Vínculos das almas escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 3
Conversas


Notas iniciais do capítulo

No fundo do oceano, o príncipe herdeiro das tribos dos mares e uma princesa...

O jiaoren fica...



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Após falar, a jovem questionava a si mesmo se ele compreendia a linguagem humana e enquanto pensava em como fazer o demônio a sua frente compreender as suas palavras, ele a surpreende com um barítono profundo:

— Tudo bem. É a primeira vez que eu vejo um humano de perto também.

O tritão vê a humana ficar surpresa e confessa que os atos dela pareciam fofos.

Ademais, a garota tinha uma aparência delicada, mas, ele sentia que ela tinha poder e conforme se recordou de quando a pegou, o tritão percebeu que a jovem tinha pulso oculto, o que o fez ficar alarmado ao se lembrar das advertências do seu genitor sobre o perigo dos mestres demoníacos.

O jiaoren confessava que conforme a levava para longe da superfície visando fazê-la escapar da fúria do oceano, para depois, levá-la de volta à terra após a tempestade provocada por mágica cessar, ele sentiu receio até se lembrar que estava no oceano e que o seu poder era ampliado, tornando-o mais poderoso.

Então, com este pensamento confortante, Chang Yi se acalmou ao perceber que não havia como ela ser uma ameaça.

Além disso, se tentasse qualquer coisa contra ele ou o seu povo, bastava cancelar a magia que lançou nela para ela respirar e falar embaixo da água, além de ajudá-la a lidar com a pressão aquática.

Afinal, por mais poderoso que um mestre de demônio fosse, ele ainda era humano e tinha as fraquezas humanas. A jovem simplesmente se afogaria, ainda mais estando tão longe da superfície.

Então, o príncipe herdeiro se lembra da temperatura da humana quando a abraçou para puxá-la para as profundezas visando salvá-la da superfície tempestuosa. Ela era quente em contraste a ele que tinha uma temperatura fria, fazendo-o arregalar os olhos novamente porque não sabia que os humanos eram quentes em comparação a sua espécie.

Ele sai dos seus pensamentos com a pergunta tímida dela que continha um tom respeitoso:

— Como eu estou respirando embaixo d´água? O senhor usou magia, né?

Após se refazer das atitudes sinceras da humana até aquele instante pelo que pôde detectar e que eram diferentes do que o príncipe esperava considerando o que havia sido ensinado sobre aquela raça, o tritão responde:

— Sim. Quando toquei o seu rosto conferi essa habilidade através da minha magia. Você não vai se afogar e nem sentirá a pressão em volta de você.

O jiaoren percebe que a jovem cora novamente enquanto tocava o lado do rosto que ele tocou ao mesmo tempo em que a sua audição apurada ouviu novamente os batimentos cardíacos acelerados dela que o fizeram arquear o cenho porque somente em uma situação o tritão ouvia isso e era quando tinha relações casuais.

Afinal, eles tinham a liberdade nas relações casuais que eram comuns, mas, a sua espécie só podia engravidar aqueles que eram predestinados após confirmar o vínculo entre eles através dos costumes da sua espécie porque somente podia haver um companheiro para a vida inteira e caso morresse, o jiaoren ficaria viúvo para sempre.

O casamento entre eles consistia em um marcar ao outro na orelha como símbolo do seu compromisso eterno, com ambos podendo ver um ao outro onde quer que estejam enquanto passam a serem observados pelo Deus do abismo. Somente após essa marca era possível surgirem crianças. O problema era a baixa natalidade porque a concepção era rara.

Portanto, apesar de serem os mais poderosos dentre os demônios, a sua população não crescia muito.

Então, ele sai dos seus pensamentos com a voz gentil da jovem:

— Muito obrigada por me salvar e por cantar para mim. É como dizem as lendas. As vozes de vocês têm propriedades mágicas. O senhor usou magia enquanto cantava, certo?

A princesa pergunta enquanto se sentia incomodada por chamá-lo de senhor.

Claro, ela o chamava por respeito e por gratidão, mas, por algum motivo, parecia destoar demasiadamente do que ele era e quando os seus olhos traidores tornam a observar o tórax talhado de músculos, passando a descer para o abdômen definido, a jovem fica imersa em contemplação e não pôde deixar de comentar:

— O senhor tem uma ótima forma física. É bem forte. Todos os tritões são assim?

— Sim. É apenas trabalho duro. As nossas caudas também são musculosas.

A jovem não pode deixar de sorrir ao ouvir a resposta honesta e séria.

Ao perceber o quanto estava sendo desrespeitosa, a princesa afasta o olhar enquanto censurava a si mesma, com o rubor voltando com força total, fazendo-a amaldiçoar a si mesma ao mesmo tempo em que tentava arranjar uma desculpa para o seu comportamento desprezível.

A única desculpa que surgia é que ele era lindo e magnifico, tanto no corpo quanto com a cauda, além do rosto que era belo apesar dessa palavra não fazer jus a beleza transcedental do tritão enquanto que o seu físico era imponente e ao olhar para a cauda poderosa e linda, tentava imaginar como os jiaorens tinham relações carnais.

Então, ao perceber para onde os seus pensamentos indevidos e igualmente desrespeitosos, além de indecentes estavam indo, ela fecha os olhos com força e amaldiçoa a sua mente por ousar ter pensamentos impróprios ao mesmo tempo em que tentava suprimir o rubor intenso em suas bochechas.

Chang Yi olhava com diversão e curiosidade em seus olhos as reações da humana que era notoriamente fofa, com tais reações o fascinando. Ele não sabia que os humanos podiam ser fascinantes e que uma mestra de demônio podia ter tais reações.

Ao mesmo tempo, o príncipe tinha uma sensação de que a conhecia de algum lugar, desconhecendo o fato de que era o mesmo para a humana a sua frente.

— Sim. Eu usei magia porque vi o seu estado alterado. Eu queria acalmá-la.

Ela ergue os olhos e olha timidamente para o príncipe, pigarreando um pouco para recuperar a compostura enquanto evitava pensar na beleza inalcançável a sua frente ao mesmo tempo em que controlava arduamente qualquer pensamento indecente.

— Muito obrigada. Vocês jiaoren são incríveis. Eu tenho uma curiosidade. É verdade que as suas lágrimas se tornam belas pérolas prateadas?

Ele reflete por alguns minutos e depois, fala:

— Lamento, mas, não quero dar muitas informações sobre a minha espécie, ainda mais para uma mestra de demônios. Eu pude sentir o seu pulso oculto.

Ela fica chateada e depois, cabisbaixa enquanto falava:

— Eu vou entender se estiver sentindo raiva ou me odiar. Vocês demônios odeiam os Mestres de demônios e vice-versa. Eu entendo e acho justo. Os mestres de demônios são perversos e cruéis. Mesmo que no início não seja cruel, com o tempo acaba apreciando o poder sobre os demônios, passando a matar e escravizar indiscriminadamente porque usam a desculpa patética que os demônios vão atacar sempre que tiverem uma oportunidade, além de enganar e tramar contra os humanos e por isso, é necessário atacar, contê-los ou escravizá-los antes que possam nos prejudicar, justificando assim os atos mesmo contra aqueles que não fizeram nada ou que ajudaram os humanos. De protetores dos humanos contra demônios cruéis, eles se tornaram perversos e cruéis contra qualquer demônio, não fazendo qualquer distinção entre bons ou ruins, além de se afastarem dos outros humanos, passando a pensar na glória e poder. No final, acabaram subjugados e dominados à força pelo Grão-mestre de demônio que serve a família real da capital. Agora, só lhes resta o orgulho ridículo e surreal que usam com pompa pífia enquanto foram transformados em reles escravos da família real. Eu acho um karma bem merecido.

Ele fica surpreso quando ouvia sobre o que ocorria na superfície e com as palavras dela porque a jovem demonstrava desprazer ao citar os Mestres demoníacos, mesmo ela sendo um deles. O príncipe herdeiro confessava que nunca esperaria algo assim e depois, fala:

— Como eu sei que você não é uma ameaça para mim enquanto estou no oceano, não estou preocupado. Ademais, você depende da minha magia para sobreviver. Quanto ao que disse, eu estou surpreso.

Ela olha atentamente para ele, notando a sinceridade em suas palavras. Era uma sinceridade simples e citando um fato verídico. O jiaoren era estranhamente sincero e objetivo nas suas palavras, fazendo-a questionar se era comum à espécie dele.

Então, a princesa sorri e fala:

— Eu também estou surpresa por ter sido salva. Eu não esperava encontrar um demônio bom como você na imensidão desse oceano – a jovem falava procurando ocultar que era uma princesa ao mesmo tempo em que questionava se ele não havia percebido a sua ascendência real pelas roupas que vestia.

Quando pensa em sua família é tomada por um sentimento de tristeza porque se lembra de como era o seu ambiente familiar.

O jiaoren nota a tristeza dela e pergunta:

— Por que está triste?

Nisso, ela sente o dedo frio dele em seu rosto, recolhendo uma lágrima dela, fazendo-a corar.

— É só uma lembrança triste fugaz – ela responde enquanto o príncipe não conseguia detectar a mentira porque foi, de fato, lembranças fugazes – Mas, saindo desse tópico, sobre o que falam dos demônios, eu acho injusto.

Ela resolve não contar por achar que era um assunto íntimo e também para não despertar pena do tritão.

Chang Yi demonstra surpresa com o que a jovem disse e pergunta:

— Por quê? Afinal, é uma humana, além de ser uma mestra de demônios.

— Há humanos cruéis, bons e aqueles que são indiferentes, assim como os demônios. Por que os demônios precisam ser caçados, mortos e escravizados por isso, se há aqueles que são bons ou que não se importam? Por que eles precisam sofrer desse jeito quando há humanos malignos que fazem atos cruéis e que ficam impunes? Eu acho muito mais condenável um humano fazer algo de ruim contra outro de sua raça do que um monstro fazer algo ruim com um humano. Afinal, são raças diferentes. No quesito morte humana em quantidade, há serial Killers que matam várias pessoas e muitos acabam impunes. Os humanos matam, roubam, estupram e destroem seres vivos e podem destruir uma cidade. Por que apenas os demônios têm que ser caçados? E porque caçar indiscriminadamente não importando se é bom ou ruim? Ambos recebem o mesmo tratamento enquanto os Mestres de demônios e muitos humanos se orgulham de passarem a falsa imagem de serem virtuosos e de estarem acima dos demônios. É muita arrogância e injustiça. Quanto aos monstros nos atacarem, considerando o que fazemos com eles, estão apenas se defendendo. Pelo menos, na maioria das vezes. É o que eu acredito e o senhor é a prova das minhas palavras. O senhor é um demônio e salvou a minha vida. Eu serei eternamente grata pelo seu ato.

Ele fica estupefato, assimilando o que ela falava de forma enfática e com determinação em seus olhos, demonstrando a sua sinceridade e após alguns minutos, fala:

— Eu percebi que você não mentiu até agora, mesmo sendo uma humana. Enquanto a sua raça pratica o engodo, nós, jiaoren, nunca mentimos.

A princesa fica surpresa com a sinceridade visível nos belos olhos e face do tritão que demonstrava forte determinação, fazendo-a ficar fascinada.

— Vocês nunca mentem? Mesmo que seja apenas uma mentira inocente para ajudar alguém?

Mantendo a mesma expressão firme e sem titubear, ele fala:

— Não há mentiras inocentes e nem aquelas sobre a alusão de serem feitas de boa-fé ou para ajudar alguém. Essas são apenas desculpas patéticas para se auto enganar a fim de justificar o ato desprezível de mentir.

Ela confessava que se surpreendia cada vez mais com o demônio a sua frente e questionava se era próprio da raça dele ter tais pensamentos, assim como forte aversão ao ato de mentir.

— Bem, olhando por esse ângulo... – ela fica pensativa por alguns segundos - É que nós, humanos, não vemos dessa forma. Mas, você tem o seu ponto.

— É sabido que os humanos mentem e enganam. Por isso, não são confiáveis. – Ele falava conforme se recordava do que lhe foi ensinado.

— Bem, não mentimos o tempo todo. Pelo menos, a maioria, eu acho. Quanto a mentir, usamos várias justificativas para fazer isso. Não vemos como algo ruim desde que a intenção tenha sido boa. Saiba que não o condeno por ter tal olhar e concepção sobre nós porque por melhor que tenha sido a intenção que levou alguém a mentir, não deixa de ser um engodo no final.

— Devo falar que estou surpreso por não ter mentido para mim desde que a trouxe para o fundo do oceano. Eu esperava ouvir várias mentiras da sua boca.

Suprimindo o fato dela ter ocultado que era da família real e que por isso, não contava como mentira, ela pigarreia e pergunta:

— Qual é o seu...?

Porém, não tem tempo para terminar a sua pergunta porque é cortada com a visão de um jiaoren mais velho e que demonstrava a mais pura fúria em seus olhos enquanto segurava um cedro dourado imponente com uma joia azul cravejada no centro da ponta do cedro. Era visível a cólera em seus olhos enquanto que pelo canto dos olhos, ela observa que o mais jovem havia se encolhido levemente ao mesmo tempo em que olhava atentamente para aquele que havia chegado e que exibia um semblante assustadoramente colérico.

Conforme a jovem olhava para ambos, ela percebeu que havia traços do recém-chegado no rosto do seu salvador, fazendo-a pensar se ele era o pai dele ao mesmo tempo em que ficava surpresa por ser capaz de raciocinar enquanto era enquadrada pelos olhos coléricos do mais velho.

— Como você ousa trazer uma humana aqui? O que eu disse sobre essa raça? O que você tem na cabeça? Por que deu a magia para ela respirar e sobreviver a pressão do mar?

Conforme a olhava, o rei disfarçava a sua surpresa por achá-la estranhamente familiar a outra pessoa que viu há décadas, atrás.

Claro que o rei havia jogado esse pensamento para escanteio ao ver a situação na sua frente.

Afinal, ele precisava proteger o seu filho.

— Pai, eu...

— Está na hora de corrigir o erro! – O soberano das tribos do oceano ergue a mão na direção dela e a jovem sente que não consegue mais respirar enquanto o rei erguia o seu cajado e apontava para ela, exclamando furioso ao mesmo tempo em que concentrava poder mágico no objeto – Desapareça!


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