Lembranças de Você escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 7
Um Chamado Silencioso


Notas iniciais do capítulo

Ai, esse capítulo promete amores



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Assim que o despertador tocou naquela segunda-feira, eu tive a sensação de que havia dormido somente cinco minutos, levantei-me arrastando o meu corpo até o banheiro. Observei minhas olheiras fundas no espelho, muito corretivo para ajeitar isso. A semana havia passado rápido demais ou fui eu que mal pude descansar esses dias? Eu me perguntei enquanto pegava o estojo de maquiagem.

― Com certeza a última opção ― eu me respondi ao segurar o pincel.

Após me arrumar, eu preparei um café e me sentei na banqueta para tomá-lo. Eu mastigava um pão com manteiga e geleia despreocupada, até que percebi estar esquecendo de uma coisa. Apanhei o meu celular para efetuar uma ligação.

― Oi Lice, caso eu não consiga falar com vocês, quero relembrar que hoje é a minha viagem. Então nos vemos na volta, ok? ― Como ela não atendeu, achei melhor enviar um recado.

Antes que as suas preocupações se tornassem exageradas, eu me adiantei. Eu também telefonei para a Rose, nós conversamos animadas sobre a nova coleção do seu "ateliê". Ela estava muito empolgada com a criação das roupas, mas notei uma exaustão em sua fala. Depois de uns dez minutos, nós nos despedimos, eu olhei o meu relógio de pulso e ao verificar o meu atraso, bebi o resto do café de uma só vez. Rapidamente, escovei os dentes e chamei um carro por aplicativo.

Cheguei ao escritório em torno das oito horas, como eu não podia desperdiçar nenhum segundo, logo que passei pela minha secretária pedi para ela me trazer todos os relatórios que eu deveria revisar na parte da manhã. Quando eu me dei conta, já era a hora do almoço, decidi comer apenas um lanche para não demorar muito. Entretanto, a minha paz não durou nem um instante.

― Você achou mesmo que a gente ia deixar você ir embora assim... ― a Lice abriu a porta enquanto falava e parou de repente ao avistar as minhas mãos. ― O que é isso? Seu almoço é um lanche?

Eu ergui os olhos, desviando a minha atenção da leitura dos papéis. Com a boca meia aberta para morder o primeiro pedaço, eu fui pega no flagra.

― Meninas, eu não posso sair daqui agora. ― Suspirei. ― Tenho tanta coisa para fazer.

― De jeito nenhum ― minha prima disse ao balançar a cabeça. ― As refeições são muito importantes, necessitamos de todos os nutrientes para não adoecer.

Virei o corpo para observar a Rose e juntei as mãos como se suplicasse por uma ajuda.

― Tá bom ― a loira pronunciou para mim. ― Por que não trazemos algo para a Bella? Ela come aqui.

― E ela vai ficar enfurnada nessa sala de novo? Aposto que a semana inteira está sem espairecer, enfiada nesse lugar.

A Lice possuía toda a razão quanto a isso, mas escolhi não dizer nada, pois eu realmente queria almoçar o mais rápido possível.

― Então, vamos encontrar um meio-termo ― a Rose comentou. ― Que tal a gente descer e procurar um restaurante pela redondeza e aí a Lice nos conta sobre um paciente gato que deu em cima dela. ― A loira levantou as sobrancelhas, sugestiva.

― Ele não era meu paciente. A filha dele sim.

― Que seja. ― A Rose ergueu os ombros.

― Mas seria esquisito se fosse um garotinho de cinco anos ― eu declarei. ― Ok, vocês venceram. Só meia hora e no restaurante aqui da empresa. ― Apontei para a minha prima.

― Fechado!

No final das contas, confesso que uma distração a essa altura foi muito bom, as duas conseguiram por um curto período me entreter com suas histórias. Na metade da tarde eu acabei precisando resolver um imprevisto. Despacharam algumas correspondências para o endereço errado e agora eu e a minha secretária estávamos corrigindo o "estrago".

― Bella, queria saber se está tudo certo para o seu voo? O embarque é mais à noite, certo? ― O senhor Carlisle apareceu na minha frente e eu levei um pequeno susto. Não havia notado a sua presença.

― Meu Deus, que horas são? ― Olhei o relógio do computador perdida. ― Daqui a pouco, tenho que ir ― disse agitada e foquei na lista das correspondências. ― Acho que não vamos poder arrumar todas.

― O que está acontecendo? ― o meu sócio questionou.

― Alguém salvou na nuvem os endereços de alguns locais errados e enviamos por engano as correspondências.

― Por que não mandou me chamar, menina? Eu faço isso.

― Sério? A Márcia pode ajudar o senhor então. ― Olhei para a minha secretária. ― Eu pretendia tomar um cafezinho e comer alguma coisa antes de partir.

Ele acenou em um gesto positivo e eu me levantei para pegar as minhas coisas.

― Ah, o meu filho pediu para avisar que esqueceu o passaporte em casa e foi buscar. Ele vai direto para o aeroporto. E o seu visto? Nenhuma pendência? ― Sua atenção se direcionou para a Márcia.

― Não, senhor, consegui validar o eTA da senhorita Isabella há dias. ― Eu perdi as contas de quantas vezes conversei com ela para parar com tanta formalidade, mas a mulher era toda metódica. ― Por sorte, a viagem que ela fez nas férias para os Estados Unidos permitiu a autenticação.

Eu sorri contente ao relembrar o passeio para a Disney que realizei com os meus tios, a Lice e a Rose.

― Ótimo! ― o senhor Carlisle respondeu. ― Agora melhor você ir para não se atrasar. ― Eu afirmei com a cabeça para ele e me despedi dos dois enquanto caminhava até a porta.

Após a minha parada para um lanche, segui o meu rumo. Eu tinha efetuado o check-in e estava sentada em uma dessas cadeiras super confortáveis — só que não - quando avistei o Edward. Nós aguardávamos o embarque um do lado do outro. E, para o nosso azar, houve uma queda no sistema da companhia e demorou cerca de quase duas horas para decolarmos.


Durante o voo, eu escolhi assistir a um filme, já o Ed colocou aquelas almofadas em volta do pescoço e se ajeitou na poltrona para dormir. Percebi que desde que chegamos, ele não interagiu muito comigo. Eu não sabia se o motivo era devido à apresentação - apesar de que ensaiamos com o senhor Carlisle várias vezes e agora eu estava até mais confiante - ou se era pelo término do seu relacionamento. Mas alguma coisa o incomodava, com toda a certeza.

Eu despertei sonolenta, espreguiçando‑me assim que o avião pousou, enxerguei pela pequena janela o raiar do dia tímido, eram seis da manhã no horário local. Olhei de relance para o Ed que ainda dormia. Ele ferrou legal no sono. Cutuquei gentilmente o belo adormecido e quando o homem acordou sobressaltado, eu segurei uma risada e expliquei que já havíamos chegado. Após buscarmos nossas malas, nos encaminhamos para fora do aeroporto e chamamos um carro para nos levar até o hotel. Toronto possuía um arzinho gelado diferente da minha cidade, embora o clima do Sul nessa época tivesse uma certa semelhança. No momento em que o Ed foi nos registrar, eu fiquei no sofá respondendo alguns e-mails.

― Estamos com um problema, Bella. ― Desviei meus olhos da tela do celular e observei‐o.

Havia uma expressão estranha em seu rosto, uma preocupação. Será que não queriam autorizar o check-in antes do horário? Mas nós avisamos desde o começo que nosso voo chegaria nesse horário.

― O único quarto disponível é o double room.

― É o quê?! Como assim, só quarto de casal? ― Levantei de imediato, caminhando até a recepção.

Comecei a falar com a recepcionista e quanto mais ela me informava sobre a situação mais eu me desesperava. Parece que o hotel teve uma lotação, alguma coisa sobre overbooking e nos transferiram para esse quarto. Eu balancei a cabeça aflita ao imaginar a possibilidade de dividir uma cama com o Edward. Após alguns minutos, ao notar que não possuíamos outra escolha, subimos para o aposento. À medida que o Ed abria a porta, eu pensava que conseguiríamos agir como dois adultos maduros diante desse imprevisto. Ótimo! No chão, em torno da cama continha um tapete, daqueles macios, um de nós dois poderia dormir ali.


Cruzei o quarto em direção a varanda com a intenção de aliviar a tensão. Contemplei a vista, no horizonte, por entre as nuvens, um amanhecer tênue iluminava o céu, havia muitos prédios, uma torre enorme no meio deles e ao fundo o lago Ontário.

― Nossa, muito lindo. ― Eu me encontrava tão perdida admirando o lugar que não reparei a presença dele ao meu lado.

― Sim... Realmente. ― O cabelo castanho do Ed e os seus traços realçaram naquela luz.

Em seguida ele sorriu para mim, mas por trás do seu gesto transparecia uma preocupação.

― Você está apreensivo com a apresentação? ― eu disse ao me apoiar na sustentação da sacada.

― Não, os ensaios com o papai ajudaram. Por quê? Você está? ― O Ed seguiu meus passos, encostando‐se também.

― Na verdade, não. ― A minha curiosidade falou mais alto. ― Então essa sua inquietação é por causa do término do seu namoro com a Bianca?

Ele me encarou espantado, percebi com o canto do olho.

― Escutei sem querer no estacionamento ― expliquei quando o Ed ameaçou abrir a boca.

― Eu não sei se é bem por isso. ― Ele coçou a nuca. ― Acho que uma parte sim.

― Mas vocês pretendiam se casar, não é? ― Olhei de relance para o Ed. ― Ouvi por aí. ― Eu esbocei um sorriso sem graça, após ele me analisar surpreso.

Que garota intrometida! Ele deveria estar imaginando isso agora e eu praguejei mentalmente, esse assunto não é da sua conta, Isabella.

― É um pouco complicado. ― Eu franzi a testa com a sua resposta. ― Eu não queria casar com ela. ― O Edward suspirou. ― Eu sinto que as coisas saíram do controle, além do fato do meu pai insistir nesse casamento.

― Como assim? ― perguntei muito interessada.

― Bem, meus pais planejaram esse casamento desde que éramos pequenos, entende? ― Nossos olhares se cruzaram e eu notei um certo desapontamento em seu rosto. ― Para ser sincero, é mais o meu pai que sonha com isso e eu não gostaria de decepcioná-lo. Ele deposita muita expectativa em mim. ― O Ed deixou uma careta desanimada escapar.

Eu conseguia compreender o seu ponto de vista, eu também não desejava decepcionar os meus mesmo sem a presença deles nesse plano.

― Mas a sua opinião não pode ser levada em consideração? Talvez ele mude o pensamento. Você já é adulto agora, com capacidade para fazer suas escolhas. ― Eu inspirei o ar para continuar o meu discurso, entretanto resolvi parar.

Isabella! Chega de se meter na vida do rapaz. Eu balancei a cabeça.

― Justamente por isso, eu já estou cansado. ― Seu tom de voz se alterou, enfurecido. ― E eu nem sei mais se eu gosto da Bianca para assumir um compromisso. ― Ele tentou controlar suas emoções ao respirar. ― O meu pai acha que temos muita história juntos e que não dá para jogar isso fora. ― O Ed acenou em um gesto de negação. ― Com certeza ele não vai aceitar esse término, mas pelo menos não fui eu quem acabou. ― Edward suspirou e levantou os ombros. ― De qualquer jeito, ele irá me culpar.

― Ele nunca perguntou o que você queria? ― Juro que é a última vez que me interfiro nisso. Mas é que eu me sensibilizei com seu dilema, esse lance de ser obrigado a se casar com alguém não deveria existir. ― Aliás, você já se questionou sobre isso? O que você deseja, Ed? ― Olhei para os seus olhos castanhos, sondando-o.

Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos e eu imaginei que o assunto havia se encerrado. Entretanto, isso ainda renderia muita coisa.

― Eu sou um covarde ― Edward pronunciou logo depois e se afastou da sacada. ― Melhor eu ir tomar um banho.

― Certo, a apresentação está marcada para às quatro, acho que até lá dá para descansarmos um pouco. ― E então eu voltei a pensar no nosso problema, a cama.

Enquanto ele entrava no quarto, eu continuei na parte de fora repetindo quase como um mantra: nós somos adultos agora. Não agiríamos igual a dois adolescentes, não é? Peguei o meu celular no bolso do casaco e disquei para as meninas com o propósito de me acalmar um pouco. Elas não atenderam, então resolvi mandar mensagem. "Descobri uma coisa sobre o Ed. Me liguem." Meus dedos tamborilavam na sustentação da sacada, impacientes, aguardando um sinal daquelas duas. Uma brisa moderada arrepiou o meu corpo, por isso decidi entrar e assim que fechei a porta atrás de mim, a do banheiro se abriu. O Edward apareceu enrolado, apenas em uma toalha.

― Esqueci de trazer a roupa. ― Ele apontou para o canto em que sua mala estava e eu só consegui acompanhar com o olhar.

Engoli em seco, por que o ar parecia quente aqui? Tentei limpar a garganta, porém, por pouco não escapou um gemido. Uma gotinha de água escorreu pelo pescoço dele, indo em direção ao seu peito. Observei seus ombros largos, atraída pelo trajeto que o pingo percorria, eu notei quando ele desceu mais e passou em sua barriga definida se perdendo no caminho da felicidade. Eu parei de respirar, nossos olhos se encontraram e a partir desse momento não raciocinei direito. O Ed atravessou o quarto, nossos corpos ficaram a centímetros de distância, seus lábios se moveram e ele sussurrou "eu desejo você", hipnotizada por aquele homem, eu o encarei confusa. Um segundo depois, a minha ficha caiu, ele havia se referido a minha pergunta na sacada.

Seus dedos subiram até o meu rosto, acariciando as minhas bochechas e eu provavelmente devo ter feito uma careta de surpresa pelo seu gesto. Assim que o meu espanto desapareceu, fechei os olhos para sentir seu toque e por um impulso coloquei a minha mão em cima da dele. Uma corrente elétrica cruzou o meu corpo e quando voltei a encará-lo, Edward sorriu com o canto dos lábios – o que parecia um convite para mim – já que lá estava, outra vez, aquele chamado silencioso no fundo de seus olhos cor de mel. Ele aproximou sua boca da minha, beijando-me.

 


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Notas finais do capítulo

É, Bella não resistiu e como poderia não é? Vejo vocês no próximo capítulo, beijos ;*



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