer uma pergunta boba ao ver a altura em que voavam, ignorando o fato de que havia criado um apelido para ele por se sentir à vontade:

— Eu gostaria de saber, peixe de cauda grande. Se eu usar a minha magia e molhar a sua cauda, você poderá voar ainda mais alto. Talvez, até o céu? – Ela pergunta enquanto sorria.

Era apenas uma pergunta sem importância e dita como uma brincadeira.

Portanto, não esperava obter qualquer resposta dele.

Porém, ao ver de relance o rosto do tritão, a mestra de demônios percebeu que ele parecia estar pensando seriamente na sua pergunta, fazendo-a ficar boquiaberta.

Então, o príncipe herdeiro responde:

— Sim. Eu posso voar mais alto. Eu consegui voar graças a umidade. Mas, vou ter que mergulhar daqui a pouco porque não estou conseguindo reter apropriadamente a umidade restante na minha cauda porque hoje o ar está muito seco.

Ainda em choque, ela gerenciava o fato de que ele respondeu de forma séria a uma pergunta feita em forma de diversão e conforme se recuperava, achava o tritão cada vez mais fofo, fazendo com que um sorriso brotasse em seu rosto.

Conforme desciam em direção a superfície do mar, a princesa se preparava para o impacto com o oceano enquanto orava para que o jiaoren se lembrasse de que um humano não sobreviveria a uma entrada tão abrupta.

Então, a jovem ouve ele murmurar algo na língua dele ao mesmo tempo em que sentia um toque suave em seu rosto.

Após vários minutos de terrível expectativa, a jovem abre um olho e depois o outro, para depois, olhar surpresa para onde eles estavam, percebendo que o tritão havia protegido ela da entrada abrupta na superfície do mar.

Após submergirem a uma profundidade considerável, o príncipe herdeiro a fez sentar em outro rochedo, com a diferença que agora eles estavam cercados de belíssimos recifes repletos de corais, com vários peixes nadando no entorno e dentre os diversos corais, fazendo-a sorrir imensamente enquanto percebia que o jiaoren havia conjurado o feitiço novamente para ela respirar e falar embaixo da água, além de não sentir a pressão em torno dela.

Ao erguer os olhos, percebe que pouca luz conseguia chegar até onde estava, indicando que ela estava no fundo do oceano. A jovem também se recorda de que não estava sentindo a pressão marinha porque ele também trabalhou nisso, deixando-a a aliviada ao ver que o tritão não esqueceu da fraqueza dela por ser uma humana.

Afinal, esse era o ambiente dele e não o dela.

A princesa se esquece de comentar sobre o que ocorreu antes ao ficar fascinada pela beleza a sua volta que a fez sorrir imensamente, esquecendo por alguns instantes o que ia perguntar enquanto olhava para as várias espécies marinhas e o belo coral que se estendia pelo rochedo subaquático. Peixes de várias cores e formatos, estrelas do mar, caramujo eremita e outras espécies nadavam ou andavam tranquilamente pelo local e ela podia jurar que viu uma lula escondida dentre a areia fina do recife de coral.

Chang Yi olhava atentamente para a humana e confessava que o sorriso dela era lindo enquanto que o rosto era jovial ao mesmo tempo em que os olhos pareciam brilhar com a beleza no entorno deles, fazendo-o perceber que a felicidade da jovem era sincera.

Ele confessava que nunca imaginou que ficaria tanto tempo com uma humana e que chegaria ao ponto de conversar com uma. A jovem era fascinante e confessava que os humanos pareciam interessantes. Quando ia questionar o que havia aprendido sobre eles, se lembra do que a mestra de demônios disse sobre a mentira.

Embora a fêmea humana a sua frente não mentisse, ela havia falado que era uma prática comum da sua raça, confirmando o que ele aprendeu.

Portanto, o que falavam da raça dela, no quesito de não serem confiáveis, tinha um fundo de verdade. O perigo oriundo dos mestres de demônios era real.

Porém, aquela humana que tinha um pulso oculto não parecia uma ameaça e fez ele se questionar se ela era mesmo uma Mestre de demônios.

Aproveitando o fato dela estar distraída, com o leve riso da jovem aquecendo o seu coração, o príncipe herdeiro pergunta:

— Você é mesmo uma Mestra de demônios?

— Sim. Mas, não sou de nenhum dos três lugares restantes onde os Mestres demoníacos ficam concentrados e também não tenho a maldição no meu corpo. Pelo menos, é o que eu acho. Antes eram quatro, mas, um deles foi destruído há quase dois mil anos, atrás.

— Qual maldição?

— Se o Mestre de demônios se ausentar da área que está confinado sem prévia autorização do Mestre do local, o veneno em seu corpo irá matá-lo em um mês, a menos que tome o antídoto quando está fora da área designada. Esse veneno é como uma maldição que permite o pleno controle sobre os mestres de demônio.

Conforme olhava para a jovem, o jiaoren passa a analisar as reações, gestos e palavras dela. Ela era uma Mestra de demônio e não demonstrou asco ou raiva por ele. Não obstante, o tratava normalmente e até com fascínio.

Era surpreendente para o tritão, o fato da fêmea humana na sua frente não ter agido conforme o que ele esperava de um Mestre de demônio. A visão dela sobre demônios também era distinta, considerando o que era sabido sobre aqueles que conseguiam matar e escravizar a sua raça.

O príncipe herdeiro também confessou que ficou surpreso com a existência de um veneno em forma de maldição dentre os Mestres demoníacos para que a família real os controlasse e pergunta:

— Quem criou e colocou essa maldição? Foi alguém da família real, certo?

— Não. O criador dessa maldição é o Grande Mestre de demônios, Ning Qing. Ele criou essa maldição e a colocou em todos, obrigando os Mestres do Vale, da Montanha e da Plataforma a colocarem em seus subordinados, quando não colocavam nas crianças antes de enviar para a plataforma, o vale ou a montanha após identificar o pulso oculto nelas. É uma forma da família real controlar e subjugar os Mestres de demônios junto do confinamento em áreas pré-definidas. Com o tempo, isso os enfraqueceu, fazendo ter poucos Mestres de demônios realmente poderosos. O selamento da Fênix de Jade e de outros demônios poderosos levou ao sacrifício de poderosos Mestres de demônios junto do fato do Grande mestre de demônios pegar os mais poderosos e levar para a sua seita após detectar o poder do pulso oculto. Tem casos raríssimos que o pulso oculto não revela seu verdadeiro potencial na infância e somente depois, revela o seu verdadeiro poder. Por isso, é encontrado um ou outro Mestre de demônio poderoso fora da seite do Grão mestre de demônios. Isso também ocorre quando eles nascem da relação entre Mestres de demônios como dois dos meus quatro amigos, com eles sendo os meus únicos amigos. Dois deles são poderosos, mas, conseguiram conter as suas verdadeiras habilidades ao contar com a sorte do seu poder real só ter sido despertado quando eram mais velhos e não quando eram crianças. O pai deles ainda julga que o poder de ambos é baixo.

O sorriso de Chang Yi cai um pouco do seu rosto ao ouvir sobre os machos humanos ao mesmo tempo em que a sua cauda se remexia levemente de frustração, provocando pequenas ondulações na água no entorno dela e que passaram despercebidos para a humana.

Afinal, ele não apreciava a ideia de machos, mesmo de outra raça, próximos dela.

O jiaoren fecha os olhos e inspira profundamente, conseguindo aplacar a possessividade que o tomou, para depois, abri-los, percebendo que ela demonstrou interesse em alguns peixes coloridos ao longe.

Sorrindo, o príncipe herdeiro usa a sua influência e magia, fazendo os peixes se aproximarem e rodearem a jovem, arrancando mais risos dela que os toca gentilmente, fazendo com que o coração de Chang Yi se aquecesse cada vez mais enquanto sorria.

Então, ele se recorda dos seus atos de instantes antes quando as suas costas ardem, fazendo-o levar uma das mãos as suas costas, sabendo que a água em volta dele já estava agindo como uma cura para os seus ferimentos.

Afinal, não importava o tipo do ferimento. Se a pele deles fosse umedecida, o ferimento começava a cicatrizar, com o príncipe sabendo que não cicatrizou por completo ainda porque foi feito com o cedro dos mares.

O nobre também era ciente de como ela era humana, o seu genitor usou apenas uma pequenina parte do poder cedro. Para um corpo humano, uma ínfima parte do cedro era mais do que o suficiente para desintegrar o corpo. Não é à toa que era um cedro temido mesmo em terra.

Afinal, o objeto ancestral mágico e antigo incorporava todo o poder do oceano, se tornando o símbolo do imperador do oceano, podendo ser usado somente por aquele que fosse eleito o imperador das tribos dos mares quando o imperador anterior passasse o cedro ao novo imperador.

Após acariciar os peixes, a princesa se lembra do que ia perguntar e ao erguer os olhos, vê as feições tristes do jiaoren que exibia um olhar pensativo e ao presenciar isso, sente o seu coração se restringir.

Por algum motivo, mesmo só tendo conhecido o tritão há algumas horas, ela se importava com ele. Na verdade, a princesa se sentia feliz perto dele, além da sua presença fazer o seu coração bater acelerado enquanto sentia borboletas em seu estômago, fazendo-a questionar se isso era o que chamavam de amor à primeira vista e se de fato, eles estavam unidos pelo fio vermelho do destino.

Afinal, o encontro deles pode ter sido predestinado porque ela tinha ouvido falar que quando era predestinado a alguém, não importava a distância ou o tempo, o fio vermelho do destino sempre os guiaria e os uniria. Ao ter esse pensamento, a jovem se sente feliz, mas, ao ver o semblante dele, esse sentimento se desfaz.

Então, a princesa pergunta em tom de confirmação ao se recordar do que aconteceu ao mesmo tempo em que a jovem não viu a caudada que ele deu no genitor, assim como não viu que o cedro foi apontado para ela porque naquele instante estava lutando por oxigênio.

— Por que está triste? O que aconteceu? E como escapamos daquele jiaoren? Ele era o seu pai?

Após suspirar, ele fala, ainda cabisbaixo:

— Ele era o meu pai. Assim que avistou você, o meu genitor se preparou para atacá-la com o cedro, mas, eu bloqueei e depois, aproveitando que ele estava chocado pelo meu ato, eu dei uma caudada nele e em seguida, nós fugimos.

Ela fica estupefata e tomada pelo desespero, a jovem vai para trás dele, o surpreendendo.

Ao ver o ferimento nas costas sem escamas, lágrimas surgem em seus olhos e a princesa ergue a mão para tocar, recuando em seguida por temer machucá-lo se tocasse porque eram feridas assustadoras que a deixaram desesperada.

As costas dele estava com feridas abertas e era possível ver a carne e até alguns ossos da espinha que estava exposta. O sangue parecia ter sido drenado dos ferimentos, evitando assim que sujasse a água no entorno, com a jovem percebendo que as bordas pareciam ter sido queimadas.

A princesa estava com uma das mãos na boca enquanto os seus olhos estavam marejados e quando se lembrou que ele ainda teve forças para golpear o seu genitor e voar com ela para se afastarem o máximo possível, não pode deixar de ficar impressionada.

Porém, quando sai dos seus pensamentos e se depara com as costas dele que estavam em farrapos embora fosse visível o fato de que parecia melhor, ela respira profundamente e faz selos com as mãos para tentar curá-lo, com a jovem ficando aliviada ao ver que a sua matriz de cura fazia algum efeito embora fosse um processo demasiadamente lento enquanto os seus olhos se encontravam embargados pelas lágrimas silenciosas que ela derrubava.

Enquanto fazia isso, a princesa questionou a si mesmo o motivo do jiaoren ficar na frente de um golpe destes e golpear em seguida o pai.

Afinal, era visível pela dor nos olhos dele que ele amava o genitor. Fazer algo assim por um estranha que conheceu a pouco tempo a deixou estupefata, fazendo-a pensar em alguns motivos para o ato inusitado dele apesar de todos os motivos não serem suficientes para uma atitude dessas, mesmo que fosse por ter salvo ela das ondas mortíferas e por não desejar que os seus esforços fossem em vão.

O tritão sente o cheiro de lágrimas com os seus sentidos aguçados e percebe os olhos lacrimosos e horrorizados dela enquanto olhava para as costas dele e ao ver as lágrimas da jovem, ele se sente mal.

Em seguida, o príncipe herdeiro percebeu que a humana estava usando o pulso oculto para ajudar na cura e fica sem palavras enquanto ficava surpreso por não ter sentido ela usando magia nele, percebendo naquele instante que a jovem poderia tê-lo atacado pelas costas, fazendo com que não conseguisse bloquear e como consequência, poderia subjugá-lo aproveitando as feridas nas costas.

O ato dela o deixou surpreso e não pode deixar de sorrir levemente, embora o sorriso caísse ao ver os olhos lacrimosos e o sincero desespero da fêmea humana ao ver o estado em que ele se encontrava.

Então, a princesa o surpreende novamente ao perguntar com uma voz chorosa:

— Por que você recebeu esse golpe tão brutal?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vínculos das almas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.