Pokémon: Jardim Jirachi escrita por Maya


Capítulo 3
Alola - Parte I




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Alola, cinco anos atrás

O coração de Lillie palpitou no momento em que viu o navio aguardado chegando ao porto de Hau'oli City. Estava animada para a chegada de um dos jovens treinadores promissores do famoso Jardim Jirachi de Kalos, para vê-lo conhecer a região de Alola e descobrir todas as experiências que ela podia proporcionar; lembrava tempos anteriores em que ela mesma também pôde descobrir as maravilhas de sua terra natal ao lado de amigos queridos.

Ela segurava o papel com o nome do rapaz, Satoru, enquanto o procurava com os olhos quando os passageiros começaram a desembarcar. Ilima — que seria o real responsável pelo menino ali — e Hau também estavam com ela na missão de buscá-lo e dar as boas-vindas.

A carta dizia que Satoru seria fácil de reconhecer pelo cabelo azul, ou então por sempre estar com seu Gible, mas não foi por isso que Lillie o reconheceu de imediato.

— É aquele ali, né? — Ilima indicou o menino com o queixo. — Esse olhar me lembra o Elio e a Selene.

Foi por isso. O olhar de um jovem recém-chegado às ilhas de Alola.

Lillie ergueu o papel e Satoru também encontrou o trio. Ele foi correndo, com aqueles olhos brilhando, o sorriso gigante e o Gible balançando sobre sua cabeça: aquela imagem que seria sua primeira marca em sua nova história.

— Alola, Satoru! — Lillie foi a primeira a dizer. — Prazer, eu sou a Lillie! Sou a atual Professora responsável da região de Alola. Esses aqui são meus amigos: Hau, nosso atual Campeão, e Ilima, o supervisor da Escola de Treinadores, e que vai cuidar de você por aqui.

Hau mostrou seu sorriso enorme e quase infantil para o garoto.

— Alola! A gente vai se divertir por aqui...

— Você é o Campeão?

— Ah... Isso aí.

O menino endireitou a postura, ficou sério e estendeu a mão para Hau.

— Eu sou Satoru, da região de Kalos. Vou te derrotar e me tornar o melhor de Alola, depois, do mundo inteiro!

Bem... Bem diferente de Elio e Selene, na verdade. Lillie percebeu Hau ficando surpreso, mas logo recompondo o sorriso para responder de seu jeito amigável de sempre e aceitar o aperto de mão.

— Ah, é? Vou ficar te esperando então!

— Satoru, eu vou ficar com você por aqui — Ilima interveio. — Vou te ajudar a ficar forte o bastante para seu objetivo.

— Sério?!

— Uhum! Mas primeiro, vamos lá para casa. Meu cozinheiro preparou um banquete especial para te receber.

Lillie acompanhou os meninos andando atrás deles, observando Satoru enquanto ele conversava com Ilima. Por um momento Hau trocou um olhar com a velha amiga que a fez entender que ele pensava o mesmo que ela: aquele menino tinha algo diferente. O fogo em seu olhar desde o desafio declarado ao Campeão de Alola não desaparecera ainda, e até parecia ter ficado mais forte quando Ilima se propôs a deixá-lo mais forte.

"É uma criança", pensou consigo mesma, "não precisa se preocupar tanto assim". Afinal, ele não demoraria a embarcar no espírito dos treinadores Pokémon de Alola... Esperava assim, pelo menos.

. . .

A mesa estava realmente farta, e Satoru e seu Pokémon do tipo Dragão não hesitaram em "cair de boca" na comida, e Lillie não conseguia se concentrar muito no seu próprio prato depois de perceber que Hau entrara numa competição de quem come mais rápido com o menino. Se ele liberasse seu Crabominable ali, aí sim ela teria um ataque. Será que ainda conseguiria manter respeito se caísse na gargalhada por causa daquilo?

— Então, Satoru... — Ilima, com um sorrisinho claro no canto da boca, puxou a conversa quando o menino parou um pouco para respirar. — Gostaria de te contar um pouquinho sobre nossa região. Eu já passei um tempo em Kalos estudando e acredito que você vá ver muitas coisas diferentes por aqui. Alola é um lugar onde prezamos muito por uma relação de amor, respeito e colaboração mútua não só entre as pessoas, mas com os Pokémon também. Podemos contar com eles para nos ajudar em nossas jornadas e no cotidiano mesmo que não sejam necessariamente "nossos". Junto a isso, a alegria nas experiências também é muito valorosa para nós; estar aberto para se divertir em cada desafio que as ilhas proporcionam é o que vai tornar sua aventura aqui realmente proveitosa. Isso inclui as batalhas também, até o seu objetivo de se tornar o melhor.

— Acredite, Hau não teria se tornado o melhor se não tivesse esse espírito dentro dele — Lillie complementou, ao que o Campeão sorriu envergonhado. — Também temos dois amigos que viemos de Kanto, o Elio e a Selene, que aprenderem esse estilo de vida aqui e já passaram pelo posto de Campeões... O Elio, inclusive, foi o primeiro de todos, quando a Liga Pokémon de Alola foi instaurada, e a Selene faz parte da Elite 4 agora... Você vai se surpreender com a força que se adquire aqui quando se torna um com Alola. É como se toda a força da vida da região entrasse em você!

Sem parar de mastigar, Satoru ouvia atentamente a cada fala, o que deixou Lillie aliviada de seus receios iniciais. Finalmente engoliu a comida, passou os olhos pelos três veteranos e perguntou com seriedade:

— Então, por onde eu começo?

— Amanhã vou te apresentar a alguns lugares e pessoas importantes, mas isso pode esperar! — Respondeu Ilima. — Agora queria saber mais sobre você. Por que não conta um pouco sobre como foi crescer no Jardim Jirachi?

— Foi muito legal! — O sorriso de Satoru apareceu de novo. — Eles cuidaram muito bem de nós lá desde sempre. Foi onde conheci meu parceiro — Gible soltou um som alegre — e todos os meus amigos. Eu sempre andava com a Mei e o Hideki e nos passávamos as horas livres perto da maior árvore do quintal porque era nosso lugar preferido desde que éramos super pequenos. Tive muitas aulas lá sobre o mundo, sobre Pokémon e sobre técnicas de batalha, e tirava notas muito altas! A tia Diantha sempre nos disse que nascemos para ser grandiosos... Foi isso que me fez querer ser o melhor do mundo.

— É? Porque te ajudou a descobrir seu potencial, imagino?

Lillie queria dizer — gritar — que ele tinha que tomar cuidado para não se prender àquelas expectativas, ou para não se cobrar tanto, mas no final não soube o que dizer com o que ele falou em seguida:

— Sim! Mas também porque... Quero mostrar aos meus pais que eles não deveriam ter me abandonado.

Mais tarde, ao fim do jantar, Lillie e Hau saíram juntos da mansão. O Campeão parou no portão e disse a olhou sério para a amiga.

— Estou preocupado com ele.

Alola, quatro anos atrás

Hau viu sua Primarina cair enquanto o Garchomp de Satoru, apesar de ofegante, se erguia vitorioso do último embate da batalha pelo título de Campeão da Liga Pokémon de Alola. Satoru, então com apenas catorze anos, ajeitou o boné sob o qual suas mechas azuis ainda escapavam e soltou um suspiro longo e profundo, do tipo que alivia um fardo carregado por muito tempo. O Garchomp se virou para seu treinador e grunhiu levantando o próprio punho.

Mesmo com o alívio perceptível e a alegria de seu primeiro Pokémon, Satoru continuava não expressando alegria.

Hau retornou sua companheira para a Pokébola, agradecendo-a pela luta, e ficou encarando o menino. Desde o dia em que chegou a Alola, a determinação de Satoru em se tornar o melhor fora motivo tanto de surpresa quanto de preocupação por parte dos veteranos. Ao sair da mansão de Ilima naquele dia, Hau dissera a Lillie: "Estou preocupado com ele. Se continuar assim, vai se tornar o tipo de Treinador que luta pelos motivos errados. Como o Guzma antigamente, sabe?", ao que ela concordou e acrescentou: "Acho que pode ser até pior".

Não queria ver aquilo acontecendo, principalmente em sua Liga, mas havia um incômodo lhe dizendo que tinha acabado de ver.

Satoru trocou algumas palavras com Garchomp e o guardou também, então foi na direção do veterano. Hau, procurando se recompor, estendeu a mão para o oponente.

— Você conseguiu! Parabéns, novo Campeão!

— Obrigado, tio Hau. Foi uma ótima luta.

Elio e Selene estariam gritando e chorando de emoção. Hau quando ganhou o título na batalha contra Elio mal conseguia respirar. O que aquele garoto tinha?

— Sim... Você ficou bem forte em um ano só! E conseguiu companheiros incríveis também. Mas é bom tomar cuidado porque eu vou voltar para te desafiar de novo!

— Tio Hau — Satoru o encarou com aqueles olhos azuis firmes, determinados, inquebrantáveis —, eu estou lutando para ser não só o melhor de Alola, mas do mundo inteiro. Não vou perder para ninguém a partir de agora.

Hau tentou não demonstrar o quanto aquelas palavras o fizeram estremecer por dentro. E não muito mais tarde, quando aquele sentimento voltasse a tona, ele se perguntaria se algo que dissesse ali poderia ter feito a diferença no decorrer do desenvolvimento daquele jovem — poderia ter dito que ele precisava se divertir mais, que aquele não era o espírito de um treinador de Alola, que não podia ser tão sério naquela idade, ou até mesmo ter sido mais radical e contra as regras e dizer que não cederia o título enquanto Satoru não mudasse aquela mentalidade rígida, qualquer coisa, qualquer coisa, diferente do que realmente disse:

— Esforce-se então, hein?

Não era bem aquele treinador que queria ter visto como o Campeão, no fim. 

 


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