Mesmo com o coração acelerado, me aproximei da porta e percebi que a mesma não possuía nenhuma tranca, barricada ou algo assim; provavelmente o sequestrador estava me esperando e decidiu manter a porta aberta para mim propositalmente. Não entendi o motivo, mas perguntaria quando tivesse a oportunidade.

Se é que eu teria.

Abrindo a porta devagar, com um certo medo do que poderia encontrar ali, acabei percebendo que haviam mesmo pessoas ali, só que não haviam percebido a minha chegada; pois estavam quietos, em silêncio, embora eu pudesse ouvir algumas vozes sussurrando uma para outra.

Caminhando sorrateiramente, para evitar fazer barulho com meus passos, desviei de alguns caixotes, móveis, produtos de limpeza que estavam espalhados pelo chão. Foi quando encontrei uma pilha de tonéis que eu não soube identificar na hora se estavam cheios ou vazios, mas mesmo assim, procurei me afastar deles; se eu encostasse ou pegasse algum, com certeza eles iriam fazer algo comigo.

Foi nesse momento que vi Effy atrás dos tonéis, ela estava amarrada nas mãos e nos pés, cabisbaixa, com os cabelos jogados para frente cobrindo o rosto. Na hora, o sangue me subiu, ela teria sido espancada e tentava esconder o rosto? Provavelmente sim, por isso, fechei meus punhos e contei até dez para me controlar; tudo bem que eu não era bom de luta, mas precisava manter a calma. 

Lentamente, fui me aproximando dela, quando eu estava a três passos de tocá-la, ela percebeu minha presença e levantou o rosto devagar. Parei na mesma hora, a esperando me ver.

Respirei aliviado, ela não tinha nenhum machucado no rosto.

— Você veio... - ela sussurrou, me olhando surpresa.

Fiz um gesto com a mão para que ela fizesse silêncio, qualquer palavra que ela dissesse, poderia chamar atenção dos sequestradores e aí estaríamos ferrados.

— Quem fez isso com você? - perguntei no ouvido dela.

— Um conhecido meu... eu devia dinheiro para ele e agora ele quer me cobrar... - sussurrou ela de volta no meu ouvido.

— Devia dinheiro? Por quê não me falou?

Ela não teve tempo de responder, pois nessa mesma hora, um grupo de cinco homens apareceu. Quando os encarei, reconheci três deles. Eram os mesmos homens que vi sair do apartamento durante aquela semana que Effy ficou mais afastada de mim.

— Ora ora ora, finalmente o casalzinho se reencontrou... Só falta o beijo romântico - debochou um cara.

— Quem são vocês? - perguntei, me afastando de Effy.

— Calma rapaz, você logo saberá quem nós somos. Primeiro, precisa saber o que nós queremos!

— Então diga o que vocês querem.

Ele deu um pigarreio e tomou a frente dos caras antes de começar a falar:

— Acontece que a fogosa drogada aí, sempre gostou de fumar e você deve tá cansado de saber disso; o problema é que enquanto ela estava na cadeia, por não tido nenhum contato com qualquer droga, ficou numa abstinência por cigarro absurda. Por isso, assim que saiu da prisão, acabamos nos reencontrando, então ela me pediu para arranjar drogas - ele a encarou friamente - Até aí tudo bem, esse é o meu trabalho, o problema é que ela não me contou que o irmão dela acabou de se casar e iria para a lua-de-mel; e quando retornasse, iria se mudar para outra casa e deixar aquele apartamento para ela. Obviamente, ele também levou o dinheiro que ela ia usar para me pagar pelas drogas que ela havia comprado de mim. eu dei um prazo de apenas algumas semanas para ela, mas acabou não cumprindo. Então, a trouxe para cá pra matá-la, mas ela disse que você podia ajudar! 

— Eu?

— Sim, por isso te chamamos aqui, para você nos entregar o dinheiro que ela me deve.

Depois da explicação dele, olhei novamente para os três homens que eu reconheci ao entrar, eles haviam entrado no apartamento de Tony e sem dar nenhuma satisfação, enquanto Effy ficou calada, reclusa e quieta no canto dela. Ligando os pontos, cheguei à uma conclusão que eu não queria:

— Você estava fazendo programa no apartamento com esses caras? - perguntei, me virando para ela com a voz normal.

Ela fez que sim com a cabeça.

— Foi a única forma que eu encontrei de conseguir algum dinheiro. Mas faltava pouco; e quando nos aproximamos de vez, eu acabei me esquecendo dos problemas e toda essa história...

Fiquei um pouco corado com a revelação dela, principalmente porque os homens começaram a zombar da gente.

— Own, que fofinhos! - zombou um.

— Effy Stonem apaixonada? Rapaz, quanto tempo não via isso! - riu o sequestrador.

Bufei, aquela não era hora de brincar.

— Tá bom, já chega! - exclamei os olhando - O que vocês querem que eu faça para libertarem ela? 

— Nós não, ele - corrigiu um dos "clientes" de Effy.

— Eu já disse, me traga o que ela deve! - repetiu ele.

— Quanto ela te deve?

— Quinhentos dólares.

Arqueei as sobrancelhas, ou o cara cobra caro pelas drogas ou Effy comprou uma quantidade significativamente alta de drogas.

— Eu... Não consigo. Quando vim para cá, fazer faculdade, só trouxe duzentos dólares e eu já gastei metade deles com algumas coisas da casa.

O bandido riu.

— E por acaso a sua mãe nunca te ensinou que tudo na vida tem uma solução? Basta você querer procurar. 

Franzi a testa, o que raios ele quis dizer com aquilo?