Lembranças de Você escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 5
Mais que amizade?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808123/chapter/5

No final do evento, enquanto eu terminava de guardar as minhas anotações, o Edward e o pessoal de marketing conversavam com um grupo de pessoas que tínhamos conhecido na feira.  

― Ei, Bella ― o Edward me chamou.

― O que foi? ― perguntei quando cheguei perto dele.

― O pessoal aqui está convidando a gente para ir num bar, vamos? ― ele comentou animado.

― Não sei, não ― falei pensativa. 

Ele insistiu mais uma vez e eu acabei aceitando, não faria nenhum mal sair para se divertir, certo? Como já estávamos no centro, não foi muito difícil encontrar um bar aberto naquele horário de fim de tarde. O pessoal e o Ed se enturmaram rapidinho, eles pareciam ser amigos de longa data. Observei animada quando eles descobriram que o local tinha um karaokê, todos foram empolgados cantar uma música e eu permaneci na mesa tomando uma bebida.  

― Vem Bella, agora é a sua vez! ― o Ed me chamou entusiasmado. 

― Não, não! ― Balancei a cabeça várias vezes. ― Melhor não. 

― Vai cantar sim e junto comigo. ― Ele veio até a mesa e me puxou pela mão. 

O Edward me entregou um microfone quando subimos no palco minúsculo que mal cabia eu e ele. Olhei com os olhos arregalados para o Ed, maneando a cabeça. 

― Vou colocar no aleatório ― ele comunicou sem se importar com a minha negação. 

Espiei ao redor, para a minha sorte o barzinho não estava lotado, deveria ser um pouco cedo. Em seguida, escutei os primeiros acordes da música e mal pude acreditar na que tinha caído. O Ed começou a cantar My girl , do filme Meu Primeiro Amor e eu o encarei ainda perplexa. Com o olhar ele me incentivou para acompanhá-lo, respirei fundo, tomando coragem e então murmurei a segunda frase. Após a introdução da música, o Ed e eu já estávamos muito à vontade, quer dizer, mais eu do que ele. Mesmo a gente desafinando, foi muito divertido, o que só tornou o momento mais animado. 

― Nunca me diverti tanto ― eu disse rindo assim que a música acabou. 

― Nem eu ― ele também comentou aos risos, nossos olhares se encontraram por um momento. 

Ao perceber a tensão, já que uma corrente elétrica percorreu o meu corpo, eu pedi licença para ele e saí do palco. Com medo dos meus sentimentos, resolvi fugir deles.  

― Eu já estou indo ― mencionei quando peguei a minha bolsa.

― Mas por quê? ― ele perguntou vindo logo atrás de mim.  

― Tenho que fazer umas ligações importantes. ― Inventei uma desculpa. 

― Tudo bem, então vou me despedir do pessoal. 

― Não precisa ir comigo, pode ficar. 

― Faço questão de te acompanhar de volta para o hotel. ― Ele encarou meus olhos. ― E, além do mais, estou cansado.

― Tá bom, já que você insiste. ― Levantei os ombros, rendida, pois os argumentos acabaram, então nós dois seguimos para nos despedirmos do pessoal.

Trocamos apenas algumas palavras pelo caminho, ainda bem, eu não queria falar no momento. Só desejava chegar no meu quarto para colocar os pensamentos no lugar. Ao passar pelo saguão eu me apressei em apertar o botão do elevador, mas, instantes depois, escutei a recepcionista me chamar, ela caminhou ao meu encontro com um bilhete na mão. Assim que agradeci, a moça se afastou e eu li o que estava escrito. Droga, as meninas!  Eu havia esquecido completamente das duas, elas deveriam estar super preocupadas, já que eu não liguei ontem. Guardei o papel no bolso do casaco quando as portas do elevador se abriram, o Ed apertou a tecla do nosso andar e nós continuamos em silêncio, até o toque do celular dele ressoar no ambiente. 

― Alô ― notei que o tom de sua voz parecia desanimado. ― Não, você sabe muito bem onde estou. Em uma viagem de negócios. ― No mesmo segundo seus músculos da mão ficaram contraídos. ― Tanya! Será que dá para me ouvir antes de sair falando?

Eu desviei o meu olhar do rosto dele e observei os andares subindo no visor do elevador. Suspirei desapontada, então quer dizer que eles ainda estavam juntos? Ah! Mas é claro! Como que não percebi isso ontem, a garota dos olhos azuis que saiu de sua sala era ela. Balancei a cabeça em negação ao constatar o óbvio e, assim que as portas se abriram, caminhei apressada em direção ao meu quarto.

― Bella, espera. ― O Ed veio ao meu encontro após botar o telefone em sua pasta. ― Quer sair para jantar mais tarde?

― Não sei, não estou com vontade ― respondi sincera. ― Acho que vou pedir para servirem aqui no quarto.

― Posso me juntar a você, então? ― ele comentou animado. ― Creio que a gente devia conversar sobre a empresa, eu gostaria de saber mais coisas. Meu pai não entrou muito em detalhes.

― Será que é uma boa ideia? A Tanya pode não gostar. 

― Ela não tem que achar nada ― o Ed falou em um tom agitado. ― Mas, se você não quiser, tudo bem.

Eu demorei um pouco para respondê-lo, já que estava pensando no assunto. 

― Tudo bem, então, vejo você depois. ― Esbocei um sorriso jubiloso e destranquei a porta. ― Você pode vir daqui a uma hora?

― Sim, claro. Eu vou tomar um banho e já venho aqui. ― ele respondeu. 

Quando entrei no quarto, lembrei que precisava ligar urgentemente para as malucas das minhas amigas. Enquanto eu discava os números, meu coração acelerado me questionou se eu havia feito a coisa certa.

― Nossa, até que enfim, Bella. ― Minha prima atendeu sem demora, ela deveria estar colada com o celular. ― Pensei que eu não iria ter notícias até segunda-feira. ― Às vezes ela era tão exagerada.

― Eu também amo você, Lice. ― Ironizei um pouco. ― Como você está? E o serviço?

― Eu estou bem, semana que vem vou começar o internato na área pediátrica ― Ela parou de ser a mãe e começou a ser a amiga. ― Mas e você? Por que não ligou ontem? 

― Não deu tempo, mas sabe o que eu descobri? É até engraçado. ― Lembrei que a minha prima tinha que me explicar sobre um assunto. 

― É mesmo? O que é? 

― Como a senhora convida o Edward para o meu aniversário? Poxa, você viu como eu fiquei magoada na época. 

― É que… ― Ela parecia sem jeito de falar. ― Eu achei que estava na hora de vocês resolverem esse lance, pois você não deixava ninguém se aproximar. ― A Lice suspirou. ― A amizade de vocês acabou por algo tão bobo, merecia uma segunda chance. ― De repente a linha ficou muda e assim que cogitei em dizer alguma coisa, ela voltou a se pronunciar. ― Como foi que você soube? A boca grande da Rosalie não consegue guardar nenhum segredo mesmo! 

― Não foi a Rose. ― Eu segurei o riso devido à reação dela. ― Eu descobri de outro jeito.

― Se não foi a loira da boca grande, quem mais? ― A Lice soou perplexa.

― Pela outra parte da história. O Edward. 

― Como assim, Bella? 

― O filho do senhor Carlisle é o Edward. 

― Não acredito! Mentira! Como a vida é cheia de surpresas. ― Eu balancei a cabeça concordando. ― Aliás, é curioso que nós nunca chegamos a conhecer o pai dele quando éramos crianças. ― E mais uma vez assenti com as palavras dela. ― Ele está aí junto com você? Que loucura! ― Ela emendou uma frase na outra, mal dando tempo de pensar. ― Se eu soubesse disso antes, teria mandado vocês dois sozinhos para uma viagem bem longe. 

― Tá engraçadinha hoje, é? Tô até sentindo falta do seu lado mãezilla. Mas não se anima muito que ele ainda namora a Tanya.  

― Ele não conseguiu achar ninguém mais interessante? ― Nós rimos do seu comentário.  

― Será que podemos falar de outra coisa? ― eu declarei assim que paramos de rir, antes que a minha prima tivesse a ideia de me mandar até o quarto dele só de lingerie. ― Por que você não me conta do seu trabalho? ― sugeri. 

A Lice começou a relatar sobre seu internato, que ficaria mais ocupada, porém, estava feliz com essa nova etapa do curso. Antes de desligarmos, ela fez mais perguntas sobre o Ed, minha prima queria os detalhes da minha descoberta. E em seguida, resolvi tentar ligar para a Rose, já que antes seu celular havia chamado, mais ninguém atendeu. 

― Então quer dizer que a senhorita sabia que era o Ed no meu aniversário! Por que não me contou?  ― perguntei assim que escutei sua voz.

― A Lice me fez jurar que eu nunca falaria sobre esse assunto. Mas o que tem isso agora? ― ela se questionou confusa e logo depois pareceu esquecer. ― E a senhorita? Não ligou ontem, por quê? 

― Aconteceram muitas coisas ontem ― ao responder o outro lado da linha ficou mudo. ― Rose? 

― Espera um pouco ― ela parou de falar. ― Foi a Alice que contou do Edward para você? ― a loira comentou intrigada. 

― Contou nada, eu que descobri sozinha.

― Mas como?

― Porque ele é o filho do meu sócio.

Houve um silêncio repentino. 

― O quê? ― A Rose tossiu desajeitada.

― É isso mesmo. ― Eu sorri do jeito atrapalhado dela. 

― Então quer dizer que vocês estão juntos aí? ― Ela fez um som estranho com a boca. ― Sozinhos? 

― Não totalmente sozinhos, pode parar de pensar besteiras. ― Revirei os olhos, essas duas sempre com a imaginação fértil. ― Até porque ele ainda está com a Tanya.

― Eles casaram, será? ― A sua curiosidade era grande. 

― Provavelmente, sim, mas não reparei nenhuma aliança em seu dedo. Talvez morando juntos? ― respondi em dúvida, desapontada. 

― Como é que ele pode ficar com ela? ― A loira parecia indignada igual a Lice.

― Não sei. ― Dei de ombros. ― Gostaria de saber também.  

Ainda bem que engatamos outros assuntos, esse tema não me interessava em nada, falar da Tanya só me chatearia. A Rose me contou sobre o seu estágio e eu comentei sobre o evento. Assim que desliguei, corri para tomar um banho rápido antes que o Ed aparecesse.

Após uns quinze minutos, eu já estava pronta com a minha roupa de dormir e um roupão bem quentinho por cima, já que o frio se intensificou mais à noite. Segundos depois, o Edward bateu na porta, usando um moletom azul escuro, bem casual e enquanto nos acomodávamos no chão, eu pedi a comida por telefone. Engatamos uma conversa séria a respeito da empresa, mas no jantar, o papo foi outro, mais descontraído: histórias da faculdade. 

― Agora tem uma coisa que não sai da minha cabeça. Por que você saiu apressado no meu aniversário? Infelizmente não consegui pegar o seu sapatinho ― eu disse extrovertida após beber o líquido vermelho da minha taça. 

― Da próxima vez eu dou um jeito de você pegar. ― Ele entrou na brincadeira e respondeu a minha pergunta em seguida. ― As minhas aulas na faculdade já tinham começado, eu precisava me apresentar na coordenação até segunda de manhã se não perderia o semestre. 

Eu sentia que esse nosso reencontro não tinha mudado em nada a nossa amizade, o que só tornava tudo tão difícil, uma aflição inesperada e o medo do desconhecido me atingiram em cheio. Uma hora mais tarde, quando o Ed foi embora do meu quarto, permaneci com os sentimentos perturbados.  

***

No último dia do evento, eu finalmente pude passar no centro para comprar umas lembrancinhas para as meninas. Resolvi levar alguns chocolates e um poncho para cada uma, a Rose iria amar! Na volta para o Brasil, o voo foi meio turbulento, mas nada assustador como da primeira vez. Ao entrar pela porta do meu apartamento eu mal acreditei que havia retornado, só sentimos falta de casa quando passamos muito tempo fora. Meu apartamento não era muito grande, tinha um quarto com suíte, uma sala e cozinha. Eu deixei as malas pelo caminho e me joguei no sofá, com o intuito de descansar um pouco. 

Acordei sobressaltada com o despertador do celular e levantei sonolenta. Caramba! Apaguei aqui no sofá mesmo, constatei logo que meus olhos se adaptaram à claridade do ambiente. Apesar do meu corpo pedir por um repouso prolongado, hoje eu precisaria passar na empresa. O senhor Carlisle solicitou que eu e o Ed fizéssemos um relatório do evento, ele queria sugestões do que poderíamos implementar na empresa. A manhã inteira trabalhamos nisso e assim que entregamos, o pai dele nos deu uma folga. 

― Quer sair para comemorar? ― o Edward perguntou quando saímos da sala do senhor Carlisle.

― Quero. ― Sorri animada. ― Conheço uma pizzaria ótima, que tal? ― Olhei para ele, enquanto caminhávamos pelo corredor.

― Fechado. 

― Passo para te pegar perto das sete horas, então. ― Eu apertei o botão do elevador.

― Não seria ao contrário? ― O Ed me olhou confuso.

― Por quê? Você nem sabe onde fica a pizzaria. ― Encarei-o de volta.

― É que eu fiz o convite, então o certo seria eu te buscar. ― Ele coçou a nuca sem graça. ― E eu poderia pesquisar o endereço, sem problema nenhum. 

― Vamos fazer o seguinte, hoje eu te mostro o caminho e da próxima vez, você nos leva. ― Eu sorri para ele e entrei no elevador que tinha acabado de chegar.

― Combinado. ― O Ed acenou positivamente com a cabeça.  

Nós fomos conversando até o estacionamento e ele me passou o seu endereço por mensagem. Quando fechei a porta de casa, agradeci mentalmente pela folga, eu necessitava descansar. Por isso, tomei um banho rápido e me joguei na cama. No horário marcado, eu estacionei na frente do apartamento do Ed, aguardando-o do lado de fora do veículo. Minutos depois, ajeitei o meu vestido preto que se moldava ao meu corpo e observei ele andar na minha direção, usando uma calça social preta e blusa branca. Muito atraente, apesar de já tê-lo visto dessa forma, havia algo de diferente no ar, talvez fosse pelas mangas arregaçadas de sua camiseta. Ou, seria o perfume agradável de sua loução que eu senti quando ele apareceu no portão?  

― Sabia que é só uma pizza, né? ― eu mencionei.

― Olha quem fala. ― O Edward riu. ― Um cara não pode querer se vestir bem? ― retrucou.

― Ok, pode sim. ― Eu levantei as mãos como se estivesse rendida. ― E o meu vestido também não tem nada de mais ― complementei.

― Ah, tá bom... ― Ele deu ênfase no “bom” de um jeito prolongado e em seguida seus olhos percorreram o meu corpo, balançando a cabeça. 

Eu mordi o canto dos lábios, nervosa, e suspirei ao abrir a porta do carro. Liguei o motor dando a partida e me questionei se o que estávamos construindo era mais que amizade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai, ai será que Bella e o Ed vão conseguir ser só amigos?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lembranças de Você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.