Eu sabia que aquilo que nós estávamos fazendo era errado, mas eu também não podia fazer nada. O som dentro do carro era ensurdecedor. O Jonan aumentou ainda mais o volume quando começou tocar aquela música Freak do Silverchair. Ele era louco por aquela música, e parecia que ficava ainda mais quando começava a escutá-la. Olhei para o banco de trás e ví a Cloe rindo, só que ela parecia estar com medo. O Jack e a Curt então nem se fala! Já estavam passando dos limites.

_ Ô gente! respeito aqui né??? Parem com esse agarramento agora!_ A Cloe gritou, só que não adiantou muito.

_ Ah amor, não esquenta não... deixa eles!_ Jonan falou olhando muito meigo pra mim_ Ô cara, vou encostar alí e vc desce e pega umas latinhas lá atrás, falô?

_ Nossa! pensei q a gente ia passar à seco a noite toda. _ Jack riu.

Jonan apenas olhou com um sorriso tímido para Jack pelo retrovisor. Depois olhou pra mim. Eu virei os olhos e ele voltou a olhar para a estrada, emburrado. Ele sabia q eu detestava esse tipo de comportamento dele; quando ele estava dirigindo e queria beber.

_Jonan, não é perigoso parar o carro no acostamento numa hora dessas?? _ Cloe perguntou

_ Nah... nem dá nada! É rapidão.

O carro encostou e Jack desceu. Pegou as latinhas e distribuiu uma para cada um. Eu não quis beber mais uma. O Jonan ligou o carro, só q ele não pegou. Era tudo q faltava para estragar aquela noite que já estava sendo "uma beleza".

_ Ich... deixa q eu vejo.

O Jack abriu o capô do carro e foi ver se achava o problema. A Cloe e a Curtney ficaram lá dentro conversando. Vez ou outra elas riam escandalosamente. Eu desci, encostei no carro e cruzei os braços. Fazia um pouco de frio. Eu ví o Jonan vindo para perto de mim. Ele jogou a lata vazia e me abraçou por trás.

_ Eu te amo, sabia?

_ Jonan, por favor, não bebe mais. É perigoso e..._ Ele nem deixou eu terminar de falar e me beijou. Eu adorava o beijo dele, adorava quando ele me abraçava daquele jeito. O Jonan era o cara com quem eu ia me casar um dia. A gente vivia jurando isso um pro outro. Por ele, a gente já estaria até morando junto, mas eu sabia que nós ainda éramos muito novos, e querer se casar naquele momento só ia dar rolo com nossos pais. Nós estávamos juntos a quase três anos; faltava um mês pra completar três anos de namoro. Os três anos mais felizes da minha vida, apesar de eu ter apenas quatorze anos. Ele parou de me beijar e segurou meu rosto entre suas mãos.

_ Daqui a um mês é nosso aniversário... e vc vai ter uma surpresa..._ Ele olhou para mim com uma carinha de apaixonado... Eu amava aquela carinha que ele fazia.

_ É? O q é??_ Eu estava curiosa... Ele vivia falando nessa tal surpresa.

_ Surpresa!!...Pro meu amorzinho.

_ Prontinho!_ Jack gritou fechando o capô do carro.

_ 'Bora então!_ Ele me deu mais um selinho e entramos no carro. Eu bem ví q ele tinha bebido mais três latinhas lá fora, antes da gente entrar no carro de novo. Mas essas eu não pude impedir. Jack deu mais uma pra ele, só que quando ele ia pegar eu arranquei da mão dele, já brava.

_ JONAN!! PELO AMOR DE DEUS!! VC JÁ ESTÁ BÊBADO!!

Cloe e Curt estavam meio que abraçadas lá trás. Olhei para elas com medo e ví q elas também estavam.

_ Chris, pára!!!!_ Ele berrou comigo e Jack deu outra latinha pra ele. Que ódio que eu fiquei. Joguei aquela na estrada. Ele bebeu acho q meia latinha e devolveu ela pro Jack. Ele então olhou pra mim e viu que eu estava chorando.

_ Hey... desculpe. _ Falou mansinho, querendo tocar meu rosto, só que eu não deixei, batendo estupidamente na mão dele.

_ VC ESTÁ BÊBADO JONAN! EU ODEIO QUANDO VC FAZ ISSO!_ Eu gesticulava bastante com as mãos, estava nervosa. Foi só a gente começar a brigar que as meninas lá atrás começaram a chorar mais alto. O Jonan parecia bem descontrolado agora. Ele ficava sempre assim quando a gente brigava, e agora, ainda mais por causa da bebida. Ele desviou o carro bruscamente de um ônibus e ainda deu tempo para ele olhar pra mim e gritar:

_ VIU O Q VC FEZ?

Não deu nem tempo dele pensar ou de eu responder. Depois de desviar do ônibus, nosso carro bateu de frente com um caminhão.

Eu me lembro que acordei, estava no meio fio, toda molhada por causa da chuva q tinha começado a cair e eu nem vi. Olhei paro chão e vi que estava deitada em uma poça de sangue, completamente molhada por ele. Minha cabeça rodava, eu estava. Me levantei e fui cambaleando até o carro. Abri a porta do banco de trás e vi Cloe e Curt. Elas estavam todas arrebentadas. Comecei sentindo uma coisa estranha, ali, olhando para minhas melhores amigas naquele estado, e eu não podia fazer nada. Aquela noite estava muito escura mas dava para ver o sangue que escorria do assoalho do carro e caía no asfalto. Meu coração começou a acelerar e eu sentia-me uma inútil. Pensei em Jonan, só que a porta do meu lado estava tão amassada que não abria. Então deduzi que eu havia sido jogada pelo vidro da frente do carro, coloquei a mão na testa e senti o sangue quente que brotava de um corte na cabeça. Rapidamente dei a volta correndo por trás do carro e dei de cara com o Jack, todo estraçalhado no chão. Eu me assustei tanto quando o vi daquele jeito que gritei e quase corri pra trás, paro meio da estrada, sei lá o q eu queria fazer naquela hora. Na verdade eu sei... eu só queria ver o Jonan. Tomei coragem e fui até a porta do lado do Jonan. O vidro estava todo trincado e não dava para eu ver como as coisas estavam lá dentro. A porta abriu e eu vi ele com a cabeça no volante e as mãos largadas no banco. Minha voz saiu rouca, eu tinha perdido a voz quase que completamente, mas ainda sim chamei por ele. Eu levantei a cabeça dele devagar e pude ver que tinha muito sangue no colo dele; na verdade; ele tinha eu ferro enfiado na barriga. Eu ainda lembro que ele olhou pra mim e tentou balbuciar alguma coisa... Eu fiquei louca nessa hora. Depois ele sorriu tão serenamente e fechou os olhos. Ele estava morto. Todo mundo estava morto e naquela hora, eu já não acreditava em mais nada. Aí eu perdi o controle totalmente e comecei a gritar abraçada a ele. Lembro q veio alguém que me puxava pela cintura, mas eu estava segurando o Jonan tão forte que rasguei até a manga da camisa dele.

_ Muito bem... acalme-se... isso... vc está indo bem... agora abra os olhos bem devagar...

Christinne abriu os olhos e viu a mãe e a tia na sala. Carol saiu logo dali com Marrie, porque ela chorava muito.

_ Isso.. acalme-se._ A médica falava mansinho, mas firme, ela sorria também. Christinne não agüentou e chorou. Chorou bastante mesmo.

_ Tudo bem, tudo bem se quiser chorar; contanto q desabafe; faz bem..._ Ela acariciava uma das mãos de Christinne.

_ Marrie, Marrie. Não fale um bobagem dessas!! Essas sessões de regressão têm ajudado muito a Chis nesses anos! Vc não pode nem pensar em desistir disso agora!

_ Mas olha o estado q ela fica Carol! Não pode ser! Eu fico tão nervosa cada vez que tenho que acompanhá-la em mais uma dessas sessões... Sabe, desde quando ela começou com a regressão que é assim. Ela já tem 19 anos, mas parece que nada mudou!

_ Eu sei, eu sei, mas vc tem que pensar nos resultados. Isso faz com q a culpa q ela sente diminua, e é nisso q vc tem q pensar! E mesmo que já tenha se passado tanto tempo depois do acidente, vc tem q entender Marrie... ela ainda sofre!

_ Vc está certa, eu sei... Ah Carol... desculpe te azucrinar com as mesmas coisas de sempre. Vc sempre me acompanha nas sessões e eu sempre falo as mesmas coisas, vc percebeu?_ Marrie já estava bem melhor e até sorriu.

_ Hahahaha, coisas de mãe. Não se preocupe, tudo vai melhorar! Ainda mais agora q vc mudou pra cá. Sabe, vc vai adorar a Filadélfia!

Meia hora depois Christinne saiu do consultório. Não tinha cara nem de feliz nem de triste. Estava meio q com expressão nenhuma em seu rosto.

_ Tudo bem filha?? Podemos ir?

_ Sim, vamos._ Sorriu um pouquinho. As três saíram até em frente à clínica. Era um lindo dia. Carol estava abrindo a porta do carro e Marrie estava parada ao lado. Christinne foi na frente esperar no carro.

_ E as meninas Carol?

_ Nossa... estão enormes! Vc viu aquele dia... lembra, quando vc chegou?? Devem estar lá em casa numa hora dessas. _ Carol olhou no relógio.

_ É, minhas sobrinhas cresceram!

_ Bom, deixa eu ir q ainda tenho q passar no supermercado. Ahhh... ando tão cansada de trabalhar Marrie... _ suspirou

_ Nem me fale.

_ E quando o trabalho não é reconhecido, é pior ainda _ Carol completou

_ Por falar em trabalhar Carol, está quase tudo certo aquele negócio lá da empresa. Faltam ainda alguns detalhes, mas provavelmente vai dar tudo certo, graças à Deus!

_ Sério??_ Carol sorriu largamente._ Ahhh não vejo a hora!... Mas por outro lado, vai ser uma guerra lá em casa..._ Ela mordeu os lábios, receosa com o que estava por vir.

_ Será Carol?? _ ficou pensativa._ Elas são boas meninas, vão entender._ Falou só pra aliviar a tenção de Carol.

Minutos depois, se despediram e partiram para suas respectivas casas.

....

_ Sam, atende a porta pra mim!

_ OK!_ Ela correu atender_ Oi mãe.

_Oi. _Disse beijando Samantha. _ Seu pai já chegou?

_ Já, está tomando banho. Deixa q eu ajudo com o pacote._ Ela pegou um dos três.

_ Cadê a Susan?_ Foi entrando e apoiando um dos pacotes na mesa. Ela estava um pouco desajeitada e por isso um pacote de iogurte caiu e se arrebentou no chão.

_ Merda!!

_ Ahhh... eca!! Deixa q eu limpo mãe. A Susan está fazendo o jantar.

_ Hummm, eu estô com uma fome!!_ Sentindo o cheirinho de comida no ar._ Ahh, e tão cansada! Carol sentou-se em uma cadeira e ficou olhando a meleca de iogurte no chão.

_ Então vai tomar um banho q eu me viro aqui com o chão e com as compras.

Carol sorriu para Sam, levantou, deu um beijinho nela e subiu. Sam levou os pacotes para a cozinha.

_ Cadê a mãe?

_ Nossa! Tá o estresse em pessoa.

_ Coitada..._ Ela lamentou.

_ Vc vai assim??_ Susan a olhou de cima à baixo.

_ Ai Susan, é só um cinema!

_ Tá, tá, tá. Não precisa estressar. Que horas ele disse q te pegava?

_ Daqui a pouco. _ Ela disse enquanto terminava de guardar as compras_ Vou limpar a sala. A mãe derrubou um litro de iogurte._ disse fazendo cara feia.

Samantha foi limpar a meleca de iogurte na sala. Quando estava no meio do serviço a campainha tocou.

_ Já?_ Samantha falou baixinho e foi atender a porta.

_ Oi Sam!

Ela o beijou na boca e o abraçou forte.

_ Entra Steve. Já estou quase pronta.

Samantha voltou para a cozinha para deixar o pano melecado de iogurte na pia.

_ Era ele? _ Susan perguntou enquanto lavava a louça.

_ Craaaro!

_ Hehehe... Sam 'xonadinha...

_ Ahhh, mas o q eu posso fazer se ele é uma gracinha?

_ Hummm_ Susan mostrou a língua_ Metida!

_ Bom, chega disso. Estamos atrasados.

_ Nossa, não esquenta! O carro super possante do Steve leva vcs em um segundo!

_ Sua boba! _ As duas riram pq o Steve não tinha lá um carro muito novo...hehehe_ Diz pra mãe q eu já fui.

_ Ta, bom cinema pra vocês!

_ Obrigada, tchau!

...

_ Ahhh, q banho maravilhoso!_ disse indo dar um beijo em Susan. _ Ô filha, 'tadinha... se preocupando com o jantar...

_ Humm, o cheirinho está ótimo!_ James foi olhar o q ela fazia. Abriu o forno rapidinho._ Panquecas!!! Eu adoro panquecas!

_ É.. eu sei._ Ela sorriu.

_ Cadê a Samantha?_ Carol disse, sentando-se em uma cadeira.

_ Já foi. Ela saiu com o Steve.

_ Ahh tá. Nossa James, eu estive com a Marrie hoje, fui acompanhar mais uma sessão da Chris.

_ Ela ainda está muito mal mãe??

_ É... digamos que na mesma. Tenho muito pena dela. Dela e da Marrie.

_ Nossa, faz tanto tempo já... _ Susan lembrava da noite do acidente que tirou a vida de Jonan. _ Bem na mesma noite que..._ Susan ia falar alguma coisa, mas parou.

_ Na mesma noite que o que?? _ Carol perguntou curiosa.

_ Nah.... nada.. é q na mesma noite q houve o acidente com o Jonan eu cortei a mão. _Mentiu. Carol e James não deram muita importância ao comentário da filha e continuaram conversando. Susan continuou a lavar a louça e pensando... "Aquela noite... como eu poderia esquecer... Ai Jordan, Jordan... Será q vc existe??"