Lembranças de Você escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 6
Surpresas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, fim de ano é uma correria louca. Passando para postar mais um capítulo :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808123/chapter/6

Nossa ida à pizzaria foi interessante, como o Ed  ainda não conhecia o lugar, eu resolvi explicar para ele como funcionava. O método do estabelecimento é bem diferente do que a gente imagina em um rodízio. Não esperamos o garçom servir os diversos sabores, aqui você escolhe qual irá comer, inúmeras vezes, até se encher. Sem falar no quanto são deliciosas! Definitivamente, era a minha pizzaria favorita da cidade e pelo visto seria do Ed também, já que ele adorou o modo incomum do estabelecimento. Além disso, o ambiente possuía um ar bem aconchegante, as paredes foram pintadas de amarelo fraquinho e o tom das luzes colaboravam para o local ficar agradável. Um lugar muito família, tinha até um parquinho para as crianças com uma piscina de bolinhas e escorregadores. Tudo isso na parte de dentro.

Ao fim da nossa comilança, não aguentávamos mais, minha barriga estava tão cheia que nem água eu pude beber. Foi muito difícil caminhar até o carro e respirar também era complicado. Eu não me lembrava de ter comido tanto desse jeito antes.

― Acho melhor passar na farmácia e comprar um antiácido ― o Ed comentou em um tom de brincadeira quando estacionei na frente do seu apartamento.

 

― Uma ótima ideia ― respondi esboçando um sorriso.

Eu até tentei formular outras palavras para entrar em sua chacota, porém só de falar o meu estômago já doeu. Além do mais, ao olhar para o lado e encontrar com aqueles olhos castanhos, eu me perdi. Não consegui raciocinar direito. Tão hipnotizantes que foi impossível desviar minha atenção deles. Havia algo ali em seu interior que parecia me chamar. Como se fosse um convite... Silencioso, escondido no meio daquela luz brilhante, cor de mel.

 

― É... Eu vou indo, obrigado pelo passeio ― ele disse desconcertado.

Eu apenas me despedi com um aceno sem saber como agir também, e após uns segundos me recuperando, liguei o carro. Ao chegar no meu apartamento retirei o salto alto que estava me incomodando há um tempão e depois segui em direção ao quarto. Eu desejava muito descansar, a viagem tinha me esgotado e a pizzaria acabou comigo. Sem falar naqueles olhos... Bella! Foco, pega sua roupa de dormir no armário e se enfia logo debaixo das cobertas.


Dormir não foi uma tarefa fácil, acordei várias vezes à noite, a barriga ainda doía e para completar, aquele momento de despedida no carro não saia da minha cabeça. Droga! Eu me remexi na cama pela milésima vez, deveria ter passado na farmácia. Mas será que meus problemas se resolveriam com um antiácido? Eu me questionei assim que me virei para o outro lado.

 

—--

Na semana seguinte, toda vez que eu e o Ed nos deparávamos pelos corredores, era inevitável não soltar umas risadinhas relembrando nossa situação pós-pizzaria e, inclusive, eu podia jurar que aquele chamado silencioso em seu olhar permanecia sempre que nos víamos.

Ao passar na sala do senhor Carlisle, eu não fazia ideia de que um simples comunicado mudaria totalmente a minha relação com o Ed.

 

― Recebi seu recado ― falei logo após o homem abrir a porta.

 

― Ah, ótimo! Por favor, Bella. ― Ele apontou para uma cadeira vazia. ― Como você deve saber, os canadenses estão interessados em investir na nossa empresa. ― Eu concordei com um gesto. ― Eu venho negociando com eles por alguns meses. ― O homem fez uma pausa e eu franzi a testa, aonde será que ele queria chegar com isso? ― Eu careço da sua ajuda.

O senhor Carlisle se sentou do outro lado da mesa e me observou por uns segundos.

 

― Claro, como posso ajudar? Algum contrato para ajustar?

 

― Não, gostaria que você cuidasse da apresentação para os clientes. Faça uma divulgação dos nossos eventos, oriente sobre a maneira que a empresa funciona e mostre o nosso fôlder dos patrocinadores.

 

― Certo, irei pedir para a minha secretária agendar um horário para a videoconferência. ― Ele coçou os cabelos e suspirou. Ok, havia algo errado.

 

― É uma reunião muito importante, não dá para ser pela internet. Necessitamos evidenciar que somos uma empresa séria. Por isso, terá que ser presencial. ― O homem me olhou atentamente. ― Eu faria essa viagem com o meu filho ― ele começou a explicar, mas eu só prestei atenção no verbo, faria!? O que isso quer dizer? ― O fechamento do acordo não passa de uma questão simbólica, tudo está acertado já. Nós só precisamos realizar a apresentação para eles.

 

― Espera, o senhor não vai? ― Balancei a cabeça.

 

― Infelizmente não, você e o Edward vão me representar. Nesse momento, não consigo me ausentar da empresa. Surgiu um assunto delicado com um de nossos clientes antigos, ele está viajando a negócios e retorna apenas na próxima semana, então não poderei sair. ― O homem percebeu que eu não entendi direito, por isso continuou seu esclarecimento. ― Ele se envolveu romanticamente com uma de nossas funcionárias enquanto está casado. E, antes que exploda na mídia, eu e o departamento de assessoria iremos pensar em alguma estratégia para diminuir o impacto negativo que essa história deve causar.

Meus olhos piscaram várias vezes quando ele parou de falar, tantas informações para processar.

 

― O Ed e eu? Não temos experiência com esse tipo de acordo. E se vazar para a imprensa esse caso? E se chegar aos ouvidos dos canadenses? Como vamos contornar a situação?

 

― Não se preocupe, eu irei acompanhar a reunião daqui e qualquer coisa interfiro. Pode parecer que vocês não vão dar conta, mas confia em mim. ― O senhor Carlisle sorriu caridoso. Provavelmente o senhor possui toda a razão, mas eu tô apavorada aqui.

 

― E quando é essa viagem? ― perguntei meio receosa, eu não sabia nem o que responder para ele.

 

― Semana que vem.

 

― Não está em cima da hora? ― Arregalei um pouco os olhos. ― E o visto? Será que vou conseguir me preparar a tempo?

 

― Claro que sim, menina. ― O homem achou graça dos meus questionamentos. ― Eu enviei um e-mail para a sua secretária resolver a questão do visto. E você ficará a par de tudo, o meu filho irá te explicar todos os detalhes. Aposto que vocês tirarão isso de letra.

 

― Tá bom ― comentei sem nenhuma certeza. ― Então, acho que eu devo ir agora. Tenho que adiantar o serviço e deixar algumas coisas encaminhadas. ― Eu me levantei para sair.

 

― Bella, espera ― ele me chamou. ― Você precisa passar antes na sala do Edward e pegar uma pasta que está lá com ele, sobre a apresentação.

 

― Certo, sem problemas. ― Esbocei um sorriso acanhado, tentando me convencer de que tudo ficaria bem.

Enquanto eu caminhava até a sala do Ed, eu notei que a minha respiração apresentava uma instabilidade, eu não consegui identificar se todo o meu desespero era por causa da apresentação, já que o senhor Carlisle cuidava dessa parte e eu resolvia as questões mais burocráticas, ou se era pela... Viagem. Só eu e ele? Controle-se Bella, você já é adulta e capaz de agir profissionalmente ao lado dele. Então, por que eu não me sentia desse jeito? A minha impressão foi de que voltei no tempo, com meus cinco anos, suspirando toda apaixonadinha e imaginando como seria bom o toque de seus lábios. Isabella!! Sonhando acordada a essa hora? Inspirei o ar com força antes de bater em sua porta. Não obtive nenhuma resposta, por isso decidi abrir. Meus olhos localizaram o Edward em pé, próximo à sua mesa, e na sua frente havia uma moça loira. Eu tinha quase certeza que era a Tanya, ela estava de costas para mim, eles discutiam acalorados.

 

― Ed! Por favor! Por que não posso ir junto? ― A moça cruzou os braços.

 

― Eu já te expliquei, eu vou a trabalho. ― Ele suspirou cansado, talvez por já ter repetido isso outras vezes.

 

― Mas eu nem vou te incomodar, prometo. ― Ela deu alguns pulinhos. ― Você não vai nem notar que eu estou lá. ― Duvido disso, eu pensei.

O Ed passou as mãos pelo rosto, um pouco irritado com a situação.

 

― Não é por isso. ― Ele inspirou o ar profundamente. ― São negócios, Tanya, não vou poder ficar turistando com você. ― Ed congelou ao me ver parada na porta.

 

― Não acho que o motivo seja esse. Quer saber? ― a moça falou com o tom de voz meio elevado. ― Você anda diferente desde que retornou, há alguma coisa rolando por aqui. ― Ela balançou os braços.

 

― Bella! Oi... ― O Ed não prestou atenção nela, aliás, ignorou-a e me encarou constrangido.

 

― Oi... ― Eu sorri sem graça, por causa da situação.

A moça loira olhou para trás, em minha direção, e eu consegui identificá-la. A Tanya possuía um corpo esguio, os olhos azuis grandes e a boca fina. Eu ainda era capaz de reconhecer os traços da menina que um dia ela fora.

 

― Eu vim pegar a pasta da apresentação que o seu pai deixou aqui ― mencionei. ― Mas se eu estiver atrapalhando, volto outra hora.

 

― Não está, eu e a Tanya conversamos depois. ― Ele apontou para a porta. ― Eu comentei que hoje tinha muito trabalho. ― Ela permaneceu alguns segundos na frente dele sem dizer nada.

Quando se moveu, ao se deparar comigo no meio da sala, apertou os olhos, inclinou a cabeça e a balançou. Não falou uma palavra, mas parecia que havia encontrado uma resposta, logo depois saiu toda apressada.

 

― Então, você quer a pasta? ― O Ed falou atrapalhado. ― Você irá junto com a gente? ― Ele franziu a testa.

 

― Seu pai não lhe contou? Ele não vai poder ir com você na viagem ― Seus olhos se arregalaram, surpresos. ― Pois é, loucura. Nós nem temos experiência com esse tipo de acordo.

 

― Exato! Por isso eu pretendia acompanhá-lo.

Em seguida, o Ed foi buscar pela pasta em uma gaveta dos seus armários e nós engatamos uma conversa animada sobre a apresentação. Mais ou menos uns quinze minutos depois, eu percebi que já estava muito atrasada para terminar o meu trabalho e expliquei que precisava voltar para a minha sala. Assim que retornei para o meu ambiente de serviço, eu mergulhei em papéis.

Somente perto das oito da noite que eu saí do escritório, eu fiquei até mais tarde para adiantar alguns relatórios. Caminhei pelo estacionamento com mil coisas na cabeça, pensando que amanhã no primeiro horário marcaria uma reunião com a minha secretária para organizar meus compromissos. Porém, no meio do trajeto escutei umas vozes discutindo em um tom elevado. Imediatamente meu corpo paralisou, espantada notei pertencerem ao Edward e à Tanya.

 

― Responde! Você ainda me ama? ― Sua voz saiu trêmula.

 

― Que saco, Tanya! Não aguento mais essas perguntas. Para com isso. ― Ele passou a mão pelo cabelo.

Ela refletiu por alguns segundos e depois retornou a falar mais calma.

 

― Eu já entendi, está muito claro agora. Foi só ela aparecer que tudo mudou. ― O ela, seria eu?

Tanya respirou o ar com força, empinou o seu nariz e pronunciou algo que eu nunca imaginaria na vida que pudesse sair de sua boca.

― Não me procure mais, acabou. ― O barulho do seu salto alto ecoou pelo estacionamento quase vazio.

 

― Ah, ótimo! ― Edward declarou para o vento ao abrir a porta do seu veículo, ele aparentava estar nervoso.

Confesso que permaneci alguns minutos parada ali após a sua partida, chocada com o desenrolar da cena. Como assim, a Tanya terminou com ele? Não fazia nenhum sentido, totalmente contra aquela sua atitude de criança. Balancei a cabeça em negação, afastando minhas considerações, eu peguei a chave do meu carro na bolsa e segui o meu rumo. Assim que entrei em casa, larguei minhas coisas em cima do sofá e cruzei a sala, indo direto para o banho. Eu necessitava tanto relaxar, a água quente seria perfeita. Muitas emoções para um dia só. Meia hora depois, liguei a televisão do quarto enquanto carregava minha pasta do trabalho. Eu era obrigada a ler um pouco sobre a bendita apresentação e à medida que passava meus olhos no documento, marcava algumas páginas anotando umas ideias para discutir com o senhor Carlisle.


Ao guardar as minhas coisas, lembrei que ainda precisava organizar a minha mala para a viagem. Separei as roupas de frio, mas não me preocupei muito em levar casacos grossos, já que junho se aproximava e o clima no Canadá nessa estação estaria ameno. Deixei para pôr os itens de higiene mais para perto do dia e quando deitei na cama tentei me convencer que tudo ficaria bem. Não sei o porquê eu me desesperei com aquele comunicado, pois com toda a certeza o senhor Carlisle nos ajudaria na apresentação. Então por qual razão viajar com o Ed me atingiu desse jeito? Não era como se fossemos dividir uma cama, certo? Afinal, na viagem para o Chile as coisas ocorreram sem complicação nenhuma. Essa não seria diferente! Pelo menos, por enquanto, eu acreditaria nisso. Adormeci logo em seguida, com a cabeça cheia de questionamentos, tomada pelo cansaço.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém ansioso para essa viagem? E Tanya gente? Esperavam por essa atitude dela?
Queria desejar um feliz natal adiantado para vocês. Que em 2023 nossas esperanças possam ser renovadas para um mundo melhor.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lembranças de Você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.